Segunda 29 de Abril de 2024

EDITORIAL

V Conferência da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional

31 May 2008 | Nos dias 17-18 e 24-25 de maio, se realizou a V Conferência da LER-QI, cujo objetivo central foi discutir os fundamentos e as tarefas de nossa construção. Neste editorial, desenvolvemos uma síntese de suas conclusões.   |   comentários

Elementos da situação internacional e nacional

A situação internacional está marcada pelo processo de decadência do imperialismo norte-americano. A política imperialista de Bush de tentar impor pela via da força um “novo século norte-americano” fracassou. Isso aponta a um provável giro em direção a uma política mais multilateral com o candidato democrata Obama, ainda que se trate de um multilateralismo de crise se comparado à era Clinton nos anos 90. A economia se define pela continuidade da crise internacional tendo como centro os EUA, que se combinou a novos fenómenos como a crise dos alimentos.

Sobre este pano de fundo desenvolvem-se lutas em diversos setores do movimento operário de vários países. Porém, estas ainda são majoritariamente por demandas económicas, não entrando em cena o proletariado como sujeito político. Combina-se com esses fatores uma tendência à direitização política na Europa, sobretudo na Itália, abrindo espaço para a volta de Berlusconi que autoriza pogroms contra os imigrantes, ainda que na França e na Alemanha a burguesia venha enfrentando resistências aos ataques ao “Estado de bem-estar” .

Na situação nacional, ainda que evidenciemos as primeiras manifestações da crise internacional no aumento da inflação, o que prima ainda é a inércia do ciclo de crescimento económico mundial que desde 2003 favoreceu países como China, Ã ndia, Rússia e Brasil. Este fator, que tem permitido ao governo administrar uma política de assistência social, combinada com a ligação orgânica das principais centrais sindicais ao governo, tem sido a base da enorme popularidade de Lula, da relativa estabilidade política nacional e da baixa intensidade da luta de classes.

O espaço à esquerda do governo Lula e do PT

As intenções de voto em Heloísa Helena expressam um setor de massas que tem uma subjetividade reformista decepcionada com o neoliberalismo lulista, mas que mantêm ilusões eleitorais antineoliberais marcadas pelo petismo dos anos 90, descoladas de qualquer fenómeno de ativismo político.

Esse espaço à esquerda do governo do PT, combinado com os elementos mais dinâmicos da situação internacional, é a base para um fenómeno ideológico de setores interessados pelo marxismo nas universidades como em setores de trabalhadores. Apesar de que esses setores são predominantemente passivos e não possuem qualquer caráter de radicalização e nem tampouco de militância política nova constituem um auditório para lutar pelas idéias revolucionárias.

A esquerda: o papel do PSOL e do PSTU

O PSOL e o PSTU se negam a tirar as conclusões mais elementares do ascenso operário de finais dos anos 70 e início dos anos 80, quando as atuais direções destes partidos se provaram diante dos importantes acontecimentos da luta de classes que deram lugar às greves do ABC de 78-80, ao surgimento do PT e à transição da ditadura para a democracia burguesa.

As definições centrais do programa e da estratégia do PSOL, como “socialismo com liberdade” , “democracia popular” , “orçamento participativo” e “economia solidária” , são as mesmas que ao longo dos anos 80 e 90 foram assentando as bases para a incorporação do PT ao estado burguês e para as traições que levaram até o governo Lula. A política de adaptação do PSTU ao PSOL e a Heloísa Helena pouco se difere da sua política de adaptação histórica ao PT e a Lula. Hoje, Heloísa Helena e, para o PSTU, a “companheira classista e socialista” mesmo quando encabeça uma campanha contra o direito ao aborto junto com a igreja católica. Antes, Lula é quem era o “companheiro classista e socialista” , ainda quando impedia que as greves do ABC de 78-80 se transformassem em greves políticas contra a ditadura, e pactuava com a burguesia uma transição “lenta, gradual e pacífica” para a democracia burguesa em que vivemos hoje. O PSOL representa uma experiência avançada dos “partidos amplos” defendidos pela corrente “mandelista” (LCR francesa) no movimento trotskista.

