Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

Para que a combatividade dos trabalhadores da USP cheguem a milhares de trabalhadores

Começa a ser impulsionada uma corrente político-sindical classista

10 Sep 2004 | Entrevista com Mazé Cutinhola, diretora do Sintusp e dirigente da Liga Estratégia Revolucionária, e Claudionor Brandão, combativo dirigente da greve dos funcionários da USP.   |   comentários

PO: Como surgiu a idéia desta corrente?

Brandão: A idéia de construir uma corrente político-sindical surgiu no final da greve das universidades paulistas deste ano. Nós tivemos uma greve muito forte e radicalizada, na qual uma série de companheiros se destacou como potenciais dirigentes políticos, com uma dedicação impressionante aos piquetes e atividades da greve e com muita valentia, dispondo-se inclusive a um enfrentamento direto com a polícia. Os trabalhadores da USP têm uma longa tradição de greves extensas e radicalizadas, porém víamos que o melhor dessa tradição se limitava aos períodos de campanha salarial, sem obter como saldo das greves uma organização superior dos trabalhadores. Assim, a cada nova greve, parecia que partíamos do zero. Com um grupo de companheiros que estiveram na linha de frente da greve e dos piquetes, eu e os companheiros da Liga Estratégia Revolucionária começamos a discutir a necessidade de nos organizarmos numa corrente político-sindical classista antiburocrática e militante.

PO: Quais são os principais objetivos dessa corrente?

Mazé: Com essa corrente pretendemos lutar pela auto-organização dos trabalhadores, isto é, para que também fora das greves os trabalhadores possam decidir suas formas de luta, definir como deve atuar o sindicato e como resolver os problemas que enfrentamos dia-a-dia em cada uma das unidades da USP. Achamos fundamental que os melhores ativistas dessa greve possam se formar como novos dirigentes políticos da categoria e, para isso, já começamos a impulsionar, além de discussões, cursos de formação política. No entanto, achamos que uma corrente que se pretende classista não pode de maneira alguma se limitar a uma única categoria e aos muros da universidade, tem, ao contrário, que buscar a maior unidade possível da classe para lutar contra o governo e os patrões. Por isso queremos nos ligar a trabalhadores de outras categorias do funcionalismo público, aos trabalhadores das fábricas, aos trabalhadores desempregados, aos estudantes lutadores, apoiando ativamente os processos de luta que se dêem e intervindo no movimento sindical nacional.

Brandão: Nos parece que a corrente surge num momento crucial, quando temos um presidente ex-operário, que além de cumprir todos os planos neoliberais de superávit para o pagamento dos juros da dívida externa, pretende implementar uma série de ataques brutais contra as condições de vida da classe trabalhadora, retirando direitos historicamente adquiridos, como férias, 13º salário, licença-maternidade, atacando nossa organização sindical e o nosso direito de greve, aprofundando a destruição da universidade pública. Os trabalhadores vão ter que estar muito organizados, lutando contra as velhas e novas direções pelegas que hoje estão diretamente atreladas ao governo, se quiserem ser vitoriosos nessa batalha. Além disso, esses ataques vão deixar muito claro para o conjunto dos trabalhadores de que lado estão Lula e o PT, e o rompimento desses trabalhadores com essas direções históricas do movimento de massas é o que pode abrir uma perspectiva de grandes lutas no próximo período. Achamos que os trabalhadores da USP, com sua força e sua tradição, têm muito a contribuir nesse processo para impulsionar uma grande mobilização nacional que prepare uma greve geral para barrar as reformas e levantar um programa operário de saída para a crise em que estamos metidos. Nós não queremos somente garantir que não nos tirem o pouco que temos hoje, queremos também lutar por emprego e salário digno para TODOS os trabalhadores. Queremos que nossos salários sejam reajustados mensalmente de acordo com o aumento do custo de vida. Queremos reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário para incorporar os desempregados à produção.

PO: A corrente pretende atuar nos sindicatos?

Mazé: Com certeza. Acreditamos que é de extrema importância a atuação nos sindicatos, no sentido de fazer transformá-los para que sejam de fato expressão dos interesses dos trabalhadores, o que nós chamamos de sindicato militante. Aqui na USP, inclusive, estamos fazendo um chamado à unificação da vanguarda da greve numa chapa unificada para derrotar os setores ligados ao Governo e ao PT e também à reitoria. Propomos renovar completamente a diretoria do sindicato, elegendo os mais destacados ativistas que se formaram durante a greve. Queremos um sindicato democrático, controlado pelos trabalhadores e que aglutine em torno de si muitos e muitos deles, um sindicato militante, diferente de como é a maioria dos sindicatos hoje, onde há uma burocracia que decide tudo e a maioria dos trabalhadores é completamente alheia ao sindicato. Estamos abrindo também uma discussão na categoria sobre a necessidade de o nosso sindicato se articular com outros sindicatos que rompem com Lula, com o PT e com a direção pelega da CUT para formar um grande pólo anti-burocrático nacional que lute para libertar os trabalhadores da influência dos traidores, coordenar e estender as lutas. Achamos que a Conlutas pode ser um embrião desse pólo e, por isso, propomos que o Sintusp entre nessa coordenação.

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