Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

GOVERNOS REPRIMEM E CRIMINALIZAM MANIFESTANTES COM MEDO DA "FORÇA DAS RUAS"

Unir a luta contra a Copa à luta contra os aumentos e pela estatização dos transportes

24 Feb 2014   |   comentários

O ano mal começou, algumas universidades nem ainda voltaram das férias, e o cotidiano carioca tem sido marcado por manifestações em resposta ao aumento das passagens.

Seguindo a cartilha de governo para os grandes empresários primeiro o prefeito Eduardo Paes e depois o governador Sérgio Cabral anunciaram aumentos de todos os transportes públicos. Os intermináveis acidentes, o desconforto que passam os trabalhadores nos trens, barcas, metros e ônibus pouco importam, importa é aumentar o lucro destes empresários “amigos” do governo.

O ano mal começou, algumas universidades nem ainda voltaram das férias, e o cotidiano carioca tem sido marcado por manifestações em resposta a estes aumentos. Ainda bastante de vanguarda se comparadas a junho e julho do ano passado, ou mesmo com as manifestações em apoio aos professores. Porém, a insatisfação com os transportes públicos, que de novo aumentaram, é generalizada, é só ouvir os comentários no trem, no ônibus ou nos locais de trabalho e estudo. É difícil encontrar um carioca, tanto ou mais que qualquer brasileiro, que não seja contrário à Copa ou no mínimo aos gastos faraônicas na mesma. As últimas pesquisas da CNI e do Ibope mostram a descrença sobre o “legado” da Copa e a certeza de que este mega-evento não favorecerá a classe trabalhadora e a juventude.

O trágico acidente que tirou a vida do cinegrafista Santiago, e toda a campanha de difamação dos atos e dos partidos da esquerda antigovernista não foram capazes de mudar a correlação de forças geral aberta em junho, mas obviamente contribui para diminuir a participação ativa nas manifestações. Neste cenário é muito importante ter clareza da situação e da conjuntura em que estamos para conseguir fazer confluir distintos movimentos como o #nãovaitercopa, a luta contra o aumento das passagens, a denúncia das campanhas de difamação da imprensa e governos, para juntos erguer o movimento a novos patamares que marquem um exemplo para todo o país.

Junho abriu uma nova situação no país: é possível vencer derrotando o aumento

Tal como tinha ocorrido no ano passado quando setores muito minoritários de direita junto a pessoas que têm desconfiança de partidos, legitimamente, visto o histórico do PT, atacaram a esquerda, a mesma entrou em pânico (em junho, e no Rio!) achando que havia movimentos fascistas e que a situação era reacionária, chegando em alguns casos a achar que não devíamos mais ir para as ruas, algo do tipo está ocorrendo agora. É claro que a conjuntura atual, muito explorada pelos governos e pela mídia após a morte de Santiago, não é a mesma sequer a de setembro-outubro em meio às imensas manifestações em apoio aos professores em greve, porém há apoio passivo as manifestações.

Há muitos projetos de lei em tramitação no Congresso para criminalizar os protestos para criminalizar uso de máscaras. É preciso denunciá-los, mas também não devemos perder de vista que a cada novo projeto destes algum setor do governo e mesmo da burguesia através de seus grandes jornais saem criticando os mesmos. Leis que proíbem o uso de máscaras no Rio não colam, foram aprovadas mas não podem ser impostas facilmente. É só ver os protestos.

Há tentativas de desmoralizar as manifestações para blindar a Copa e as empresas de transportes. A mídia burguesa tem se aproveitado da morte de Santiago. Evidente. Mas as últimas manifestações atraíram apoio popular, desde os catracaços na central, e mesmo depois da morte de Santiago, com adesão de populares à mesma, com gente nos prédios piscando as luzes, jogando papel picado, balançando bandeiras do Brasil em apoio.

Ainda que as manifestações sejam de vanguarda, diga-se de passagem muito maiores que no pré-junho, não significa que estejam isoladas do estado geral de ânimo das massas. Se não há uma ligação mais direta com as massas a responsabilidade é das próprias direções, desde a esquerda (PSTU e PSOL) que vacilante sempre atua como uma “ala esquerda” do petismo, como temos visto com a campanha #nacopavaiterluta ou “sem direitos sem copa” que esses partidos impulsionam adaptando-se à parte da opinião pública (cerca de 55%) que defende a realização da Copa sem ver o absurdo de um país com tamanha desigualdade e miséria desperdiçar cerca de 38 bilhões de reais em obras que só enriquecerão as empreiteiras e grandes empresas nacionais e estrangeiras. Não há como conjugar a Copa com direitos. Esta campanha é a defesa da Copa da Fifa, de Dilma e dos capitalistas com pedidos de “direitos” e “investimentos sociais”. Ou seja, Copa, sim, como diz o governo e os setores atrasados das massas, com uma “pitada” de luta “por melhorias” e “investimentos”. Ou se está contra a Fifa, as empreiteiras, os grandes negócios capitalistas e o governo ou se termina como “ala crítica” desses projetos capitalistas.

