Quarta 8 de Maio de 2024

Defesa do povo brasileiro ou do imperialismo anglo-americano? A propósito do “16 de julho”

07 Sep 2005   |   comentários

Depois do “putsch” de Novembro de 35 o stalinismo-aliancismo abandonou rapidamente as últimas posições revolucionárias e proletárias que ainda conservava e enveredou definitivamente pelo caminho da colaboração de classe ’ caminho da traição mais infame.

No início da aventura aliancista, os ideólogos do stalinismo no Brasil ainda se esforçaram por conservar algumas posições de classe afim de não descontentar os elementos proletários. Ainda se falava vagamente de hegemonia do proletariado e não se confessava abertamente as ligações com elementos da burguesia “anti-imperialista” e do imperialismo “democrático” . Ainda se conservava o manto diáfano da fantasia.

As sucessivas derrotas tornaram os chefes stalinistas completamente ineptos e incapazes de analisar uma situação política e prever o curso dos acontecimentos. Ao mesmo tempo o curso para a direita se precipitou, paralelamente, aliás, ao curso da 3ª. Internacional. No Brasil, na França, na Espanha e na China os burocratas stalinistas executam cegamente as ordens da 3ª. internacional levando à derrotas vergonhosas o proletariado destes países. Os acontecimentos da URSS de 66-37, principalmente, mostram com bastante clareza, que Stalin está extirpando radicalmente as conquistas de Outubro, assassinando em massa milhares de revolucionários dedicados e destruindo a própria estrutura do regime soviético.

O “16 de Julho” encarna a última etapa no caminha da inépcia e da traição. Lemos no No.3: “A incapacidade do integralismo em conquistar-se uma base de massa levou a Fascintern a utilizar-se de preferência do próprio Getúlio e de alguns generais reacionários para desfecho do golpe fascista, relegando Plínio Salgado e sua milícia ao plano secundário de força auxiliar do getulismo...” É assim que o anti-regionalista Getúlio, o campeão da luta contra os grandes estados, viu na “contingência dolorosa” de curvar-se ante o poderio de Minas-Gerais. “Benedito Valadares foi o único governador confirmado no seu posto...”

É difícil imaginar uma análise mais imbecil da situação. Não se trata de um pretenso e vago Fascintern que maneje a sua vontade Plínio e Getúlio e escolha o mais conveniente. Trata-se de um golpe de estado bonapartista dado por Getúlio. Este golpe não contraria de modo algum os interesses da burguesia, nem os de seu aliado o imperialismo. O golpe foi dado por Getúlio e não por Plínio porque as posições do imperialismo alemão e italiano, embora tivessem se reforçado muito ultimamente, ainda eram bastante fracas comparas as do imperialismo anglo-americano. Estes fatos explicam não só o fechamento do integralismo (agência do imperialismo esfaimado ítalo-germânico) por imposição da Inglaterra e dos Estados Unidos, mas também a confirmação de Benedito Valadares no posto de governador, bendito, representante da burguesia de Minas, foi comparsa de Getúlio, como foram quase todos os outros governadores, que ainda continuam a frente dos Estados embora na qualidade de interventores. A grande demagogia da burguesia está, sem dúvida, pelo menos conformada com a situação que lhe trouxe algumas vantagens bem sensíveis. A “constituição” de 10 de Julho procura garantir á burguesia nacional o seu “direito” (admitido pelos stalinistas por se tratar de uma burguesia “revolucioária” ) de explorar as massas trabalhadoras, às quais a mesma “constituição” tira o seu incontestável direito de fazer greve (negado, aliás, pelos stalinistas que criaram a fórmula ’ “a greve neste momento só iria beneficiar a reação” ) com o fim de melhorar um pouco suas miseráveis condições de vida. O imperialismo anglo-americano (“democrático” segundo a terminologia stalinista), passado o primeiro susto volta às boas, convencido de que continuará a receber a parte do leão da mais valia arrancada das massas trabalhadoras do Brasil.

Encarar a situação criada de outro modo é fazer jogo do imperialismo anglo-americano, é arvorar-se em seu capaganga e lacaio gratuito. Aliás, o “16 de Julho” o faz sem soluços quando declara: - “Agir no sentir de opor-se energicamente à posição de submissão do país á influência fascista do eixo Roma-Berlim e de bater ao contrário, por uma política (8 palavras ilegíveis) países democráticos?

Ora, só há um meio de se lutar contra o imperialismo - é a luta de classe. O proletariado e as massas trabalhadoras quando lutam contra os seus exploradores nacionais e os seus amos e aliados, os imperialismos, fazem a única luta anti-imperialista revolucionária. Neste caso a luta é tão feroz contra os imperialismos fascistas, que tentam participar cada vez mais da exploração das massas trabalhadoras do Brasil, como contra os imperialismos “democráticos” que de há muito sugam o sangue das massas exploradas do país. Separar os imperialismos em dois grupos, só o podem os traidores do proletariado, aqueles que tomam partido de um ou de outro grupo de exploradores que se digladiam numa luta de vida ou de morte. Aqueles que tomam partido do proletariado lutam indistintamente contra todos os opressores.

