Sábado 18 de Maio de 2024

Juventude

LIGA ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA - QUARTA INTERNACIONAL

Declaração diante da ocupação da Reitoria da UnB

12 Apr 2008 | Nós, da Liga Estratégia Revolucionária, viemos de várias universidades do estado de São Paulo para prestar solidariedade ativa à luta dos estudantes da UnB. No ano passado, estivemos na linha de frente das lutas e ocupações em nossas universidades, como na USP, que foi referência nacional de luta, na Unicamp, na Fundação Santo André, na Unesp e na PUC-SP. Queremos contribuir com a nossa pequena experiência nestes processos e com as lições que tiramos deles para que a luta dos estudantes da UnB possa sair vitoriosa.   |   comentários

A ocupação teve sua primeira conquista! Depois do afastamento do reitor, é necessário lutar por mais!

A ocupação da reitoria da UnB que completou ontem uma semana adquiriu rapidamente grande repercussão na mídia, na sociedade e, principalmente no Senado Federal. Isso ocorreu principalmente por conta de sua pauta política que escancarou um esquema de corrupção entre as Fundações Privadas e a atual gestão da reitoria, personificado na figura do REItor - agora afastado - Timothy Mulholland.

Os estudantes da UnB têm demonstrado uma grande combatividade. Tiveram que se enfrentar com a ameaça de invasão da Polícia Federal e os seguranças da universidade para garantir a ocupação que, entre os 18 pontos de reivindicação exige a queda do reitor e seu vice, eleições paritárias imediatas, fim dos convênios da UnB com as fundações, leilão dos objetos da reforma do apartamento do reitor, construção de moradia estudantil, abertura das contas da UnB.

O reitor anunciou ontem (10/04) seu afastamento por 60 dias. Isso só foi possível pela força do movimento estudantil que, com métodos radicalizados, confiou em suas próprias forças. Porém, o reitor mantêm-se nos bastidores, visto que “nomeou” o vice-reitor Mamyia para dirigir a UnB e segue como presidente da FUB (Fundação Universidade de Brasília). Com a desfaçatez característica dos larápios pegos com a mão na butija, Timothy definiu que se afasta com "o objetivo de assegurar os princípios constitucionais da eficiência, publicidade, moralidade, impessoalidade, legalidade e transparência na apuração dos fatos" a ele imputados. O afastamento do reitor foi a saída encontrada pela burocracia universitária, que ao não poder derrotar os estudantes - não tinha autoridade para "negociar" nem força para reprimir - viu-se obrigada a preservar o Conselho Diretor, e o Consuni e o controle das fundações (o "cofre").

O medo do governo Lula de ver-se atingido com as denúncias de corrupção foi um fato importante para o reitor se afastar do cargo. Isso porque o reitor, indicado pelo próprio Lula, implementa na UnB o mesmo projeto de universidade que os reitores de todas as universidades federais. O projeto de Lula, o Reuni, vem justamente para fortalecer ainda mais essa burocracia acadêmica corrupta, porque abre as portas para as fundações e dá todo o controle das verbas aos reitores e à burocracia. Além disso, seria extremamente desgastante para o governo Lula enviar a polícia federal (supostamente anti-corrupção) para reprimir os estudantes que lutam contra a corrupção.

A UNE, que diz apoiar a ocupação, não merece nenhuma confiança! Essa entidade defende os projetos do mesmo governo que indicou todos os “Timothys” das universidades federais e é dirigida pelos partidos como PcdoB e PT, que são os partidos do “mensalão” e dos cartões corporativos. Agora vamos ouvi-los dizendo que já é uma vitória e tentando enfraquecer a ocupação. O chamado que esta entidade faz por um dia nacional de mobilização das federais por democracia na universidade não passa de uma tentativa de se relocalizar (frente ao papel vergonhoso que cumpriu contra as lutas ano passado) e canalizar o movimento para a via “institucional” .

Na nossa luta em São Paulo , nos deparamos com a mesma tentativa de enfraquecer o movimento com as manobras do governo. Quando o governador José Serra viu a força que tinha nosso movimento, soltou um “decreto declaratório” para revogar parcialmente os decretos contra os quais o movimento lutava, ainda que mantendo o fundamental dos ataques. Com isso, tentava ganhar os professores e um setor dos estudantes para acabar a luta. Aqui, colocou-se em marcha um plano similar, que poderia ser chamado de operação-desmonte, dirigida pelo senador Cristovam Buarque, junto com o senador Eduardo Suplicy (PT), o ministro da Educação Haddad e professores aliados à burocracia universitária.

