Quinta 25 de Abril de 2024

Juventude

A REItoria da Unesp é a voz dos torturadores

16 Dec 2014   |   comentários

UNESP pune 95 estudantes por lutar para que os filhos da classe trabalhadora e pobre tenham direito de estudar na universidade pública!

Os maiores homenageados de nosso país são também os maiores assassinos de que temos conhecimento. Em uma história marcada por séculos de escravidão, ruas, avenidas, estátuas e monumentos homenageiam torturadores, coronéis, caçadores de escravos. Grandiosas rodovias e ruas levam o nome dos bandeirantes que mais derramaram sangue indígena sobre nossa terra. Na terra ensanguentada ergueram-se prédios, como os de nossas principais universidades. Nas placas de prata dos prédios não encontramos o nome dos trabalhadores que os construíram com seu suor, mas sim o de governadores, reitores, secretários da educação, diretores que comandaram a perseguição de tantos lutadores no período da ditadura militar. A ditadura de ontem segue viva na repressão de hoje, e tivemos mais uma prova na última quinta-feira (11).

Em tempos de uma Comissão da “Verdade” que mantém intocada a liberdade dos torturadores, sangram nas sombras da história os gritos abafados dos que lutaram bravamente contra a ditadura militar. É neste cenário que a Reitoria da Unesp prestou uma homenagem simbólica aos tempos marcados pela tortura, mostrando-se, definitivamente, continuadora da voz dos ditadores. O Conselho Universitário decidiu ao dia 11 de Dezembro: 95 estudantes estão suspensos por 60 dias por lutar contra o PIMESP (programa que dificultaria o ingresso de negros e indígenas na universidade), por permanência estudantil (para que estudantes da classe trabalhadora tenham direito de estudar na universidade), por lutarem por direitos aos estudantes dos cursinhos que apesar de sustentarem a universidade através dos impostos que pagam, são impedidos de estudar pelo vestibular.

Em 2013 após meses de uma forte greve estudantil construída pela base, sem caminhar nas pautas por intransigência da Reitoria, os estudantes decidiram ocupar o prédio. Retomando os métodos de luta históricos da classe trabalhadora com piquetes, trancaços, cortes de rua, e ocupações, foi possível com esta luta barrar o PIMESP e arrancar importantes conquistas para permanência estudantil e para os cursinhos (ainda que algumas promessas não tenham saído do papel). Após impormos a conquista de pautas à serviço da classe trabalhadora, que desviavam do projeto de universidade instituído, o governo do Estado de São Paulo buscou retomar as rédeas mostrando entender que educação é caso de polícia.

Relembrando a perseguição ideológica que marcou a história da presença da PM nas universidades, a resposta da reitoria aos estudantes veio com homens fardados: a reintegração de posse. Após a segunda ocupação da Reitoria a polícia foi chamada, entrou quebrando tudo, prendendo os estudantes, e os levando à delegacia. O crime cometido foi ter lutado pelo ingresso dos negros na universidade, já que quem danificou o patrimônio público da reitoria foi a polícia, que inclusive assumiu ter quebrado os móveis em vídeo.

A REItoria tira o AI-5 da gaveta para punir os estudantes: liberdade de expressão ao Santander, direito de ficar calado a quem expressar as demandas dos trabalhadores

Ainda que oficialmente com a Constituição de 1988 tenham deixado de valer as leis que proibiam o direito de manifestação e organização política, a realidade mostra uma face oculta desta democracia: os governantes da ditadura continuaram governando, os assassinatos e torturas seguem a todo vapor nas periferias, corpos de negros continuam desaparecidos. A polícia se mantém sanguinária, com aparato repressivo superior. Órgãos de perseguição política criados na época da ditadura militar não foram desfeitos.

A reitoria da Unesp não faz nem questão de esconder que busca ecoar a voz dos ditadores: mantendo um projeto de educação de classe, em uma ação pedagógica com sentido claro, enviaram aos estudantes um comunicado com os escritos de conteúdo idêntico ao AI-5 (Ato Institucional que marcou o recrudescimento da ditadura militar, conhecido por efetivar a proibição de manifestações política). Os 95 estudantes receberam por correio o aviso da abertura de processos de sindicância. Neste documento a reitoria fez questão de destacar os artigos do regimento da Unesp herdados da ditadura, foram estes artigos disciplinares que justificaram a abertura de sindicância. Neles estava escrito ser proibido a manifestação política ou religiosa, ser proibido afixar cartazes fora de local apropriado, e diziam estar proibido ferir a moral e os bons costumes.

Não para por aí. Testemunhas de acusação que não estiveram presentes na ocupação foram ouvidas. Dois dos estudantes que foram punidos nem estavam presentes na ocupação! As testemunhas de defesa não foram ouvidas. Nenhuma. Não há provas contra qualquer estudante. A polícia assumiu ter depredado o patrimônio, está gravado em vídeo. Então, qual foi o crime?

Liberdade de expressão? Direito de manifestação política? Na democracia dos ricos isso só está garantido à burguesia. Enquanto o Santander faz suas reuniões e eventos com os Reitores com expressão garantida (orientando, por exemplo, a implantação do Ensino à Distância em disciplinas das licenciaturas), na primeira ameaça aos interesses dos grandes empresários, a Constituição vai pra gaveta, e para quem gritou a voz dos trabalhadores vieram suspensões. Para garantir a liberdade de expressão dos ricos, sustentam aos trabalhadores pobres apenas o direito de ficarem calados, se não der pela constituição, pela demagogia, pelo convencimento das teorias burguesas, então chamam a polícia. Vale tudo: AI-5, suspensões, cassetetes, bombas, prisões, o que for preciso.

