Quinta 2 de Maio de 2024

Parte I Fundamentos

As perspectivas da economia mundial

28 Jun 2005   |   comentários

“Globalização” e Imperialismo

Nas últimas décadas se desenvolveu um importante avanço na internacionalização da economia, com a expansão do capital para novas zonas geográficas que antes lhe eram vedadas, como, por exemplo, a ex-URSS e os países da Europa do Leste, e o avanço da restauração capitalista na China. Este processo, acompanhado pelo triunfalismo do “livre mercado” depois da queda do chamado “socialismo real” , deu lugar a uma nova moda ideológica que pregava que com a “globalização” , o capital tinha superado, a seu modo, as contradições da época imperialista, como as rivalidades entre as potências que levaram no século XX a duas guerras mundiais, e a contradição entre a internacionalização das forças produtivas e os Estados nacionais, em detrimento destes últimos.

Se comparamos a configuração que tinha o imperialismo no início do século XX com a situação atual, ocorreram grandes transformações, que a modo de síntese foram: a) que os grandes monopólios e corporações aumentaram enormemente seu poder nos últimos trinta anos mediante um processo acelerado de fusões e aquisições, isto é mediante uma maior concentração e centralização do capital na maioria dos ramos produtivos; b) que conquistaram novos mercados territoriais e puseram novas esferas da atividade humana sob seu domínio num processo de mercantilização geral que abarca também a educação, a cultura, as aposentadorias e a medicina, para nomear só algumas das áreas significativas; c) que as potências dominantes tendem a buscar que o controle económico que exercem em áreas do mercado “global” se expresse em instituições jurídicas e políticas supranacionais; d) que estes dois fenómenos levaram a um verdadeiro debilitamento da soberania dos Estados nacionais, ainda que de forma desigual segundo os casos que se considere; e) que os desenvolvimentos científicos e técnicos agudizam a contradição entre uma produção crescentemente socializada e complexa, com a imposição de uma medida (“miserável” , no dizer de Marx) que permita sua valorização e seu intercâmbio mercantil; f) que se desenvolveu uma nova divisão mundial do trabalho, na qual certos países (os países centrais) tendem a concentrar os trabalhos complexos e a ciência básica, outro grupo de países (fundamentalmente da à sia e em particular a China) a exploração intensiva da força de trabalho mediante um forte desenvolvimento da manufatura em países da periferia sem comparação na história do século XX, outro setor da periferia que se localiza como provedor de matérias-primas sofrendo uma desindustrialização relativa como é o caso de América do Sul, e um quarto setor de países que funcionam essencialmente como reservatórios de população operária privados de toda possibilidade de integrar-se no processo de produção, como é o caso de grande parte do continente africano; g) o crescimento do comércio mundial de forma mais acelerada do que a produção, em especial o comércio intra-empresa e pelo crescente peso do investimento estrangeiro direto nos países centrais e nos países da periferia; h) a hipertrofia das finanças, criando um verdadeiro mercado mundial globalizado; i) por último, e como conseqüência de todas essas mudanças, desenvolveu-se uma crescente gravitação da lei do valor a nível mundial. A maior influência das transnacionais, sobretudo no campo da produção de bens transáveis, mas cada vez mais em outras áreas de valorização do capital, como os serviços, tende à formação de preços mundiais em cada vez mais ramos da economia.

Todos estes elementos marcam uma diferença em relação ao “imperialismo clássico” onde os países da periferia capitalista eram integrados à economia mundial como abastecedores e produtores de matérias primas para os centros metropolitanos. Também é diferente do avanço nos anos do boom das multinacionais e da instalação de filiais em mercados protegidos. O novo é que a “especialização” primária como produtores de matéria prima, combina-se com a integração de um importante número de países da periferia aos circuitos da produção manufatureira internacional administrados pelas transnacionais, processo permitido pelo barateamento significativo do transporte e das comunicações.

