Segunda 6 de Maio de 2024

Mulher

CAMPINAS

Estudantes e trabalhadores protestam pelo direito da mulher

02 Nov 2009   |   comentários

No dia 27 de outubro, em Campinas, o Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH) da Unicamp organizou um ato em defesa do direito democrático do aborto livre, legal, seguro e gratuito. O protesto aconteceu em frente a Comunidade Católica Pantokrator, localizada na rua Culto à Ciência, onde se realizava o 4º Encontro de Bioética, e que neste dia trazia o ex-arcebispo de Recife e Olinda, D. José Cardoso Sobrinho, para uma mesa anti-aborto. Esse é o arcebispo que, no começo no ano, excomungou uma garota de 9 anos, assim como sua mãe e toda equipe médica que a apoiou, por fazer um aborto após ser estuprada por seu padrasto e ter engravidado de gêmeos. Na ocasião D. José afirmou que “o aborto é um crime pior do que o estupro” .

Esta é mais uma expressão da ofensiva dos setores reacionários da Igreja e da burguesia, que no Brasil encabeçam uma forte campanha de perseguição às mulheres, através da Frente Parlamentar em Favor da Vida, e suas inúmeras marchas. Este mesmo setor se prepara para realizar no ano que vem o 2º Encontro Mundial em Defesa da Vida, que será no Brasil por ser considerado um país exemplo no que diz respeito a criminalização do aborto. Sempre por trás do rótulo “em defesa da vida” , esses setores escondem a realidade de todas as mulheres que sofrem as tenebrosas conseqüências do aborto clandestino, responsável por milhares de mortes a cada ano. Para quem ainda duvida do caráter machista de tais grupos, basta observar que a mesma sensibilidade ao defender a vida em abstrato não é minimamente conseqüente para combater o abuso sexual, a violência contra as mulheres, ou mesmo para defender condições de vida que permitam o direito a própria maternidade.

Ao mesmo tempo, Lula reconhece em seus discursos que o aborto é uma questão de saúde pública, mas na prática além de em nada contribuir para o avanço dessa questão no país, demonstra toda sua disposição para com a Igreja ao assinar com a Santa Sé um acordo que prevê o ensino religioso nas escolas públicas. Em contrapartida, não há políticas sérias para garantir educação sexual, contraceptivos de qualidade ou mesmo um sistema de saúde público que permita às mulheres condições mínimas de decidir sobre seus corpos. Nesse sentido, apesar de haver duas mulheres despontando como candidatas nas próximas eleições, Dilma Roussef e Marina Silva, nenhuma das duas apresentam-se como alternativa para defender os direitos democráticos das mulheres, pois enquanto Dilma se restringe ao discurso, exatamente como Lula, Marina se coloca claramente contrária ao aborto, mas defende um plebiscito, sabendo que jogar para toda a sociedade a decisão, considerando todo o machismo que existe e o poder das igrejas e demais setores organizados, implica em dar um fim supostamente democrático a questão, mas que na prática apenas vai barrar futuros avanços.

Em meio a tal cenário, reforçamos a necessidade de organização e mobilização das mulheres, juntamente com todos os grupos e organizações de esquerda que reconhecem o caráter democrático e essencial que tem essa reivindicação pelo direito ao aborto. Somente com atos de rua e ação de massas é possível responder a altura os ataques que tem se dado não apenas contra as mulheres, mas aos direitos democráticos mais básicos da sociedade de conjunto, e em toda a América Latina, cujos exemplos são o golpe de Estado em Honduras, a ofensiva contra o MST, e o acirramento da repressão policial nos morros e favelas no Rio e em São Paulo. Todos esses ataques, por menores que sejam, devem ser ativamente combatidos desde já.

O ato em Campinas, convocado de um dia para o outro, contou com a presença de 40 ativistas, dentre eles estudantes universitários, secundaristas e trabalhadores. Esta foi uma pequena mostra do que um centro acadêmico combativo pode fazer a frente da luta em defesa dos direitos democráticos das mulheres, unificando-se com outros setores combativos da cidade, e de como os jovens tem um papel central a cumprir nesse processo. Lutar em defesa da universidade pública deve ser parte também de uma luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos setores oprimidos e explorados de nossa sociedade.

Nós da Ler-qi e do grupo de mulheres Pão e Rosas nos incorporamos ao ato com nossas bandeiras e lamentamos que outras organizações políticas da cidade, como o PSOL e o PSTU, não tenham ido. Infelizmente, a esquerda mantém-se adaptada aos momentos de passividade, perdendo a oportunidade de transformar pequenos acontecimentos em importantes atos políticos. É preciso romper com o rotineirismo e a adaptação provenientes da tradição petista, que só levanta essas bandeiras das mulheres em dias como o 8 de março. Sabemos que opressão machista só será realmente superada com a derrota do capitalismo, e sabemos também que a derrota do capitalismo, pela ação concreta das massas trabalhadoras, só se efetivará com a superação de todo tipo de opressão. A luta das mulheres é a luta dos trabalhadores! Por isso, os partidos, as organizações de esquerda, as centrais sindicais, movimentos sociais, DCEs, CAs - como o CACH, onde também atuamos - devem transformar pequenos acontecimentos, como a vinda de D. José Cardoso Sobrinho a Campinas, em importantes atos políticos, aproveitando essas ocasiões para gritar em alto e bom som:

BASTA DE MULHERES MORTAS POR ABORTO CLANDESTINOS! EDUCAÇÃO SEXUAL PARA ESCOLHER! ANTICONCEPCIONAIS GRATUITOS E DE QUALIDADE PARA NÃO ENGRAVIDAR! ABORTO LIVRE, LEGAL, SEGURO E GRATUITO PARA NÃO MORRER!

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