Domingo 19 de Maio de 2024

Juventude

As vitórias do movimento estudantil combativo em São Paulo e os desafios que nos colocamos

06 Dec 2006   |   comentários

As eleições estudantis desse final de ano se deram no marco das eleições nacionais onde Lula, apesar de todos os escândalos, foi o grande vitorioso. Uma situação de poucas, mas importantes lutas, onde a Frente de Esquerda abandonou qualquer política para fortalecer e ampliar essas lutas. Nesse marco as vitórias de chapas combativas em vários CAs importantes de São Paulo expressa que com uma política conseqüente teria sido possível fazer muito mais ao longo do ano, tanto na universidade quanto no movimento operário. Infelizmente a política das organizações da Frente de Esquerda, principalmente o PSOL e o PSTU, terminou abrindo espaço para os governistas se apoiarem na força de Lula e no conservadorismo de setores da classe média para vencer as eleições estudantis em várias universidades públicas.

Os governistas, que no movimento estudantil (ME) atuam principalmente via PT, UJS/PCdoB e MR-8/PMDB, passaram a se reorganizar e lançar chapas unificadas (às vezes ligando-se ao PSDB) apoiando-se eleitoralmente nos setores estudantis anti-ME e contrários as lutas dos trabalhadores. Nenhuma surpresa com o oportunismo desses grupos que precisam garantir a paralisia do ME para o segundo mandato do governo Lula. A principal vitória eleitoral dos governistas foi no DCE-USP (antes dirigido pela APS e Poder Popular ’ PSOL), principal universidade do país. A vitória dos governistas, principalmente nas entidades gerais e em algumas entidades de base, se deve principalmente a conjuntura nacional colocada, mas não somente. É também, em grande medida, conseqüência da impotência de correntes de esquerda como o PSOL e o PSTU.

Por um lado, o PSOL continuou mostrando como rompeu com o PT, mas não com o modo petista de militar. Durante o governo Lula, enquanto setores de vanguarda dos estudantes tentaram abrir um novo caminho ligado às lutas e construindo a Conlute preferiu traçar outro caminho. Manteve todo o sectarismo com os setores combativos e anti-governistas do ME enquanto fazia todo tipo de pactos para manter a famigerada unidade da UNE, mais descolada dos estudantes que nunca. A mesma lógica política de manter-se na UNE defendendo o aparato junto a UJS/PCdoB é o que leva o PSOL não conseguir se ligar organicamente aos estudantes mais combativos interessados em impulsionar seriamente suas lutas. O resultado não poderia ser outro senão abrir espaço para o governo no DCE da USP.

O PSTU, que no governo Lula teve a importante iniciativa de impulsionar a construção da Conlute, nessas eleições estudantis pautou sua política pelo pragmatismo. Lançou um chamado superestrutural no Opinião Socialista para manter a unidade da Frente de Esquerda nas eleições estudantis. Infelizmente, o fracasso político da Frente de Esquerda [1] não fez a direção do PSTU tirar as lições e mais uma vez chamou a unidade sem colocar nenhuma base programática clara. Mas nem mesmo levou consequentemente essa política nas estruturas em debate aberto com a vanguarda dos estudantes. Nas estruturas, em alguns lugares teve uma política correta e inclusive obteve vitórias, sendo que inclusive pudemos ser vitoriosos juntos nas eleições do CACH (Centro Acadêmico de Ciências Humanas da UNICAMP) e no CASS (Centro Acadêmico de Serviço Social da PUC). Em outros, infelizmente rebaixou o programa ou se apoiou em setores atrasados do movimento.

Nós, da Liga Estratégia Revolucionária junto a independentes do Movimento A Plenos Pulmões buscamos analisar a situação de cada universidade e qual a política necessária para avançar com o ME combativo e barrar os governistas. Nossos chamados a unidade do ME combativo não foram para uma unidade oportunista sem princípios, mas em base a um programa combativo, anti-governista e pró-trabalhadores, o que nos ligou aos setores mais combativos do ativismo onde atuamos, contando com o apoio de funcionários em todas estas eleições. Onde não lançamos chapa, como no DCE-USP, chamamos voto nas chapas da Conlute, denunciando a impotência dos setores anti-governistas que se dividiram em cinco chapas (!!!) estendendo o tapete vermelho para o governo. Nas demais eleições, apoiamos as chapas ligadas à Conlute [2].

