Quinta 25 de Abril de 2024

Movimento Operário

4.270 DEMISSÕES NA EMBRAER

Uma derrota produto de uma luta não dada

25 Apr 2009   |   comentários

Em março passado, no número 54 do jornal Palavra Operária, escrevemos um artigo que pretendia dialogar com a direção e os sindicalistas do PSTU-Conlutas em São José dos Campos, diante da gravidade das 4.270 demissões na Embraer. Já no título indagávamos sobre a estratégia dos setores combativas para “enfrentar as demissões” , perguntando: “com pressão e negociação ou combate de classe?” Essa pergunta pretendia abrir uma discussão sobre qual a estratégia dos combativos, da esquerda, diante dos ataques patronais que buscam descarregar a crise capitalista sobre os ombros dos trabalhadores, com demissões, suspensões de contratos de terceirizados e contratados, PDVs, licenças remuneradas, reduções de jornada com reduções salariais, entre outras medidas patronais.
Denunciávamos a estratégia das direções pelegas que “se aliam aos capitalistas iludindo os trabalhadores de que não há outra alternativa que não seja aceitar os males da crise” , atando a luta operária à “tática de pressionar os patrões com manifestações e até paralisações esporádicas, por fora de um verdadeiro plano de luta ’ plano de guerra da classe trabalhadora contra a classe inimiga” .

O que para alguns poderia parecer exagero de nossa parte, infelizmente se confirmou: 4.270 demissões na maior fábrica da base da Conlutas se configurou numa derrota produto de uma luta não dada. Sendo parte da Conlutas não nos furtamos ao dever de explicar aos setores combativos que tratava-se de combater a estratégia dos dirigentes da Conlutas e do PSTU, na figura de Mancha (dirigente do PSTU e secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos), que utilizavam sua autoridade entre os trabalhadores para impor a estratégia impotente de “organizar caravanas (de dezenas de trabalhadores) para pressionar Lula, com o objetivo de pressionar a patronal a abrir negociação com o sindicato” , quando estávamos diante de um grandes inimigos como a patronal da Embraer e o governo Lula (seus parlamentares, partidos, imprensa etc.). Denunciamos que a direção da Conlutas e do sindicato em São José dos Campos alimentava as ilusões dos trabalhadores na justiça burguesa, quando deixava de encarar a sentença favorável da justiça em 1ª instância (suspendendo as demissões) como uma “”˜manobra”™ a ser utilizada na luta operária condicionada aos métodos e objetivos [dos] trabalhadores” para comemorar a decisão dos juízes como uma “vitória” , chegando ao absurdo de fazer um ato público na porta da Embraer ao lado de pelegos da Força Sindical e da CTB, que estão com o governo Lula e os patrões em todo o plano capitalista.

Como alertamos, no momento, Mancha, secretário-geral dos metalúrgicos de São José dos Campos e dirigente do PSTU, iludia os trabalhadores e deixava de preparar uma luta séria contra as demissões quando declarou em entrevista que as 4.270 demissões decretadas pela empresa “não existiam” porque a Justiça burguesa havia decidido contra, e o plano central que propunha era abrir uma campanha “pela reestatização da Embraer” , que não passa de propaganda política sem qualquer efeito prático para o problema real dos demitidos, e uma jornada de atos de pressão para que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) ’ instância máxima da justiça trabalhista burguesa ’ confirmasse a decisão judicial de 1ª instância. O resultado, que estava “escrito nas estrelas” , não poderia ser outro: o TST julgou a favor da empresa, homologando as demissões, até mesmo negando as indenizações de dois salários determinadas pela justiça de 1ª instância. Será que os dirigentes da Conlutas, do sindicato e do PSTU, com mais de 20 anos de experiência militante, tinham alguma esperança de que seria diferente?

Quase dois meses depois dos nossos alertas, a direção dos metalúrgicos de São José dos Campos, da Conlutas e do PSTU, não mudaram absolutamente um palmo em sua estratégia de pressão e negociação. O máximo que fizeram foi organizar, ao lado da Intersindical, junto com os pelegos da CTB-PCdoB, CUT, UGT e NovaCentral Sindical um ato de lançamento do Comitê pela Reestatização da Embraer, em São Paulo (longe de São José, dos trabalhadores demitidos e dos que continuam na fábrica), que reuniu 200 pessoas (dados “oficiais” ) na Assembléia Legislativa de São Paulo (outra vez distante dos operários demitidos), com o objetivo abstrato de comandar “as mobilizações para reivindicar uma Embraer controlada pelo Estado e pelos trabalhadores” . Como pode-se falar em lutar por uma empresa estatizada e sob controle operário depois de fracassar na luta básica contra as 4.270 demissões? E, além disso, a quem pretendem enganar com um comitê formado que reúne “representantes da CONLUTAS, Intersindical, CTB e CUT” , junto com partidos de conciliação como o PCdoB, que defende diariamente os propósitos dos patrões e do governo Lula, ou o próprio PSOL, que posa de “oposição” mas defende o mesmo programa burguês de redução dos juros e “desenvolvimento” , junto com a CUT, CTB, Força Sindical, Fiesp e Cia.?

Com esses “aliados” os trabalhadores da Embraer e da Conlutas poderão vencer os patrões? No dia 30 de março, mal chamado Dia Nacional de Luta, a direção da Conlutas, com Mancha na primeira fila, esteve lado a lado com os pelegos da CUT, CTB, CGTB, UGT e Força Sindical falando em carros de som pela avenida Paulista defendendo a política patronal de “redução de juros” , colorida com a reivindicação operária de que os trabalhadores não vão pagar pela crise. Enquanto isso, na vida real, os sindicalistas da Conlutas-PSTU em São José dos Campos voltam à rotina natural dos sindicatos “adaptados” , preocupados em garantir as mais de “300 homologações diárias” , ou seja, garantir o “carimbo” sindical para fazer valer as demissões. Enquanto isso, para os trabalhadores sobra o desemprego, as licenças remuneradas, as suspensões de contratos temporários, os PDVs ou os acordos de redução de jornada com redução de salários.

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