Sexta 3 de Maio de 2024

Editorial

08 Aug 2007   |   comentários

Apesar dos esforços do governo Lula, a "festa" dos Jogos Pan-americanos não conseguiu ocultar as contradições que o governo e essa democracia dos ricos decomposta têm que enfrentar. Não poderia ser diferente, em se tratando de uma "festa" que, para começar, teve obras marcadas pela corrupção e assentadas na superexploração dos operários da contrução civil que responderam com 3 greves. Depois, veio a ocupação militar das favelas do Rio de Janeiro e um verdadeiro massacre no Complexo do Alemão, que o governo Lula já disse que é um exemplo a se seguir. Emprego e salário digno? Nem pensar, prefere os tiros. O pior é que mal terminaram os Jogos Panamericanos e já voltaram os massacres nas favelas do Rio de Janeiro.

Mas não foi somente isso que abalou o país no último mês. A tragédia anunciada com o avião da TAM aprofundou a crise aérea e mostra o lado mais selvagem e mortal da sede de lucro. Os controladores de vóo vinham alertando, mas o governo e os capitalistas responderam com repressão e prisões. Assim, tentavam responsabilizar os trabalhadores pela crise aérea e ocultar que a verdadeira causa é a anarquia capitalista e a ganância. Para eles, não basta que os trabalhadores do sistema aéreo estejam pagando a crise com o aumento da superexploração e com a primeira grande tragédia, "silenciosa", que foram as 5500 demissões na Varig. Precisam colocar na cadeia os controladores de vóo, como parte de uma ofensiva de Lula com o ataque ao direito de greve, e dos governos estaduais como o de Serra que reprime os metroviários de São Paulo.

Isso tudo em meio a uma crise no Senado com mais escândalos de corrupção, que já se tornaram tão freqüentes que a burguesia transformou as CPI´s em uma válvula de escape permanente, num teatro que nunca termina em punição. Surge um novo escândalo, desaparece o anterior impunemente.

A crise aérea, os recorrentes escândalos de corrupção, a violência urbana e policial, as lutas que vêm ocorrendo no último período, como a dos metroviários de São Paulo, e a repressão que os governos vêm descarregando serão alguns dos temas que vamos tratar nas páginas desse Jornal Palavra Operária, edição especial de abertura do período de pré-Congresso da LER-QI, buscando dar uma resposta profunda, classista e revolucionária. Mas buscaremos aprofundar em outros problemas da situação nacional, porque como revolucionários queremos aportar na medida das nossas forças para que nossa classe compreenda que esses são alguns dos problemas que o governo Lula foi incapaz de resolver no 1º mandato e vai buscar resolver no 2º, pela direita. É para esse cenário que temos que nos preparar, aprofundando o caminho apontado pelas mobilizações operárias e populares que vêm ocorrendo desde abril, superando os obstáculos impostos pelas direções burocráticas do movimento de massas.

Se os trabalhadores e a juventude não derem uma resposta a esta situação, a burguesia vai tentar dar pela direita, como demonstra o reacionário movimento de "cansei". A burocracia da CUT - principal sustentação do governo - busca responder com um “cansamos” , que não coloca uma perspectiva para que a classe trabalhadora tome em suas mãos as demandas do povo pobre e das classes médias insatisfeitas, forjando uma aliança capaz de enfrentar o governo e a oposição burguesa. Mais uma vez a burocracia defende Lula, que é o responsável, junto à burguesia que agora diz “cansei” , pela crise social e política.

Que papel cumpre a esquerda anti-governista nessa situação? O PSOL se consolida como um partido pequeno-burguês das CPI´s e da “transparência” , com um parlamentarismo desenfreado. O PSTU continua com seu trabalho rotineiro nos sindicatos, sem dirigir uma luta que possa ser um exemplo para nossa classe, com seu calendário anual fixo das campanhas salariais e eleições sindicais. É lamentável que em vez de darem uma resposta aos problemas mais candentes dos trabalhadores e do povo no terreno da luta de classes, estejam seguindo mais uma vez a política da burocracia da CUT, da igreja, do PT e do PCdoB no “Plebiscito pela re-estatização da Vale do Rio Doce” , em setembro (!).