Sem guiar nossa política pelo pragmatismo, mas sim tentando criar bases sólidas para um novo ME, fomos vitoriosos junto a estudantes combativos independentes e, em algumas chapas, junto a outras correntes políticas. Foi o caso do CEUPES-USP, do CACS-PUC, do CACH-UNICAMP e do CASS-PUC, que agora se juntam ao CACS-UNESP Marília, para a partir da unidade de estudantes combativos, colocar em pé um novo ME anti-governista que levante o questionamento da universidade de classes ligando-se aos trabalhadores. É a serviço desta tarefa que junto a estudantes combativos queremos colocar estas entidades.

Queremos com esse primeiro balanço colocar em debate com os estudantes independentes que atuamos juntos e com as correntes que se reivindicam combativas e anti-governistas um primeiro balanço das eleições estudantis e sobre quais são os desafios que estão colocados para o ME do curso de Ciências Sociais, no estado de São Paulo e nacionalmente. Ligamos a nossa política ao balanço que fazemos de cada uma das principais eleições que participamos e, a partir daí, queremos colocar nossas primeiras reflexões sobre os desafios que temos pela frente.

CEUPES-USP: Uma vitória histórica para unificar o ME e combater o DCE governista!

Depois da vitória dos governistas no DCE, a eleição do CEUPES foi a mais importante eleição da USP, pois é o CA que tem maior referência entre os estudantes e deverá fazer frente ao DCE governista. Neste marco, a chapa Calabar (composta pelo Movimento A Plenos Pulmões, Resistência Popular e independentes) aglutinou um amplo setor de estudantes ativos e antiburocráticos do ME, que defendem um CEUPES atuante e com participação dos estudantes e que colocam o questionamento do papel que deve ter um cientista social que busque se aliar aos trabalhadores. Nossa chapa teve o apoio dos trabalhadores da USP, justamente porque foi a que mais deu a luta conjunta por mais verbas e por democracia na universidade, além da atuação em defesa dos terceirizados quando foram ameaçados de demissão. Esta vitória se faz ainda mais importante num CA onde a lógica petista de atuação dominou ao longo dos últimos anos, aliado ao peso que tem a intelectualidade burguesa e reformista num dos cursos mais importantes de ciência sociais do país.

A gestão deste ano do CEUPES Para além dos muros (PSOL ’ Poder Popular e APS ’ e independentes) e do DCE (mesma composição) estiveram afastadas dos estudantes e impotentes em se aliar aos trabalhadores para organizar a luta contra o governo e a reitoria. Assim só poderiam ser derrotados pelo governismo no DCE (a medida que a oposição de esquerda também não se unificava para combater isto). No CEUPES, onde o PSOL esteve através da chapa Nosotros (sem a APS), foram derrotados pelos estudantes da Calabar que estiveram durante todo o ano ativos construindo um ME realmente ligado aos estudantes em aliança com os trabalhadores em suas principais lutas. A votação foi de 163 votos para a Calabar a 148 para a Nosotros. Infelizmente, o PSTU continuando sua política de se colar no PSOL sem qualquer programa para conseguir ganhar aparatos, apoiou a Nosotros; isto é, a favor da chapa que defende a UNE e contra a chapa que defende abrir a discussão sobre a Conlute como alternativa; votando junto a setores do próprio DCE governista contra a Calabar. Felizmente, desta vez o apoio sem programa não saiu vitorioso e, contra todas as correntes políticas que os apoiaram, ganhamos com o movimento estudantil combativo em defesa de suas demandas.

Ainda assim, queremos avançar o máximo junto a estes setores combativos do ME, por isso valorizamos as vitórias que o PSTU obteve, como por exemplo no CAELL (CA de Letras da USP) [3] e no CEGE (CA de Geografia da USP) em que queremos trabalhar para atuarmos juntos na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) e no conjunto da USP polarizando com o DCE governista.