O afastamento de Timothy foi o tributo pago à força da luta dos estudantes, mas seu fim é desviar esse processo para “negociações” futuras preservando o Conselho Diretor, o Consuni (Conselho Universitário) , enfim, o poder autocrático responsável pela farra das fundações. A operação-desmonte objetivava, também, encerrar o processo, evitando que se nacionalize e cresça o suficiente para atingir o governo Lula, os políticos e as demais universidades federais que fazem a festa com o dinheiro fácil e sem fiscalização via fundações e convênios com outras fundações dos governos e empresas.

Manter a ocupação e organizar uma greve dos 3 setores na UnB!
Construir um comando de delegados eleitos nas salas de aula para massificar a luta!

Com o afastamento do reitor Timothy, o "primeiro round" mostrou que a ocupação dos estudantes tem forças para ir em frente, barrando a operação-desmonte que a UNE, o governo, os políticos patronais e a burocracia universitária tentarão consolidar.

O DCE (dirigido pelo PSOL, PSTU, Instinto Coletivo e independentes) , que tem declarado corretamente não aceitar o "afastamento" e o encerramento da luta, deve colocar-se à frente da organização da greve geral estudantil e de toda a UnB, aproveitando o apoio dos funcionários e professores para construir uma luta massiva e geral na universidade.
A massificação da luta dos estudantes só será possível através da constituição de um Comando de Greve, representativo e democrático, com delegados eleitos e revogáveis em assembléias de curso. Essa é a única maneira de impedir as “reuniões fechadas” e as traições; e será a única garantia de que valerá realmente o poder dos que lutam ’ não o dos “dirigentes” burocráticos e políticos patronais.

Este comando, conjuntamente com funcionários e professores, é o organismo que pode lutar para impor um governo provisório sobre a queda do reitor, vice, decanos, conselho diretor e Consuni, que convoque um Congresso Estatuinte ’ não congressos de “fachada” em pactos com a burocracia universitária como defende a UNE. Em nossa opinião, esse congresso estatuinte deve refundar a UnB e colocá-la a serviço dos trabalhadores, do povo pobre e suas lutas, com acesso livre e direto (sem vestibular) para expandir o ingresso ao ensino superior aos filhos da classe trabalhadora (e aos negros e negras), rompendo o elitismo e racismo da universidade brasileira, colocando o conhecimento, a pesquisa e o ensino em prol das necessidades essenciais da maioria da população e não dos interesses capitalistas.

Levantar o movimento estudantil nacional com as demandas da UnB!

É tarefa urgente do DCE aproveitar essa primeira conquista para nacionalizar a luta da UnB. O DCE deve convocar a Conlute, a Conlutas e a Intersindical para lançar uma campanha nacional de solidariedade ativa aos estudantes da UnB, como primeiro passo para a nacionalização da luta nas demais universidades federais, estaduais e particulares. Um Comando de Greve representativo da UnB teria toda autoridade para convocar um Encontro Nacional de Estudantes, com delegados eleitos em todo o país para concretizar uma luta nacional contra o reitorado, as fundações e a corrupção, pela democratização nas universidades, mais verbas, expansão de vagas, infra-estrutura adequada ao ensino, assistência estudantil, salários, contratação e condições de trabalho para funcionários e professores.

A solidariedade popular aos estudantes da UnB deve ser fortalecida com denúncias de todas as roubalheiras e descalabros das burocracias de todas as universidades, a ligação delas com o governo Lula e os políticos que falam de "ética" para conservar as podres instituições - como o Congresso, e as negociatas com as empresas, via fundações. Existem as condições para ir além, pelas reivindicações realmente exigidas para uma saída progressiva profunda de acordo com os interesses dos estudantes, dos funcionários e professores, na UnB, e da maioria da população que deseja ver os corruptos e ladrões punidos. Nesta perspectiva, os estudantes da UnB estarão na linha de frente da luta nas demais universidades do país, liderando um chamado a uma greve estudantil nacional nas universidades federais e públicas estaduais, construída num representativo Encontro Nacional de Estudantes.

O Consuni é a saída?

