Domingo 19 de Maio de 2024

Juventude

Chapa "A Plenos Pulmões" para o Centro Acadêmico de Ciências Sociais da USP

03 Nov 2007   |   comentários

Nesse ano, o movimento estudantil esteve à frente de uma das mais importantes greves dos últimos anos. Precisamos partir das lições desse processo para pensar não só o que erramos e acertarmos, mas como transformar o movimento estudantil. Dizemos isso, pois esta foi uma luta onde se expressou a espontaneidade do movimento e com isso métodos radicalizados, como a ocupação e cadeiraços nos cursos, assim como as distintas concepções de universidade, programa e métodos de nosso movimento se fizeram mais claras.

Lutamos para que o movimento tivesse uma direção democrática, que lutasse por um programa capaz de ligar a ocupação e a greve aos milhares de estudantes da USP e aos trabalhadores e juventude de fora da universidade. Vimos que isso não se deu... muito pelo contrário. O movimento foi ficando cada vez mais restrito e cada vez mais burocrático. Exemplo foi a confiança que depositou o movimento em figuras como Dalmo Dalari ou o petista Suplicy como uma saída ao nosso movimento ao invés na confiança na ação política independente dos estudantes aliado aos trabalhadores.

Para não repetir mais uma vez esse erro temos que fazer do dia-a-dia no movimento estudantil um aprendizado para as que as práticas e programas levem à independência política dos estudantes frente a governos, reitorias, diretorias, senadores... assim como lutar por questões que extrapolam os marcos que nos impõe esta universidade elitista e racista.

Sabemos muito bem que nossa greve não conseguiu sair do marco de lutar contra os decretos, defendendo esta universidade tal como é hoje. A única forma de darmos passos concretos na transformação do movimento estudantil é nos colocando a perspectiva de derrubar esta universidade!

Nem o velho reformismo petista, nem o novo sem conteúdo!

A greve nos mostrou a influência do estado na universidade e como os professores que hoje ocupam os cargos de decisão na universidade, a burocracia academia, cumprem o papel de agentes dos planos que colocam a universidade mais ligada ao capital. Gabriel Cohn, por exemplo, cumpriu o papel de todos aqueles insatisfeitos com o movimento falando da violência, falta de representatividade, comparando a mobilização com atos autoritários. O mesmo fez Sergio Adorno, Eduardo Marques, talvez um pouco menos raivosos que... Diogo Mainardi! A que ponto chega parte da intelectualidade uspiana quando se trata de defender os interesses restritos desta universidade elitista!

O Departamento de Política soltou uma carta reivindicando a excelência acadêmica; esta de seus colegas que pesquisam para a ALCA junto à Câmara de Comércio Americana como Amâncio? Ou a de André Singer que foi porta voz do governo Lula? Esta é a excelência que quer manter a universidade burguesa para que cursos como a Ciências Sociais continue formando alguns quadros teóricos deste estado e da defesa desta universidade.

O que queremos é lutar em nosso dia-a-dia contra todas as operações ideológicas que fazem nossos professores para justificar a exploração e a opressão... muitas vezes tratando-as como insuperáveis! Achamos que o movimento estudantil, e nesse sentido o CA como uma ferramenta para potencializar nossas demandas, tem que estar na linha de frente para combater na prática e teoricamente o papel que cumpre a universidade burguesa hoje e todos seus representantes. A discussão do currículo tem que ser uma das armas de nossa crítica: coloquemos abaixo a formação de quadros da burguesia e o pensamento teórico embrutecedor!

Contra a naturalização da democracia burguesa que faz o departamento de ciência política (por exemplo analisando coisas tão sérias das mazelas do capitalismo quanto o... voto aberto ou fechado!!) temos que alçar uma alternativa. E a única que vemos é pela via da luta de classes e da aliança com os trabalhadores, uma vez que esta universidade de classe, elitista e racista, tem que ser derrubada... e desde já lutamos para que se expresse em nosso curso, em nossas lutas e em nosso currículo a aliança política e social mais importante que temos: a classe trabalhadora.

Neste sentido que não basta os olhares críticos à universidade lamentarem o que esta se transformou ou dar uma saída no marco... da própria democracia burguesa. Temos que apontar um programa que seja a concretização da negação da universidade burguesa por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo, que se expresse em seu acesso, conteúdo, formação crítica e capaz de alçar teorias e respostas à exploração e opressão do sistema capitalista e à sua superação.

Basta de hipocrisia!

Por tudo isso que esboçamos acima achamos que o movimento estudantil tem que se transformar e com isso revolucionar também sua prática. Nos panfletos das chapas “Reflorestando” e “Bandeira sem Bandarra” (BB) se expressa uma visão contrária a esta. A negação de ambas da teoria e de uma concepção política capaz de contestar, minimamente, a ordem que vivemos é o que pode deixar os estudantes mais uma vez atrás das armadilhas que nos colocam a burocracia acadêmica, os governos e grande parte de nossos professores. Um exemplo seria o apartidarismo ou a separação de nossas lutas políticas com as mínimas expressões das contradições da sociedade expressas cotidianamente dentro da universidade.

Alguém se esqueceu que o PSOL, parte da chapa Reflorestando, dizia que 300 moradias em si era uma vitória??? Todos se lembram que contra a “burocracia da auto-representação” nós do Movimento a Plenos Pulmões lutamos por uma direção democrática do movimento com representantes eleitos em assembléias de base. Hoje, a negação de uma direção política e democrática ao movimento que se expressa na chapa BB, tenta responder com comissões (onde os mesmos de sempre participarão, em nome dos estudantes) a mesma lógica burocrática que impediu a massificação e radicalização de nossa greve.

Achamos que um centro acadêmico militante tem que ser a expressão de uma luta teórica e política contra os que hoje tentam manter a universidade nas mãos de poucos e a serviço de poucos. Achamos que no centro acadêmico tem que se expressar todas as posições dos que se colocam contra a repressão, já que começa haver mobilização de estudantes por todo o país e muitas delas são reprimidas, como na UNESP, Unicamp, Fundação Santo André e nas Federais. No momento em que a burocracia acadêmica, o governo e o BOPE reprimem estudantes, trabalhadores e o povo, uma chapa combativa tem que levar uma luta consequente contra a repressão.

O C.A. tem que servir para a reorganização dos estudantes e se ligar a novas mobilizações estudantis que explodem pelo país e às lutas dos trabalhadores. A democracia tem que se expressar na política e em nossa organização: por isso lutamos por uma C.A. ligado aos estudantes, que baseie as principais resoluções em assembléias preparadas e que intervenha teoricamente em nosso curso. Enfim: um C.A. militante, democrático e combativo!

O Movimento A Plenos Pulmões é composto por militantes da LER-QI e independentes

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