Quinta 2 de Maio de 2024

Juventude

UNIVERSIDADE

Carta aos estudantes da USP frente às eleições do DCE

26 Nov 2008 | Nessas eleições, os debates sobre os problemas mais candentes da universidade e da sociedade, quando não ausentes, estão sendo superficiais. Nos apresentamos nas eleições dos CA´s buscando apontar um caminho distinto, o que não fizemos para o DCE porque ainda não somos uma corrente orgânica em vários cursos da USP. As correntes que se colocam no campo combativo não pensam sua atuação de acordo com as necessidades dos estudantes frente à situação e não abrem um debate programático ou possibilidades de unificação frentes aos desafios que estão colocados. Ainda assim, mais uma vez, não nos furtamos da tarefa essencial de entrar no debate.   |   comentários

A crise da universidade se aprofundará com a crise económica?

Os governos de vários países já gastaram trilhões da educação, da saúde e das necessidades populares para salvar os capitalistas da crise que eles mesmos geraram. Mas nada é capaz de contê-la e a tendência é de uma depressão profunda a qual os capitalistas descarregam sobre as costas dos trabalhadores e da juventude com demissões, retirada de direitos e ataques ao ensino. Há um começo de resistência: O movimento estudantil está lutando na Espanha, Alemanha e Itália, e conquistou APOIO POPULAR contra a reforma universitária quando disseram: “que os capitalistas paguem pela crise!” . Começa também a resistência dos trabalhadores no Chile, China, Colómbia...

Precisamos mais do que nunca nos prepararmos para esse cenário, já que a perspectiva é de agravamento da ausência de trabalho e salário digno para a juventude e de muitos impactos na universidade. Se no período de crescimento económico não houve concessões às universidades e sim ataques, a tendência será o aprofundamento essa perspectiva, pois a retração da economia significa redução das verbas (que provêm do ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que mantêm as universidades estaduais paulistas. A reitoria e os governos estaduais e federal vão querer “realocar verbas” e com certeza não será de acordo com nossos interesses caso não nos tornemos SUJEITOS ativos como apontamos na ocupação da USP! Além disso, no patamar ideológico, o desbarranque do ideário “neoliberal” coloca em xeque nossos currículos e a maioria dos professores.

Sobre a relação da CRISE com alguns temas que são tratados por uma ou outra chapa, nunca de maneira devidamente relacionada e vista em dinâmica: tendem a se aprofundar as políticas de privatização e UNIVERSIDADE- EMPRESA com os cortes de verba; se aprofundará a tendência da Universidade a buscar fontes de financiamento associadas aos projetos de pesquisa subordinados ao capital privado. Daí advém os novos projetos de Lei do Serra, que privilegiam as pesquisas operacionais (como os decretos do ano passado), e que estão passando pela via “democrática” na Assembléia Legislativa.

A isso também se liga a criação das 6600 vagas de ensino à distância nas estaduais paulistas em nome de uma suposta “democratização da universidade” ... - uma demagogia que oculta a realidade de uma medida que visa ser um obstáculo, de uma vez por todas, a uma real democratização das universidades através do aumento efetivo de vagas e verbas.

E para passar estes projetos é necessário REPRESSÃO! Há diversos processos e punições a estudantes e trabalhadores por lutarem e uma ofensiva contra os espaços estudantis que são potencialmente pólos de organização.

Contra isso, o que é organizado efetivamente na USP?

O Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e o movimento A Plenos Pulmões impulsionaram junto a intelectuais um ato no dia 04/11 e um “Manifesto contra a repressão e as novas medidas contra a qualidade de ensino na USP” com mais de 100 assinaturas. Das chapas que se apresentam, a única que enviou assinaturas para o manifesto e esteve presente no ato foi a “Nada Será como Antes” , apesar de não as transformarem numa campanha efetiva e seguirem dizendo que essa luta “não é prioridade” . Alguns membros da “Território Livre” passaram por lá, mas justamente eles que tanto falam da luta contra a repressão nada tinham a dizer, não impulsionam o manifesto e não convocaram o ato. PALAVRAS?

