Sexta 19 de Abril de 2024

Internacional

XII CONGRESSO DO PTS

Uma localização política inédita para a esquerda revolucionária

21 Dec 2011   |   comentários

O tema central que partiu da discussão sobre a orientação política, foi à situação inédita que se apresenta para o PTS, ao haver-se convertido, junto ao PO, nas referencias “da esquerda” no país, o qual constitui uma situação sem precedentes históricos. Mais ainda, numa situação onde o governo caminha à direita e a centro-esquerda é débil e fragmentada (basta ver a divisão e crise extrema da CTA, ou do MST e o PCR que optaram por um projeto centro-esquerdista em decadência como Projeto Sul). É uma oportunidade inédita aberta para os aqueles que se declaram a esquerda operária, socialista e revolucionária, a condição de enfrentar claramente a tendência internacional ao desenvolvimento de “partidos eleitorais”, onde cada vez há menos militância “voluntaria” e os partidos políticos em geral, incluindo os de “extrema esquerda” (como o NPA na França ou o SWP na Grã Bretanha), são organizações limitadas ao objetivo de conseguir votos e ao carreirismo político. León Trotsky em 1930 disse à Internacional Comunista, no caso do Partido Comunista Frances, que quando um partido tem mais peso “por cima” que militância orgânica, é um partido que está se transformando de “revolucionário” a “parlamentar”, contrapondo um termo a outro (não como “complementar”). E se tratava de uma época na qual havia grandes partidos operários com dezenas de milhares de militantes. Hoje os partidos socialdemocratas com tradição operária e laços com os sindicatos têm a mesma estrutura “não militante” que os partidos da direita. Essa é uma enorme pressão também para os revolucionários, porque não há tradição de militância, e sabemos que sem militância orgânica estruturada nas principais fábricas, empresas de transportes e comunicações, universidades e colégios, escolas e hospitais, que possa efetivar a luta por um programa operário e socialista, não se pode pensar em nenhuma luta seria, nem falar de aspirar ao governo dos trabalhadores mediante a revolução socialista. O Que fazer? de Lênin, insiste na importância da agitação política para transformar à classe operária na direção da luta contra o regime czarista, contra os “economicistas” que queriam limitar os trabalhadores à “luta econômica”, não se pode ler por fora desta realidade incontrastável.

O grande desafio que debateu o Congresso do PTS foi o de assumir até o final a nova localização conquistada, e multiplicar as iniciativas e medidas necessárias para ampliar a inserção no movimento operário e estudantil, sem diluir o programa e a estratégia revolucionária. As intervenções refletiram a grande disposição dos dirigentes e quadros, com numerosos exemplos de organização de novos trabalhadores e jovens, em distintos níveis, que vai de novas conquistas “sindicais” a centenas de operárias e operárias que estão participando de cursos de formação marxista diretamente partidário.

Várias intervenções refletiram no Congresso a preocupação em dialogar com trabalhadores e jovens sem tradição política, não falar no “jargão” para “entendidos” a vezes incompreensível da militância de esquerda, não fazer reuniões intermináveis que cansam até aos que já são militantes, encarar não só respostas a temas estritamente políticos mas também a problemas culturais e sociais mais em geral. Mas houve insistência em ser conscientes de que a abertura necessária para incorporar novos companheiros e companheiras na organização partidária deve distinguir-se claramente do ecletismo político: abandono do programa e da estratégia da revolução operária e socialista, e da construção de um verdadeiro partido revolucionário leninista, a favor de incorporar “novas sensibilidades”. Isso é o que levou a uma das gerações de dirigentes e militantes trotskistas de mais nível e tradição surgidas de 68, como a que formou a Liga Comunista Revolucionaria, a terminar de liquidar todo vestígio de programa revolucionário e de inserção na classe operária, ao fundar o Novo Partido Anticapitalista em torno da figura de Olivier Besancenot. Conseguindo até 5% dos votos nas eleições, o NPA não jogou nenhum papel de peso nas grandes lutas do ano passado, e não pode resistir ao surgimento de novas figuras na esquerda francesa. Entraram em decadência e divisões enormes, perdendo cerca de 60% de sua militância, e ficando a beira da explosão definitiva.

