Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

A luta contra a precarização dos terceirizados na USP

28 Feb 2006 | Os trabalhadores terceirizados da USP vêm travando duras batalhas contra a precarização das suas condições e contra a opressão das empresas e da reitoria. Um exemplo para o milhões de trabalhadores terceirizados ou não. Abaixo segue um texto que agrupa diversos depoimentos desses trabalhadores sobre sua luta e sua vida. Mais abaixo, um abaixo assinado com diversas assinaturas internacionais contra as perseguições aos terceirizados.   |   comentários

Depoimentos

Estes depoimentos são feitos a partir de uma entrevista com alguns terceirizados que expuseram pontos centrais de suas condições de vida, impostas pelo regime de trabalho, precarização das condições, que servem unicamente aos interesses das empresas, reitorias e sindicatos pelegos que fazem o trabalho sujo das empresas e reitoria, agredindo os trabalhadores que se organizam para lutar contra elas.

Trabalhar na universidade de “excelência”

“Nós trabalhamos aqui e não tem equipamento adequado, não tem segurança. Não tem proteção, não tem periculosidade, não tem aumento no salário pelo que a gente faz” . “Aqui tem dois funcionários fazendo trabalho de seis e ainda tem as escalas de trabalho do que tem que fazer cada dia.”

E para vir para o trabalho “aqui tem quem não recebe a quatro meses, outros não recebem vale-transporte a três meses” , isto porque “fiquei com medo de pedir o vale-transporte e não conseguir o emprego, moro na Zona Sul, ganho R$ 230,00 por mês porque pago do meu bolso o transporte (...) e mesmo quem mora na São Remo [1], também está ruim. Tenta andar de lá sem circular, e tem chuva, perigo de abuso, estupro” . “E quem atrasa, dependendo da encarregada é mandado embora” .

As condições de trabalho e vida implicam na exploração, opressão e violência não só nos locais de trabalho, mas todo dia durante, depois, indo e voltando do trabalho.

Se organizar para lutar contra isto

“Primeiro a paralisação foi contra a transferência da encarregada daqui” . “E foi comentado que era porque o pessoal ficou na hora do almoço perto de onde estava acontecendo uma assembléia dos trabalhadores da USP” . “O pessoal se revoltou com o que estava acontecendo e chamou uma reunião. Lá encontramos terceirizados, efetivos e ficamos sabendo do que estava acontecendo em outras unidades” . “Uma luta que também começou foi para exigir a retirada da encarregada da Educação” .

“E tem também a Neide (supervisora dos terceirizados). Ela quer ver como nós vamos levar mais uma, humilhando os funcionários da limpeza, fazendo comer no banheiro, usando produto tóxico sem proteção nenhuma, sem máscara. Teve uma funcionária que passou mal e foi parar no HU. Quem socorreu foi uma companheira de trabalho e não a encarregada, a encarregada não tá nem aí” . “E agora que estamos nos organizando tem encarregada ameaçando funcionário dizendo ”˜aqui dentro é uma coisa, lá fora é outra.”

Basta.

A experiência com o SIEMACO.
Fora SIEMACO!

Os trabalhadores se organizaram em torno destas reivindicações e pararam algumas unidades da terceirizada União e foram à reitoria realizar um ato que transcorria bem até que chegaram o SIEMACO e seus bate-paus.

“Eles chegaram agredindo funcionário da União, xingando de galinha, puta, preto, falando ”˜que putaria é essa”™, e as meninas ficaram com medo daqueles armários daquele tamanho. Um companheiro trabalhador da USP então ofereceu que na comissão para negociar com a reitoria fosse 2 da União, 2 da USP e 2 do SIEMACO se eles fossem a favor dos terceirizados da União. Houve alguns bate-bocas e então o SIEMACO disse ”˜espera um pouquinho que o pessoal já está chegando”™. Chegou uma KOMBI e já desceram descendo o cacete. Deram gravata em funcionária da União, o companheiro trabalhador da USP foi separar e foram todos eles pra cima dele, aí começaram a bater no pessoal do SINTUSP. A mulherada caiu em cima para defendê-los. Aí o SIEMACO pau em nós. Em algum tempo veio a polícia e ao invés de escutar jogou pimenta em todo mundo, quer dizer, só em nós terceirizados.”

