Sexta 19 de Abril de 2024

Juventude

LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE

Uma nova cara para um velho governismo

10 Feb 2013   |   comentários

Frente ao desgaste de suas organizações tradicionais no movimento estudantil, o governismo encontra novas mediações para angariar apoio na juventude. Vem ganhando destaque – principalmente pelos
escrachos contra torturadores (apenas civis, poupando os militares em respeito ao acordo petista de não tocá-los) – o Levante Popular da Juventude, organização dirigida pela Consulta Popular, um braço
do governismo tradicionalmente ligado ao MST e a movimentos populares.

Contudo, a fachada combativa esconde uma política de seguidismo ao PT, incapaz de combater as heranças da ditadura.

Isso se expressa no apoio acrítico à Comissão Nacional da Verdade, que sequer questiona a reacionária Lei da Anistia de 1979 – pactuada com os militares – mantendo impunesos crimes do Estado e incorporando em sua composição o ministro do STJ, Gilson Dipp, bem como o defensor da apuração “dos dois lados”, o ex-ministro José Carlos Dias [1]. Na USP, na discussão sobre a criação da Comissão da
Verdade da USP (CVUSP), temos travado junto à diretoria do Sintusp uma luta pela independência frente à reitoria e governos, para exigir a punição dos crimes da ditadura.

O Levante, ao contrário, defende o atrelamento da CVUSP à CNV e sua tática conciliadora com militares, bem como o atrelamento à reitoria de João Grandino Rodas, que como membro da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos votou pela impunidade do Estado em diversos crimes de assassinato e tortura.

Seu atrelamento com o governo vai além da atuação na USP. Em São Paulo e em Salvador, por exemplo, chamaram voto nos candidatos petistas que, em sua opinião representam o “projeto popular” que defendem. Quanto a Haddad, que em troca do apoio de Maluf garantiu a Secretaria de Habitação para o PP, afirmam que: “Apesar de todas suas limitações e equívocos na condução da campanha, pela representa uma melhoria significativa de vida para o povo (...) Essa disputa apresenta nítidos contornos de classe, numa polarização em que o povo está de um lado, enquanto que as elites encasteladas nos bairros centrais estão de outro. (...)” [2].

Assim, enquanto faz escracho aos torturadores, chama voto nos seus aliados para a prefeitura. Sobre a UNE – entidade burocratizada dirigida pela burocracia da UJS (PCdoB) e do PT, financiada por milhões de reais do governo federal, e que não mexeu uma palha para apoiar a greve das federais – o Levante diz que: “cumpre um papel importante na articulação do movimento estudantil brasileiro, que é plural e democrática.”(nota: http://levante.org.br/o--levante-popular-da-juventude-e-a-une/ ).

Pelo seu “bom comportamento”, o Levante recebeu o “Prêmio Direitos Humanos” 2012 das mãos de Dilma, além de elogios do mensaleiro José Dirceu – em retribuição à campanha da Consulta Popular, direção do Levante, em defesa dele e de outros mensaleiros.

Para poupar ataques ao governo federal, o Levante esquece até mesmo suas principais bandeiras. Assim, não se manifestaram sobre a repressão à greve das universidades federais e do funcionalismo,
nem sobre a repressão da Força Nacional às greves do PAC, como em Jirau e Suape.

Nada falaram contra o iminente despejo do assentamento Milton Santos e nem sobre a ocupação do Instituto Lula. O projeto estratégico do Levante nada tem a ver com um projeto revolucionário contra o capitalismo. Em seu “Projeto Popular” há espaço para tudo: Dilma e seu pacto com os torturadores; Haddad e sua aliança com o ex-governador biônico da ARENA, Paulo Maluf; e, no plano internacional,
o apoio ao governo nacionalista burguês de Hugo Chávez e seu “socialismo com empresários” ou aEvo Morales e sua repressão a trabalhadores e indígenas. O Levante separa a luta por demandas democráticas (como a reforma agrária) da luta pelo socialismo pautada pela independência política da classe trabalhadora, tendo a juventude como aliado estratégico.

Em países semicoloniais como o Brasil, a burguesia nacional não pode ceder um milímetro nestas demandas democráticas. Apesar disso, o Levante se pauta na pressão ao governo federal e atuam nas
universidades como braço da burocracia acadêmica petista, como na UFMG onde, na direção do DCE, colocaram uma faixa da UNE em uma mesa organizada pela reitoria.

Na USP, o Levante tem se fortalecido com outros setores do governismo e “semi—governismo”, como a APS (PSOL) e PCR, que se expressou nas eleições do DCE na chapa Universidade em Movimento (UeM).

Mostram o fortalecimento do governismo em São Paulo e na USP, tendo chegado a organizar um ato em apoio a Haddad com a presença de intelectuais como Marilena Chauí e Ricardo Musse.São a ferramenta
ideal para o projeto do PT de golpear o PSDB em seu bastião paulista, o que passa pela correlação política na USP. Com os elementos de esquerda que incorpora em seu discurso, a UeM tem ganhado espaço em cursos tradicionalmente mobilizados, como os da FFLCH, graças a um legítimo rechaço dos estudantes à política imobilista e métodos burocráticos da atual gestão do DCE (PSOL e PSTU). Um discurso de esquerda e medidas táticas para incorporar anseios corretos dos estudantes, ligados a essa estratégia, servem apenas para neutralizar o potencial de radicalização, desviando-o para uma
perspectiva de conciliação em nome de “conquistar” migalhas que os representantes políticos dos patrões possam conceder.

E para a tarefa imediata de construir um m.e. combativo, aliado aos trabalhadores, independente dos governos e da reitoria e com um programa capaz de lutar pela democratização radical da universidade,
contra o despejo da São Remo e as punições, é tarefa fundamental fazer com que todos os estudantes que depositam sua confiança hoje nesta alternativa governista “de esquerda”, vejam que a nossa saída
não pode estar na aliança com torturadores e no apoio a governos petistas aliados à burguesia que garantem a manutenção da sociedade e da universidade tal como estão hoje.

[1Veja o artigo A Luta por uma estratégia independente, democrática e massiva para a Comissão da Verdade da USP na edição nº84 do Jornal Palavra Operária
(http://ler-qi.org/spip.php?article3531)

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