Nós, que seguimos impulsionando essa campanha junto ao Sintusp, vemos essas iniciativas como início de uma campanha séria que se transforme em enfrentamento com o regime universitário. Mas ela ainda é completamente insuficiente. Por isso, seguimos chamando todos os estudantes, todas as chapas, em particular aquelas que se manifestam contra a repressão (em primeiro lugar a “Território Livre” e, em segundo, a “Nada Será como Antes” ), aos CA`s e a quem vencer as eleições do DCE a impulsioná-la conjuntamente já que temos ainda poucas forças mesmo se todos nos unificarmos.

O Picadeiro de Todos que apóiam o governo Lula e são a “elite” da burocracia estudantil

Quem conhece não se engana com o seu discurso “democrático” , “inclusivo” . Durante a ocupação da USP, eram do DCE e soltaram uma nota pública contra a mesma, simplesmente porque não tinham o menor controle da mobilização! Estão na UNE ganhando muita grana do governo federal para dizer que o governo que há 5 anos mantêm as TROPAS NO HAITI, que repassa rios de dinheiro aos capitalistas, que mantêm a média salarial aquém da dos anos 90”™s é o governo dos jovens e dos trabalhadores.

Que Baião é esse? O da continuidade do imobilismo, das alianças com as autoridades universitárias e do “socialismo com empresários”

Alguém se lembra de alguma atuação do DCE no ano de 2008? Pois é, quem estava na gestão era a Vez e Voz, composta por estudantes independentes, militantes do PSOL e do PCB. Certamente escutaram algo de um V Congresso que acabou... falido. Neste, quando a Reitoria não liberou a participação dos funcionários, os estudantes fizeram um piquete em frente à Reitoria junto a trabalhadores da USP e a gestão Vez e Voz se pronunciou contra o Sintusp, acusando os trabalhadores da USP de serem autoritários e não a reacionária Reitoria de nossa universidade. Também nada se viu do DCE em alguma tentativa de organizar os estudantes para barrar as medidas repressivas dentro da USP, nem no ato chamado pelo Sintusp no dia 04/11 estiveram. E essa gestão se re-candidata com o nome Baião de Todos. Nada em seu programa sobre a crise económica, repressão ou as Leis do Serra.

Não podemos deixar mais um ano que o discurso de “democracia na universidade, democracia no movimento e o tripé ensino, pesquisa e extensão” não sirva para realmente organizar os estudantes e combater as medidas elitistas das autoridades universitárias. Aliás, são alguns dos que também mantêm seus cargos na ultra burocrática UNE, e a chapa que é majoritariamente dirigida pelo PSOL que recebeu R$100 mil de um dos maiores monopólios brasileiros, produtor de aço, a empresa Gerdau que entre outras barbaridades apoiou o golpe militar de 64. Essa visão de que é possível desenvolver alianças com setores da burguesia nacional não é secundária ao movimento estudantil, justamente em função dela é que o PSOL não levará até o fim, isso quando se propuser a iniciar, a discussão a respeito da relação universidade- capital. Será que para essa chapa é aceitável o financiamento de pesquisas por parte da Gerdau?

A verdade é que essa chapa se demonstra mais simpática às autoridades universitárias, ao parlamento e à Gerdau do que ao Sintusp e aos estudantes e trabalhadores em luta.

Então, em quem votar?

É necessário fazer uma avaliação das chapas, sem que se recorra meramente a uma linha horizontal na qual cada uma se apresenta mais ou menos à esquerda. Isso esconde o fato de que entre os setores que hoje se dizem de esquerda há muita adaptação por trás da verborragia, auto-proclamaçã o estéril e uma profusão de confusões teóricas e disparidade entre palavras e prática política.

