Sexta 29 de Março de 2024

Juventude

Organizemos um movimento nacional unificado contra a repressão nas universidades

Uma grande frente única contra a repressão da Reitoria da PUC-SP

14 Nov 2003   |   comentários

A repressão nas Universidades tem aumentado a cada dia. Os estudantes das Universidades públicas são obrigados a conviver no campus com a presença crescente da polícia, enquanto os das privadas estão sendo perseguidos pelas reitorias que buscam cercear o direito democrático da livre convivência e livre uso dos espaços do campus. Isso não acontece por acaso, mas está intimamente ligado aos ataques que o governo Lula está desferindo à Universidade e pretende aprofundar. Já se sabe que a “Reforma Universitária” que vem sendo discutida pelo governo terá como meta tornar ainda mais precárias as condições da Universidade pública e legitimar a sede de lucro dos capitalistas donos das Universidades privadas.

Para conseguir realizar os planos de privatização das Universidades públicas e elitização das privadas, as reitorias têm que quebrar as bases de organização do movimento estudantil. Essas reitorias não duvidam do potencial do movimento estudantil quando organizado e aliado aos outros dois setores que a fazem funcionar: os professores e funcionários, que também serão atacados.

Na USP os estudantes são ameaçados permanentemente pelas rondas ostensivas da polícia no campus, muitas vezes nos próprios carros da guarda universitária. Na Universidade Federal de Feira de Santana, os estudantes que ocuparam a reitoria foram expulsos pela polícia e são ameaçados no caminho de casa por esses mesmos policiais.

Na PUC-SP, que sempre se orgulhou de ter sido um espaço de questionamento à repressão exercida durante a ditadura militar, a reitoria iniciou um escandaloso processo de perseguição aos estudantes. Hoje, 15 estudantes enfrentam um processo de sindicância por causa de uma festa, com punições que podem chegar à expulsão. As festas, que são o espaço de interação entre os estudantes, de manifestação artística e cultural, vêm sendo atacadas pois a reitoria quer transformar a Universidade em uma empresa, e não em um espaço de conhecimento crítico e questionador. Para isso ela tem que atacar a natureza de todas as relação que são mantidas dentro da Universidade, fazendo com que estas se tornem frias e sem vida.

Além disso, câmeras foram instaladas em diversos pontos da Universidade, e nos vigiam sem que saibamos sequer onde estão, enquanto seguranças truculentos cumprem o papel de coibir os estudantes verbal e fisicamente. Isso tem acontecido porque a PUC-SP está mergulhada em uma crise financeira que a própria reitoria foi obrigada a admitir.

Esta crise, que é o fruto direto da crise capitalista, faz com que os direitos adquiridos historicamente pelos funcionários sejam ameaçados, enquanto professores estão há mais de cinco meses recebendo apenas 60% do valor total de seus salários. A Reitoria da PUC, na figura de António Carlos Ronca e suas vice-reitorias, têm um plano simples para “responder” a essa crise. Vai atacar professores, funcionários e estudantes, tentando descarregar sobre estes todo o peso da crise da universidade, e tratar de transformar a PUC em alguma coisa entre uma FAAP e uma UNIP. E como tudo isso não pode ser feito sem previamente eliminar qualquer tipo de resistência, a Reitoria está tentando perseguir, desmoralizar e amedrontar aqueles que poderiam questionar o plano em seu conjunto, isto é, particularmente os estudantes mobilizados.

Mas o movimento estudantil provou que não assistirá passivamente a todos esses ataques. Em resposta a perseguição política iniciada pela reitoria através da sindicância, militantes da COMUNA em frente única com diversos estudantes independentes organizaram uma grande campanha contra a repressão na Universidade. Essa campanha que teve como lema o grito de “Se atacam um, atacam todos” , mobilizou a comunidade da PUC-SP contra a crescente perseguição, através de atos, atividades culturais, apresentações de bandas, exibição de documentários e imagens da repressão aos trabalhadores e jovens em luta em diversos países, debates com professores e ativistas dos movimentos sociais, e obrigou por fim a reitoria a retroceder.

Ainda que não tenha suspendido a sindicância, a reitoria recuou inclusive juridicamente, adiando o depoimento dos acusadores, pois percebeu que os estudantes constituíram uma ampla frente única em defesa da Universidade como espaço de conhecimento crítico, arte e livre manifestação. Durante esta semana de mobilização, que contou com a presença de estudantes de outras Universidades como a USP, os espaços da PUC-SP voltaram a ser ocupados pelos estudantes e foram o palco de atividades culturais e discussões políticas sobre os movimentos de resistência que têm se dado em toda a América Latina, como a recente luta do povo boliviano e a do povo argentino durante as jornadas revolucionárias de 2001. Alguns professores que participaram de debates ao ar livre no Pátio da Cruz, manifestaram abertamente o apoio à luta dos estudantes e se posicionaram contra as medidas tomadas pela reitoria, o que assume especial importância já que houve a partir dessas manifestações um embrião de uma nova relação entre estudantes e professores, sem a mediação da burocracia acadêmica.

Isso reavivou, ainda que em pequena medida, o espírito contestador que tantas vezes se fez presente no movimento estudantil da PUC-SP.

Queremos partir desse movimento que se iniciou na PUC para criar uma ampla campanha contra a repressão que abarque o conjunto das Universidades do país, sejam elas particulares ou públicas. Entendemos que a Universidade pública, gratuita e que coloque o conhecimento a serviço do fim da exploração do homem pelo homem será concretizada a partir da unificação do movimento estudantil, fazendo com que este seja novamente uma força política viva. Um movimento estudantil que rompa os grilhões da lógica representativa, típica da burocracia acadêmica e estudantil.

Que seja um sujeito político capaz de transformar a Universidade e colocá-la a serviço da transformação radical de toda a sociedade. Que parta de um movimento em defesa das liberdades democráticas dentro da Universidade e que se coloque radicalmente contra quaisquer medidas repressivas, para a partir disso se colocar em defesa de toda a vanguarda que luta e que tem sido duramente reprimida.

A partir da PUC-SP, onde o movimento contra a repressão se mantém vivo em torno de um comitê geral envolvendo estudantes de diferentes cursos, lançamos um chamado a constituir um movimento nacional unificado contra a repressão, organizando manifestos, atos e atividades diversas nas universidades. Chamamos cada estudante que em cada universidade do país se nega a aceitar o uso de repressão e perseguição política para garantir a implementação dos ataques à educação, a seguir este importante exemplo de luta e construir comitês contra a repressão para organizar essa campanha em cada universidade.

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