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A USP tem novo REItor

21 Dec 2009   |   comentários

A greve do primeiro semestre da USP escancarou para a grande maioria dos trabalhadores e estudantes uma realidade que há muitos anos vem sendo contestada. Depois que a ex-reitora Suely Vilela, a mando do governador José Serra, apelou para o uso da força contra a greve dos trabalhadores chamando a polícia militar na tentativa de nos desmobilizar, e que culminou com o inaceitável episódio do dia 9/6, ficou evidente que a estrutura de poder de uma das maiores universidades da América Latina é uma verdadeira monarquia sob um regime aristocrático. Apesar das dificuldades em levar até o final a luta pela democratização radical da universidade e pelo fim da criminalização do Sintusp e de seus diretores no segundo semestre, como continuidade da exemplar luta que os trabalhadores lideraram por mais de 30 dias, conseguiram impulsionar uma Frente pela democratização e contra a repressão, expressa na anti-candidatura com o professor Chico de Oliveira para protestar contra essa reacionária e aristocrática estrutura de poder.

Em seu programa foram levantados os principais pontos da pauta de reivindicações que ainda segue em aberto. Ainda sim, conseguimos impedir no dia 10/11 que a burocracia acadêmica representada pelo CO elegesse o novo reitor como se nada tivesse acontecido, e que só pode se concluir no dia seguinte, no Memorial da América Latina, de novo sobre as botas da polícia militar. A participação ativa de nossa militância de trabalhadores e estudantes junto ao Sintusp foi essencial para impor o boicote no primeiro dia da eleição do CO, o que tínhamos colocado como parte do programa da Frente.

Assim foi “eleito” o novo REItor, João Grandino Rodas, que antes de sua posse oficial já expressa a crise em que vive a Universidade de São Paulo e que, a partir de agora, ganhará novos capítulos.

RODAS eleito por 1 voto, o de governador Serra

Não foi somente entre os trabalhadores e estudantes da universidade, que se dispuseram a lutar no primeiro semestre deste ano, que a indicação de Rodas gerou indignação. Serra ignorou até a aristocrática nomeação de Glaucius Oliva como primeiro da lista tríplice no segundo turno das eleições. Desde 1981 a tradição do governador do Estado é acatar a decisão da burocracia acadêmica e indicar como REItor o nome mais votado no CO. O último a contradizer essa “lei” foi o governador biônico Paulo Maluf, ainda no período nebuloso da Ditadura Militar. Fica mais do que claro que a instituição do REItor nega qualquer autonomia universitária e constitui a ingerência dos governos nas universidades, por isso em nosso programa de democratização do regime e do governo universitário temos que levantar a necessidade de por fim ao C.O. e impor um novo governo coletivo baseado nos três setores com maioria estudantil e uma estatuinte construída nas assembléias dos cursos e unidades das distintas categorias.
Rodas como parte de sua demagogia defende como modelo de reforma do regime o 70/15/15 definido pela LDB e adotado por outras universidades como a Unicamp, onde os professores titulares tem peso de decisão em 70% e os outros 30% divididos entre funcionários e estudantes. Uma mudança superficial que não altera o fundamental que já existe hoje, mantendo o controle da universidade nas mãos de pouquíssimos professores interessados cada vez mais com o enriquecimento fácil que suas fundações privadas e empresas terceirizadas os proporcionam. Com isso, Rodas quer desviar o foco da crise aberta esse ano e confundir os trabalhadores e estudantes que clamam: abaixo o CO, por uma Estatuinte Livre, Soberana e independente da burocracia, para avançar de fato na democratização radical da universidade.
A indicação de Rodas, discípulo de Serra há muitos anos, não vem à toa. Por trás do seu “imponente” currículo, está uma decisão estratégica tomada por Serra. Rodas vem gabaritado por sua capacidade e “vivencia administrativa testada em órgãos internacionais e na administração federal e estadual” e por sua larga “experiência na solução de conflitos”. A sua candidatura foi articulada pelo grupo de professores titulares que dirige a São Francisco, encabeçados por Celso Lafer, professor de Filosofia do Direito, sucessor e cria de Miguel Reale, tucano gabaritado, ex-ministro, atual presidente da FAPESP e, principalmente, herdeiro de uma linhagem quatrocentona paulistana que ocupa lugar de destaque nas entidades empresariais.
Ainda que venha dizendo ser contrário a expansão da terceirização na USP, Rodas é também aliado de outro braço direito de Serra, o Presidente da Sabesp Gesner de Oliveira, que nos últimos meses já demitiu mais de mil trabalhadores de uma das maiores empresas públicas de saneamento básico, com o claro intuito de terceirizar postos de trabalho com salários precários. Escreveram em co-autoria um livro sobre direito e economia da concorrência em 2004 e já se revezaram na presidência de outros órgãos públicos, sempre com o aval de Serra e dos mesmos figurões que hoje impulsionaram sua candidatura. Questionado por funcionários, Rodas chegou ao cinismo de dizer que não sabe da terceirização do Restaurante Universitário XI de Agosto, localizado na unidade que ele próprio dirigiu nos últimos 4 anos.
Os trabalhadores da USP que temos em nosso programa a luta contra a tercerização e a precarização do trabalho temos que estar na linha da frente colocando no centro de nossa organização a unidade das fileiras operárias entre efetivos, contratados e terceirizados. Igual trabalho, igual salário e iguais direitos para todos.