Pequenos grupos anarquistas (reunidos na FIP carioca, por exemplo) e alguns grupos herdeiros do stalinismo e maoísmo derrotados historicamente (MEPR), por outro lado, corretamente se colocam contra a Copa, mas com uma política vanguardista, voluntarista e ultra-esquerdista que renega conscientemente a necessidade de “ir às massas”, ligar-se aos anseios sociais que marcaram as mobilizações de junho, apresentando um programa, táticas e formas organizativas de frente única e luta que englobe sindicatos, organizações populares, estudantis e de direitos humanos para gerar um movimento nacional que se sustente no apoio das massas e seja visto como “representante das ruas”. Somente assim, inclusive exigindo à esquerda que se adapta ao setores atrasados da opinião pública e às instituições do Estado (defendendo a polícia e fazendo coro “contra os violentos”, por exemplo, como fazem o PSTU e o PSOL) que coloque as organizações que dirige (sindicatos, centros acadêmicos etc.) como forças militantes combativas, antigovernistas e anticapitalistas.

É dever da esquerda denunciar estes projetos, denunciar as manipulações da mídia, porém a melhor forma de fazê-lo não é centrando o movimento, tal como estão propondo agora as principais organizações no Fórum de Lutas (PSTU e PSOL) ou da FIP, apenas na denúncia da criminalização dos movimentos ou da mídia.

A melhor forma de responder a estas calúnias e tentativas de criminalização é nos esforçar para fazer atos massivos contra o aumento das passagens, atraindo o apoio popular a esta demanda. O apoio está lá, é só olhar em cada ato. É preciso levar esta luta para cada escola e universidade e para os locais de trabalho e moradia. Nossa melhor defesa é organizar novos junhos contra o aumento das passagens!

Avançar no movimento contra o aumento das passagens lutando por uma forte campanha pela estatização dos transportes sob gestão dos trabalhadores em aliança com os usuários

Formalmente o Fórum de Lutas tem como bandeira sua a “estatização dos transportes”, e em alguns panfletos e chamados na internet até “sob controle dos trabalhadores e usuários”. Achamos que isto é um exemplo para todo o país, as mesmas correntes que aceitam isto no Rio se negam a fazê-lo país a fora. No entanto, não será com um evento no facebook, uma faixa em um ato, ainda mais agora que as mesmas correntes acham que o centro é “tenho ligação com freixo” ou “contra a criminalização” que vamos colocar de pé a força de um movimento como o que é necessário para estatizar todo o sistema de transportes, sob gestão dos trabalhadores e controle dos usuários (barcas, metrô, Supervia e ônibus).

É preciso levar esta consigna as universidades e locais de trabalho. E antes de mais nada, aos trabalhadores dos transportes. São estes, junto com a maioria da população, que têm mais a ganhar com a estatização que poderá acabar com a superexploração, com os acidentes, com os baixos salários e as jornadas extenuantes de trabalho, com a irracionalidade nas linhas e trajetos. São os trabalhadores do transporte que podem melhor gerir o conjunto do sistema de transportes, pois são eles que fazem funcionar todos os dias. Para o transporte funcionar não precisamos de patrões nem políticos patronais, os trabalhadores podem controlar e administrar em aliança com comitês de usuários que fiscalizem e participem das decisões de todo o sistema de transportes. Recursos para ter um sistema racional não faltam. Hoje já é o governo do estado quem compra novos trens, novas barcas, os empresários parceiros do governo ficam com o lucro e nós com o sufoco!

Uma forte campanha como esta junto a luta contra os aumentos pode dar conteúdo social e de massas ao movimento #não vai ter copa. Este movimento é uma consequência direta das jornadas de junho. A maioria da população brasileira já está crítica aos jogos ou no mínimo a seus gastos, preferindo que o dinheiro fosse gasto em transporte, saúde, educação. É preciso fazer uma ponte entre esta oposição e crítica à Copa e às demandas sentidas, e a luta contra o aumento e pela estatização dos transportes pode cumprir este papel.

Organizar uma comissão de investigação independente do caso Santiago para dar uma resposta aos governos e à mídia antipopular

Ao contrário do que tem feito o PSOL e Marcelo Freixo – que é lançar ainda mais sua figura por fora do movimento, levando o movimento a apoiá-lo e este a não mover uma palha para chamar manifestações – o que podemos e devemos fazer é organizar uma grande luta contra o aumento. Faz falta parlamentares classistas e revolucionários que utilizem toda sua influência midiática e nas massas para fortalecer grandes manifestações e a luta extraparlamentar. Lançar campanhas de desagravo a Freixo, ir ao Fantástico como fez o PSTU para provar sua inocência nas acusações caluniosas da mídia, pode ser útil eleitoralmente e é ao mesmo tempo uma resposta defensiva, que tem como objetivo essencial “aparecer separado” dos “violentos”, o que contribui para estigmatizar a vanguarda que ainda mantém as manifestações em pé.

Cabe, como já dissemos, colocar seus recursos a serviço da mobilização e impulsionar uma comissão de investigação independente sobre o caso Santiago. Muitos trabalhadores e jovens estão desconfiados de todas as informações que o advogado dos acusados levanta entre inúmeras outras suspeitas. A OAB-RJ, começando por sua seção de direitos humanos onde advogados do PSTU e PSOL são influentes, fortíssimos sindicatos como o SEPE, SINDISPREV poderiam junto a intelectuais, juristas e centros acadêmicos organizar uma comissão de investigação independente. Se há pagamento de manifestantes seguramente este pagamento deve vir de Cabral ou de outro político burguês, há muito a decifrar nesta história toda, e uma comissão como esta poderia cumprir um papel não só de denúncia das manipulações neste caso como mostrar a setores de massa a intricada rede de calúnias e forja de provas da polícia, partidos burgueses e da mídia que ocultam ano a ano milhares de Amarildos e a impunidade de seus assassinos que estão entre as forças policiais e os órgãos de informações.

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