Segunda 6 de Maio de 2024

Movimento Operário

Mesmo com a resistência, reitoria da USP aprofunda a ofensiva repressiva a mando do governo Serra

Brandão defende que “é necessário redobrar nossa resposta”

07 Mar 2009   |   comentários

JPO: Qual a situação da campanha contra a repressão da reitoria ao Sintusp e quais foram as novas medidas?

Brandão: A campanha não é apenas pela minha readmissão, pela retirada da multa de R$ 376 mil que querem cobrar do sindicato e pela retirada dos processos contra outros diretores e lutadores da categoria. É também uma campanha contra a repressão da reitoria aos lutadores do movimento estudantil, com vários processos que estão em curso contra eles.
O pior é que a reitoria parece não entender a mensagem que a categoria já deu com duas paralisações, sendo que na última começamos a construir nossa aliança com o movimento estudantil. Digo isso porque ela continua a escalada repressiva.
No último dia 4/3, instaurou mais um processo administrativo, dessa vez contra um tradicional lutador da Prefeitura do Campus, o Cícero Cleto, conhecido como "Da Zona"; com o argumento de que ele, no dia 10 de fevereiro, justamente quando realizávamos um protesto contra os ataques da reitoria, dirigiu o carro de cortar grama com uma bandeira da Conlutas. É claramente uma provocação, pois a reitoria fez isso justamente no dia em que protestávamos conta sua política repressiva, que escancara ainda mais seu objetivo de cerceamento da mais elementar liberdade de expressão e tentativa de intimidar os lutadores. E agora tem mais essa para cima do Pablito.

Pablito: Pois é, como diz o Brandão, eles tão achando que podem mandar e desmandar com os ativistas da USP. As ameaças não param e na sexta, dia 6/3 a chefia da Coseas me chamou falando que querem me transferir de unidade. Mas não qualquer uma, para o Hospital das Clínicas, que fica a quilómetros do Butantã onde hoje trabalho e tenho minha vida toda organizada. Para piorar, querem que seja a partir de segunda, dia 9/3. Mas a revolta no restaurante a revolta já se generalizou desde o primeiro dia e não vão nos calar tão fácil assim. Eles acham que o trabalhador é burro e não vê que é uma perseguição política. Veja bem: em primeiro lugar, sou um ativista do sindicato por lá, apesar de toda a política da chefia de impedir isso. Há alguns meses fui eleito como o mais votado para a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Aí, para cumprir com a responsabilidade que me foi delegada, comecei a averiguar as condições de trabalho do meu local de trabalho que é um dos piores da USP e já tenho um monte de registros de irregularidades. E eles sabem disso. Eles querem manter tudo como está e impedir que defendamos nossos direitos. Mas não vai ser assim. Vamos mostrar mais uma vez como estamos unidos na eleição para representante de unidade que vai acontecer na segunda, dia 9/3, em que me candidatei, e não vamos deixar passar mais essa medida repressiva da reitoria.

Brandão: E comigo também estão querendo endurecer. Coerente com essa orientação anti-democrática e anti-sindical, a reitoria da USP tem impedido que eu entre nas reuniões do Conselho Universitário; se negou a receber me receber como representante dos trabalhadores em audiência com o sindicato no dia 26 de fevereiro e, junto com o CRUESP (Conselho de Reitores da USP, Unesp e Unicamp); impediu minha entrada na primeira reunião da campanha salarial entre o “Fórum das Seis” (entidade re reúne os sindicatos de funcionários e professores das três universidades estaduais paulistas) e o CUESP; e ainda chegou ao absurdo de, através da sua acessória jurídica, sugerir que o Sintusp mudasse seu estatuto para que trabalhadores demitidos automaticamente perdessem seu mandato. Ou seja, a reitoria, além de me demitir, está cassando meu mandato como representante democraticamente eleito pelos trabalhadores da USP para a representá-los através da diretoria do Sintusp; e está cassando meu mandato como representante dos trabalhadores democraticamente eleito para representá-los através do Conselho Universitário. Mais do que uma medida anti-democrática e anti-sindical, essa já é uma atitude que faz lembra os tempos da ditadura militar. Com isso, a reitoria está diretamente ingerindo no livre direito dos trabalhadores de elegerem suas próprias representações políticas e sindicais, garantido pela própria Constituição burguesa.

