Quinta 25 de Abril de 2024

Movimento Operário

BANCÁRIOS

Um pequeno exemplo do que uma intervenção revolucionária deve buscar

20 Oct 2011 | “Então o Sindicato vai se vangloriar por essa "conquista histórica" ? O que vai entrar prá história é a votação das propostas na penúltima assembleia. Seria cômico se não fosse uma vergonha”. P., caixa da CEF “Isso só foi possível devido a mais uma manobra do Sindicato, que marcou assembleia para os bancos públicos e privados em locais separados. Onde já se viu isso??? A campanha é unificada, a assembleia não? Pra quê? Pra juntar um monte de PM (Pau Mandado) dos gerentes pra votar a favor da proposta. Essa manobra já foi manjada, nos aguarde pra próxima, ok.Vocês são caras de pau demais da conta. Todos nós sabemos que a mesa tremeu na última assembleia, onde perdeu duas votações e "manobrou" para o que era "melhor" para a mesa, e ainda houve a cara de pau de encerrar a assembleia com a seguinte frase: "Nós vencemos, assembleia encerrada". Cambada de covarde!” M., técnico bancário da CEF   |   comentários

Apesar de não termos uma atuação orgânica na categoria, estamos orgulhosos de ter contribuído para o surgimento de um novo ativismo de base que organizou uma verdadeira greve militante a partir do Piquete da Agência Sete de Abril.

O primeiro passo foi ter construído um piquete combativo de verdade, partindo do nosso próprio local de trabalho. Aqui pudemos nos reunir, sentir a força que possuímos quando nos unificamos, fortalecer os laços de confiança entre todos nós... Saber com quem você pode contar de verdade, na hora de entrar numa luta como essas, é essencial. Com as pequenas disputas territoriais que a manutenção do piquete exige, os trabalhadores ganharam já nos primeiros dias a consciência de que, a partir do momento em que saímos unidos na luta, a correlação de forças com os gestores havia se alterado completamente em favor dos trabalhadores.

Por outro lado, não é a mesma coisa você encarar um trabalhador que está hesitando sobre aderir ou não, conversar com ele, e ele saber que vai estar do seu lado no dia a dia quando a greve acabar. Um funcionário do sindicato não gera essa situação. Mesmo no caso do pior fura-greve, tem uma diferença grande aí.

A partir do piquete, que consolidou uma paralisação muito forte na agência, que chegou a parar até o auto-atendimento durante um dia e meio, os trabalhadores assumiram uma postura ativa na greve, e foi possível discutir, a cada dia, quais atividades eram prioritárias, como concentrar nossas forças e como distribuir tarefas. Num primeiro momento, o piquete se dirigiu aos bancos privados, onde a presença de ativistas de fora é mais importante para garantir o fechamento das agências. Lá confirmamos a vontade de aderir à greve entre os trabalhadores que sofrem com níveis insuportáveis de assédio. Depois, após constatar a peculiaridade do movimento deste ano, em que a política ditatorial da direção do BB conseguiu transformar esse banco em “retaguarda” do movimento, nos voltamos às agências do BB na região: lá pudemos confirmar a dificuldade objetiva nesse banco, mas ainda assim pudemos ajudar a paralisar parcialmente duas agências.

Já nesse momento, o que era para nós democracia interna da nossa organização por agência, se mostrou um forte ponto de apoio para combater a direção do Sindicato e lutar para que os trabalhadores tenham voz e possam decidir os rumos da luta. A prova de fogo foi a primeira assembleia depois de decretada a greve, em que conseguimos a partir da nossa organização e nosso combate na própria assembleia, impor à direção que abrisse um minuto (!) para que a base falasse. Na assembleia seguinte (de 05/10, disponível no youtube), atuando conjuntamente com as correntes de Oposição, pudemos impor derrotas à burocracia em duas votações importantes para o encaminhamento da greve, de modo tal que a direção teve que manobrar e encerrar a assembleia, e depois passou mais doze dias (até o final da greve) sem convocar mais nenhuma.

