Quarta 24 de Abril de 2024

Movimento Operário

Unir e coordenar os trabalhadores por uma política superior

11 Oct 2003   |   comentários

Infelizmente, os trabalhadores, além da barreira imposta pelos dirigentes sindicais da CUT aliados ao governo e à patronal não encontram uma alternativa que lhe estimule a lutar decididamente. O PSTU e as demais correntes da esquerda continuam em sua “disputa de aparatos” com a direção da CUT, deixando os meta-lúrgicos da GM (dirigidos por esse partido) enfrentarem sozinhos as 500 demissões, sem ao menos ter um plano claro de unificação de todos metalúrgicos e demais trabalhadores que dirigem. Os metalúrgicos da Volkswagen estão ameaçados com quase 4.000 demissões e estão entregues nas mãos dos burocratas sindicais da CUT que mais cedo ou mais tarde vão negociar com os patrões, como sempre fizeram, inclusive usando a ameaça do presidente da Volkswagen como chantagem para que os trabalhadores não passem à ofensiva para barrar as demissões. Se o PSTU e a esquerda apresentassem um plano de luta como o descrito para unir e coordenar os trabalhadores, com certeza se transformaria num polo de atração capaz inclusive de ganhar a simpatia dos milhares de operários da Volkswagen e outras grandes empresas que estão sob a direção da burocracia sindical da CUT, da Força Sindical e demais centrais sindicais.

Até o momento, o que se ouve do PSTU se resume a continuar na mesma e velha estratégia sindicalista de pressão para negociar e discursos radicais. Enquanto a patronal e o governo mostram firmeza e disposição de enfrentar os trabalhadores até derrotá-los o PSTU define como campanha central transformar “os postes em instrumento de luta” , ou seja, colando cartazes com a cara dos deputados que votaram a favor da reforma da previdência, como seu plano de luta para “pressionar os senadores” para que votem contra a reforma. Ora, como pode ser que os trabalhadores enfrentem um plano de guerra patronal com “cartazes” , sem qualquer combinação com novos métodos efetivos de luta: greve, piquetes, ocupação de fábrica? O PSTU continua prisioneiro desses velhos métodos reformistas de pressionar sem enfrentar decididamente os ataques contra a classe. Até para lutar contra a Alca o PSTU e a esquerda propuseram como tarefa central recolher milhões de assinaturas num abaixo assinado para “pressionar o governo e os parlamentares para convocar um plebiscito oficial” . Não é a toa que os trabalhadores não se arriscam a aderir aos planos dessas direções, pois sabem que para lutar tem que se preparar para uma guerra não para “negociações e plebiscitos” . Inclusive para que os patrões e o governo concedam algo em negociações ’ alguns anéis ’ deve-se lutar com firmeza para mostrar-lhes que os trabalhadores estão dispostos a arrancar os seus dedos.

Os sindicalistas do PSTU e as correntes de esquerda podem e devem superar a luta “cor-porativa” , sindicalista, que significa mobilizar nas datas-base em campanhas salariais enquanto os trabalhadores vão acumulando perdas salariais e demissões isoladamente, cada um em sua categoria. Se falta cria-tividade a esses sindicalistas não é demais recorrer ao grande exemplo de espontaneidade e criatividade dos estudantes secundaristas de Salvador. Para lutar pelas reivindicações estudantis, a juventude de Salvador percebeu claramente que não podia ficar presa da estratégia de negociações e pressões. Aprenderam, instintivamente, que somente ocupando as ruas e bloqueando o transporte na cidade, mostrando que a legalidade burguesa nada vale quando se pretende lutar seriamente, poderiam conquistar suas demandas. Lutando pelo passe livre para os estudantes incorporaram a demanda contra o aumento da tarifa de ónibus, rompendo qualquer vestígio de corporativismo e assumindo a defesa dos interesses dos seus pais, dos trabalhadores, desempregados e do povo pobre que não suporta mais nenhum reajuste nas tarifas. Os estudantes de Salvador deram várias lições: as bases, os de baixo, os que lutam por seus interesses e pela sua classe, são os únicos que podem e devem ter o efetivo poder de discutir, decidir, implementar e, se for o caso, negociar abertamente, respeitando as decisões dos que lutam ’ os dirigentes devem receber ordens e não o contrário; as reivindicações próprias dos estudantes não podem ser conquistadas pra valer se não estiverem ligadas aos interesses dos trabalhadores; os métodos para ser vitorioso somente pode ser a luta sem tréguas, paralisando o funcionamento normal da maquina capitalista e ocupando as ruas para mostrar a todos que é possível lutar seriamente.

Com a luta dos estudantes de Salvador os velhos dirigentes sindicais devem aprender que para conseguir as reivindicações da “categoria” devem lutar pelas reivindicações do povo pobre, sem ficar prisioneiro a crachás, profissões e enti-dades sindicais. A prova disso se pode ver com a concessão do passe livre. O governo municipal, do PFL, percebeu que estava diante de um verdadeiro movimento que nada tinha a ver com a estratégia dos velhos e desgastados dirigentes estudantis burocráticos que mais parecem velhos sindicalistas pelegos. Por isso, vendo que os estudantes secundaristas estavam organizados a partir das bases, sem depender do controle de qualquer entidade, democraticamente decidindo e garantindo sus ações, sabia que não podia tratar esse movimento da mesma forma que estava acostumado ’ negociando com “dirigentes-interlocutores” nos gabinetes enquanto os estudantes ficavam na rua e nos bloqueios. Não! Os estudantes mostraram que não estavam dispostos a jogar toda a sua energia em troca de “negociações” ’ queriam e lutariam sem trégua pela vitória. Por isso obrigaram o prefeito a conceder as suas reivindicações para tentar impedir que a luta continuasse e ganhasse a adesão dos milhares de trabalhadores, desempregados e pobres da cidade. Para essa tarefa, mais uma vez, o governo contou com a inestimável ajuda dos “dirigentes estudantis” das entidades que são verdadeiros aparatos para a disputa entre as correntes, sem ligação real com os estudantes.

A luta dos estudantes de Salvador explica de maneira simples o que propomos como “nova estratégia” :unir e coordenar os trabalhadores, desde as bases, desde os locais de trabalho, desde os bairros para que esses tomem em suas mãos os rumos da luta e definam um programa que incorpore as demandas próprias e de todos os trabalhadores e do povo pobre, superando os limites sindicais ou de datas-base.

Essa estratégia exige criar organismos que incorporem todos os trabalhadores e os desempregados, elegendo nas bases (e não apenas nas direções sindicais e entre as correntes politicas) os verdadeiros representantes dos trabalhadores que organizarão, definirão e controlarão a luta.

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