Eles ecoam a voz da chibata, da ditadura, nós ecoamos a voz dos lutadores, dos trabalhadores, dos oprimidos: não abaixaremos a voz!

Estudantes e servidores técnico-administrativos não possuem praticamente peso de decisão nos órgãos colegiados da Unesp. Não importa a posição da esmagadora maioria da comunidade acadêmica, o que sempre vale é a votação de uma pequena casta de professores. Não bastasse este fato, no dia em que as suspensões estavam na pauta do Conselho Universitário os advogados dos estudantes tiveram o microfone cortado durante a fala e foram expulsos. Não à toa em frente a reitoria um cordão da polícia guardava o teatro. A classe dominante sempre teve seus cães de guarda.

A história contada na maioria dos livros didáticos nas escolas é a história das classes dominantes. Contudo, sabemos que em nossa história, enquanto houve escravidão houve também resistência, luta e criatividade dos setores oprimidos. Ao barrar o Pimesp e lutar por outro projeto de universidade à serviço da classe trabalhadora homenageamos a história do povo oprimido que organizou quilombos, de negros estrategistas que tomaram cidades inteiras para dividir a riqueza que produziram, de trabalhadores que ao longo de toda a história ousaram levantar a voz contra a chibata, contra a mordaça, contra os colonizadores, contra os sanguessugas que vivem dos lucros obtidos pela exploração do trabalho alheio, contra patrões que vivem do suor da classe trabalhadora.

Nossos métodos de luta, como ocupações, piquetes e trancaços são necessários vão contra as ocupações, piquetes e trancaços institucionais da burguesia. Se ocupamos por algumas horas o prédio para ecoar uma voz à serviço da classe que sustenta este prédio através do pagamento de seus impostos, a classe trabalhadora, eles ocupam o ano inteiro para garantir a voz dos exploradores. Quando ocupamos estamos criando democracia, o resto do ano a ocupação deles é que é autoritária e criminosa. Quando fazemos um piquete ou trancaço, na verdade não estamos fechando o caminho, mas o fazemos para abrir caminhos aos trabalhadores. Todavia, há um trancaço e um piquete permanente chamado vestibular. É um trancaço invisível que garante que os trabalhadores que sustentam a Unesp através de seus impostos estejam impedidos de entrar. O trancaço deles impede o direito de ir e vir de nossa classe, é permanente, é autoritário e é criminoso (rouba o dinheiro dos impostos cobrados de toda a classe em benefício de uma minoria sanguessuga).

Das tropas brasileiras no Haiti, de tantos Amarildos, Claudias, e corpos abandonados nas valas de nossa história, sabemos sem dúvidas, que a ditadura de ontem vive na repressão de hoje! Se hoje a REItoria se reúne com os bancos, se utiliza dos regimentos tantas vezes utilizados para tortura de tantos lutadores, se utiliza de procedimentos autoritários para punir aqueles que defenderam demandas dos trabalhadores e oprimidos, com seus cães de guarda à postos, temos de maneira clara e límpida que são a voz da ditadura, continuadores desta história de sangue, e que defenderão à ferro e fogo os interesses da casta dos mesmos sanguessugas privilegiados de sempre.

Chamamos todos/as a lutar contra a punição dos 95 estudantes em solidariedade aos companheiros, que podem perder bolsas, perder semestres inteiros, e até ter que abandonar seus cursos. Mas chamamos também a lutar contra esta punição entendendo que é um golpe à luta pelas demandas dos trabalhadores e dos negros na universidade. O crime foi ter demandado permanência estudantil e ter barrado o PIMESP! Além da solidariedade aos que lutaram em 2013, está em jogo o direito de lutar pelas demandas estudantis! Não há qualquer demanda que possa vir antes do direito de lutar. Se hoje a reitoria é a voz dos torturadores, nós somos a voz daqueles que sempre lutaram para que a riqueza produzida socialmente não fosse roubada por uma minoria de privilegiados, mas que fosse ela também riqueza social. Essa é a voz que querem calar. Não aceitaremos essa mordaça! Mobilizemos todas as forças para colocar novamente de pé um movimento estudantil combativo aliado à classe trabalhadora para pôr abaixo estas punições e para expressar as demandas dos trabalhadores e de todos os setores oprimidos!

Com redução da arrecadação do ICMS e consequente redução do orçamento para o próximo ano a suspensão dos estudantes tenta golpear o movimento estudantil para passar mais facilmente os cortes do próximo ano, e um pacote de medidas neoliberais. Os cortes nos cursinhos, Ensino à distância, cursos pagos são algumas das medidas que já vêm sendo implementadas.

A partir disso fazemos um chamado aberto para campanha democrática contra a repressão! Que todos estudantes disputem para que suas entidades soltem apoios à esta luta, moções, vídeos, disputas em assembleias e congregações para apoio, busca de assinaturas de professores e intelectuais, bem como aporte direto nas lutas compondo atos e ações diretas!

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