É por seu seguidismo eleitoreiro ao PSOL que o PSTU até agora vem se negando a dar uma batalha em comum contra os projetos de partidos amplos liquidacionistas e contra as correntes chavistas brasileiras, como nós da LER-QI e a FT propusemos. Tanto ontem como hoje, a tarefa de forjar uma vanguarda para lutar pela independência política dos trabalhadores é sacrificada pela adaptação às direções reformistas de turno.

Nossas tarefas centrais

Na conferência reafirmamos a luta pelo marxismo e pela independência política dos trabalhadores não só em abstrato, mas na prática política concreta, o que é inseparável de um combate conseqüente contra o projeto político do PSOL e de Heloísa Helena. Para tal, precisamos lutar contra a intelectualidade acadêmica nas universidades e para que a Conlutas assuma uma perspectiva verdadeiramente classista, combatendo as adaptações do PSTU ao PSOL, como através da LER-QI buscamos fazer a partir de nossa atuação no Sintusp. É para aportar nesse sentido que o jornal Palavra Operária, até então mensal, agora passa a ser quinzenal para contribuir como organizador coletivo dos setores de trabalhadores e estudantes que se coloquem a serviço destes combates.

Essa luta não pode se ligar coerentemente com as tarefas estratégicas de construção de um partido revolucionário no Brasil por fora das lições dos principais processos da luta de classes no país, e conseqüentemente a LER-QI, humildemente, tem buscado aportar através de nossas Teses Fundacionais. Desta forma, na segunda e terceira edições da revista Estratégia Internacional ’ Brasil, apresentamos para o debate conclusões políticas sobre o processo revolucionário que culminou no golpe de 1964, e sobre o ascenso operário de 1978-80, que respondem à necessidade de tirar lições e combater a estratégia e o modo petista de militar que ainda moldam a atuação das correntes de esquerda (ver artigo na contracapa). Entretanto, cremos que esses constituem os primeiros passos importantes de um trabalho que deve ser levado adiante.

As lições marxistas dos principais processos da luta de classes só podem se dar através de um duro combate teórico-político contra as visões (deturpações) stalinistas e petistas da história, incluindo aqui os stalinistas e petistas envergonhados que pululam no chamado “marxismo acadêmico” . Este é o aporte que pretendemos dar com a revista que lançaremos no final de junho. Esta, em seus artigos centrais, mostra que Luckács e Caio Prado Júnior, apesar de tentarem se apresentar como dissidentes do Kremlin, nas questões políticas e teóricas centrais terminavam se subordinando às concepções stalinistas e com isso se constituindo como um obstáculo para um marxismo verdadeiramente revolucionário. É nesse espírito que nos colocamos a tarefa de forjar uma nova camada de jovens intelectuais capazes de recriar um marxismo revolucionário organicamente ligado à classe operária, em luta teórico-política contra o ecletismo anticientífico que reina entre os marxistas acadêmicos e a miséria teórica das correntes políticas da esquerda cujos intelectuais convivem tão pacificamente entre si.

Aos operários e estudantes que militam cotidianamente conosco pela emancipação das mulheres numa perspectiva anticapitalista e classista; aos estudantes com os quais compartilhamos o combate por uma universidade a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo pobre; aos que concordam com a luta contra a política do PSTU de se confraternizar com a polícia assassina do povo, e da necessidade de expulsar os “sindicatos” de policiais da Conlutas; aos estudantes e trabalhadores que marcharam conosco no 1º de Maio com as bandeiras de independência política dos trabalhadores contra Chávez e Evo Morales, e contra o PSOL e o PCB que os defendem; aos que compartilham e assumem nossa luta ideológica pelo resgate do marxismo revolucionário contra suas deturpações; a todos esses chamamos para se somar à nossa organização.

Nós, militantes da LER-QI, não nos consideramos o partido revolucionário do Brasil, mas sim uma liga marxista que luta por ele. Na presente situação nos preparamos com instrumentos ideológicos e políticos, estendendo-nos a outros estados e avançando na formação de dirigentes estudantis e operários marxistas que diante dos próximos ascensos da luta de classes no país sejam capazes de se ligar aos fenómenos mais radicalizados e assentar as bases para a construção de um verdadeiro partido revolucionário. Para somar-se a esta tarefa tão necessária quanto apaixonante, fazemos este chamado.









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