Mas estas transformações, longe de criar um espaço económico mundial homogêneo e harmónico, como proclamam os ideólogos da globalização, não produziram uma “mudança de época” , mas sim têm exacerbado as características básicas do imperialismo, reforçando o desenvolvimento desigual de países, regiões e ramos da economia, aumentando as brechas entre nações ricas e pobres, entre a burguesia e o proletariado, entre ramos dinâmicos e setores submersos da economia, enfim, aumentando a contradição entre a produção social da riqueza e a internacionalização das forças produtivas por um lado, e sua apropriação por um número reduzido de corporações e Estados imperialistas por outro.

Por sua vez, a crescente financeirização da economia com o boom dos investimentos especulativos nos mercados de valores, nos mercados imobiliários, nos bónus de dívida pública, entre outros, puseram de manifesto o caráter parasitário do capitalismo e aumentaram consideravelmente a volatilidade da economia, como se viu na propagação da crise asiática de 1997 que chegou à Rússia, ao Brasil e fez estragos na Argentina.

Hoje a produção e o comércio mundiais estão dirigidos por 500 supermonopólios industriais, bancários e do agrobusiness, cujas matrizes se encontram num punhado de países que compõem o seleto grupo de potências imperialistas, como Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Grã-Bretanha e Itália.

A economia de Estados Unidos segue sendo a principal economia do mundo, mas seu peso relativo caiu de 50% do PIB mundial na saída da Segunda Guerra, para cerca de 25% do PIB mundial. Ainda que seus monopólios sigam sendo os primeiros no ranking mundial, perderam influência para transnacionais japonesas e européias.

Contrariamente ao senso comum que deu por morta a concorrência capitalista com a conformação de megacorporações, centralmente como resultado das fusões e aquisições de empresas, intensificou-se a luta por porções significativas do mercado, o que levou à conformação de blocos económicos ao redor das potências imperialistas e suas zonas de influência, como o Tratado de Livre Comércio entre Estados Unidos, Canadá e México; a União Européia e a ASEAN asiática.

Estes blocos económicos se enfrentaram em pequenas “guerras comerciais” na Organização Mundial do Comércio, pelos subsídios ao campo, pelo mercado de aeronaves, entre outros, defendendo os interesses de seus monopólios, fazendo fracassar reuniões e permitindo que países semicoloniais de importância como Brasil e à ndia aproveitassem essas diferenças nas negociações.

A espoliação das sem-colónias

Durante os anos 1990, a imposição do chamado “Consenso de Washington” no mundo semicolonial, baseado na desregulamentação dos mercados, na abertura económica à penetração do capital estrangeiro, nas privatizações de empresas de serviços públicos, na mercantilização de áreas da atividade humana como a educação, a cultura, a medicina, entre outras, e na flexibilização crescente da força de trabalho, reforçou a espoliação imperialista.

O quadro se completou com o duplo ónus do pagamento oneroso da dívida externa e da deterioração no que diz respeito ao intercâmbio das matérias primas, decorrendo no empobrecimento de amplas zonas da periferia.

Os propagandistas remunerados do capital atribuem ao neoliberalismo um papel “modernizador” que pretensamente permitiu incorporar ao “Primeiro Mundo” os países semicoloniais. Muito pelo contrário, o processo de internacionalização da produção industrial e a incorporação a este processo de alguns países atrasados, permite que as corporações transnacionais obtenham ganhos extraordinários, produto do barateamento da força de trabalho e de que para atrair capitais os governos dos países periféricos eliminaram praticamente os ónus fiscais do capital, a proteção social, e quase toda regulação legal sobre o meio ambiente e padrões de qualidade.

As burguesias locais optaram por transformar-se em sócias menores da pilhagem imperialista. Os governos entreguistas liquidaram as riquezas nacionais e os recursos naturais. O governo de Menem na Argentina chegou ao cúmulo de entregar à espanhola Repsol as reservas petroleiras do país.

Milhões de trabalhadores perderam seus empregos com as privatizações e as reestruturações das empresas. A América Latina se transformou no continente de maior desigualdade social, o que motorizou a ação direta das massas em alguns países como Argentina, Bolívia, Peru e Equador.