Apesar das inúmeras divergências com o Poder Popular, que contribuiu para o avanço dos governistas no DCE e foi derrotado na maioria das eleições estudantis, achamos que devemos nos unificar em torno de um programa comum de luta contra os ataques dos governos, de questionamento dessa universidade elitista e racista e pela aliança com os trabalhadores, para fazer frente a um DCE aliado do governo. Por isso, convocamos todos os CA”™s combativos e demais chapas concorrentes ao CEUPES (inclusive a Abrahjaulah ’ composta por militantes da Negação da Negação), para atuarmos juntos com fortes bases programáticas para fortalecer o ME anti-governista em oposição ao DCE.

Derrota dos governistas no CACS: uma vitória de toda a vanguarda combativa da PUC!

A forte greve deste ano da PUC-SP forjou uma importante vanguarda na luta contra os ataques da reitoria, da igreja e dos bancos. As eleições estudantis (CAs e Representação Discente) mostraram que esta vanguarda tem uma ligação com os estudantes e é vista como o setor que luta por nossas demandas. A vitória do ME combativo em praticamente todos os CA”™s da PUC, exceto a FEA (Economia e Administração) e da representação discente é expressão disso.

No CACS, a chapa Primavera de Praga (LER-QI e independentes) expressava este setor nas eleições garantindo uma vitória esmagadora contra os governistas com o triplo dos votos (292 a 99), uma vitória do conjunto do movimento estudantil combativo de toda a PUC. O apoio de outros cursos que houve à Primavera de Praga (CACS) e às demais chapas combativas aos demais C.A.”™s mostra como o movimento estudantil da PUC luta contra a direita e os governistas para avançar na luta, sem uma perspectiva corporativista por curso. Esta é a base para se colocar em pé um ME muito mais fortalecido que levante um programa eficaz para responder aos enormes ataques da reitoria e colocar os estudantes na ofensiva contra a Maura e os governos rumo a uma luta conseqüente pela estatização da PUC-SP!

Porém, se uma chapa como a Primavera de Praga fosse composta junto aos companheiros do PSTU, esta chapa poderia ser ainda mais forte, pois apesar de todas nossas divergências daríamos um exemplo ao movimento estudantil de como unificar a esquerda anti-governista com liberdade de críticas, a maneira mais conseqüente de se lutar contra o governismo no ME. Infelizmente, o PSTU não quis se somar à chapa, preferindo apenas apoiar timidamente a Primavera de Praga. Agradecemos este apoio, e também de companheiros do PSOL, e achamos fundamental que os companheiros passem do apoio à luta para construir conjuntamente um novo CACS, que combata os governistas, se alie aos trabalhadores e lute pelas demandas dos estudantes.

CACH: unidade da Conlute garante avanço do ME anti-governista e pró-trabalhadores

Na Unicamp, diferente dos outros lugares, os setores que constroem a Conlute saíram em chapas conjuntas para o DCE e o CACH. Há seis anos o DCE é dirigido pelo mesmo grupo (Rosa do Povo/PSOL), que vem mostrando sua impotência em organizar os estudantes contra os ataques da reitoria e dos governos. Para nós uma chapa de oposição a este grupo deveria atuar para conformar uma camada de novos ativistas que atuasse no próximo período por um ME combativo.

Foi esta a nossa atuação dentro da Chapa Transformar o Tédio em Melodia para o DCE, quando no meio das eleições, irrompeu o processo de mobilização de trabalhadores contra as demissões e atuamos na defesa de que o ME se aliasse a esta luta. Infelizmente, o PSTU, apesar de dizer que deseja construir um novo ME, não buscou estreitar a relação com os trabalhadores e aproveitar as eleições do DCE para impulsionar um setor do ME contra as demissões.

