Sábado 18 de Maio de 2024

Juventude

DECLARAÇÃO

Balanço do Encontro Nacional dos Estudantes

17 Jul 2008 | No dia 02/07, em Betim-MG, aconteceu o ENE (Encontro Nacional dos Estudantes) que contou com a presença de 500 estudantes, sendo a maioria militantes do PSTU e algumas dezenas de independentes. Nós, da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões, queremos debater com os estudantes que participaram do ENE e com todos os que estiveram na linha de frente das recentes lutas estudantis o nosso balanço do encontro. Achamos fundamental esse debate, pois extrapola as fronteiras do ENE e diz respeito a como rearmar o movimento estudantil para os próximos embates, que para nós deve estar marcado pela luta por um movimento estudantil anticapitalista, antiimperialista e aliado aos trabalhadores.   |   comentários

Apesar do ENE ter atraído poucos estudantes (para além do PSTU) que estiveram à frente nos últimos processos de luta, reunindo menos do que a própria Conlute vinha reunindo antes dos processos de luta, era uma boa oportunidade para fazer uma discussão profunda sobre o movimento estudantil que fosse capaz de rearmar os estudantes presentes e a Conlute. Como dissemos em nossa contribuição ao ENE, “Acreditamos que este Encontro pode ser uma ferramenta que sirva para armar os estudantes para os desafios que seguem colocados desde que parta de um balanço profundo da política levada à frente nos últimos embates, apontando uma clara perspectiva de unidade entre os estudantes e a classe trabalhadora na luta pela transformação e democratização das universidades [1]” .

O ressurgimento do movimento estudantil depois de anos de paralisia e o resultado dos processos de luta nos quais milhares de estudantes dedicaram suas energias em todo o país deveria ser um grande estímulo para dar esse salto. Afinal, apesar da nossa vontade, não conseguimos mais do que conquistas parciais, como na USP, ou derrotas como na luta contra o Reuni e no fato de que a polícia tenha invadido diversos campus e universidades, algo que não ocorria desde a ditadura militar.

Foi tentando apontar nesse sentido que colocamos toda nossa força para tentar abrir uma discussão de fato política no ENE capaz de armar os estudantes ali presentes para os novos embates. Avaliamos que o ENE poderia ter sido um importante passo neste sentido e na aliança com a classe trabalhadora, partindo de que no dia seguinte teria início o Congresso da Conlutas, no qual setores importantes da vanguarda da classe trabalhadora estaria reunida. Porém, infelizmente, um balanço profunda das lutas e uma discussão de qual programa o movimento estudantil tem que adotar passaram longe dos debates do ENE.

Apesar da nossa batalha política, não conseguimos impedir que o ENE se limitasse a ser um encontro para referendar a política estudantil do PSTU, que na nossa opinião é muito insuficiente para responder aos desafios que estão colocados. A política se resumia a recolocar no centro a luta contra o REUNI, sem tirar nenhuma lição da derrota sofrida e do fracasso do plebiscito, portanto, mantendo essa importante luta desligada de um programa pela positiva, que responda ao problema da demanda de democratização da universidade. Além disso, o PSTU queria aprovar encontros estaduais e um congresso no ano que vem para formar uma nova entidade. Nada de novo e nada mais. É lamentável que o peso relativo que tem o PSTU nas universidades públicas, onde está em vários DCE´s e CA´s pelo país, além de serem o setor majoritário da Conlute, não esteja a serviço de uma política superior.

De balanço das lutas apenas vitórias foram cantadas [2]. Porém, por trás deste suposto entusiasmo “vitorioso” está a falta de balanço da política do PSTU nas lutas e a falta de ousadia em lutar por um programa que consiga responder as principais questões políticas da juventude, da classe trabalhadora e do povo pobre.

Nossa luta por um novo movimento estudantil

Queremos que o movimento estudantil aprofunde o balanço das últimas lutas para se apoiar nos elementos mais avançados, como a insubordinação expressa no método de ocupações e o rechaço às antigas direções e superar as debilidades que se expressaram para se ligar organicamente à massa dos estudantes e, superando seu corporativismo e os limites da defesa da defesa da universidade tal como é hoje, se ligar aos trabalhadores para atacar o caráter elitista e racista da universidade.

