Quinta 2 de Maio de 2024

Juventude

CLASSE DE LUTA - 1968 NO BRASIL E NA FRANÇA

Debate sobre o maio de 68 na PUC-SP

07 Nov 2008   |   comentários

Realizamos no Auditório Banespa (Biblioteca da PUC-SP) a exibição dos filmes “Classe de Luta” e “Os Operários Também” do Grupo Medvedkine, com a presença de Ana Amélia da Silva (Depto. de Sociologia e Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais PUC-SP), Vera Lúcia Vieira (Depto. de História e Programa de Pós-Graduação em História PUC-SP) e Luís Siebel (Diretor das Edições Iskra). Lançamentos anteriores foram realizados por nossa organização na USP e no Museu da Imagem e do Som em Campinas.

Em primeiro lugar, a Profa. Ana Amélia convergiu com os nossos objetivos ao informar que a edição brasileira dos filmes se encontrava com os estudos que tem desenvolvido sobre o cinema francês dos anos 1967 ’ 1974. Considerando isso, procedeu com valiosos comentários sobre os filmes, indicando as influências do cinema soviético (Medvedkine e Vertov), a perspectiva destas vanguardas em transformar a classe operária como próprios sujeitos artísticos, a utilização de “imagens dialéticas” etc.

Passou a considerar as contribuições de Marker e Godard nos anos 1960-1970, e a ruptura com o cinema clássico. Nesse sentido, a arte de vanguarda francesa acompanhava o passo do maio de 1968, a subversão dos pensamentos do “welfare” e do desenvolvimento pacífico do capitalismo francês, numa palavra, a ligação da intelectualidade revolucionária e a classe operária, da luta de classes e do cotidiano da classe, da subversão das antigas relações burocráticas das grandes organizações do proletariado, integradas ao regime da V República Francesa (o PCF e a CGT).

Após a exposição, muito elogiosa inclusive para a iniciativa de nossa organização, a qual deixamos um implícito compromisso de continuar a exibição de filmes e debates sobre a arte de vanguarda e a classe operária, Luis Siebel ressaltou as últimas elaborações que realizamos em parte coletivamente sobre o maio de 68. Debateu fundamentalmente a partir de perspectivas traçadas na própria exibição, recuperando o protagonismo da classe operária (seguindo Vignas), e situando o maio como o início de uma nova etapa da luta de classes: “as manifestações operárias e estudantis foram acontecimentos decisivos para a história francesa e a luta de classes internacional, pois abriram um ciclo de recomposição massivo de ofensiva do trabalho contra o capital: um questionamento dos mecanismos de exploração capitalista partindo da ’ordem fabril’, um questionamento da sangrenta dominação imperialista e um questionamento dos agentes da burguesia no movimento operário que defendiam o reformismo e a conciliação de classes, começando pelo stalinismo. Demonstraremos, contra esse tipo de concepção ’inovadora’, que o motor fundamental do maio francês não se restringiu ao que se passa na cabeça dos reformadores da ordem social existente, pois foi, acima de tudo, como afirmou Jean-Pierre Duteil, uma mostra de que “a luta de classes não era uma estante do departamento de antiguidades, a classe operária não fez sua ’despedida’, ou seja, marca a entrada em cena de um movimento operário extremamente moderno e concentrado, que se colocava como sujeito potencial não de uma premissa teórica, como nos tempos de Marx, mas como um sujeito fundamental na abolição da sociedade de classes” .

Por fim, a profa. Vera buscou questionar algumas categorias como o papel subjetivo da classe operária, talvez questionando a capacidade de transformação da promessa do maio de 68 em revolução, o que foi respondido por Ana Amélia muito bem, demonstrando que por trás dos “anos dourados” da república gaullista se escondia ingredientes explosivos da luta de classes. Antes de aberto o debate ressaltou ainda aspectos ligados a militância de base nos anos 1960 no Brasil.

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Inéditos na língua portuguesa, foram lançados no mês de junho na Argentina numa parceria entre ISKRA e CONTRAIMAGEN, chegam agora ao Brasil a partir de um trabalho militante de tradução feito pela LER-QI. ISKRA é a produtora de Chris Marker, cineasta militante com uma vasta produção desde os anos 1950. Marker também foi produtor de filmes como a legendária “A Batalha do Chile” de Patrício Gruzman. CONTRAIMAGEN é um coletivo de jovens artistas militantes de esquerda da Argentina que vem produzindo vários documentários sobre a classe operária como Revolução e Guerra Civil Espanha (2006), Oaxaca, o poder da Comuna (2006), dentre inúmeros outros.

CLASSE DE LUTA

“Classe de lutte” )

Grupo Medvedkine de Besançon, 1968 / França (39 min)

Relata a criação de uma seção sindical da CGT na fábrica de relógios Yema em 1968. A protagonista deste feito é Suzanne Zedet, operária que aparece nas imagens de “Espero que esteja pronto” , ocultada e timidamente reservada por seu marido. Ela mantém o seu corpo discreto, quase muda ainda quando o desejo de falar aflora, retido todavia por sua timidez, o peso das tarefas domésticas e a dificuldade de conciliação de uma vida melhor e de mãe com as exigências da militância política. Em dezembro de 1967, Suzanne se cala. Em Classe de Luta ela tomou a palavra e, as razões que lhe impediam falar, se bem que não desapareceram totalmente, parecem resolvidas na ação.

OS OPERÃ RIOS TAMBÉM

(“Les ouvriers aussi” )

França / 2007 (35 min)

Uma olhada ao passado conduzida por Bruno Muel, cineasta da ISKRA e membro do Grupo Medvedkine em 1968, e por Xavier Vigna, historiador que recentemente lançou um livro sobre a insubordinação operária francesa nos anos 1960. Este curta-metragem destaca o protagonismo dos trabalhadores com valioso material de arquivo e fragmentos de filmes da época. Será exibido na abertura de cada sessão.

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