As contradições do processo de restauração capitalista na China e na Rússia, e de sua incorporação plena à economia mundial capitalista

A queda dos regimes stalinistas na Europa do Leste, e principalmente a desintegração da URSS e o curso que tomou a restauração capitalista na China, significaram a ampliação geográfica e social do domínio do capital para amplas zonas do planeta, estendendo as possibilidades de exploração a centenas de milhões de trabalhadores que atuam como mão de obra barata e ampliando as perspectivas dos mercados de bens e serviços a milhões de novos consumidores.

Mas, fundamentalmente, agudizaram a concorrência entre monopólios e potências imperialistas por conquistar novas áreas de influência, mercados e fontes de matérias primas, no marco da estreiteza do mercado capitalista mundial. Assim, enquanto a União Européia está tratando de reafirmar seu domínio nos Estados da Europa do Leste, transformando-os em seu pátio traseiro ao incorporá-los à União; desde o ponto de vista político, os Estados Unidos tentam ter uma influência maior sobre estes países, como se demonstrou no apoio que conseguiu de alguns deles, como a Polónia, na guerra contra o Iraque. Mas estas disputas são só uma antecipação de uma batalha para ver quem se beneficia estrategicamente com a restauração nos colossos chinês e russo, como mostram as divergências sobre o levantamento do embargo de armas à China por parte da UE com a oposição dos EUA, e a diferente política para Rússia deste último com relação à Europa, em particular Alemanha.

O desmantelamento da economia planificada na Rússia implicou uma brutal destruição de forças produtivas e um enorme retrocesso económico, social e cultural. O caráter depredador que adquiriram as privatizações deu lugar ao surgimento de uma nova camada de oligarcas, fortemente unidos a Ocidente, que se apropriaram dos recursos naturais como o gás e o petróleo e que, sem capital para competir no mercado mundial, se apressavam em transferir a propriedade de seus ativos ao capital petroleiro internacional, em particular ao norte-americano. Isto levou ao confisco de suas propriedades por parte do Estado russo, que se eleva desta maneira como o árbitro entre o capital internacional e a apropriação dos recursos naturais russos. Só depois desta ação foi que o governo norte-americano iniciou uma forte campanha propagandística contra o caráter autoritário do governo de Putin - caráter que os próprios EUA ajudaram a consolidar durante a década passada - voltada a tentar criar forças abertamente pró-imperialistas no interior da Rússia. Isto se dá no marco do aceleramento da perda de influência geopolítica da outrora superpotência, já não só na Europa do Leste e nos países Bálticos, atualmente incorporados à OTAN, como também em seu pátio traseiro. O exemplo mais recente é o retrocesso russo no Cáucaso e na à sia Central, depois do levantamento no Quirguistão, que foi aproveitado pelos EUA. A situação na Ucrânia, depois do triunfo da revolução “laranja” , é ainda mais grave para Putin, devido ao papel chave deste país para a segurança nacional russa. A burocracia restauracionista russa está sofrendo as conseqüências do giro pró-capitalista que os governantes russos desde Gorbachov até Putin vêm levando adiante nos últimos vinte anos: sua ilusão de assentar-se como uma nova classe burguesa de uma potência capitalista apelando ao capital internacional para modernizar seu parque industrial e tecnológico, redundou pelo contrário numa perda de seu status no tabuleiro internacional e numa desintegração territorial que ameaça a sobrevivência da própria federação russa. Os resultados geopolíticos cada vez mais desastrosos e a hostilidade da população às reformas de mercado, por um lado, e a pressão norte-americana, por outro, estão debilitando as bases de sustentação do bonapartismo de Putin. Esta realidade abre a médio prazo um prognóstico alternativo: ou um salto na penetração imperialista na própria Rússia e sua transformação num país semicolonial como o Brasil, ou uma reação da classe operária russa que, aproveitando a debilidade de sua classe governante e as brechas entre as diversas potências imperialistas, impeça esta perspectiva abominável e reverta todos os desastres que significaram a restauração capitalista, questionando o poder da burocracia restauracionista e dos novos ricos.