Estes limites se deram porque o movimento não se armou com um programa marcado pelo combate frontal com a reacionária burocracia acadêmica, e de independência dos agentes políticos dos governos e da burguesia [3]. Assim como manteve seu isolamento nas restritas universidades públicas, sem ter uma política para se ligar à massa de estudantes das faculdades particulares nem de se colocar como porta voz das demandas democráticas da população e dos trabalhadores, seguindo o exemplo dos estudantes do maio francês de 68 que levantaram bandeiras do conjunto da sociedade.

Nossa participação no ENE se deu na perspectiva de que o movimento estudantil, que é uma caixa de ressonância das contradições sociais, assuma uma nova orientação estratégica pautada na luta política e ideológica na universidade.

Nesse sentido, lutamos por um posicionamento claro do ENE para ser discutido em cada local de estudo sobre a independência completa dos estudantes a governos burgueses da América Latina como Chávez assim como à burguesia “antigovernista” golpista da Venezuela.

Defendemos que os estudantes devem levantar fortemente as demandas democráticas como o direito de todos os trabalhadores e povo pobre poderem cursar uma universidade pública. Infelizmente, o PSTU recusou uma campanha pela estatização das universidades privadas em aliança com a classe trabalhadora e o povo pobre, mantendo o ENE e a Conlute sem nenhuma política nesse sentido.

Defendemos uma posição classista nas eleições, que obviamente não pode passar pela Frente de Esquerda com o PSOL e uma grande campanha pelo direito ao aborto denunciando uma figura da esquerda como Heloísa Helena que se coloca junto à Igreja numa campanha contra este direito elementar.

Defendemos uma campanha efetiva contra a repressão ao movimento estudantil, aliada aos trabalhadores, que colocasse o ENE ao lado dos lutadores reprimidos e de todos os jovens, negros e trabalhadores que são sistematicamente mortos e reprimidos pela polícia reacionária nas favelas, comunidades, lutas e greves por todo o país.

E para que a Conlute desse um exemplo na luta contra a burocracia estudantil, a partir de uma denúncia profunda do carreirismo político e dos privilégios materiais, que segue marcando a história da UNE, defendemos que o ENE votasse contra qualquer militante profissionalizado no movimento estudantil. Essa é uma via concreta de se enfrentar com os burocratas da UNE, que vão desde o PT e o PCdoB que já foram completamente fagocitados pelo Estado burguês, até setores “antigovernistas” como a APS e o MES (ambas do PSOL), que deixam as salas de aula para virarem assessores de deputados. Fora burocratas!

E qual foi a resposta do PSTU?

Frente à nossas propostas, vimos como contra-proposta somente a SUPRESSÃO de quase todas essas resoluções por parte da direção da juventude do PSTU. É que a política do PSTU nacionalmente de se aliar com o PSOL se expressa com tudo também no movimento estudantil.

Isso apesar de todos os obstáculos que o PSOL vem colocando para essa unidade, tanto nas eleições quanto na Conlutas. Não é diferente também no movimento estudantil. Inclusive, os próprios companheiros do PSTU colocam um balanço da Frente de Luta Contra a Reforma Universitária (FLCRU) de que setores do PSOL têm uma política de afundar a FLCRU por sua adaptação a seus cargos na UNE e por este partido impor o consenso como forma de deliberação da Frente.

Mas se este balanço não serve para romper com o seguidismo ao PSOL, que mesmo sem estar no ENE ou na Conlute e boicotando a FLCRU determina todas as políticas do PSTU nos parece um balanço superficial. Caso contrário, porque seriam contra a denúncia de Heloísa Helena quando esta se coloca à frente de uma campanha contra o aborto? Ou porque os estudantes não poderiam debater e tirar uma posição no ENE para que nas eleições nacionais se expresse uma alternativa classista dos trabalhadores e da juventude e não a reedição da Frente de Esquerda com setores como o cada vez mais centro-esquerdista PSOL? Os companheiros do PSTU dizem que não se posicionam, pois seria uma política sectária com o PSOL e colocaria em xeque a unidade com este partido. Que unidade é essa? Nas eleições? Achamos que a unidade deve ser pensada numa perspectiva não eleitoralista, mas com a estratégia de armar a juventude e a classe operária aos novos enfrentamentos que virão no marco de forjar uma nova tradição no movimento estudantil que discuta política seja anticapitalista, antiimperialista e aliado aos trabalhadores em base às lutas e à independência de classe.