Pelos estatutos da UnB o Conselho Universitário (Consuni) seria "o órgão máximo da Universidade de Brasília” . Porém, este organismo é parte do poder autocrático dos professores mais comprometidos com as negociatas das fundações e das empresas, serviçais dos partidos políticos patronais e dos governos. Seu caráter anti-democrático e não representativo fica nítido na sua composição: os professores detêm 70% da representação, enquanto os estudantes - maioria - ficam com 15%, igual aos funcionários. Esse caráter é funcional para fazer valer os interesses do professorado titular, aristocrático, privilegiado. Sequer a maioria dos professores não se vê representada. É uma instituição moldada na medida para reproduzir o poder da burocracia universitária e os interesses dos governos e do empresariado. Não há espaço para os interesses fundamentais da maioria da comunidade universitária, menos ainda da população.

Além disso, este Consuni foi omisso durante todos esses anos, diante das fundações e da gestão corrupta do reitorado. Daí nada se pode esperar. Fora reitor, Conselho Diretor e Consuni! Destruir esse poder corrupto e mercantilista para impor o poder da maioria estudantil, única forma de representar e defender as necessidades dos funcionários, professores e da maioria da população.

A verdade deve ser dita, para desmascarar a “ética” do engano

Em reunião com cerca de 70 estudantes dia 09/4 os senadores Cristovam e Suplicy prestaram seu “apoio” e “solidariedade” , e Cristovam Buarque centrou seu discurso na necessidade de sempre procurar o diálogo, repetidas vezes falou em “transparência” e “ética” , mas não se furtou em defender as fundações, o motor da corrupção e bandalheira da burocracia das universidades.

Um dia antes, na segunda-feira, o senador Cristovam deixava claro seus objetivos: “Por que o reitor não se licencia por um prazo? Os alunos desocupam o prédio por esse prazo e cria-se uma comissão para analisar o que houve de fato” . O senador Cristovam sempre defendeu o reitor Timothy, mesmo diante das inúmeras denúncias da roubalheira. Em 21 de fevereiro o senador elogiava a e defendia Timothy e sua gestão, chegando ao absurdo de não aceitar que tivesse cometido “atos ilegais” : "Estou de acordo com o professor Timothy de que não houve ato ilegal, de que não houve apropriação indébita, de que nenhum Real saiu do setor público para o bolso do reitor ou para qualquer de seus funcionários.” E para mostra sua “amizade” com o reitor falava de seus “encontros” : “Nos encontramos no domingo, 17 de fevereiro, e ele acabou concordando comigo que, se não houve ato ilegal, houve um grande equívoco nas prioridades.” [Três ex-reitores defendem a gestão Mulholland. 21/02/2008].

Cristovam Buarque, apesar das falsas palavras sobre “ética” e “transparência” aposta em que o “tempo passe” e as “apurações” sejam restritas ao máximo para preservar todos os envolvidos ’ burocratas da UnB, assim como o ex-reitor Cristovam. Por isso segue firme acobertando os “atos ilegais” do reitor e seus asseclas, falando em “analisar o que houve de fato, o que a mídia exagerou ou não [!]; quais foram os gastos naquele famoso apartamento funcional; discute-se o envolvimento ou não do reitor diretamente; se foi por omissão diante de atos de alguns dos seus auxiliares, ou se foi ele próprio que decidiu". Como se vê, o senador Cristovam afagava os estudantes com uma das mãos e com a outra afagava seu dileto “amigo” e predileto reitor Timothy. Para garantir investigações verdadeiras, não basta a “ética” mentirosa que diz apoiar os estudantes mas não rompe com os corruptos. Como pode o senador sugerir o afastamento do reitor para preservá-lo na direção da Fundação Universidade de Brasília (FUB), quem realmente tem a chave do cofre? Qual a “ética” do senador para dar poder ao vice-reitor Mamyia, que está envolvido até o pescoço na roubalheira atual? As tais “apurações” de que fala o senador não trarão “transparência” , porque o mal tem que ser erradicado pela raiz. As fundações ’ que o senador defende ’ continuarão dominando as universidades a serviço dos interesses da burocracia universitária e dos negócios empresariais. Com essa operação-desmonte, o Consuni seguirá sendo um instrumento do poder da autocracia universitária, com sua composição anti-democrática e não representativa. O pacto que levou ao afastamento do reitor é, se for tomado em si mesmo e não como uma alavanca para avançar na luta, uma operação para “mudar e deixar tudo como está” .

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