Propomos-nos organizar amplamente trabalhadores e jovens que simpatizem com nosso programa de independência de classe, de revolução, de luta por um governo dos trabalhadores, internacionalista. Que militem no PTS de bandeiras levantadas.

O Congresso debateu as conclusões da Conferencia de Organização da Juventude do PTS (ver artigo). Ao conseguir duplicar suas forças militantes e ter a possibilidade de se ampliar organizativamente muito mais, ao mesmo tempo em que aprofunda seu caráter revolucionário trotskista, foi um fato novo do PTS se o comparamos com o Congresso anterior, e adiantou problemas que foram de utilidade para pensar a construção do conjunto da organização.

A construção de correntes classistas e a seleção de militantes no movimento operário

Um dos temas que mais intensamente recorreu o debate foi o referido à atividade que nos propomos levar adiante no movimento operário. As conclusões, expressadas no fechamento deste ponto, podem se sintetizadas assim:

a) Por não existir militância “orgânica” peronista (dominada pela burocracia sindical que é repudiada por qualquer trabalhador que queira “fazer política” de classe e não como arrivismo burocrático) nem de nenhuma outra corrente política, a luta central no movimento operário é contra o sindicalismo. Esta é a tendência “natural” burguesa dos operários a discutir sua participação na renda nacional, para o qual surgem historicamente os sindicatos. São as únicas organizações operárias que suportaram a restauração burguesa dos últimos 30 anos, embora permanecessem muito burocratizadas.

b) O programa sindicalista mais ambicioso, dizia Engels, é reduzir as horas de trabalho e aumentar o salário, porque não chega a questionar a exploração assalariada. Gramsci chama de “estagio dois” a consciência dos operários à luta por construir um partido operário reformista para lutar também no parlamento e nas ruas por melhores situações da classe operária, mas sem chegar a questionar o poder capitalista. O mesmo Moyano levanta um programa “sindicalista” quando fala do fifty fifty, embora não esteja disposto a fazer nada sério para conquistar ao menos esta “distribuição de renda” que implica que uma ínfima minoria de burgueses fiquem com a metade do que produzem milhões de trabalhadores.

c) A corrente organizada em torno do jornal Nuestra Lucha tem o objetivo de organizar a ala classista do sindicalismo de base. Quando surgiu a FIT, todos os companheiros e companheiras a apoiaram com entusiasmo. Alejandro López encabeçou as listas em Neuquén, junto a Raúl Godoy (PTS), Angélica Lagunas (IS) e Gabriela Supicich (PO) e hoje é o primeiro deputado operário da historia do estado. Hernán “Bocha” Puddú foi o primeiro candidato a deputado nacional por Córdoba e agora vai trabalhar como assessor da bancada da FIT na Legislatura estadual, Claudio Dellecarbonara foi candidato na Capital, assim como dezenas de companheiros e companheiras em todo o país. De fato, se transformou numa corrente do “sindicalismo de esquerda”, tomando também com muita força a defesa de Pollo Sobrero, militante de outro partido da FIT, quando foi encarcerado.

d) Junto com esta atividade, o PTS iniciou no último mês cursos sobre fundamentos do marxismo com centenas de operários e operárias de todo o país, começando pelas definições centrais que explicam cientificamente a exploração capitalista.

e) Não obstante, o debate no Congresso deixou claro que nosso objetivo no movimento operário não é uma soma de atividade sindical combativa e antiburocrática, atividade eleitoral de esquerda e cursos de marxismo. A chave passa por aportar à formação de dirigentes e militantes operários que pensem e atuem mais além das fronteiras de sua fábrica ou grêmio, que assumam que sem lutar pela “hegemonia operária”, ou seja, por dirigir os milhões de pobres que nem sequer alcançam ser proletários e ao quase 40% dos trabalhadores que não estão sob o coletivo, é impossível pensar a revolução. Não basta que os companheiros e companheiras conheçam o programa e se integrem ao partido, se sua prática não avança neste sentido. Por isso a atividade quiça mais revolucionária que organizou a corrente de Nuestra Lucha foi a coluna que enfrentou a polícia para ir levar sua solidariedade aos ocupantes sem teto do Parque Indoamericano no fim do ano passado, ou os companheiros ferroviários que organizavam cortes de vias com as organizações piqueteiras e conquistaram a efetivação de trabalhadores na Roca há alguns anos, tendo que se enfrentar inclusive a muitos “efetivos”, ou a defesa dos contratados que custou ao companheiro Puddú sua expulsão do SMATA. Ou também a intensa atividade que desenvolve o PTS na comunidade boliviana da Capital ou entre os trabalhadores do alho superexplorados de Mendoza. Esses são grandes exemplos de luta contra o sindicalismo. Propomos-nos fazer política para os mais explorados. Quando há decomposição capitalista e processos revolucionários surgem, são as massas mais exploradas e oprimidas que temos que ganhar com uma política hegemônica, ou a ganharão os facistas, como ocorre em vários países europeus agora.