Impulsionemos seriamente a campanha contra a repressão votada

Apesar da resistência até o último momento, frente às incontáveis denúncias de repressão, o PSTU concordou em votar uma semana nacional contra a repressão nas universidades, que para nós deve ser só o começo de uma campanha efetiva contra a repressão, sabendo que em locais como a UFAL, UNIFESP, USP, PUC e diversas universidades a resposta da burocracia acadêmica a nossas lutas foi a da punição aos lutadores.

Esperamos que esta não seja apenas uma resolução que ficará para os cadernos de memórias do movimento estudantil [4] mas que possamos estar na linha de frente na defesa dos lutadores junto aos companheiros do PSTU nas distintas universidades onde a burocracia acadêmica tenta colocar sua medida de força pela via de reprimir o movimento estudantil e os lutadores.

E avancemos para lutar seriamente contra a polícia

No ENE insistimos na independência política dos estudantes frente à polícia, colocando que a luta mais conseqüente contra toda a punição e repressão nas universidades é a luta para expulsar a polícia dos campus e se colocar claramente contra a greve de policiais. Nos colocamos ao lado de Trotsky e de todos os trabalhadores e da juventude negra contra este braço armado da burguesia já que “um trabalhador quando veste uma farda deixa de ser um trabalhador e vira um policial burguês” .

Esperamos que em meio a essa campanha que se enfrenta com a polícia, os companheiros do PSTU revejam sua posição frente a esse aparato reacionário como discutimos no ENE e viemos debatendo em uma série de materiais. Afinal, frente à crise social que vivemos e as sistemáticas denúncias de chacinas, massacres e assassinatos por parte das mãos armadas da burguesia, a polícia, os companheiros do PSTU se colocaram ao lado desta instituição contra todos os mortos, feridos e reprimidos, das lutas, greves, comunidades e favelas de todo o país.

Façamos uma campanha contra o chavismo nas universidades

A única outra resolução que os companheiros do PSTU aceitaram aprovar foi a da independência política frente aos governos ditos progressistas da América Latina e às oposições burguesas. Nesse ponto, os companheiros foram mais avançados do que a política que o PSTU defendeu no Congresso da Conlutas, que impediu a tomada dessa posição classista. Preparemos para o segundo semestre debates nas universidades sobre esse tema para levar à frente essa campanha. Ou vamos deixar também essa resolução para a história?

Um chamado

Chamamos os estudantes a que leiam em nosso site a nossa contribuição ao ENE, a discutir esse balanço para que possamos somar forças no Movimento A Plenos Pulmões para lutar conseqüentemente por um movimento estudantil efetivamente novo, que para nós deve ser anticapitalista, antiimperialista e aliado aos trabalhadores. Sabemos que para este desafio que nos colocamos temos que nos armar constantemente com a teoria marxista e lutar na prática pelo conhecimento a serviço dos trabalhadores expressando com todas as nossas forças um novo movimento estudantil que crie suas bases não na militância petista, mas nos grandes embates dos estudantes franceses aliados aos trabalhadores de maio de 68.

[1Citado de “Potencialidades, limites e desafios para um novo movimento estudantil - Contribuição da Liga Estratégia Revolucionária ao Encontro Nacional dos Estudantes de 2008” ’ leia nesse site

[2“Essa atitude parte da concepção de que é necessário propagar qualquer coisa, ainda que seja uma inverdade muito óbvia, para “moralizar” sua militância e tentar se colar de maneira oportunista no entusiasmo (esse sim, verdadeiro e sem aspas) de centenas de ativistas que recentemente despertaram para o movimento e para a política. Essa atitude pode produzir belos discursos, entusiasmar alguns estudantes, mas a última coisa que objetiva é preparar o movimento para os próximos embates. A burguesia e as burocracias acadêmicas agradecem.” . Trecho extraído da contribuição da Ler-qi e do Movimento A Plenos Pulmões para o ENE.

[3Isso se mostra, por exemplo, na luta da UnB em que políticos burgueses como Cristóvam Buarque exerciam muita influência.

[4No último ENE, em 2006, foram votadas dezenas de resoluções, entre elas várias progressivas, que o PSTU “esqueceu” e não implementou nenhuma.

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