No CACH formamos a chapa Barricadas: fecham as ruas, abrem os caminhos (LER-QI, PSTU, Resistência Popular e independentes). Uma chapa que reivindicou a gestão Molotov, da qual fizemos parte durante este ano, e que concretizou avanços importantes. Organizamos os estudantes para participar do ENE (Encontro Nacional de Estudantes) e do CONAT (Congresso Nacional de Trabalhadores), com amplas discussões em boletins abertos e assembléias, e também decidimos em assembléia, pela entrada do CACH na Conlute. O principal avanço nesta gestão foi concretizar uma aliança orgânica com os trabalhadores de dentro e de fora da universidade, realizando um processo de mobilização pelas nossas demandas em conjunto com os trabalhadores. Desde o primeiro dia de nossa gestão começamos a travar esta aliança, formando um Fórum Permanente do IFCH, em que os trabalhadores pautaram pela primeira vez o problema da FUNCAMP, em que 600 trabalhadores serão demitidos por irregularidades cometidas pela reitoria, e hoje, já na gestão Barricadas, somos o setor mais ativo na mobilização destes trabalhadores.

A chapa Barricadas reivindicou durante as eleições todos estes avanços. Neste ano conseguimos formar uma chapa muito mais forte, unificando todos os que defendem a continuidade do CACH na Conlute, combatendo a chapa Revirando a CACHola, composta pelo PSOL (Rosa do Povo e Enlace), que levantou um programa raso, pragmático e oportunista, camuflando sua posição sobre a UNE (e obscurecendo a presença de uma diretora da UNE na chapa), dizendo que não queriam discutir entidades. A vitória da Barricadas expressa um reconhecimento dos estudantes pelo trabalho político realizado pela Molotov e a reafirmação do desejo de manter nosso CA numa postura combativa, que luta por nossas questões imediatas ligadas as lutas mais estratégicas para transformar a universidade, numa aliança orgânica com os trabalhadores.

Organizar o ME de Ciências Sociais: da simples compreensão à transformação social

Quando questionamos a serviço do que está o conhecimento produzido na universidade e seu caráter de classe queremos levantar uma séria discussão do papel que podem ter os estudantes e a universidade frente à realidade dos embates da sociedade de classes. Nessa perspectiva, o conhecimento produzido nos cursos de ciências sociais é fundamental para compreendermos a realidade em que estamos inseridos e como transformá-la. Infelizmente, não é a serviço desta perspectiva que se inserem a maioria dos cursos de ciências sociais do país hoje.

As atuais grades curriculares avançaram ainda mais em adaptar-se a lógica neoliberal do governo e do MEC nos últimos muitos anos, isto é a lógica hegemónica da burguesia. Alguns intelectuais chegaram ao ponto de afirmar que a “história acabou” , que a “classe operária não existe mais” ou que esta não tem mais nenhum potencial revolucionário. Enfim, a própria história se encarregou de mostrar como estavam errados estes teóricos do conformismo, com a atual resistência em Oaxaca que evidencia a centralidade dos trabalhadores na luta contra a exploração capitalista, além dos acontecimentos na França no início do ano ou os levantes de trabalhadores na América Latina nos últimos anos.

Por isso, o pensamento hegemónico hoje na academia (a exceção da Unesp Marília e da Unicamp), que tem em Weber seu principal exponencial, diz que as ciências sociais devem servir somente para uma “análise compreensiva” da realidade, isto é, compreender a sociedade para mantê-la como está. Por outro lado, Marx já dizia que muitos filósofos sempre se preocuparam em somente interpretar a história, mas o que importa é transformá-la. É com esta segunda perspectiva que nos encontramos e queremos atuar para que esta seja a preocupação dos futuros cientistas sociais do país.

Para nós, a educação (em seu conjunto) tem um importante papel a cumprir na luta dos trabalhadores. Sabemos que a educação reproduz hoje as relações de produção da sociedade capitalista, por isso mesmo travamos uma luta política e ideológica para construir a contra-hegemonia na defesa de uma educação voltada para os interesses e as lutas dos trabalhadores e do povo pobre. Nessa perspectiva, o ensino fundamental e médio cumprem um papel diferenciado em relação à universidade. É nestes estabelecimentos de ensino que se encontram os filhos dos trabalhadores, ou diretamente os próprios trabalhadores.