Quem perde são os trabalhadores que ficam sem nenhuma alternativa real que possa elevar as lutas económicas ao patamar político, que possa demonstrar como essa democracia dos ricos não pode reservar para os trabalhadores nada além de desemprego, mortes e repressão, e que por isso é necessário enfrentar os capitalistas, seus partidos, seu parlamento, sua polícia e sua sede de lucro. Na medida das nossas forças, queremos aportar para que os trabalhadores avancem não somente na ruptura com Lula e seu governo, mas que avancem na conclusão de que é necessário lutar contra o capitalismo, e de que é preciso preparar-se para derrotá-lo, tirando as lições dos processos da luta de classes e lutando para por em pé um partido revolucionário, nacional e internacionalmente.

Rumo ao I Congresso da LER-QI

Até o nosso I Congresso, que se realizará em outubro, teremos uma seção especial no Palavra Operária onde tornaremos públicas nossas discussões. Nessa edição, publicamos uma análise da situação nacional, uma síntese das nossas Teses Internacionais, além de algumas conclusões a que chegamos sobre o ascenso revolucionário que viveu o Brasil nos anos 60, respondido pela burguesia com a ditadura.

Essa elaboração sobre os anos 60, é parte das Teses Fundacionais da LER-QI, que serão um eixo da discussão do congresso. Estamos dedicando imensos esforços a essa tarefa para entender e explicar de um ponto de vista marxista a formação do capitalismo no Brasil e resgatar a história do nosso proletariado que protagonizou heróicas lutas em todo o século XX. Nosso objetivo é extrair as lições estratégicas da luta de classes e as tarefas dos revolucionários, como um aporte indispensável para que a vanguarda operária e popular se prepare para o futuro ascenso da luta de classes em melhores condições teóricas, programáticas, políticas e metodológicas. Faremos isso em debate com as correntes historiográficas, mas também com as correntes da esquerda que participaram dos processos mais importantes.

Daremos especial atenção às conclusões do maior ascenso proletário de nosso país, que começa no fim dos anos 70 e começo dos 80. Não somente porque foi quando se configurou a transição para a democracia dos ricos em que vivemos hoje, mas principalmente porque é nesse momento que surge o PT, a figura de Lula e a CUT, e também onde se provaram as estratégias e as políticas das correntes que vão dar origem ao que são hoje o PSOL e o PSTU.

Essas Teses são o "carro-chefe" de uma ofensiva ideológica que vamos iniciar desde já com a publicação da Revista Estratégia Internacional Brasil nº 2, mas que será composta também por um projeto editorial, debates e núcleos de estudo nas universidades, a Campanha dos 90 anos da Revolução Russa que apresentamos nesse jornal, entre outras iniciativas que aportem para forjar uma nova geração de intelectuais revolucionários que, ligados à classe operária, contribuam para superar as elaborações da intelectualidade petista dos 80.

O motivo mais profundo que nos faz impulsionar essa ofensiva ideológica é a compreensão de que, como dizia Lenin, “não há prática revolucionária sem teoria revolucionária” e, em segundo lugar, porque queremos fortalecer o nosso giro ao movimento operário sem repetir a tragédia do PSOL e do PSTU que romperam com o PT, mas não com o modo petista de militar, sem apresentar uma alternativa teórica, estratégica, programática e prática a essa tradição. Queremos uma inserção marxista no movimento operário, buscando formar dirigentes operários que sejam não somente bons lutadores para dirigir lutas exemplares, mas que atuem como estrategistas da revolução, pois somente isso poderá impedir que a classe operária brasileira protagonize mais um ascenso operário e seja traída por suas direções conciliadoras.

Com o congresso, queremos não somente consolidar nossos avanços do último período, mas também fortalecer nossa Liga como um pólo irradiador de ideologia revolucionária, aprofundar nosso giro ao movimento operário e nossos esforços no sentido de forjar uma nova tradição no movimento estudantil, construindo uma ampla corrente marxista que seja a voz dos trabalhadores nas universidades e escolas.

Chamamos os trabalhadores e jovens a acompanharem as discussões do I Congresso da LER-QI e a participarem das atividades abertas que vamos realizar até outubro.

Conheça nossas Casas Socialistas de cultura e política

O objetivo da Casa Socialista é ser um pólo político e cultural dos trabalhadores e da juventude a serviço da luta por uma sociedade sem classes. Queremos colaborar para unir e integrar os trabalhadores em luta, os estudantes e professores que querem colocar seu conhecimento a serviço da classe trabalhadora, os artistas que se negam a aceitar a arte como mercadoria, os negros e as mulheres em luta contra a opressão. A Casa Socialista está aberta aos trabalhadores e jovens que querem se politizar, se divertir ou se manifestar contra a ditadura do capital em que vivemos.

Endereços:
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