Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

FALAM OS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DA USP!

Depoimentos dos trabalhadores em greve

26 Jun 2014   |   comentários

“Só com a unidade de classe dos trabalhadores poderemos vencer”
Nós trabalhadores da USP estamos em greve para barrar este ataque que o reitor vem tentando impor através do governo do estado. Que está ligado diretamente ao sucateamento e a privatização dos serviços públicos. Por isso acredito que só com a unidade de classe dos trabalhadores poderemos vencer esses ataques. Contra a demissão dos 42 metroviários, o sucateamento do HU e privatização das universidades públicas.

Cleber, delegado do Comando de Greve pela Faculdade de Educação

“Os piquetes servem pra mostrar que na greve é o povo trabalhador quem manda”
A greve está deixando a reitoria desorientada. Acho que a reitoria e o governo estão usando uma estratégia consciente de congelar os salários e não aumentar as verbas para sucatear a universidade e depois privatizar. Vejo isso no meu setor onde trabalhamos com reparos na rede elétrica e conservação da universidade. Por isso acho nossa luta mais do que justa e eles vão ter que aprender que se o povo trabalhador depende do trabalho para sobreviver o governo e todos dependem dos trabalhadores para fazer as cosias funcionarem. Na prefeitura fazemos reuniões quase todos os dias pra organizar nosso movimento em defesa de melhores condições pra todos e achamos mais do que justo fazer a greve e sabemos que do outro lado a estratégia é nos dividir para nos derrotar. Os piquetes são uma forma de nos proteger. É uma forma de manter nossa organização e chamar a atenção para nossas reivindicações e fazer aqueles que ainda não entenderam isso caírem na realidade. Os piquetes servem até pra mostrar pra aqueles de colarinho branco que todos os dias mandam em nós que, na greve é o povo trabalhador é quem manda.
Décio, trabalhador da Prefeitura do Campus Butantã

“O Hospital Universitário em greve aumenta nosso poder de força contra o Reitor”
O reitor está fazendo pouco caso da greve não atendendo as reivindicações dos trabalhadores. O HU que há 20 anos não participava de greves aderiu à greve e isso aumenta o poder de força de toda nosso movimento contra reitor déspota e intransigente. Devemos manter a nossa união e luta conjunta aos estudantes e professores levando uma luta conjunta para assim conquistar as reivindicações que estamos pedindo em nossas manifestações.

Vilma e Rosana, trabalhadoras do Restaurante da Física

“Queremos barrar os cortes de terceirizados, pois são parte da nossa categoria”
“Trabalho no Instituto de Psicologia, unidade onde a greve vem se fortalecendo. Conseguimos parar setores que não têm tradição de greve, como a Biblioteca e a Pós-Graduação, discutindo que os prazos e a lógica produtivista de agências como a CAPES não estão acima do nosso direito de greve. Além disso, estamos estabelecendo uma importante unidade com os professores e alunos, também em greve, fazendo plenárias semanais com os três setores para organizar a greve no Instituto.
Em nossa unidade, temos o Centro de Atendimento Psicológico, destinado a oferecer serviços gratuitos, sendo um dos poucos casos de extensão universitária, em que o conhecimento produzido na universidade é colocado a serviço da população. O oferecimento desses serviços está correndo um sério risco com a falta de instalações adequadas e falta de funcionários, o que se agravou na atual gestão do reitor Zago. Por isso, discutimos a importância da greve do Hospital Universitário e do Centro Saúde Escola para jogar luz sobre o desmonte dos serviços oferecidos pela USP, em especial na área de saúde, e levamos para o comando de greve a proposta de a Psicologia, bem como as unidades que aceitarem se incorporar, oferecer seus serviços à população como atividade de greve, em frente ao acampamento feito no prédio da reitoria.
Como proposta de uma reunião dos trabalhadores, conseguimos pressionar a Diretoria para convocar uma Congregação (órgão antidemocrático que dirige a unidade, onde os trabalhadores têm apenas um voto) sobre a greve, mas aberta a voz e voto de todos os professores, estudantes e alunos do Instituto. Nessa Congregação, conseguimos aprovar uma moção de apoio ao reajuste dos servidores, à abertura das contas na universidade, ao fim do congelamento de contratações e ao fim do corte de terceirizados em toda a USP. Agora, nós vamos nos apoiar nessa moção para tentarmos barrar os cortes de terceirizados que já estão programados para nossa unidade, entendendo que eles fazem parte da nossa categoria tanto quanto nós, sendo vítimas de contratos de trabalho ultra precarizados.
Gustavo, delegado do Comando de greve pelo Instituto de Psicologia


