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Debates

Uma discussão estratégica com a direção do PSTU

11 Mar 2003   |   comentários

O PSTU é um partido que tem influência em uma parte significativa da vanguarda. Expressão evidente disso é o papel que cumpre na direção de importantes pólos do movimento operário industrial, como São José dos Campos e Contagem, onde tem influência sobre um importante setor de operários, assim como o fato de que nas últimas eleições a presidente tenha conseguido mais de 400 mil votos.

Hoje esse partido coloca o eixo central de sua política nacional na exigência de que o governo Lula faça um plebiscito sobre a Alca, e para isso faz uma frente única com correntes da esquerda do PT, a Consulta Popular e pastorais da Igreja católica, que hoje apóiam o governo. Somado a isso, atualmente impulsiona uma campanha contra a reforma da previdência e uma campanha pela reposição das perdas salariais.

Para fortalecer a luta contra a Alca e para lutar pelas reivindicações mais imediatas dos trabalhadores, o PSTU não coloca todas as suas forças a serviço da auto-organização dos setores em luta, forjando organismos independentes das burocracias sindicais, dos patrões o do governo. Não estrutura sua política com base na democracia direta dos trabalhadores através de corpos de delegados eleitos nas bases e com mandatos revogáveis por aqueles que os elegeram. Não coloca seus sindicatos a serviço da democracia operária, e onde não possui sindicatos deveria nela se basear para recuperá-los das mãos da burocracia. Essa é a única forma de combater a lógica petista de representação parlamentar dos trabalhadores e substituí-la pela democracia direta das massas.

A partir dessa estratégia a luta pelas reivindicações atuais das camadas oprimidas da sociedade e a luta para barrar a Alca ganham um outro caráter, pois são levadas a cabo com os próprios métodos da classe operária e por suas próprias organizações independentes.

O PSTU deveria lutar para que os organismos de democracia direta dos trabalhadores e os sindicatos recuperados colocassem de pé uma campanha pela escala móvel de horas de trabalho, para assentar as bases de uma unificação dos setores empregados com os desempregados e para, assim que eliminada a chantagem dos patrões com as demissões, desenhar uma perspectiva real de aliviamento das condições de exploração e de salários dignos que cubram as necessidades básicas de uma família.

O PSTU não luta pela construção de organismos independentes, de frente única dos setores em luta, e não coloca essa unidade a serviço do combate pelo não pagamento da dívida externa. Por impostos progressivos às grandes fortunas para que se possa implementar um plano de obras públicas controlado pelos trabalhadores e um seguro desemprego sem restrições e por tempo indefinido até que todos sejam incorporados à produção. Se o PSTU tivesse essa política, estaria dando passos importantes para que os setores que começam a se destacar nas lutas de resistência avance em sua consciência política e assumissem para si a luta contra a Alca.

O PSTU, ao conviver de forma pacífica com os burocratas governistas nos sindicatos e ao não lutar pela democracia operária nas fábricas, acaba colocando barreiras que impedem que os trabalhadores compreendam a necessidade de forjarem organismos de auto-organização que coloque o controle das lutas em suas próprias mãos e assente as bases para recuperar os sindicatos. Ao não buscar uma coordenação dos diversos setores em luta, estruturada sobre delegados eleitos em assembléias de base e com mandatos revogáveis por aqueles que os elegeram, acaba construindo, quando muito, unidades impotentes que são facilmente rompidas pelas pressões divisionistas da patronal e do governo.

Nos sindicatos, a política do PSTU se reduz a viver fazendo exigências às direções reformistas e quando fala sobre a burocracia sindical sua política se limita a formar movimentos de “oposição” ou “blocos de esquerda” nos Congressos desvinculados da luta real dos trabalhadores e de uma luta pela autodeterminação das massas. Unifica-se com correntes que são inimigas da independência de classe, fazendo uma separação brutal entre a política nos sindicatos e a auto-organização dos trabalhadores. Nós acreditamos que da mesma maneira em que se devem combater as correntes que dão as costas aos sindicatos, é necessário ser contrários a todo fetichismo dos mesmos. Este fetichismo, tão a fim as correntes sindicalistas, nos momentos decisivos, subordinam aos sacrossantos estatutos dos sindicatos e ao controle das camarilhas burocráticas. Os sindicatos não são um fim em se mesmos, senão só um meio mais da luta contra o capitalismo.

Para superar os estreitos marcos do interesse corporativo e das “oposições” ou “blocos de esquerda” de tempos de paz nos sindicatos, só é possível faze-lo com a organização democrática das amplas massas, já que não existe dicotomia entre um sindicato com uma política revolucionária e a estratégia de verdadeiros órgãos de frente único das massas que permita que façam exercícios de poder operário e popular. Quer dizer, os sindicatos e os organismos eletivos das massas não se contrapõem como costumam falar muitas correntes de esquerda que são inimigas da auto-organização das massas. Só sobre estas bases poderemos recuperar os sindicatos e transformá-los em ferramentas revolucionárias.

Por isso consideramos que a luta pela frente única, no sentido da transformação dos sindicatos em instrumentos de luta política e de democracia direta, de da construção de organismos de auto-organização é um combate primordial no caminho da independência política e a autodeterminação da classe operária no presente período. O transformamos os sindicatos em ferramentas de luta do movimento revolucionário do proletariado, ou serão transformados em ferramentas secundárias para a aplicação das políticas dos capitalistas nativos e as transnacionais. É o que acontece hoje, tanto com a Força Sindical ’ historicamente pro patronal ’ também da CUT com suas câmaras setoriais servindo de sustento das políticas dos governos de plantão. Infelizmente a direção do PSTU, com a política de seus “blocos de esquerda” se nega a uma política conseqüente.

Ao concentrar a luta contra a Alca na campanha para que Lula faça um plebiscito oficial sobre isso, acaba fomentando as enormes ilusões que os trabalhadores hoje têm no governo e impedindo que os trabalhadores assumam a tarefa de barrar a Alca para ser levada a cabo por si mesmo, com seus próprios métodos de lutas, através de suas próprias organizações.

Ao fazer frentes únicas com organizações políticas que hoje são parte do governo, como a Articulação de Esquerda e outras correntes da esquerda do PT no caso da campanha contra a Alca, e ao abrir mão do combate ao papel que essas organizações cumprem hoje junto às classes oprimidas, coloca barreiras para que os trabalhadores se libertem dessas direções que não fazem nada mais que os paralisar.

O PSTU, ao não combater as direções nacionalistas burguesas presentes na Consulta Popular, permite que se fortaleçam esses tipos de direções junto à vanguarda. Ao desvincular a campanha contra a Alca da luta pelo fim do desemprego e por salários dignos para todos, não ajuda as classes oprimidas a perceberem a relação entre suas reivindicações mais imediatas e os grandes problemas nacionais.

É por isso que o PSTU pensa suas táticas políticas em função dos acordos que possui com a esquerda do PT e a Consulta Popular nos sindicatos, no movimento estudantil e no movimento popular. Ao contrário disso, devemos colocar nossas táticas políticas em função dos acordos que possamos buscar com os setores mais perspicazes da classe trabalhadora e da juventude explorada e oprimida.

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