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Cultura

Companhia Fábrica São Paulo traz de volta "A Mãe" de Brecht

10 Dec 2006   |   comentários

No sábado dia 18 de novembro fomos em 40 pessoas entre militantes da Liga Estratégia Revolucionária e outros trabalhadores, assistir à peça A Mãe, escrita em 1931 pelo alemão Bertolt Brecht, com base no romance do escritor russo Máximo Gorki, em montagem do núcleo 2 da Companhia Fábrica São Paulo.

Inspirada num caso real, a peça de Brecht retrata os anos que antecederam a Revolução Russa de 1917, sob o prisma das transformações que vão ocorrendo na consciência e na vida de Pelagueia Vlásova, uma mãe, que através de seu filho, um operário militante, se liga ao movimento revolucionário russo.

O texto possui as características das melhores obras de Brecht: é extremamente simples e pode ser entendido por qualquer trabalhador que não tem o costume de ir ao teatro, profundamente educativo, sem no entanto recair num tom populista e de fetichização do baixo nível cultural que o capitalismo impõe à classe trabalhadora, erro comum dos artistas que buscam conceber obras de arte "acessíveis" aos trabalhadores reproduzindo seus próprios preconceitos com relação a inteligência operária.

O texto de Brecht, ao contrário, mostra o processo contraditório pelo qual a personagem principal, que no início se opõe ao envolvimento do filho na militância clandestina sob o Czarismo, imbuída das preocupações que as mães em geral tem com relação aos seus filhos, vai, no princípio pela via destes mesmos sentimentos humanos, tomando consciência das contradições sociais do capitalismo e da necessidade de derrubá-lo.

Alguns momentos que marcam esse processo são a revolta que se abate sobre Vlásova por não poder oferecer a seu filho Pável, depois de suas extenuante jornada de trabalho na fábrica, nada melhor do que uma sopa rala e, depois, a cena em que ela, para evitar que o filho tomasse a arriscada tarefa de distribuir panfletos chamando os trabalhadores da fábrica à greve, vai ela mesma fazer a distribuição em seu lugar.

A partir daí, a brutal repressão do domingo sangrento de 1905, a morte de seu filho nas mãos do czarismo, e cada novo fato da luta de classes vai aumentando seus laços com o movimento comunista e transformando-a numa decidida militante revolucionária. Uma efetiva metáfora de como se dá o avanço da consciência dos trabalhadores frente aos grande embates de classe, e que permite ao público ir passo a passo extraindo ele também, e de forma não dogmática, lições daqueles acontecimentos. Exatamente aí reside o caráter educativo da obra.

Como outras peças de Brecht, A Mãe presta uma homenagem às mulheres, vítimas não só da exploração capitalista, como também da opressão do machismo, em especial àquelas que dedicaram sua vida à revolução socialista. Não por acaso a peça foi encenada pela primeira vez no aniversário do assassinato da revolucionária alemã Rosa Luxemburgo, e, por recomendação de Brecht, em todas as encenações figurava a frase de Lênin que dizia que “sem as mulheres não existe o verdadeiro movimento de massas” .

A recente montagem do núcleo 2 da Companhia Fábrica São Paulo, uma companhia que desenvolve uma pesquisa teatral em base à teoria marxista, trouxe uma vez mais a São Paulo toda a força dessa obra de dramaturgo alemão. Com uma cenografia que está de acordo às características da obra, em sua simplicidade não desprovida de elaboração estética, atores que utilizam todo o espaço do palco e da platéia de forma a envolver o público na história, e buscando explorar todo o conteúdo revolucionário presentes tanto no livro de Gorki como na adaptação de Brecht.

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