Terça 30 de Abril de 2024

Mesa: Caio Prado Jr e os Dilemas da Revolução Brasileira na Unicamp

03 Jun 2010   |   comentários

Neste último dia 19/5, a Revista Iskra convocou um debate sobre um dos autores mais identificados com o marxismo brasileiro, que exerce forte influência em militantes e estudantes socialmente sensíveis e reivindicado pela acadêmica: Caio Prado Jr. A mesa contou com a presença de Plínio de Arruda Sampaio Jr., professor do instituto de Economia da Unicamp, filiado ao PSOL e estudioso da obra de Caio Prado Jr., e Daniel A Alfonso, militante da LER-QI e editor da Revista Iskra e estudante das ciências sociais da USP. O debate realizado no auditório do Instituto de Economia contou com mais de 100 pessoas.

Daniel Alfonso pautou sua intervenção polemizando centralmente com a teorização de Caio Prado de que os limites advindos do papel que o Brasil cumpria como provedor de matérias-primas inserido no paradigma do “sentido da colonização” deveria ser superado pelo desenvolvimento capitalista em solo nacional. Tal resolução supostamente também faria recuar a identidade de interesses de classe entre as burguesias nacional e imperialista – elemento central da crítica de Caio Prado ao Partido Comunista Brasileiro -, pois o fortalecimento do mercado interno brasileiro a partir de suas próprias “bases nacionais” teria força de empuxo para que o Brasil perdesse o papel de suplente internacional e adquirisse posição mais elevada na cadeia internacional da produção. “Caio Prado mantém acordo estratégico com o PCB no sentido de que o Brasil era um país não maduro para a revolução socialista, assumindo a posição reacionária dos stalinistas de que a socialização dos meios de produção nos “países subdesenvolvidos” era certamente prematura, e que se deveria seguir a um longo processo de preparação econômica através da industrialização (e sua exploração correspondente)”, ressaltou Daniel.

Por sua parte, Plínio de Arruda Jr. fez uma cirurgia de mediações no conteúdo proposto por Daniel, defendendo Caio Prado na questão fundamentalmente indefensável da maturação das forças produtivas no Brasil – sempre no envoltório rodopiante do tema da “revolução brasileira”. O conjunto dos outros temas defendido por Plínio buscou mostrar como Caio Prado era um historiador singular, porque materialista, porque buscava na base do Brasil as suas possibilidades “revolucionárias” e as necessidades de uma mudança no sentido da modernização.

Assim, como ressaltou Daniel, Caio Prado separava a insurreição da revolução, dando a esta, portanto, um conteúdo reformista de ajustes do capitalismo por dentro do regime de propriedade privada, questão muitas vezes deixada de lado no estudo das obras deste intelectual realizado nas universidades. O debate sobre o conceito de história em Caio Prado, principalmente através do ciclo da mineração e da política no século XIX, foi um dos pontos altos do debate: Daniel A. frisou como, apesar de forte influência materialista ( inclusive da primeira geração de trotskistas brasileiros) suas lentes de análise focam o desenvolvimento histórico excessivamente centradas no desenrolar das contradições da elite nacional; Plínio A. Sampaio Jr. argumentou que, ao contrário, a tensão de Caio Prado se encontra em mostrar as razões pelas quais a história nacional ( até o final do séc. XIX) se desenrolou sem protagonismo popular. A discussão foi enriquecida com a atenção dada ao golpe de 1964, o que enriqueceu a análise da obra do historiador, ao passo que permitiu, ainda que nos limites do tempo de debate, balizar as posições de dos debatedores em relação à fenômenos concretos de um dos principais momentos da luta de classes no Brasil.

Com esta iniciativa, a revista Iskra promoveu mais uma discussão teórica, em que se busca aprofundar no debate orientado pela busca dos pilares teóricos e políticos necessários para a elaboração de saídas revolucionárias capazes de orientar a classe trabalhadora e a juventude frente aos desafios postos. Foi valiosa a afirmativa de Plinio de Arruda Sampaio Jr., em debater com a Iskra, e acreditamos que debates desta natureza devem ser constantes em um momento onde o interesse pelo marxismo vem ganhando força entre a juventude. Assim vale lembrar que o debate se deu em meio a uma crucial mobilização dos trabalhadores e funcionários públicos da USP, logo acompanhada pelos trabalhadores da Unicamp e de vários campi da Unesp, mostrando como as condições que engendraram o marxismo seguem atuantes, e portanto, a apropriação e o debate sobre a própria teoria marxista segue sendo de vital importância









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