A China vem se beneficiando contraditoriamente das vantagens “do atraso” , isto é, de seu menor desenvolvimento industrial, e de sua enorme reserva de mão de obra barata, atingindo cifras de crescimento sustentado de 9% por mais de uma década. Esta situação levou muitos a falarem da China como a “nova potência” do século XXI, diminuindo as conseqüências do caráter desigual e dependente deste desenvolvimento para as perspectivas da economia chinesa. No plano interno, a penetração do capital estrangeiro tem exacerbado uma desigualdade insustentável entre as zonas costeiras, onde se concentra o investimento, e as zonas nas quais o emprego depende de velhas fábricas estatais quebradas ou da exploração do campo. O desenvolvimento chinês tem assim um caráter explosivo e unilateral, cujas conseqüências desde o ponto de vista social são o aprofundamento da polarização, a concentração da riqueza, os protestos gerados pelo desmantelamento da economia estatal, ainda majoritária, e a crise agrária.

O futuro a longo prazo do crescimento chinês e de sua exitosa integração à economia mundial dependerá do estado de saúde do capitalismo mundial. Em todos estes anos, a China se beneficiou muitíssimo mais do que outros países, por sua vasta reserva de mão de obra barata, da tendência das economias e multinacionais dos países imperialistas que estão numa corrida desenfreada para baixar os custos para recuperar a rentabilidade depois da crise dos anos 1970 que foi o primeiro momento onde a taxa de lucro das principais economias começou a descer. Esta tendência segue sendo uma realidade da economia mundial e se aprofundou como saída ao sobre-investimento dos anos 1990 não só em quantidade como também a novos setores (serviços), mas tem se chocado a uma tendência oposta, que surge do mesmo processo de reestruturação e relocalização capitalista das últimas décadas: a falta de mercados para os níveis de taxa de lucro que as mudanças no processo produtivo permitam valorizar e realizar.

O caminho aplicado, mesmo tendo recuperado a rentabilidade, redundou numa nova estreiteza do mercado capitalista mundial, levando, não a uma expansão como no boom do pós-guerra e sim a uma luta cruel pelos mercados. Desta lógica de ferro resulta a busca incessante de fontes de mão de obra barata que beneficiou particularmente a China como o “novo milagre capitalista” , mas que por sua vez põe uma grande interrogante sobre a sustentabilidade desta nova divisão mundial do trabalho, a menos que se acredite alegremente no sonho sem fundamento das grandes empresas de uma China que emerja como grande potência consumidora, questão que é difícil de se dar por razões internas e externas, ao menos num ritmo que evite potenciais cataclismos económicos nos próximos anos. A esperança do Ocidente de que o mercado chinês se converta não só num “grande montadora do mundo” , mas também num novo mercado consumidor que permita re-equilibrar a economia mundial, mantida durante todos estes anos pelo crescimento além de suas possibilidades do consumo norte-americano, não resiste à menor prova.

Em outras palavras, a ampliação geográfica do capital, ao mesmo tempo em que foi uma saída momentânea para o capitalismo mundial nas décadas passadas, sobretudo nos anos 1990, significou uma intensificação da concorrência entre os monopólios à procura de novos mercados, o que a longo e médio prazo tende a agravar a crise capitalista.

Os desequilíbrios da economia mundial

A crescente internacionalização da economia, que foi uma das respostas à crise de acumulação do capital iniciada na década de 1970, manifesta-se na forte volatilidade do capitalismo mundial. Apesar de sua aparência de invencibilidade, o capitalismo mundial sofreu, nos últimos onze anos, cinco crises regionais que impactaram os países centrais, ainda que graças à ação dos governos e dos bancos centrais tenham podido ser contidas. Isto é, quase uma crise cada dois anos, ou mais ainda se incluirmos a crise da economia norte-americana em 2001-02. Este foi o caso da crise da “tequila” de 1994, que afundou os bónus do Tesouro norte-americano e que impós o salvamento dos bónus da dívida mexicanos pelo governo de Clinton, ou a crise que se iniciou na à sia em 1997 e que depois se estendeu à Rússia em 1998 levando ao default de sua dívida externa, que golpeou fortemente Wall Street, obrigando a Reserva Federal dos Estados Unidos a sustentar o fundo de investimento LTCM para evitar que sua queda se transformasse no desencadeante de uma crise financeira internacional. Em 1999 o Brasil foi a próxima vítima, ainda que tenha conseguido contorná-la, coisa que não conseguiu a Argentina, o que culminou em 2001 no maior default de dívida soberana da história. Por último, depois da despencada das ações “ponto com” , a economia norte-americana entrou em recessão, que se por um lado foi leve pelas medidas tomadas, viu as maiores bancarrotas e as fraudes de negócios da história, como foi o caso da Enron ou World Com. Todos estes elementos mostram que, apesar da expansão geográfica maior e a novos âmbitos do capital nas últimas décadas, a economia mundial não conseguiu uma estabilidade duradoura.

