Domingo 28 de Abril de 2024

LIÇÕES ESTRATÉGICAS DO CONFLITO DA USP

A greve geral estudantil faz crescer o movimento e precisa ter como centro a defesa dos 73

27 Nov 2011   |   comentários

A monstruosidade do aparato militar utilizado para a desocupação da reitoria, assim como a prisão de 73 ativistas que lá se encontravam, foi o estopim para a deflagração de uma greve geral estudantil, com assembleias massivas como não ocorriam desde a greve/ocupação da reitoria em 2007, assim como da ampliação dos apoios a amplos setores da intelectualidade, de artistas de esquerda e da chamada “blogsfera petista”. Se por um lado a greve estudantil implicou na massificação do conflito, englobando vários cursos para além das faculdades de humanidades, por outro lado essa massificação deu lugar a uma maior heterogeneidade do mesmo.

Na medida em que a greve estudantil, por unanimidade, assimilou como suas as pautas da luta que se iniciou em 27/10 e a incorporação da defesa dos presos políticos como um dos eixos centrais de sua pauta, isso demonstra que os enfrentamentos contra a PM na FFLCH e as ocupações ganharam o apoio de setores mais amplos de estudantes.

Entretanto, a greve estudantil ao agregar como um dos eixos de sua pauta a defesa de um “plano de segurança alternativo”, demonstrou que a entrada de reintegração ao movimento do PSOL e PSTU, que haviam rompido com as assembleias, impactava no próprio conteúdo do movimento pelo Fora PM da USP. Após a desocupação da Reitoria, com a aprovação da pauta de um “plano de segurança alternativo”, que é a política da ADUSP, DCE (PSOL) e PSTU, a questão fundamental da luta contra a PM como combate a todo um projeto de aprofundamento da universidade elitista e racista, é a ameaça de ser desviada para um movimento que passa a associar o Fora PM prioritariamente à defesa de mais segurança na universidade. Essa mudança esteve associada a um fortalecimento das posições do PSOL e do PSTU, que se adaptam ao senso comum.

A partir de então, o PSOL e o PSTU tiveram as portas abertas para lutar pela hegemonia de seu programa, apoiando-se nas superestruturas das entidades estudantis que dirigem, não só o DCE, mas grande parte dos CA’s. Para sua política, o PSOL e o PSTU se apoiaram em alguns cursos que, apesar de entrarem em greve favoráveis ao movimento, defendiam a reforma do convênio com a permanência da PM no campus, apenas limitando seus “excessos”.

O fato de que o PSOL e o PSTU já acenaram estarem dispostos a aceitar um acordo desse tipo, colocam esse como um possível desfecho da greve estudantil, mesmo que as alas mais combativas do movimento se contraponham – ainda que uma tentativa de fazer a greve “esvaziar por si só” também não está descartada. Mas até agora Rodas permanece decidido a manter as coisas como estão, apostando em um esvaziamento da greve com a entrada das férias.

Nesse marco, a tarefa fundamental de todos os setores do movimento estudantil é impulsionar uma grande campanha nacional e internacional pela anulação dos inquéritos contra os 73 presos políticos da USP. Em primeiro lugar porque um movimento conseqüente deve ser capaz de defender os seus perseguidos, e ao não fazê-lo corre sérios riscos de já anunciar a derrota de seus objetivos antes mesmo de dar passos para tentar conquistá-los. Em segundo lugar porque permitir que se abra um precedente como esses dentro da USP, sem resistência, é entregar a cabeça de 73 estudantes e trabalhadores, parte da ala mais combativa de todo o movimento, que servirão de exemplo para reprimir e punir milhares no Brasil inteiro. Portanto, não haveria vitória possível desta luta se uma parte do movimento é criminalizada exemplarmente.

É neste sentido que viemos dando um enorme combate às posições do PSOL e do PSTU que tem atuado conscientemente para apagar os 73 presos políticos das pautas do movimento, chegando até ao ponto de “esquecerem” de colocar as duas resoluções referentes a esta campanha na ata da assembléia do dia 17/10. Este “esquecimento” do PSOL e do PSTU é na verdade uma tentativa de “deixar pra trás” um momento anterior da luta, onde o que primava era a mobilização dos setores mais radicais e combativos em aberto questionamento à política destes partidos que na primeira oportunidade defenderam por terminar com a mobilização em torno da ocupação da Administração da FFLCH. Este combate é necessário para que as direções do movimento estudantil se comprometam com a luta contra a perseguição dos estudantes.

Se conseguirmos colocar de pé essa campanha, a ala mais combativa dos estudantes – que quer lutar até o final pela derrubada do convênio e pela expulsão da PM – estará muito mais forte para impedir que os setores “moderados” desmobilizem o movimento frente a uma possível “reforma do convênio”; estará muito mais forte para lutar pela anulação das dezenas de processos administrativos e judiciais que recaem sobre estudantes e trabalhadores da USP que lutaram nos últimos anos; e estará mais forte para poder impor a reintegração do diretor demitido político do Sintusp, Claudionor Brandão.









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