f) Tendo claros esses critérios, o Congresso resolveu continuar impulsionando ainda mais a corrente do jornal Nuestra Lucha, se preparando para dialogar com os setores da classe operária que avancem na sua experiência e enfrentem o “cristinismo” e a burocracia sindical. Vamos ampliar o “sindicalismo de base”. Nuestra Lucha refletirá tanto as lutas “econômicas” como as lutas “políticas”, continuando as experiências das bancas conquistadas em Neuquén e Córdoba, defendendo os trabalhadores imigrantes bolivianos, paraguaios ou peruanos, enfrentando os preconceitos racistas e sexistas. Este jornal é a ferramenta mais ampla e indispensável para estender a influencia desta corrente classista no movimento operário.

g) Quanto à atividade específica dos companheiros e companheiras que se reivindiquem revolucionários, além de conhecer os fundamentos do marxismo como síntese da experiência histórica da classe operária, nos propomos a adequar o jornal La Verdad Obrera para que seja um instrumento muito mais popular mas especialmente dedicado à luta política de partidos (questão que não pode desenvolver até o fim Nuestra Lucha porque não é um jornal “de partido”) sobretudo em torno das principais lições programáticas e estratégicas dos principais fatos da luta de classes nacional e internacional. Os revolucionários sabem que sem luta de tendências ou de partidos, a classe não obtém seus objetivos comuns. Longe de evitar os debates políticos entre correntes (algo que é comum nos sindicalistas), nos opinamos que servem para o desenvolvimento da consciência de classe e à emergência de um verdadeiro partido revolucionário.

h) O centro da organização política de novos companheiros e companheiras deve se centrar no seguinte conteúdo: com todo aquele que coincida, embora seja de forma “sentimental” no começo, com nosso programa hegemônico que aponta a uma revolução onde vão participar as massas pobres, e demonstre estar disposto a lutar por ele, temos que ser flexíveis nas exigências organizativas. O que se reúne todas as semanas, mas tem uma mentalidade corporativa, não é necessariamente um “trotskista”.

i) As equipes de militantes (novos e velhos) são equipes de combate por um programa e uma estratégia. A “formação” e a discussão são muito importantes (e no PTS desenvolvemos instituições partidárias especiais para aportar neste sentido, como o IPS Karl Marx e o CEIP León Trotsky, incluindo a edição de revistas, folhetos e livros), mas o determinante deve ser a prática política real. Neste sentido, a militância do PTS não pode ser por “presentismo” (considerar a presença em reuniões e marchas sem importar se a prática no seu lugar de atividade é revolucionaria no sentido de uma política “hegemônica” como explicamos acima).

O conjunto desses critérios foi sintetizado no último dia do Congresso nas resoluções que, partindo de aprovar em geral o Projeto apresentado previamente à militância, introduz várias modificações como produto dos debates no próprio Congresso.

Por último, se realizou a eleição do novo Comitê Central, no qual, depois de um intenso debate, se incorporaram dirigentes operários e operárias (com o qual 36% de seus membros são dirigentes operários da indústria e dos serviços, mais 23% de estatais e docentes, somando 59% de dirigentes que desenvolvem atividade política no seu lugar de trabalho, continuando o que já é “tradição” na nossa organização, contraria a maioria das organizações de esquerda, sem falar dos demais partidos, onde a maioria dos dirigentes são rentados), assim como companheiros e companheiras da juventude.

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