“Poder participar de um comando de greve que efetivamente discute os rumos da greve é uma experiência nova”
Minha primeira greve como trabalhadora foi em 2010. Greve de professores. Achei que teríamos o respeito da população. Mas assim como quando criança via, assustada, os “barbudos” ditos oportunistas, também parte da população e meus próprios colegas de trabalho, meus companheiros, viam nós, grevistas, como seres de outro mundo. Ora idealistas, sonhadores, que iriam logo aprender que de nada adiantava tanta revolta, ora vagabundos que não queriam saber de trabalhar, pegar no pesado. Ninguém acreditava que, assim como no passado, a luta que se faria ali, professores versus governo, poderia mudar, seja nossos salários, seja nossas condições de trabalho.
E não mudou.
Mas não mudou porque depositamos muito poder sobre uma instituição sindical que não soube lutar por direitos, não soube construir um ideal de greve, nem um sentimento coletivo de mudança. Não soube e não quis abrir mão do controle dos trabalhadores e da agenda de greve. Para garantir sua própria existência preferiu manter tudo como estava e manter-se inalcançável ao trabalhador.
Burocratizou a luta. Centralizou as decisões. Tirou do trabalhador a experiência democrática da construção de seu sindicato, fazendo prevalecer a submissão ao estado opressor.
Naquele momento não foi apenas a luta por um salário digno que foi perdida. Minha própria crença nessa instituição se perdeu um pouco.
Agora, quatro anos depois, mais uma greve. Desta vez, mais cínica, mais cética, assumi novamente meu papel de grevista. Mas esperava muito menos. Algumas assembléias, panfletos, caminhadas, atos, até o justo reajuste salarial chegar. Tudo seguindo o protocolo da greve burocrática.
Mas várias surpresas desarmaram meu cinismo.
Poder participar de um comando de greve que efetivamente discute os rumos da greve, fugindo da lógica centralista que estamos tanto acostumados, é uma experiência nova. Claro que ainda há, dentre nós, aqueles que preferem o centralismo. Mas presenciar uma experiência mais horizontal de participação e luta me mostra que mesmo essa instituição, o sindicato, está sujeita a renovação, a uma nova construção mais democrática. Na minha unidade, a FFLCH, reuniões cheias com até mais de cem funcionários dispostos a construir a discussão, trazer propostas, levar idéias, me tornaram uma grevista melhor e destruíram em mim, os últimos resquícios da visão da criança amedrontada pelos pais conservadores.
Perceber que, assim como eu, vários de meus colegas de trabalho carregavam dentro de si inquietações que iam além da questão salarial, questionavam a estrutura universitária de poder, a função social de seu trabalho e para além dos muros da universidade, acreditar que a luta de outras categorias, como os metroviários, era também a nossa luta, retomou em mim a idéia de companheiros. Estamos lado a lado contra o autoritarismo, por melhores condições de trabalho e salários mais dignos. Essa visão renovada de fazer greve possibilita a ampliação da pauta de reivindicações. E a torna mais palpável, mais possível. Pois é uma pauta que pode ser discutida, entendida e ampliada a qualquer momento.
Lógico que não será esta greve que colocará fim ao autoritarismo dos patrões e dos governos. Nem posso afirmar com certeza que o sentimento que partilho com meus companheiros seja o sentimento da maioria. Talvez, ao fim desta greve, só o reajuste salarial seja uma certeza. Mas a experiência formada em mim e em meus companheiros, ela sim se tornará um discurso poderoso de mudança.
Patrícia, delegado do Comando de Greve pela FFLCH)

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