Sexta 26 de Abril de 2024

Juventude

Ocupação da Reitoria

Duas estratégias na luta da PUC-SP

08 Nov 2007   |   comentários

Os novos processos de luta do movimento estudantil, aos quais os estudantes da PUC-SP se somam, estão expressando não somente a insatisfação das classes médias que se desiludiram com o PT, mas também que as universidades se transformaram em um ramo da economia como qualquer outro, sujeito a crises recorrentes, principalmente pelo elemento estrutural do “boom” anárquico do crescimento das universidades privadas a partir de 94, no governo FHC.
Essa crise explodiu na PUC-SP numa greve em 2006 contra um processo de demissões em massa e de ataque à já limitada autonomia universitária com a intervenção da Igreja Católica (parecia que voltávamos à Idade Média!). A PUC-SP foi uma universidade “ensanduichada” pelas “privadas de massa” (as chamadas “unisquinas” ) por um lado e pelas “privadas de elite” como a FGV por outro, e o velho “modelo PUC” tendia a explodir devido às pressões concretas da concorrência capitalista, transitando necessariamente para a esquerda ou para a direita. Infelizmente, a derrota da greve de 2006 levou não somente a um refluxo do movimento estudantil, mas a uma recomposição pela direita do regime universitário.

Porém, a santíssima trindade (reitoria, igreja e bancos) ainda não tinha conseguido completar sua façanha e tenta agora avançar para mais um ataque com o chamado Redesenho Institucional. O projeto da reitoria de consiste em uma adaptação para a universidade particular de aspectos importantes da Universidade Nova, criando bacharelados interdisciplinares como grandes “escolões” , e criando Institutos que teriam que buscar seu auto-financiamento.... com o capital privado, é claro! Colocando ainda mais a universidade e o conhecimento nela produzido de acordo com os interesses do capital. Pior ainda que o REUNI, o Redesenho não tem sequer nenhuma concessão com a expansão de vagas, como poderiam ser mais bolsas ou rematrícula dos perseguidos inadimplentes. É ataque puro.

Como vemos, se trata de uma crise profunda que a santíssima trindade está decidida em dar uma resposta....pela direita. O movimento estudantil se levantou novamente e mais uma vez declarou guerra à reitoria. Aqui, queremos contribuir para que essa mobilização possa de fato impor uma derrota à reitoria e abrir espaço para reorganizar a PUC-SP, de acordo com os interesses da comunidade universitária, dos trabalhadores e do povo pobre, e não a serviço de uma casta de burocratas acadêmicos e meia dúzia de parasitas capitalistas.

Como levar o movimento à vitória?

É importante tirar as lições das ocupações e greves da USP, Fundação Santo André e das Federais, para não seguirmos cometendo os erros que nos têm levado a derrotas ou vitórias parciais, fruto da política das atuais direções. As ocupações, que já são uma marca do novo movimento estudantil, expressam a indignação com os ataques à universidade. São não somente um método de luta legítimo, mas radicalizado e poderiam se transformar em alavancas para a massificação e a radicalização política do movimento. Infelizmente, em geral, não é isso que tem ocorrido e essa história ameaça se repetir na PUC-SP.

Em geral, as ocupações tendem a se transformar em um fim em si mesmo, em instrumentos de pressão por migalhas da burocracia acadêmica, e transformam os ocupantes em estudantes que tem o poder de decidir sobre todos os estudantes em luta que estão nos cursos ou salas de aula. As ocupações acabam se isolando e burocratizando. No melhor dos casos, são instrumentos de pressão por pequenas concessões, quando não acabam terminando por esvaziamento, levando ao desânimo centenas de estudantes que resolveram superar a paródia de “movimento estudantil” dos últimos anos. Em geral, essa é a política que é levada à frente pelo PSOL, PSTU e pelos setores autonomistas, com apenas matizes entre eles. Por exemplo, na PUC, o PSOL, com o PSTU a reboque, desde que entraram, já queriam votar uma comissão de negociação pouco representativa do movimento, que negociasse às portas fechadas e já tivesse votados os “condicionantes” para desocupar, que poderia ser, por exemplo, o adiamento da votação do Redesenho no dia 12.

Nós temos uma estratégia distinta. Para nós, a ocupação deve ser um instrumento de massificação, um centro organizador das discussões e deliberações que devem ser feitas pelo conjunto dos estudantes, a partir das salas de aula, onde devemos eleger delegados que representem a democracia direta dos estudantes, conformando uma direção democrática para o movimento. Essa é a única via para termos a força necessária para impor uma derrota à reitoria, anulando o processo de anti-democrático de discussão do Redesenho e todos os ataques (aos bolsistas, inadimplentes, demissões em massa, repressão etc) e passar à ofensiva.

A luta por pequenas concessões já mostrou que abre espaço para as derrotas. A crise da PUC exige uma resposta de fundo. É necessário que o movimento estudantil, aliado aos professores e funcionários, formule um projeto independente para a PUC e organize uma estatuinte imposta pela força da mobilização, sem burocratas acadêmicos, pois qualquer projeto que não seja para os burocratas e o capital não pode passar com a atual estrutura de poder anti-democrática. Devemos lutar pela maioria estudantil nos organismos de decisão e por eleição direta e universal para todos os cargos, sem necessidade de titulação. Por uma verdadeira autonomia universitária: Fora a Igreja! O financiamento dos capitalistas só pode aprofundar o caráter elitista da universidade, que vai desde sua composição, currículo e pesquisa. Lutemos por uma nova PUC, estatizada, não mais a serviço do capital, mas dos trabalhadores e do povo pobre.

Rodrigo “Tufão” é membro do Centro Acadêmico de Ciências Sociais e do Conselho Universitário

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