Terça 16 de Abril de 2024

Questão negra

ABAIXO A VIOLÊNCIA POLICIAL CONTRA O POVO NEGRO!

Viva a luta das mães de Salvador!

05 Mar 2008   |   comentários

“Os policiais estão brincando de tiro ao alvo com nossos filhos” . Assim protesta Djane, uma entre tantas mulheres negras que perderam seus filhos, assassinados pela polícia em Salvador/BA, num estado governado pelo petista Jacques Wagner. Esta e outras mulheres saíram às ruas em janeiro junto com moradores de suas comunidades, protestando contra essa situação em que ser jovem negro significa correr o risco permanente de perder a vida.

Enfrentando a pressão de se esconder com medo, as mães de Salvador colocaram seus rostos negros na rua e mostraram as fotos dos seus filhos, assassinados pela polícia sem nenhuma punição aos culpados. Tiveram que enfrentar novamente a repressão policial: agora sendo espancadas numa manifestação, em que a tia do garoto assassinado Djair foi ferida com um tiro da polícia. Depois dos protestos, essas mulheres precisam se esconder, para que não sejam mortas como Aurina, assassinada em agosto de 2007 junto com seu filho e seu companheiro, depois de denunciar à Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa da Bahia que seus dois filhos tinham sido torturados dentro de casa pela polícia.

Os números demonstram o que já se sabe há muito tempo nas periferias e favelas do país. No estado da Bahia, foram registrados 1.307 assassinatos, sendo 96% negros e 78% com o envolvimento direto da "polícia do Estado” [1]. Nos primeiros 20 dias de 2008, numa operação conhecida como “faxinaço” recorrente todos os anos antes do carnaval, foram 14 jovens assassinados pela polícia em Salvador, todos negros e sem antecedentes criminais. Essa realidade, no entanto, não é exclusividade da Bahia.

No ano passado, as operações da Força Nacional no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, deixaram um saldo oficial de 42 mortos, grande parte com sinais de execução. Os trabalhadores e trabalhadoras não podiam sair ou voltar para suas casas sem correr o risco de ser mais um assassinado. As mulheres com seus filhos no colo, desviavam-se num labirinto repleto de soldados com suas armas potentes.
A política de extermínio dos moradores de morros e favelas vem sendo escancarada cada vez mais. No ano passado, o secretário de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro José Maria Beltrame declarou: “Buscá-los [os traficantes] na Zona Sul, no Dona Marta, no Pavão-Pavãozinho, eu [polícia] estou muito próximo da população. É difícil a polícia ali entrar. Porque um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?." Ou seja, os milhares de trabalhadores que moram na Coréia ou no Alemão não são considerados “população” ...

Ou representam justamente a parte da população que para o governo deve ser exterminada, como comprovou Sérgio Cabral Filho (PMDB), governador do Rio, com sua declaração de que o aborto deveria ser legalizado como forma de combater a violência. Esse genocida racista teve coragem de dizer que isso “tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão.” Como se não bastasse o extermínio de adolescentes e jovens negros, esses governos ainda querem impor controle sobre os corpos das mulheres ’ em suas palavras, somos “uma fábrica de produzir marginal” ’, impedindo nosso direito a decidir pela maternidade, sob um falso discurso de direito ao aborto. Outra demonstração de como somos tratadas pelos governos e políticos burgueses está na proposta de “bolsa-estupro” , feita por um deputado do PT. É uma política opressiva e humilhante para as mulheres que, disfarçada de política “assistencialista” , que quer nos obrigar a reconhecer os filhos concebidos em um estupro.

A resposta do governo Lula a situação no Complexo do Alemão foi dizer que a operação era um exemplo a ser seguido em todo o país e criou o PAC da Segurança, um projeto que, entre outras medidas, vai destinar mais dinheiro para armamentos e construir 187 presídios destinados para a juventude. Além de aumentar a repressão sobre nossos filhos e companheiros, o PAC da Segurança também tem um programa destinado às mulheres.

O projeto Mães da Paz vai destinar bolsas miseráveis de R$ 190,00 com cursos sobre direitos humanos e cidadania para que elas se “aproximem dos jovens em situação de risco” . Além de oferecer migalhas para as mulheres que vivem no desemprego ou no trabalho precarizado (com baixos salários, sem carteira assinada e direitos trabalhistas) ’ muitas tendo que sustentar a família sozinha depois de perder seu companheiro pela violência policial ’ o governo ainda quer jogar nas nossas costas a responsabilidade de fazer brotar a paz onde a polícia e a Guarda Nacional entram, atiram e matam como bem entendem.
Aproxima-se o Dia Internacional da Mulher e não podemos deixar de levar para as ruas esse protesto. O governo Lula e os governos dos estados são os principais responsáveis pela situação desesperadora de milhares de mulheres, que têm suas famílias destruídas pela força da bala dos órgãos de repressão do Estado.

Em São Paulo, faremos parte do ato anti-governista convocado pela Conlutas, que rompeu com o ato dirigido pela Marcha Mundial de Mulheres que se nega a levantar uma palavra contra o governo Lula. Mas não podemos deixar de demonstrar a falta de uma política conseqüente, por parte da Conlutas, que frente ao extermínio da juventude negra no país deveria convocar uma campanha nacional contra a violência policial a partir dos sindicatos que dirige. Sabemos que a ausência de uma política como essa se dá por causa da posição escandalosa do PSTU, que dirige a Conlutas: não defende a dissolução da polícia e apóia as greves policiais, as mesmas greves que reivindicam melhores condições para a polícia “trabalhar” , ou seja, para reprimir e matar.

A partir do Bloco Pão e Rosas, chamamos a marchar nesse 8 de março sem calar frente ao extermínio da juventude negra, juntando nossas vozes às das mães de Salvador e de todo o país gritando contra a violência policial nos morros e periferias.

Abaixo o PAC da Segurança do governo Lula! Por uma ampla campanha nacional contra a violência policial ao povo negro! Por comitês independentes de investigação e mobilização, organizados a partir dos sindicatos, organizações do movimento negro, associações de moradores, etc, para garantir a punição aos culpados!

Mara do Hip Hop é estudante da Fundação Santo André

[1Dados constantes no artigo “Uma pilha de cadáveres negros...” , da socióloga Vilma Reis, 22/01/2008.

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