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CRISE DA ÁGUA

Uma resposta dos trabalhadores para a crise da água

30 Jul 2014   |   comentários

O verão sem chuvas e o longo período de estiagem estão mostrando a falta de eficiência do sistema de abastecimento no principal polo industrial do país. Apesar do governador Geraldo Alckmin negar, já existe falta de água em muitas regiões.

O verão sem chuvas e o longo período de estiagem estão mostrando a falta de eficiência do sistema de abastecimento no principal polo industrial do país. Apesar do governador Geraldo Alckmin negar, já existe falta de água em muitas regiões. Tudo vai depender do clima. Caso chova de novo muito abaixo da média no verão, São Paulo vai ficar sem água. Toda a população teria cortes drásticos no fornecimento. Mas a chuva, mesmo que venha, não vai resolver os verdadeiros problemas que nos levaram a essa situação limite.
A grande campanha da Sabesp é pela redução do consumo. Porém, a redução do consumo individual não passa nem perto de resolver o problema. Mais de um terço de toda a água fornecida pela Sabesp se perde nas redes de distribuição, o equivalente a um sistema Canteira por ano. Há mais de trinta anos São Paulo é abastecida pelos mesmos três sistemas (Cantareira, Tietê, Guarapiranga) e nenhuma nova fonte foi buscada. Governo após governo, os investimentos necessários foram negligenciados, até chegarmos na atual situação.
Todo ano a Sabesp distribui para os seus acionistas quinhentos milhões de reais em lucro, ao custo de não cumprir sequer as metas de investimento assumidas há dez anos atrás, após o outro período de estiagem. Os atuais reservatórios são explorados acima da sua capacidade de renovação. Uma medida simples, como reestatizar a Sabesp, já colocaria no mínimo quinhentos milhões por ano a disposição para novos investimentos. Porém, o governo do PSDB não tem nenhum interesse em fazer isso, pois governa para os empresários e não para o povo. Nem mesmo os governos de Lula e Dilma voltaram atrás com nenhuma privatização da época de FHC. Só uma grande mobilização popular e dos trabalhadores poderia impor essa medida.

Medidas emergenciais para enfrentar o desabastecimento de água

Por motivos eleitorais, o governo Alckmin tem evitado decretar racionamento, mas o racionamento existe. Afeta o fornecimento de água principalmente nas periferias, mas afeta cada vez mais as regiões centrais. Segundo levantamento da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) junto a empresas da região de Campinas, os problemas de abastecimento de água teriam causado mais de três mil demissões. Nos próximos meses, depois das eleições, se as chuvas salvadoras não vierem, a escassez de água vai ser gravíssima. Será necessário recorrer ao abastecimento com caminhões pipa. Os bairros ricos serão poupados, enquanto os bairros populares sofrerão as consequências da escassez de um bem tão precioso como a água.

É preciso que os sindicatos, associações de bairro e partidos de esquerda se mobilizem para que os trabalhadores não sejam os maiores prejudicados pela situação.

Uma das primeiras medidas a defender seria a garantia de estabilidade de emprego em todas as regiões afetadas pelo racionamento de água. Os trabalhadores não podem ser punidos pela situação gerada pelo governo do estado e pela Sabesp.

As decisões sobre o racionamento não podem estar nas mãos dos mesmos empresários e políticos que criaram a crise de abastecimento. É preciso quebrar o sigilo comercial da Sabesp, divulgar todas as suas contas e informações sobre o abastecimento de água.

São os próprios trabalhadores e a população da grande São Paulo que deveriam estar à frente de um verdadeiro plano de racionamento de emergência. Defendemos a formação de comitês de emergência para gerenciar a crise de abastecimento, no lugar das empresas e políticos que controlam a Sabesp. Em cada região da cidade estes comitês deveriam ser formados por representantes dos sindicatos dos ramos industriais e do comércio afetados, em conjunto com representantes de moradores. Uma das suas primeiras tarefas, tendo acesso total aos bancos de dados da Sabesp, seria identificar em cada região os maiores consumidores e os maiores pontos de desperdício. Os primeiros que devem sofrer racionamento não são as cidades operárias como Guarulhos e bairros de Osasco. E sim as grandes mansões da burguesia, com seus lindos jardins e piscinas que gastam mais água do que qualquer residência de trabalhadores. Os grandes clubes esportivos privados, e outros locais de grande consumo de água deveriam ser os primeiros atingidos.

Abastecimento de água, um problema global do capitalismo

O Brasil é um dos países mais ricos em recursos hídricos. Cerca de 12% de toda a água potável no planeta corre pelos nossos rios. Não à toa, nossa energia é gerada pelas hidrelétricas. Mesmo no Brasil, com tanta abundância, os recursos hídricos estão sendo colocados em risco. Poucos investimentos foram feitos em fontes renováveis de energia, como a solar ou eólica (dos ventos), ambos abundantes no Brasil. Se isso não for corrigido, os sistemas de rios que nos abastecem de água e energia estarão em risco nas próximas décadas. A situação em São Paulo é apenas um primeiro alerta.

Muitos especialistas já alertam para o fato de que no futuro a água será a causa de muitas guerras, como é hoje o petróleo. O capitalismo promove, como tem feito em São Paulo, o uso dos recursos naturais em função do lucro. A água doce, recurso mais importante do planeta terra, tem um ritmo próprio de renovação. Se exploramos um rio além do seu limite de renovação, esse rio tende a secar. Os países pobres terão sua água tomada pelos países imperialistas e suas populações vão sofrer ainda mais com a fome e doenças que poderiam ser evitadas.
A única forma de encarar esse problema é utilizar a água de forma racional, aumentar em todo o mundo o tratamento de esgoto, preservar os mananciais do consumo excessivo. Mas isso não é possível no capitalismo. Esse sistema transforma a água em mercadoria (para as empresas de água, quanto mais escasso esse recurso se tornar mais elas vão lucrar) e não é capaz de controlar o uso que as grandes industriais fazem da água. Somente um sistema econômico voltado para as necessidades do ser humano, e não do lucro, poderá enfrentar o problema do abastecimento de água, que só tende a se agravar.

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