Quinta 18 de Abril de 2024

Direitos Humanos

Virginia fala sobre a defesa de trabalhadora trans em fábrica ocupada por trabalhadores na Argentina

16 Nov 2014   |   comentários

"Essa experiência é um grande exemplo pois descobre uma verdadeira maneira de garantir na vida real o respeito e à permanência no trabalho".

Essa semana o "IzquierdaDiário , diário digital impulsionado pelo Partido dos Trabalhadores Socialistas na Argentina, publicou uma entrevista com Nando, trabalhador da Madygraf (ex-Donnaley), uma gráfica que passou a ser controlada pelos trabalhadores sem os patrões após a tentativa de fechamento da mesma. Nesta entrevista ele relatava a defesa firme que os trabalhadores fizeram de uma companheira trans e das grandes discussões que tiveram no interior da fábrica sobre o tema.

Virgínia Guitzel, trabalhadora travesti na área de saúde mental do ABC Paulista, comentou: "O lema que carregam os trabalhadores de Madygraf ’Mexeu com um, mexeu com todos’ é uma concepção que não apenas fortalece os trabalhadores em sua unidade contra os patrões e o governo, como também garante que os próprios trabalhadores possam exercer sua sexualidade e identidade de gênero".

Continuou: "Os trabalhadores e as trabalhadoras, assim como a juventude negra e pobre, são os que mais sentem o peso da repressão sexual assegurada pelos governos em pacto com as grandes instituições religiosas. Essa experiência é um grande exemplo pois descobre uma verdadeira maneira de garantir na vida real, coisa que a lei mais avançada de identidade de gênero como na Argentina não poderia garantir: o respeito e à permanência no trabalho. Enquanto uma pequena parcela das travestis seguem com a vida dupla para garantir seus empregos quase sempre precarizados, a grande maioria segue relegada à ideia naturalizada da prostituição compulsória".

Em comparação com a vitoriosa greve da Universidade de São Paulo, Virgínia complementou: "Para nós, travestis e transexuais que estamos completamente invisíveis, a valente presença das mulheres trabalhadores da USP na linha de frente da greve que durou mais de 100 dias fortalece a voz feminina que grita contra nossa opressão. Essa marcante presença já me fortalecia. Mas foi a atitude do Comando de Greve de votar a delegação de 8 companheiros a participarem do ato por justiça à João Donati, jovem homossexual brutalmente assassinado, que recuperou uma das maiores subversões. Os trabalhadores tomando em suas mãos as demandas dos setores mais oprimidos. Depois, o debate organizado pela Secretária de Mulheres da USP sobre "Machismo, homofobia e transfobia" foi fundamental para dialogar com diversos companheiros que não entendiam ao certo o que sentimos e os assassinatos, agressões e mutilações que sofremos. Ali, diferentemente do que é de costume no sindicalismo brasileiro, se fortalecia uma relação profunda sobre a vida e a opressão que atinge setores amplos da população. Tanto para fortalecer a unidade contra a ideologia dominante como para criar uma relação mais profunda entre os próprios trabalhadores, extrapolando as barreiras da separação entre a vida e o trabalho".

Sobre as afirmações do trabalhador Nando sobre a relação entre o movimento LGBT e o movimento operário Virgínia concluiu: "Concordo inteiramente com a visão de que somos todos e todas trabalhadores lutando pela construção de uma nova sociedade. Esse exemplo concreto da defesa intransigente da identidade gênero da trabalhadora trans a abre a perspectiva que, hoje, o movimento LGBT, que abandonou o horizonte da emancipação sexual das massas populares, limitando-se a reivindicar a "ampliação de cidadania" para os citados na sigla, possa se reencontrar com as lutas operárias para golpear nossos mesmos inimigos com um punho só. Esse potencial revolucionário de encarar de maneira consequente o combate às opressões recupera as experiências mais avançadas da história da classe operária e das grandes transformações sociais. No Brasil, conhecido como país mais homofóbico do mundo, estes exemplos são as expressões concretas que justificam a esperança que tenho na humanidade e na construção de um mundo verdadeiramente livre, onde possamos ser quem somos e ter as condições de decidir e construir não apenas nossa sexualidade ou identidade individual, mas construir um novo ser humano a partir da organização social sem classes, sem Estado e sem qualquer tipo de exploração ou opressões".

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