Por isso, queremos abrir uma campanha em defesa da sociologia no ensino médio e temos um grande desafio pela frente que é que no estado de São Paulo foi vetada a sociologia no ensino médio. Mas não qualquer sociologia. Uma sociologia que não reproduza a lógica das relações capitalistas, nem a mesma pedagogia fria e tecnicista que faz que os estudantes destes estabelecimentos odeiem suas disciplinas. Uma pedagogia que saiba dialogar com os estudantes, a partir da sua própria realidade e dotar-lhes dos instrumentos teóricos necessários para compreender a realidade social que submete os trabalhadores à exploração. Porém, não dos mesmos instrumentos teóricos que só serve à pura diletância, mas instrumentos teóricos que se ligam intimamente a necessidade de uma práxis transformadora.

Para construir esta campanha devemos organizar junto a todos os estudantes um Encontro Regional de Estudantes de Ciências Sociais (ERECS), que tenha como eixo a questão da sociologia no ensino médio e as grades curriculares. Este encontro, que ocorrerá na UNICAMP, deverá ser a base para uma verdadeira coordenação dos estudantes de CS e de suas ferramentas (C.A.”™s) no estado de São Paulo que poderá servir de exemplo a todas as entidades e estudantes que compreendem a importância em se construir uma ferramenta de coordenação das lutas já que infelizmente a UNE e a UEE se colocam contra as principais lutas dos estudantes.

Com os 4 principais CA´s de Ciências Sociais do estado de São Paulo nas mãos do ME combativo e anti-governista, temos agora melhores condições e responsabilidade de levar à frente uma política ofensiva para o curso de ciências sociais no estado e nacionalmente.

CASS-PUC: Fim da hegemonia petista!

A vitória da chapa Nem Pacto, Nem Trégua no CASS é mais uma vitória bastante expressiva para o ME combativo. Esta entidade, assim como a Executiva Nacional e o próprio curso são historicamente dirigidas pelo PT. Foram anos de petismo a frente do CASS com a tradicional política de aparecer nas eleições, desaparecer da base do ME utilizando a entidade como trampolim político para se alçar nos grandes aparatos.

Este ano, os estudantes deram um basta a estes burocratas, depondo a gestão petista inexistente. Um setor combativo expressivo do ME passou a se unificar em torno a um programa anti-governista, colocando o petismo na defensiva que foi incapaz de montar uma chapa. Esta chapa foi composta por militantes do Movimento A Plenos Pulmões, PSTU, POR e independentes, onde tivemos que neutralizar a política infantil e divisionista da Negação da Negação (NN) de “com o PSTU eu não saio de jeito nenhum...” que tentou a todo momento rachar o ME combativo. Preferiram isolar-se e negaram-se a discutir um programa concreto para o Serviço Social que questionasse o papel do assistente social na sociedade de classes.

A campanha envergonhada pelo voto nulo levada a frente pelo PT fracassou. A vitória do ME combativo foi acachapante com 164 votos frente a meros 31 nulos. Essa importante vitória no CASS, baseada na luta contra o governo, na aliança operário-estudantil, na discussão sobre a quem serve o conhecimento que temos, demonstra como é possível fazer frentes-únicas com princípios, que não sejam acordos pelo alto, mas um programa discutido desde as bases para combater o governo.

O combate às reitorias e ao governo do estado

Em cada lugar que atuamos, observamos problemas específicos que estão diretamente ligados ao sucateamento da educação pública. Vemos o papel que cumprem as reitorias e as direções de unidade em aplicar os projetos neoliberais dos governos federal e estadual na educação. As reitorias/direções são os responsáveis por aplicar na universidade os planos de cortes de gastos, de arrocho salarial, de sucateamento por via da expansão sem aumento de verbas e da implementação da iniciativa privada na universidade pública.

Em todos os lugares combatemos os planos das reitorias, construindo a luta junto aos estudantes por suas demandas específicas ligando ao problema da falta de verbas para a educação. Somente assim podemos dar uma resposta séria e conseqüente às demandas específicas de cada lugar que são parte da luta contra o sucateamento da educação pública. Somente fazendo esta ponte poderemos ligar os estudantes em luta de cada lugar do país numa luta comum por mais verbas para a educação.

