Quinta 28 de Março de 2024

Teoria

ENCERRAMENTO DO CURSO LIVRE "MARX E ENGELS" NA PUC-SP

Uma homenagem fora de lugar

25 Apr 2008   |   comentários

Entre os dias 24/3 e 15/4 ocorreu o "Curso Livre Marx e Engels", organizado pela Boitempo Editorial. O curso teve como base a exposição, por professores e intelectuais reconhecidos, das principais obras de ambos os autores escritas na década de 1840, ou seja, de constituição de seu pensamento.

Não poderíamos deixar de registrar, com uma nota de pesar, a cerimónia de encerramento do curso no dia 15/04, que tinha como objeto o "Manifesto do Partido Comunista" e como expositor o sociólogo Francisco de Oliveira. Não foi esta exposição o que ocupou a maior parte do tempo naquela noite. O "ponto alto" ali, ou melhor, o anti-clímax do curso, foi a homenagem ao "historiador" Jacob Gorender.

O clima solene da homenagem, com direito a discurso emocionado por parte de um velho companheiro seu de partido (o extinto PCBR), ajudou a aplacar o senso crítico geral do plenário, e esvanecer a grave contradição entre o espírito geral das obras marxistas apresentadas e o caráter da "contribuição" do velho militante Gorender à história dos explorados do Brasil.

Sobre a trajetória política de Jacob Gorender, podemos dizer que foi um dos principais dirigentes do PCB ao longo das décadas de 1950 e 1960, sendo responsável direto pela derrota de abril de 1964 diante das forças da reação interna e imperialista. Foi parte do setor que tirou a conclusão de que era preciso seguir o "caminho cubano", e patrocinou ao lado de Mário Alves e Marighella a desastrosa "ida à guerrilha", que levou a mais uma série de derrotas diante da ditadura em seus anos mais duros, e ajudou a semear a confusão que pavimentou o caminho para que os reacionários militares e civis pudessem transitar a um novo regime "democrático" sem perder seus postos de mando.

Da obra teórica de Gorender, podemos destacar duas idéias profundamente anti-marxistas, que representam claros obstáculos ideológicos no caminho do proletariado para sua emancipação; idéias que não deixaram de ser defendidas em sua incómoda fala ao final da "homenagem". A primeira, é o "reparo" a Marx e Engels com relação ao Estado: este, ao contrário de desaparecer no curso da reapropriação pela humanidade do conjunto de suas capacidades criadoras, à medida que a sociedade liberta da camisa de força da propriedade privada caminhe em direção ao comunismo, deveria para Gorender manter-se e reforçar-se em nome da "administração dos recursos naturais" e da "contenção da parcela de maldade intrínseca ao ser humano" - óbvia justificativa para os horrores do stalinismo.

A segunda "contribuição" de Gorender, no marco de seu "marxismo sem utopia", seria a descoberta de que a classe operária seria "ontologicamente reformista", isto é, limitada devido ao seu próprio ser a manter-se no marco das reformas à sociedade capitalista. Daí que o programa socialista só possa ser imposto de fora pelo partido, contrariando esta "natureza última" da classe. Fica evidente o padrão de relacionamento que tal concepção sugere entre o partido e a classe, e não é difícil ver aqui novamente um argumento perfeito para a legitimação das práticas históricas do stalinismo.

Em suma, uma homenagem fora de lugar num curso livre que dedicou várias semanas à difusão da obra emancipadora de dois jovens que marcariam definitivamente a história da classe trabalhadora e da humanidade.

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