JPO: Qual a relação entre o governo Serra e os ataques repressivos da reitoria?

Brandão: É bem direta. Vejam. Em meio à greve e ocupação de 2007, o jornal mais reacionário de São Paulo, conhecido como Estadão, publicou uma matéria de mais de 2 páginas contra o movimento, e em particular contra o Sintusp e a minha pessoa. Foram diversas afirmações caluniosas. Até de “brucutu” me chamavam, pela minha intransigência na defesa da universidade e dos trabalhadores e me pintavam como um facínora que definia tudo às escondidas dos estudantes em luta, o que qualquer um que participou da luta sabe que não é verdade. E pediam claramente a minha cabeça, dizendo algo como “não se entende como esse monstro ainda não foi demitido” . Foi claramente uma matéria encomendada pelo governo para dividir o movimento e tentar me isolar na universidade para preparar essa demissão.
Mas não para por aí. Um dos processos que a reitoria utiliza para fundamentar a demissão foi instalado por Sylvio Sawaya, ex-diretor da FAU, conhecido amigo pessoal de Serra e hoje secretário do governo do estado, da secretaria do meio ambiente. Este senhor, junto com o ex-diretor da faculdade de direito Grandino Rodas, encabeçaram em 2005 um “manifesto” envolvendo outros 28 diretores de unidade defendendo que a reitoria liberasse cada diretor para poder punir os funcionários de sua unidade que haviam entrado em greve naquele ano. Lembremos: a reivindicação da greve daquele ano era: “mais verbas para a universidade” . Na reunião do Conselho Universitário em que este “manifesto” foi entregue, o Sr. Rodas bradou aquela greve dos trabalhadores “era um absurdo e deveria ser reprimida porque era uma greve política” !
Isso é uma pequena mostra de temos inimigos poderosos e que devemos nos preparar para uma dura batalha.

JPO: E qual tem sido a resposta do movimento a esse incremento da repressão?

Brandão: Parece que a reitoria não tirou as lições dos últimos processos de luta, em que a colocamos contra a parede e acha que pode pela força nos calar. Mas o que ela tá fazendo, ao contrário do medo, tá gerando revolta e cada vez uma consciência maior de que se trata de uma ofensiva que vamos ter que parar com o que parece que é a única linguagem que ela entende: greve e piquete. Por isso que eu defendo que é necessário redobrar nossa resposta.

JPO: Como tem sido a participação do movimento estudantil na campanha?

Brandão: Na paralisação do dia 18 de fevereiro tivemos um grande avanço. Até então, como a universidade estava de férias a campanha vinha avançando principalmente na super-estrutura política e na base dos trabalhadores. Mas a calourada unificada do DCE, que coincidiu com o dia que organizamos uma paralisação dos trabalhadores e um ato na porta da reitoria, mostrou a enorme potencialidade da aliança entre os trabalhadores e os estudantes para colocar força nessa campanha e fazer a reitora recuar. Foi emocionante ver a disposição dos calouros em participar do ato pela retirada de todos os processos e pela minha readmissão na porta da reitoria.
Na assembléia de trabalhadores que realizamos no dia 05 de março votamos publicar no boletim do sindicato um agradecimento ao DCE e aos estudantes pela construção em comum do dia 18 e um chamado ao DCE e aos estudantes para dar continuidade e fortalecer este trabalho conjunto. A aliança entre estudantes e trabalhadores sempre foi muito importante na USP.
Eu gostaria de convidar os estudantes a nos ajudarem a passar o abaixo-assinado pela retirada dos processos contra estudantes e funcionários e pela minha readmissão, que desde dezembro o Sintusp, a Adusp e o DCE estão impulsionando juntos. E aqui quero fazer um especial agradecimento aos professores que estão gentilmente e sobretudo combativamente abrindo suas salas de aula para que possamos conversar com os alunos sobre a campanha.
Também fiquei contente em saber que o DCE aprovou apoio ao festival que será realizado em minha defesa, como parte do “dia da cabeça preta na USP” . Fico muito contente que os companheiros do movimento Hip Hop e do movimento negro estejam dispostos a realizar tamanha ação e é muito importante que os estudantes apóiem essa iniciativa.

JPO: E a paralisação do dia 1º de Abril?