Porém, assim como esta luta parte do embate direto às reitorias e direções em cada faculdade, a luta por verbas não pode estar desligada da luta contra a atual estrutura de poder da universidade. Não queremos mais verbas para a universidade para que os mesmos responsáveis pela aplicação dos planos neoliberais decidam o que fazer com ela. Defendemos contra essa estrutura de poder em que meia dúzia de professores titulares escolhidos pelo governador decide o rumo de universidades, uma outra organização da universidade em que as dezenas de milhares de estudantes, funcionários e professores possam se expressar democraticamente em que todos tenham o mesmo direito à voz e voto.

Onde há luta, há repressão

Desde o ano passado, teve início um processo de repressão ao ME. A reitoria da UNESP se colocou como ponta de lança desse processo, expulsando estudantes em Franca e abrindo sindicâncias em vários outros campi. Não demorou para que as reitorias da USP, PUC e UNICAMP tomassem o mesmo caminho.

Na maioria dos lugares, a repressão é uma clara resposta aos setores que resistem ao projeto de educação da burguesia. Em outros, fica claro que a opressão é parte do próprio projeto: retirada de espaços, proibição de festas, ataques à assistência estudantil. Isso tudo faz parte do conjunto do projeto “liberal” de universidade no qual quem tem espaço e pode fazer a festa são os bancos, as fundações, os empresários e o governo e, no caso da PUC, cabe até o Papa na hora da festa enquanto aos estudantes e trabalhadores são reservados os ataques e os que se opuserem ganharão sindicâncias e processos.

Para aplicar o seu projeto de ataques à comunidade universitária, as reitorias precisam calar os setores que se opõem a esse projeto. Por isso, em cada lugar que houver luta, haverá a tentativa das reitorias em reprimir. Como cada luta se coloca contra as decisões tomadas pela cúpula de meia dúzia de titulares que decidem tudo sobre as costas de milhares de estudantes e centenas de funcionários e professores, o combate à repressão por parte desta meia dúzia não pode ser uma questão menor, mas parte do combate que temos que fazer para derrubar a atual estrutura de poder que mantém a universidade elitista, racista e repressora.

O combate ao governo federal, pelas demandas dos estudantes e por uma nova universidade

Logo no primeiro ano de seu primeiro mandato, Lula começou atacando os trabalhadores e a universidade. Com sua primeira reforma da previdência retirou direitos históricos do funcionalismo público, levando a centenas de pedidos de aposentadoria de professores e funcionários em todas as universidades públicas do país. Esta foi sua primeira contribuição ao sucateamento da educação pública.

No segundo ano, teve início o projeto de Reforma Universitária que acabou se resumindo ao PRÓ-UNI, uma medida demagógica para salvar os tubarões do ensino da ociosidade de vagas. Se por um lado, o PRÓ-UNI significa uma pequena concessão a vários estudantes que não conseguiriam entrar na universidade pública devido ao funil do vestibular, significa um benefício maior ainda aos capitalistas do ensino que estão isentos de seus impostos em detrimento de investimentos na educação pública.

Neste novo mandato, Lula seguirá ampliando o PRÓ-UNI e continuará a proposta de Reforma Universitária, a fim de aumentar os investimentos privados nas universidades públicas para assegurar que cada vez mais o conhecimento produzido nestas esteja de acordo com os interesses dos grandes capitalistas, enquanto aumentará os investimentos públicos nas universidades particulares para assegurar os lucros das grandes fábricas de diploma, continuando sua campanha demagógica de ataque a educação pública dizendo que somente a elite entra na universidade pública enquanto seu governo garante vagas aos pobres na universidade particular.

O ME tem pela frente uma imensa tarefa de barrar os ataques do governo Lula e responder positivamente aos anseios de grande parcela da população que se vê beneficiada pelo PRÓ-UNI. Por isso, a luta contra a Reforma Universitária, por mais verbas para a educação não pode estar desatrelada de mudar a composição social da universidade pública elitista e racista e pelo fim do funil do vestibular. Frente a cada ataque que sofre a educação pública, devemos defendê-la, porém não encaramos isto de maneira separada de lutar por uma nova universidade com o seu conhecimento voltado à maioria da população e não a uma minoria de empresários. Para nós, esta luta parte do questionamento da universidade de classes ao questionamento da sociedade de classes.

