Terça 30 de Abril de 2024

Movimento Operário

MOVIMENTO OPERÁRIO

Entrevista com diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos

23 Jan 2009 | Entrevistamos Eduardo de Oliveira Silva Carneiro, trabalhador da GM de São José dos Campos, diretor do sindicato e integrante da Chapa 1.   |   comentários

Jornal Palavra Operária (JPO): Você acabou de ser demitido...

Eu trabalho no setor de fundição. Esse setor fechou. No setor tinha, além de mim e mais um diretor da CONLUTAS, outros diretores do sindicato. Eles romperam com o sindicato. Dois foram pra CUT e dois pra Força. O setor tinha 176 trabalhadores.

No ano passado eu peguei três suspensões. Durante a campanha da PLR eu fui demitido. Depois teve manifestação contra a minha demissão e a empresa me readmitiu. Mas mesmo assim peguei oito dias de suspensão. Agora que estamos em campanha contra as demissões a empresa decidiu me demitir.

Eles dizem que agredi um outro trabalhador, que fui violento. Na verdade o que eles querem é atacar os trabalhadores. Dos demitidos, os que não têm afastamento estão de licença remunerada. Ontem teve uma manifestação na fábrica que incorporava meu retorno imediato.

JPO: Como está a mobilização da base?

A base está mobilizada, mas tem muita repressão. A mesma campanha que a empresa fez quando lutamos contra o banco de horas, ela está fazendo hoje. Por exemplo: quando foi a minha demissão ela falou em todos os setores, me expós. Agora, além da mobilização que nós vamos fazer pra eu retornar, nós vamos abrir um processo contra a direção da empresa.

Desde quando começou essa história da retirada de direito, a empresa chamou uma pessoa de origem asiática para dirigir a fábrica. Primeiro ela começou fazer um trabalho pra ganhar os trabalhadores, fazendo coisa que eu nunca vi. Nunca vi o presidente da empresa caminhar no meio dos trabalhadores. Ele veio, começou a andar no meio do pessoal, começou a conversar, perguntando o que a peãozada queria, aí dava um almoço especial aqui, outra coisa ali. Nunca a empresa tinha distribuído nada. Aí começou a distribuir camiseta, e ela começou a ganhar os trabalhadores. Isso foi o ano todo. No final do ano ela conseguiu fazer um lockout na fábrica. Daí juntou o pessoal da CUT, os três que romperam. Tem uma entrevista que mostra o diretor do sindicato falando que aceitava o banco de horas com redução de salário, desde que a empresa desse um desconto no ónibus, no convênio médico, quer dizer, concessões pequenas que a gente sabe que não resolvem o problema. Mas ela conseguiu convencer uma parte grande dos trabalhadores. Conseguiu convencer esses três diretores que romperam com a diretoria, e a CUT que já ta convencida há muito tempo.
Eles começaram os ataques a partir daí. Colocaram dirigente pra fora. Hoje tem mobilização na fábrica, tem gente que tá com a gente, que quer que a gente faça alguma coisa, que cobra pra agente fazer alguma coisa. Mas tem um grupo que tá temeroso e tem outro grupo que tá com a empresa. Infelizmente tem.

JPO: Como estão os apoios fora da fábrica?

Nós conseguimos apoio de parte da população. Mas a população geral é difícil. A GM tem um programa que passa na televisão. Não sei passa em São Paulo também. Ela faz uma grande propaganda, que ela tá bem, que tá crescendo. E isso vem desde a época da campanha contra a banco de horas, que a gente conseguiu o apoio da Câmara Municipal, que a maioria é de direita, porque já considero o PT de direita e depois tem o PSDB, o DEM, o PSB. Conseguimos o apoio da ACI (Associação Comercial Industrial de São José), conseguimos o apoio da OAB e inclusive da Igreja.

Agora, contra as demissões, o padre Renato declarou que o sindicato de São José é muito radical, que não aceitava ceder em nada, que os trabalhadores da GM eram muito mesquinhos. Nessa campanha contra as demissões a diocese ainda não deu nenhuma resposta. Dessa vez a Igreja e a Câmara Municipal querem classificar o pessoal como se fossem um bando de burros que foram mandados embora da GM e isso não é verdade porque tem vários trabalhadores que tem estudo, tem formação, inclusive tem alguns com formação acadêmica e tem vários especializados, e a proposta que tem é de encaminhar os currículos para mandarem para outras empresas e ajudar com cesta básica. E isso parte do prefeito, dos vereadores. Inclusive muitos vereadores que ajudaram a gente na campanha contra o banco de horas hoje não querem ajudar mais.

