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Bolívia

Um passo na luta para pôr de pé os assalariados de El Alto

29 Apr 2007   |   comentários

A Central Operária Regional de El Alto (COR) cumpriu um papel importante nas mobilizações dos últimos anos, ganhando prestígio junto a FEJUVE (Federação de Juntas Vecinales - representações de bairro). Apesar do nome somente poucos dos 100.000 assalariados altenhos estão representados na COR. Mas um profundo processo de organização sindical entre os trabalhadores assalariados está mudando o panorama altenho. Há também um processo de experiência política de setores avançados com o governo Evo Morales, fruto da inconsistência de suas promessas e do desencanto com a “nacionalização dos hidrocarbonetos” , que com os novos contratos deixa nas mãos das petroleiras o grande negócio da exportação de gás.

Estes fenómenos se expressaram em torno do Congresso Orgânico da COR, que se realizou entre 10 e 16 de abril em El Alto, que devia discutir a incorporação formal das novas organizações sindicais surgidas nos últimos anos. O Congresso foi imposto como subproduto de uma dura batalha nas reuniões ampliadas do Comitê Executivo, já que a atual direção, encabeçada por Edgar Patana (do MAS), queria ir diretamente ao Congresso Ordinário (que adotará decisões políticas e elegerá uma nova direção). Todas suas manobras buscavam excluir os sindicatos assalariados como SITRASABSA, petroleiros de Senkhata, telefónicos e outros, organizados com importantes lutas. Pensava abrir o caminho a um Congresso Ordinário burocrático e oficialista, com a esquerda excluída ou “censurada” .

Nas semanas prévias se formaram três blocos: o primeiro, diretamente vinculado ao governo entretanto é mais fraco, pois seu dirigente, Patana, está muito desprestigiado por seu burocratismo e seu papel desmobilizador. Um segundo setor era encabeçado por Braulio Rocha, antigo dirigente das associações, ala direita do MAS dentro da COR. Finalmente surgiu um terceiro pólo, o Bloco Operário e Popular (BOP), como a esquerda operária no congresso. Este se conformou com cerca de 16 sindicatos com todos os assalariados (exceto da saúde) e alguns setores populares como a Federação de Mercados, que tem cerca de 10.000 afiliados. Este grupo de sindicatos é minoritário em número frente a ampla lista de afiliados; entretanto, se apóia em setores de importância estratégica, como o aeroporto e os petroleiros, e sua força estava em expressar o processo operário. O BOP foi articulado e dirigido basicamente pelo magistério urbano de El Alto e o combativo SITRASABSA (aeroportuários), encabeçados por militantes do POR-Massas e LOR-CI.

Dura luta em um congresso burocrático

O surgimento do Bloco Operário e Popular, fortalecido pelos sindicatos dos assalariados de esquerda, se constituiu em um importante desafio político para Patana e Rocha, ainda que enfrentados pela disputa burocrática de cargos, selaram no início do congresso um acordo para diminuir a participação dos trabalhadores assalariados e inclusive, para excluí-los da COR, negando-lhes o direito de falar.

Este acordo teve como eixo preservar a direção para a burocracia e manter o caráter social da COR, hoje essencialmente de associações por categoria, contra os assalariados. Politicamente, Patana e Rocha concordam em manter a central altenha como um instrumento de contenção a serviço do governo.Esta frente burocrática usou de provocação aos membros do BOP; agressões e ameaças aos companheiros do SITRASABSA e mentiras contra a Casa Operária e Juvenil de El Alto para reter o controle do congresso.

Entretanto, a burocracia teve que reconhecer após uma dura batalha, a incorporação formal dos sindicatos assalariados, inclusive SITRASABSA (algum burocrata havia jurado que “isso seria sobre seu cadáver” ) outorgando um delegado pleno para cada sindicato, e não pode abafar o pólo operário, combativo e fortalecido pelos trotskistas.

O BOP, um fenómeno progressivo

O BOP expressou um fenómeno novo por sua composição social, com peso dos trabalhadores assalariados. Expressa ainda que de forma distorcida e de maneira superestrutural, a recomposição operária em El Alto, assim como a incipiente diferenciação política frente ao governo do MAS. É interessante que tenha participado desta luta um sindicato de tão recente formação como o dos estivadores de cimento (SOBOCE), constituído há poucos dias com o apoio da Casa Operária e Juvenil e do SITRASABSA. O programa do BOP reivindicou essencialmente a luta pela democracia sindical e o respeito às minorias, contra a exclusão dos trabalhadores assalariados, pela independência política e sindical da COR em relação aos partidos burgueses, o Estado e o governo do MAS. Reivindicou também a necessidade de que a COR assuma a luta contra o aumento do custo de vida, e retome a luta pela nacionalização genuína dos hidrocarbonetos. Também abriu o debate sobre a centralidade operária, insistindo em que o proletariado pode cumprir um papel dirigente na aliança com os demais setores populares, o que deveria se refletir na organização da central altenha.

No entanto, desde o ponto de vista político e frente ao papel desempenhado pela esquerda trotskista (LOR-CI e POR-Massas), o bloco era politicamente heterogêneo. Em seu seio havia alguns setores burocráticos e masistas descontentes, que aceitaram o programa mas não estavam dispostos a defendê-lo conseqüentemente. Isto explica algumas traições, especialmente a do sindicato dos petroleiros de Senkhata ou a atitude conciliadora do sindicato COTEL (telefónicos), o que debilitou a luta do BOP na reta final.

Redobrar a luta pela organização operária independente

Isso mostra que a burocracia não póde impedir o surgimento de uma ala esquerda e de base operária. A moção defendida pelo BOP está sobre a mesa: organizar os trabalhadores, impor a democracia sindical, independência sindical e política em relação aos partidos burgueses e ao governo do MAS. SITRASABSA e outros sindicatos e grupos de trabalhadores, assim com a Casa Operária e Juvenil e a LOR-CI, concordamos que o acontecido é um primeiro round. Por isso é necessário não abandonar a batalha que iniciamos conjuntamente com o BOP e impulsionar juntos a diversos setores o movimento pela organização operária independente, fazendo de El Alto um bastião.

Traduzido por Clarissa Lemos

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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