Pablito: A Conlutas, em conjunto com a Intersindical, definiram o 1º de Abril com um dia para unificar os distintos setores da classe trabalhadora que estão dispostos a lutar contra os ataques dos capitalistas e seus agentes que querem que nós trabalhadores paguemos pela crise e que para tal estão dispostos a nos reprimir. Estão sendo organizadas distintas manifestação em distintas partes do país. Nós, desde a assembléia de nossa categoria, chamamos o DCE, a Adusp, os estudantes, os funcionários e os professores a USP em um forte pólo de protesto neste dia. Propomos que a USP faça uma forte paralisação unificada dos três segmentos e levante bem alto reivindicações que o Sintusp tem defendido frente à crise:
Ӣ QUE OS CAPITALISTAS PAGUEM PELA CRISE!
”¢ NENHUMA DEMISSÃO, REBAIXAMENTO SALARIAL OU RETIRADA DE DIREITO!
”¢ DIVISÃO DAS HORAS DE TRABALHO ENTRE EFETIVOS, TERCEIRIZADOS E DESEMPREGADOS PARA QUE TODOS TENHAM TRABALHO!
”¢ SALà RIO Mà NIMO DO DIEESE (R$ 2.000,00), COM INCORPORAÇÃO DOS TERCEIRIZADOS!
”¢ ESTATIZAÇÃO, SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES, DE TODAS AS EMPRESAS QUE FECHEM OU DEMITAM!
Ou seja, queremos construir um ato que ligue a luta contra a repressão à campanha salarial unificada de funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp que agora se inicia e à batalha para unificar as fileiras da classe trabalhadora na luta para que sejam os capitalistas os que paguem por essa crise capitalista que está aí.

JPO: Qual a relação entre a campanha salarial unificada das estaduais paulistas e a luta contra a repressão?

Pablito: O objetivo da repressão é debilitar a capacidade de luta dos estudantes, funcionários e professores pelas demandas mais elementares como melhores condições de trabalho, salário e estudo. É por isso que vamos colocar lado a lado a luta pelo salário e contra a repressão. Mas este ano, assim como em anos anteriores, nossa campanha salarial novamente não poderá se restringir a demandas meramente corporativas, aprofundando a perspectiva que já viemos atuando nos últimos anos. Mas agora o desafio é ainda maior, pois quando olhamos à nossa volta o que vemos são demissões, rebaixamentos salariais e retiradas de direitos; e devemos nos preparar para os cortes nos orçamentos de educação que mais cedo ou mais tarde virão, sem mencionar a enorme quantidade de trabalhadores que já não consegue mais pagar as mensalidades nas universidades privadas.
É por isso que precisamos impulsionar uma forte campanha contra o “ensino à distância” e a “lei de inovação tecnológica” que são medidas através das quais o governo Serra busca privatizar e precarizar o ensino superior com uma máscara de “democratização da universidade” , que somente nossa mobilização pode conquistar e desmascarar o governo, levantando a demanda de mais verbas a educação, para ampliar com qualidade as universidades, estatizando as privadas e colocando fim ao vestibular.
Para avançar nessa luta é fundamentar avançarmos na aliança dos trabalhadores com os estudantes dentro das universidades estaduais paulistas, com os estudantes das universidades privadas e com os trabalhadores e o povo pobre que não conseguem ter acesso ao ensino superior.

JPO: A repressão não se restringe às universidades, não é mesmo?

Brandão: De jeito nenhum. Estamos vendo nos jornais que os sem-terras estão sofrendo uma forte perseguição política e criminalização por parte do estado; com o aval do governo e até mesmo o protagonismo de setores diretamente ligados a Lula. É urgente que as organizações da esquerda, os sindicatos e organizações populares impulsionem uma forte campanha em solidariedade ao MST e aos sem-terras.
Da mesma forma, os membros da GM na chapa da Conlutas (Chapa 1) na eleição para o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos foram todos colocados pela patronal em férias forçadas e estão sob o risco de serem demitidos.
Em dezembro do ano passado, ativistas da Conlutas que protestavam no Rio de Janeiro contra a privatização de mais lotes de exploração de petróleo foram violentamente reprimidos.
Esses são apenas alguns entre muitos casos de repressão a lutadores que têm ocorrido em todo o país, e que exigem uma luta unificada em defesa do movimento sindical e popular, ligada à luta para que seja os capitalistas que paguem pelos custos da crise.

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