O “16 de Julho” não coloca o eixo de luta contra o regime bonapartista-fascista de Getúlio nos trabalhadores da cidade e do campo. Nem fala neles. Proletariado e campesinato são duas palavras de há muito proibidas. Em compensação fala muito nos “democratas sinceros” . Quem são esses “democratas sinceros” ? São os José Américo, de quem os stalinistas eram cabos eleitorais? Mas estes votaram o estado de guerra. São os Cascardos? Estes passaram telegramas de congratulação a Getúlio no dia 11 de Novembro. Só podem ser os descontentes, os que não foram contemplados com sinecuras pelo estado-novo ’ Pedro Aleixo, Pantaleão Pessoa. Com “democratas sinceros” desta espécie o “16 de Julho” quer derrubar Getúlio. Ele não o conseguirá. Mas conseguirá mistificar durante algum tempo ainda as massas trabalhadoras, impedindo que as mesmas se organizem para a luta pelas suas reivindicações e pela derrubada de Getúlio e de todo sistemas de exploração capitalista. Os destroços do regime anterior que não foram aproveitados para a constituição do “estado novo” , quer pertençam à antiga Câmara que deu ao povo as Leis de Segurança, o Tribunal de Segurança, os estados de guerra e outras infâmias, quer pertençam ao exército que nada mais é que guardião do sagrado direito dos exploradores, nenhum papel progressivo podem desempenhar na luta contra o estado bonapartista de Getúlio. Só as massas trabalhadoras da cidade e do campo, que o “16 de Julho” nem cita, poderão ser os coveiros do regime de Getúlio. Mas derrubando o governo de Getúlio derrubaram também o domínio da burguesia nacional e do seu aliado e amo, o imperialismo.

Qual a perspectiva traçada pelo “16 de Julho” ? Que promote ele como sucedâneo do regime bonapartista de Getúlio? Citemos textualmnte: “Agir no senido d articularas foças democráticas...bastando coordená-las sob uma bandeira comm, por exemplo: “Constituição de 34! Eleições” se se tratasse de lutar ao lados dos adeptos da constituição de 34 contra a agressão reacionária de Getúlio antes do golpe de Novembro, nós estaríamos de acordo e lutariamos sem abrir mão entretanto, por pouco que sejam do nosso programa ’ a revolução proletária. Ma acenar às massas hoje com o regime de 34 que lhes trouxe a miséria, fome,aumento do custo de vida, estado de guerra, perseguições, prisões em massa, trucidamentos, etc...é incrível. Não, não é para trás que é preciso olhar e sim para a frente. A saída da situação atual não numa democracia vaga que nunca existiu no Brasil, nem em algum outro país colonial ou semi-colonial, mas sim na ditadura do proletariado, que à testa de todos os explorados e encarnando os interesses de todo o povo, levará à efeito as tarefas da revolução democrática e nacional libertadora, tarefas que a burguesia nacional não está mais em condições de realizar. Pela ditadura do proletariado à democracia e não pela democracia à luta pelo socialismo. As palavras de Trotsky são muitos claras: “segundo o esquema da evolução histórica elaborado pelo “marxismo” vulgar, toda a sociedade consegue, mais cedo ou mais tarde, instituir um regime democrático; o proletariado, então, se organiza e faz a sua educação socialista nesse ambiente favorável” . A teoria da revolução permanente renascendo em 1905, declarou guerra a essa ordem de idéias e a essas disposições de espírito. E demonstrava que, em nossa época, a realização das tarefas democráticas, que se apresentam aos países burgueses atrasados, conduz diretamente à ditadura do proletariado, a qual põe na ordem do dia as tarefas socialistas. Consistia nisso a idéia fundamental da teoria. Enquanto a opinião tradicional estimava que o caminho para a ditadura do proletariado devia passar por longo período de democracia, a teoria da revolução permanente proclamava que, para os países atrasados, o caminho da democracia devia passar pela ditadura do proletariado. A democracia era considerada portanto, não como um fim em si, que devesse durar dezenas de anos, mas como prólogo imediato da revolução socialista à qual estava ligada por um elo indissolúvel” . Para os países de desenvolvimento burguês retardatário e, em particular para os países coloniais e semi-coloniais, a teoria da revolução permanente significa que a solução completa e verdadeira de suas tarefas democráticas e nacional-libertadoras só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que assume a direção da nação oprimida, e, antes de tudo, de suas massas camponesas.” L. Trotsky ’ Revolução Permanente.

O problema consiste, pois na escolha entre as duas alternativas, seguintes: ou marchar com o “grupo de republicanos” do “16 de julho” , com o stalinismo, com os Pedro Aleixo, generais Pantaleão Pessoa e Cia. para a defesa do imperialismo “democrático” e para a restauração das misérias e infâmias da 2ª. república; ou caminhar com o proletariado e com as massas trabalhadoras das cidades e dos campos, sob a bandeira da revolução proletária, sob a bandeira de Marx-Lênin-Trotsky, sob a bandeira da 4ª. Internacional, para a libertação de todos os explorados para a ditadura do proletariado e para o socialismo.

Luta de Classe 36, 10 de janeiro de 1938









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