Mas eu acho que o apoio da população a gente consegue. Já tem uma parte da população que nos apóia. Eu falo pra todo mundo que puder levar a família pro ato. Pai, mãe, irmão. Nós estamos trabalhando pra ter bastante gente no ato, pra que tenha mais de quinhentas pessoas no ato.

JPO: E a GM de São Caetano?

A GM de São Caetano é dirigida pela força e pela CUT. Nós não acreditamos que seja possível uma frente única com os sindicatos contra as demissões. Mas com os trabalhadores sim, porque lá não é só CUT e Força. Lá ta também a CTB, que é do PCdoB. Mas o que fizemos na campanha do início do ano passado nós vamos fazer agora também, que é mobilização lá, em Gravataí, em Mogi, aonde for preciso. Nós vamos chamar os trabalhadores, porque a direção vai estar contra.

JPO: Como reverter os ataques na GM e em outras empresas?
Só vai reverter se tiver uma mobilização nacional. Eu acho que só dessa forma. Agente sabe que em muitos lugares vai ter resistência. Por exemplo, aqui em Taubaté mesmo o que sindicato fez pra manter o emprego é brincadeira, é uma sacanagem o que fizeram com os trabalhadores lá; um acordo que não vai conter as demissões, vai negociar redução de salários, banco de horas, essa coisas. Nós não vamos entrar nessa conversa. Isso não resolve. Sempre achamos e vamos continuar achando que esse tipo de coisa não resolve. Por exemplo: a Volks, o primeiro banco de horas lá, que era pra conter as demissões, a empresa tinha em torno de 40 mil trabalhadores; hoje ela tá com 12 mil. Tá vendo: não resolveu o problema, e não vai resolver.
Aqui em São José tem empresa demitindo que não é por causa da crise e eles falam que é. Por exemplo: a Ambev, ela faz cerveja, todas as cervejas menos as importadas é ela que faz, e ela ta demitindo, já demitiu, quer dizer, vai na onda da crise e começa a demitir. Agora quem disse que fábrica de cerveja está em crise? A Gerdau ta vendendo aço horrores aí e demitiu 40.

JPO: Sobre a Gerdau que deu dinheiro para o PSOL...

Eu acho que tem que cobrar do PSOL. Porque parece que houve um racha lá no Rio Grande do Sul por causa disso. Parece que não teve a frente de esquerda por causa disso. Eu acho que o PSOL, como parte integrante da Conlutas, a gente tem que cobrar. A Gerdau deu dinheiro e agora ta demitindo. Que nós vamos fazer? Não adianta. Um partido operário ’ e eu não to dentro de nenhum partido ’ que quer ter independência, um partido de luta, que quer ser revolucionário, não pode e não deve aceitar ajuda de empresa nenhuma, nem da Gerdau nem de ninguém. Eu acho que tem que cobrar sim. A gente sempre costuma dizer que quem paga manda. Pode ter certeza que alguns parlamentares que eles elegeram lá se aliaram com a Gerdau e com outras empresas. Tem que ficar de olho em quem foi eleito, porque quem vai mandar é a empresa que deu dinheiro.

JPO: O sindicato e a esquerda estão preparados para combater as demissões?

Sinceramente eu tenho dúvidas se estamos preparados. Tenho muitas dúvidas por diversos problemas. A esquerda fica se digladiando e eu não sei se ela ta preparada não. Até porque eu acho que falta mais ação, temos que esquecer um pouquinho os problemas que a gente tem entre a gente e se somar a luta com os outros trabalhadores, sem estar sozinho, deixar o isolamento de lado, esquecer um pouco das divergências. O que eu acho que aconteceu é que os trabalhadores ficaram um tempo sem muitas ações. A gente ficou meio parado sem saber o que fazer. O que eu vi acontecer, e não acho que ninguém é melhor que ninguém não, mas um monte de coisa acontecendo e as maiores mobilizações foram na GM, aqui na REVAP e os trabalhadores de transporte de São José. No resto do país eu não vi nada acontecendo.
JPO: Qual deve ser a estratégia para vencer a luta?

Pra mim a saída pra isso tudo é controle operário. Enquanto o controle estiver nas mãos dos capitalistas não tem solução. Eu sempre falo: eu acho que tem que ocupar as empresas sob controle dos trabalhadores. Eu acho que a solução é estar na nossa mão. Enquanto os capitalistas estiverem controlando tudo não tem o que fazer. O pessoal fala que tem que ter estatização na mão do governo. Eu acho que não. Eu acho que não tem que estar na mão do governo. Tem que estar na mão dos trabalhadores.

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