“Quando separou a briga o pessoal começou a gritar ”˜FORA SIEMACO, I FORA, I FORA!” “Ninguém agüenta mais esse sindicato não, estamos pagando pra apanhar deles” , e lá as pessoas começavam a discutir o seguinte: “vocês querem continuar pagando pra apanhar” e os outros respondiam “Não!” .

A necessidade da organização dos trabalhadores

Fazendo essa experiência os companheiros que já vinham se organizando e vendo a necessidade de se unir para enfrentar as encarregadas, a supervisora, a dona e a reitoria, também começaram a ver mais claramente a necessidade de se organizar em um embate contra os pelegos para poder luta por suas reivindicações e não as da empresa.

Parte desta lição parte de como os trabalhadores vêm (e todos devemos ver assim) o SIEMACO: “não é sindicato não, é máfia, ao invés de proteger quer bater, roubar, matar” . E mais ainda: “o SIEMACO defende o interesse do patrão, não podemos contar com eles” .

“O que precisamos é de uma organização forte, de um sindicato forte, e aqui temos um reforço com o pessoal do SINTUSP, estamos juntos todos aqui na USP, com eles não tem hora não, tão sempre conosco, e temos ainda a colaboração dos alunos, de funcionários efetivos que podemos contar” . “Precisamos nos organizar para lutar pelo nosso direito. Para baixar a repressão do patrão. Para acabar com nossa escravidão!” .

E no fim ainda lembraram de Cazuza: “a burguesia fede, a burguesia só quer ficar rica” , e nós fazemos o que? Organizar os trabalhadores por seus interesses e combater a burguesia.

ABAIXO-ASSINADO
Contra as perseguições aos terceirizados da USP

No dia 19 de maio, trabalhadores da empresa terceirizada de limpeza União paralisaram suas atividades contra o assédio moral e transferências arbitrárias feitas pela empresa. Reunidos os trabalhadores terceirizados e representantes do Sintusp em frente à Reitoria foram agredidos fisicamente por bate-paus do Siemaco (sindicato da Força Sindical), a serviço da patronal e da reitoria. A partir disto, a empresa União está ameaçando de demissão e transferências de trabalhadores terceirizados que se mobilizaram.

Nós, abaixo-assinados, rechaçamos estas medidas de repressão. Nos colocamos contra qualquer tipo de punição ou demissão que atinja os trabalhadores terceirizados que se mobilizam, e exigimos da Reitoria da USP o atendimento imediato de todas as reivindicações.

Além de diversas assinaturas individuais e de entidades no Brasil, essas são as adesões internacionais ao abaixo-assinado:

LISTA VIOLETA, Asociación Gremial Docente, UBA - Argentina

Centro de Estudiantes de Ingeniería UBA – Argentina

Centro de Estudiantes de Ciencias Exactas UBA - Argentina

Centro de Estudiantes de Arquitectura UBA – Argentina

Centro de Estudiantes de Ciencias Sociales de la UBA – Argentina

Federación Universitaria de Buenos Aires (FUBA) – Argentina

Centro de Estudiantes de la Facultad de Psicología (UBA) – Argentina

Centro de Estudiantes de la Facultad de Filosofía y Letras (UBA) – Argentina

Centro de Estudiantes de la Facultad de Ciencias Veterinarias (UBA) - Argentina

Agrupación de mujeres Pan y Rosas – Argentina

Agrupación nacional universitaria En Clave ROJA - Argentina

Clase contra Clase (EE) – Espanha

Sindicato de Estudiantes de Izquierdas (EE) – Espanha

Casa Obrera y Juvenil Treces Rosas (EE) – Espanha

Cuerpo De Delegados De Secciones Del Astillero Río Santiago – Argentina

Movimento A Plenos Pulmões – Brasil

James Petras, intelectual norte-americano

Ricardo Martinez Lassi, catedrático da Universidad Nacional Autónoma de México

Román Murguía Huato, catedrático da Universidad Autónoma de Guadalajara (Estado de Jalisco) - México

Manuel Aguilar Mora, catedrático da Universidad Autónoma de la Ciudad de México, e integrante do Sindicato dessa universidade - México

Jaime Gonzalez, Ismael Contreras y Oscar Villedas, pelo Movimiento Magisterial del Sindicato de Maestros al Servicio del Estado de México (e também professores do Estado do México)

Liga de Unidad Socialista (LUS) - México

Hoja Obrera, agrupación de Trabajadores - México

Liga de Trabajadores por el Socialismo - México

[1A São Remo é uma favela ao lado da USP onde moram boa parte dos trabalhadores terceirizados da universidade.

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