Porém, como se esta já não fosse uma grande tarefa para o ME, ainda teremos que nos enfrentar com os braços do governo e das reitorias no próprio ME. Para aplicar todos os seus ataques, Lula e o PT contam, além de seus próprios militantes, com um forte aliado no ME que tem nome, sobrenome e apelido: UJS, PCdoB, UNE. E agora, em São Paulo, conta também com um novo endereço: DCE-USP. Para responder à altura dos ataques do governo Lula, defendido pelos seus capachos no movimento estudantil, devemos colocar em pé um novo ME que rompa com a lógica burocrática, que consiga coordenar suas lutas nacionalmente, que se alie aos trabalhadores para arrancar as demandas mais de fundo dos estudantes e do conjunto da população explorada e oprimida.

Desde São Paulo, nos colocamos a tarefa de construir junto a outros setores, em especial o PSTU e a CONLUTE, e todos os estudantes combativos uma coordenação real de lutas. Atuaremos incansavelmente para construir sólidas bases para a Conlute-SP, como parte da enorme tarefa que nos colocamos de construir a Conlute nacionalmente como uma ferramenta real da luta dos estudantes. Defenderemos em todas as assembléias, em cada entidade estudantil que estamos inseridos, fazer parte da construção deste novo ME, anti-burocrático, anti-governista e aliado incondicional da luta dos trabalhadores.

É a serviço desses desafios que colocaremos todos os nossos esforços. O trabalho que antes já fazíamos construindo um ME pela base, agora dá um enorme passo à frente com as vitórias que conquistamos no CEUPES-USP, CACS-PUC, CACH-UNICAMP e CASS-PUC, que agora se somam ao CACS-UNESP Marília onde somos gestão juntamente com outros setores. Para nós, essas vitórias não são somente nossas e dos setores com os quais atuamos juntos. São vitórias do ME combativo de São Paulo que tem pela frente grandes desafios, para os quais iremos buscar atuar conjuntamente com todos os setores combativos do ME.

RESUTADOS DAS ELEIÇÕES CITADAS NO TEXTO

CEUPES – USP

Calabar (LER-QI, Resistência Popular e independentes): 163 votos

Nosotros (Poder Popular e independentes): 148 votos

Abrahjaulah (Negação da Negação e independentes): 20 votos

Nulos e brancos: 18

CACS – PUC

Primavera de Praga (LER-QI e independentes): 292

Camarão que dorme na praia a onda leva (UJS/PCdoB, PT, MR8/PMDB e PV): 99

No dia da posse eu renuncio: 22

Chapa 1: 01

CACH – UNICAMP

Barricadas – fecham as ruas, abrem o caminho (LER-QI, Resistência Popular, PSTU e independentes): 138

Revirando a CACHola (Rosa do Povo e Enlace – PSOL – e independentes): 91

AJR-Reconstruir o CACH pela base (PCO e independentes): 18

Nulos e brancos: 20

CASS – PUC

Nem pacto, nem trégua (Movimento A Plenos Pulmões, T-POR, PSTU e independentes): 134

Nulo e brancos: 34

[1Que todos os dias se reafirma, com o fato mais novo sendo o voto de Heloísa Helena a favor do Super-Simples. Quem o PSTU apresentou como “alternativa para os trabalhadores” mostra mais uma vez sua cara.

[2Exceto no CEFISMA (CA de Física da USP) onde o PSTU acusou, junto a setores da direita, a antiga gestão (uma gestão combativa e anti-governista, da qual os militantes do Movimento A Plenos Pulmões faziam parte) de “golpistas” (!) por defender a realização de um Congresso antes das eleições do CA. Ainda assim, buscamos fazer uma chapa unificada da CONLUTE, mas o PSTU preferiu rebaixar o seu programa e sair numa chapa sozinhos contra a chapa da direita. Nesta eleição chamamos voto nulo.

[3Ainda que nas eleições para o CAELL o PSTU tenha saído com um programa rebaixado, que não avançava das demandas apenas imediatas dos estudantes, fazendo um discurso bastante dúbio para ganhar qualquer voto.

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