Quem é Rodas?

Em meio a crise aberta na USP, e aprofundada pela imposição de um interventor mandatado para aplicar os planos de Serra, Rodas chega a universidade debilitado e deslegitimado, por isso tem que fazer muita demagogia e se apresentar como o maior defensor do diálogo, “disposto a retomar as relações com as entidades, a fim de pacificar a universidade”, para garantir a aplicação dos planos de sucateamento da educação sem maiores conflitos, e manter a passividade num ano eleitoral, a favor do PSDB e da candidatura de seu chefe, Serra.
Alertamos os trabalhadores e estudantes da universidade que, ainda que seja necessário para Rodas e Serra fazer algumas concessões formais (e muita demagogia) para criar uma nova base de sustentação para os próximos 4 anos, sua gestão não demorará a mostrar sua verdadeira face.
Prova maior disso foi a decisão que Rodas tomou, quando ainda dirigia a Faculdade de Direito da USP, de reprimir uma manifestação no Largo São Francisco em 2007 com um efetivo de 120 policiais da Tropa de Choque, e que terminou com o fichamento de estudantes e ativistas dos movimentos sociais na delegacia. È também invenção do novo REItor o dispositivo aprovado no CO que permite a entrada da polícia no Campus, e a conseqüente repressão dos movimentos de greve nos casos de “ruptura da normalidade acadêmica”. Em recente entrevista após se tornar o REItor de fato, Rodas respondeu o seguinte quando questionado sobre a presença da polícia na USP: “Existe a necessidade legal, do diretor ou diretora, do reitor ou da reitora, de proteção das pessoas e das coisas. Isso é responsabilidade legal.”
Porém, um dos fatos mais “notórios” de sua vida pública é pouco comentado. Rodas integrou a Comissão de Mortos e Desaparecidos da Ditadura Militar, e foi o responsável pelo indeferimento do caso Zuzu Angel, famosa estilista assassinada pela Ditadura, mãe do ativista político Stuart Angel, também barbaramente assassinado no regime militar. Segundo o ministro de Lula, José Gregori, Rodas foi “responsável e operoso nessa Comissão, indispensável para fazermos a chamada transição democrática”. Além de inocentar o Estado no caso Zuzu Angel, Rodas também indeferiu outros 45 casos. Com isso, pode ser considerado de fato co-responsável pela “transição democrática” que mantém até hoje impune os militares e civis que de alguma forma contribuíram com a Ditadura Militar, ocupando um papel destacado de colaborador da farsa de democracia que vivemos até hoje e por isso recebe tantos apoios para ocupar o cargo de REItor, em especial do auto-intitulado grupo “Compromisso USP” composto por dirigentes da FM, FD, FEA, Poli – unidades que têm cada vez mais relação com as fundações privadas.

Nenhuma confiança em Rodas!

Nesse sentido, é fundamental que quando comecem as aulas os setores que colocamos em pé a Frente pela democratização e contra a repressão, o sindicato e os trabalhadores da USP, que nos últimos anos vem se mostrando uma das categorias mais combativas do país, convoquem novamente a por de pé a Frente que construímos juntos ao sindicato e trabalhadores da USP, a LER-QI o PSTU, para retomar a campanha pela democratização e contra a repressão e perseguições e impor as demandas pendentes da greve do primeiro semestre sem alimentar nenhuma ilusão em Rodas, começando por preparar um plano de ação para impor a readmissão de Brandão, a retirada de todos os processos contra dirigentes e ativistas trabalhadores e estudantes.
Nenhum REItor pode oferecer mudanças significativas para a transformação radical da universidade, eles são os representantes do governo na universidade; é tarefa nossa colocá-la a serviço dos trabalhadores e do povo pobre.

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