É neste marco que devemos ver a forte recuperação da economia mundial em 2003 e 2004 impulsionada pelo consumo norte-americano e pelo investimento chinês. O caráter desigual desta recuperação, de que os Estados Unidos se beneficiam, enquanto os principais países da União Européia estão sofrendo um estancamento com prognósticos de crescimento quase nulos, é mais uma expressão dos profundos desequilíbrios da economia mundial.

A recuperação dos Estados Unidos, depois da recessão de 2000-02, baseou-se essencialmente em três elementos, a saber: 1) os gastos de defesa unidos à política militarista da administração Bush, 2) a baixa espetacular de impostos aos setores de maior poder aquisitivo da sociedade, estimulando o consumo dos estratos mais ricos, e 3) um nível muito baixo das taxas de lucro, que permitiu sustentar o mercado interno e estimular sobretudo o investimento imobiliário.

No entanto, estas políticas, ainda que tenham permitido manter o dinamismo económico e melhorar o clima dos negócios capitalistas, aprofundaram os desequilíbrios da economia mundial, em especial da norte-americana, a economia mais forte.

Em primeiro lugar, a baixa de impostos gerou um novo déficit estatal. Em segundo lugar, a sustentação da demanda dos consumidores levou a um endividamento sem precedentes dos consumidores norte-americanos e a reduzir drasticamente a taxa da poupança nacional. Por último, o déficit da balança comercial dos Estados Unidos atingiu, em meados de 2004, a cifra recorde de US$ 665 bilhões, isto é 5,7% de seu PBI. Nunca na história o mundo tinha financiado um déficit desta magnitude, que implica que os Estados Unidos absorvam mais do 80% das poupanças disponíveis a nível mundial. Por sua vez este déficit estaria transparecendo uma deterioração estrutural do aparelho manufatureiro norte-americano, um indicador sensível de sua perda de competitividade em importantes áreas, que é um dos sinais mais palpáveis de sua declinação hegemónica.

Com um enorme custo interno, a economia norte-americana ainda continua atuando como consumidor em última instância, atraindo as exportações sobretudo da à sia, e em menor medida da Europa. Enquanto os bancos centrais dos países asiáticos acumulam milhões de dólares em reservas, financiando desta maneira o déficit comercial dos Estados Unidos com suas investimentos em bónus do tesouro norte-americano e em outros ativos financeiros. Este processo gera um círculo vicioso pelo qual países que exportam para os Estados Unidos subsidiam as baixas taxas de juros que mantém a Reserva Federal, estimulando o endividamento dos consumidores norte-americanos, para que sigam comprando os bens importados da China ou Japão.

Neste contexto, aumenta a probabilidade de turbulências financeiras, já que um giro drástico da Reserva Federal a uma política mais restritiva, ou só o anúncio de que um banco central asiático decidisse converter parte de suas reservas em dólares para euros, poderia criar pânico nos mercados. Uma forte crise financeira poria em questionamento o papel do dólar como moeda de reserva mundial. Isto mostra a relativa precariedade do crescimento norte-americano e põe em questão a sustentabilidade em longo prazo deste funcionamento desequilibrado da economia mundial.

As perspectivas em médio prazo são, portanto, de maiores tensões económicas, num momento em que a piora das relações políticas entre as grandes potências pós em questão a efetividade das medidas de coordenação internacional, que foram um componente importante para o restabelecimento de um equilíbrio capitalista temporário depois da crise dos anos 1970.

Tendo em conta que o débil crescimento da demanda interna na Europa e no Japão lhes impede de atuar como motores alternativos aos Estados Unidos, as perspectivas da economia mundial podem chegar a ser sombrias no caso de um forte ajuste da economia norte-americana.









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