Mas o salto de qualidade foi quando fizemos uma avaliação política mais profunda da situação e enxergamos que a greve dos Correios era o verdadeiro teatro de batalha principal. Isso ficou muito mais claro depois do “ato unificado” que os Sindicatos dos ECTistas e dos Bancários negociaram fazer, onde os trabalhadores dos Correios eram a esmagadora maioria e o Sindicato dos Bancários se limitou a colocar seu aparato. Nessa passeata, desfilamos com nossa própria faixa denunciando as condições de trabalho que sofremos, e com cartazes levantando reivindicações que a direção cutista ignora (como a de “efetivação dos terceirizados” e a de “reposição das perdas históricas”). O apoio da juventude pró-operária, que estava lá apoiando a unidade das duas categorias contra o governo e a patronal, também foi fundamental. Os estudantes revolucionários, que sabem se colocar lado a lado na luta dos trabalhadores e mostrar que são dignos de sua confiança, sempre cumprem um papel importante para ampliar os horizontes dessa mesma luta.

A partir daí o caráter militante de nossa greve se impôs definitivamente: havíamos rompido a barreira invisível das “categorias” que esquartejam nossa classe; mais ainda, ao entrar em contato com os trabalhadores dos correios, que são de outro setor de classe muito mais explorado, e que estavam num nível de radicalização muito maior, os bancários também compreenderam muito mais profundamente que nossa luta era contra o governo e que não era apenas “mais uma luta salarial”. A partir de então, todos os companheiros bancários de diversas agências que tomaram o Piquete da Sete de Abril como referência, passaram a acompanhar a greve e as assembleias dos ecetistas como parte da nossa luta, e inclusive como o eixo principal. Era evidente que para o governo, a burguesia e seus órgãos de mídia também era assim. Mas a burocracia que dirige nosso Sindicato não desejava de nenhum modo uma unidade das lutas (no único ato unificado ficou claro que estavam ali “a contragosto”). Infelizmente a Oposição não colocou suas forças para impor essa unidade pela base.

Outro debate muito importante que fizemos durante toda a greve, de caráter programático, foi no sentido da necessidade de envolver os trabalhadores terceirizados e “estagiários” numa mesma luta. Essa é a única via para que possamos paralisar os bancos totalmente, e não apenas uma pequena parte dos serviços como acontece hoje. Ao mesmo tempo, essa luta colocaria de uma maneira direta o combate por salários e direitos iguais para todos os terceirizados, dentro e fora das agências (incluindo “correspondentes” e lotéricas, no caso da CEF).

É claro que, numa categoria tão grande e “atomizada” como são os bancários (e mesmo considerando somente os da CEF), é difícil avançar mais profundamente para colocar em prática uma luta conjunta desse tipo a partir de um único ou de poucos locais de trabalho. Porém essa necessidade estratégica não poderá ser respondida apenas com um argumento “técnico” desse tipo. É tarefa de todo militante classista e revolucionário pensar as formas de avançar rumo à verdadeira unidade de toda a classe contra seus exploradores. E ir fomentando laços de solidariedade de classe entre os efetivos e os terceirizados, combatendo os preconceitos que fazem com que os efetivos “naturalizem” essa diferenciação e até se regozijem dela.

Por fim, o combate ativo à burocracia sindical, que já se manifestava em nossa organização de base, no método do piquete no local de trabalho que adotamos, nos combates diretos nas assembleias, nos materiais públicos que elaboramos coletivamente e levamos – com a assinatura do nosso Piquete da Sete de Abril – para elas, e para levar nosso apoio nas dos ecetistas, também deu o tom na reta final da nossa intervenção na greve.

No momento decisivo para o Sindicato enterrar nossa greve, com a manobra de divisão em três assembleias, e com a vinda em massa dos dirigentes dos bancos públicos para dar maioria ao Sindicato no BB e na CEF, os companheiros reunidos no Piquete da Sete de Abril fomos em peso na Tabatinguera, em frente à Quadra dos Bancários, no posto de credenciamento que servia tanto aos bancos privados quanto ao BB, e lutamos até o final para convencer as demais correntes de Oposição de que ali seria travado o único combate capaz de impedir o triunfo da burocracia e o fim da greve.

Nesse sentido, partindo de colocar todas as forças para que a categoria triunfe em suas reivindicações, buscamos organizar o maior número possível de trabalhadores numa luta que se coloque, de forma consciente, contra o “modelo” brasileiro de superexploração, em que uma enorme massa ganha uma miséria, e quem ganha um salário um pouco menos miserável, como um bancário, já é visto como “privilegiado”, quando na verdade não dá para garantir nem o mínimo para uma família em saúde, educação, alimentação, etc.

Por isso o saldo subjetivo da greve, para além da derrota que a direção do Sindicato impôs à categoria, foi também de que um setor de trabalhadores avançou em sua consciência de classe e na necessidade de combater para superar a burocracia e tomar suas lutas em suas mãos, único modo de impor derrotas decisivas ao governo e à patronal.

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