Há duas chapas que consideramos a possibilidade de voto: “Nada Será como Antes” e “Território Livre” ; há companheiros que atuam conosco que defendem o voto nulo. Em nossa opinião, são posições válidas frente ao cenário em que falta uma verdadeira alternativa. Por isso, elaboramos essa carta em comum, permitindo que se expressasse cada posição, já que se tratam de diferenças táticas frente ao conteúdo da discussão que queremos abrir entre os estudantes, alertando ainda para mais alguns aspectos críticos em relação a essas chapas.

A chapa “Território Livre” apresenta um programa que é o mesmo de todos os anos: contra a Universidade- shopping e a burocracia acadêmica repressora e corrupta, o que de certo modo denuncia esses processos, mas não se propõe a lutar desde já contra a precarização do Ensino Público. Por isso, não arma o movimento estudantil para responder conseqüentemente aos ataques dos governos nem para arrancar a bandeira da “democratização da universidade” das mãos de nossos inimigos, através da luta por uma UNIVERSIDADE MASSIVA, PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE, no marco da luta estratégica para colocá-la À SERVIÇO DOS TRABALHADORES E DO POVO. Aliança com os trabalhadores? Estes são citados uma vez quando se fala da repressão. Parece que eles nem existem na universidade e na sociedade. Aliás, o gupo político que impulsiona a chapa, MNN, acabou de apoiar, para o CACH na Unicamp, a chapa pós-moderna “Volúpia Espermática do Capital” que apresentou uma folha em branco como programa e afirmava que a classe operária e a luta de classes não existem. E contra a repressão? Nada de aliança com o Sintusp que são os principais alvos e os que vêm tomando mais iniciativas. É melhor “erguer o Território Livre” ! Mais ainda, não podemos concordar que a organização que fala tanto das “liberdades democráticas” se transformou na maior defensora das “greves” dos maiores repressores: a polícia.

A chapa “Nada Será como Antes” (PSTU e independentes) cita a questão da repressão e dá bastante peso à necessidade de lutar contra os ataques do governo. Porém, ao não romper com o que chamamos de “modo petista de militar” , termina não levando uma luta conseqüente por essas demandas, pois essa “tradição” corporativa e “defensista” não aponta uma perspectiva de radicalização do movimento estudantil e acaba se limitando à defesa da universidade tal como ela é hoje. É isso que faz com que nos momentos cruciais, apesar de se apresentar como “oposição” , termine junto com o DCE-PSOL. Assim, desmoralizam uma série de independentes e militantes combativos que se ligam a essa organização por verem que pontualmente levantam questões corretas e são hoje a corrente de esquerda mais representativa na USP.

Na opinião da LER-QI, apesar dessas questões, a chapa “Nada Será como Antes” é a única que coloca a necessidade da aliança com os trabalhadores e aponta a necessidade de lutar contra os ataques do governo. Por isso, chama a votar nessa chapa criticamente. Por sua vez, há independentes que por não considerarem que nenhuma das duas chapas sejam alternativas efetivas, defendem o voto crítico na Território Livre ou o voto nulo. Ainda assim, reafirmamos que compartilhamos o conjunto das posições aqui expressas.

Basta de um DCE descolado dos estudantes! Pela auto-organização!

Quando todos saúdam uma “grande” votação no DCE, esta atinge não mais que 10% dos estudantes, o que mostra que é, para dizer polidamente, uma “representação limitada” . Por isso, defendemos que para além do DCE, devemos organizar o movimento estudantil de baixo para cima, baseado na democracia direta, na auto-organizaçã o, com uma coordenação de representantes de curso eleitos em assembléias de curso e revogáveis a qualquer momento, que realize reuniões mensais em base às propostas debatidas nos distintos cursos e que expressem de forma proporcional as divergências e propostas do conjunto dos estudantes. É assim que funciona o DCE da Unesp, que vem apontando uma nova forma anti-burocrática de organização.

A "Carta aos estudantes da USP frente às eleições do DCE" é assinada pelo Movimento A Plenos Pulmões, LER-QI e independentes.

Artigos relacionados: Juventude , São Paulo Capital









  • Não há comentários para este artigo