Quarta 24 de Abril de 2024

Nacional

CONGRESSO DA CONLUTAS E CONGRESSO NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA

Um debate sobre o processo de unificação da Conlutas com parte da Intersindical

23 Apr 2010 | Apresentamos uma contribuição ao debate necessário em torno do caráter , estratégia e prática política que terá esta nova central e a serviço do que estarão estes dois congressos. Antes das questões organizativas iniciamos esta discussão pelo debate político que é o fundamental para poder avançar no classismo e em um programa de independência de classes que arme a vanguarda para apresentar uma alternativa para a classe trabalhadora brasileira a partir da luta de classes.   |   comentários

Mau começo: as teses
falam de quase tudo mas
esquecem de começar com
um balanço honesto do
que já foi feito

Todas as teses partem do
propósito comum de fundar uma
nova central sindical fundindo a
Conlutas com a Intersindical, a
Pastoral Operária de São Paulo, o
MTL e o MAS. Esta central seria,
no futuro, classista, democrática,
socialista e internacionalista. Contudo,
as teses deixam de tratar de
uma questão funda-mental para
quem, de fato, deseja construir
uma organização de luta capaz de
enfrentar os desafios impostos
pela exploração capitalista, seus
governantes e o Estado burguês.
Deixam de lado pura e simplesmente
um balanço de como essas
correntes atuaram principalmente
a partir de janeiro de 2009
quando, no Fórum Social Mundial,
no Pará, decidiram “unificar-se
para fundar uma nova central”.
Como se pode começar algo novo
sem ajustar as contas com o que já
foi feito?

Por certo, na opinião dessas três
correntes principais no processo
de unificação, os congressos
podem ser feitos apenas para
homologar a fusão e fundação da
nova central, pois todas as demais
questões – programa e estratégia
– podem ser “resolvidas” tão
somente com a repetição de
“princípios” como “defesa do
socialismo”, “classismo”, “democracia
operária”, “internacionalismo”.
Para dar consistência a
esses princípios fundamentais
seria obrigatório debater com
todas as letras, e livremente, um
balanço do que fizeram essas
correntes diante das necessidades
reais do último período.

Por exemplo, desde o estouro da
crise capitalista mundial, em
setembro de 2008, os trabalhadores
foram atacados com
demissões, cortes de direitos e
salários, extensão da jornada de
trabalho com horas extras, mais
precarização do trabalho e
rotatividade no emprego. Os
sindicalistas vendidos à patronal e
ao governo, da CUT, Força
Sindical, CTB e Cia., responderam
entregando o que os patrões
queriam, aceitando as demissões e
pedindo ao governo Lula dinheiro
para as empresas “investirem”. Já
escrevemos repetidas vezes sob a
luta não dada em diversas bases da
Conlutas que sofreram importantes
ataques e onde a desculpa
era que os trabalhadores não
estavam dispostos a lutar, estavam
desmoralizados.A Intersindical e a
Pastoral Operária também não
estiveram à altura para contribuir
com uma prática e um programa
sindical combativo, classista e
anticapitalista, nem sequer para
garantir a unidade de todos os
seus sindicatos com os trabalhadores
da Embraer e as
organizações da Conlutas. Todos
estavam “trabalhando para a
unificação” mas na luta real cada
um estava cuidando dos “seus”
problemas”.

A luta contra as demissões e os
ataques patronais poderia até ser
derrotada, pois não depende
unicamente da nossa disposição,
programa e combatividade, porém
os resultados políticos, programáticos
e organizativos alcançados
por uma efetiva unidade de
todos os setores que se dizem
combativos, em torno de um
programa comum e concreto para
que “os capitalistas paguem pela
crise” e não os trabalhadores,
teriam sido muito importantes
para preparar os próximos
combates, e fortaleceriam muito o
processo de consolidação de uma
nova central sindical classista,
combativa e anticapitalista. Não foi
assim, e agora, nos congressos, só
nos resta extrair a lição de que as
derrotas são piores quando são
fruto de lutas não efetivadas ou já
consideradas incapazes de
alcançar vitórias.

Todos falam em classismo
e fim do corporativismo
mas a prática política e o
programa não são
coerentes

Nas três teses, esses princípios
são repetidos à exaustão, como se
assim pudessem se tornar reais.
Primeiramente, seria o caso de
perguntar o que se compreende
por “classismo”. Pelas teses
majoritárias trata-se primeiramente
de “vincular as reivindicações
imediatas e suas lutas
econômicas à luta política geral
contra o capitalismo, à denúncia
permanente deste sistema de
exploração”, como afirma a tese
do PSTU. Ou, então, “transformar
cada luta corporativa (...) em uma
luta de classe contra o
capitalismo”, com “centralidade na
ação direta”. Alguém pode estar
contra essas formulações gerais?
Não!

Contudo, para ser classista uma
organização precisa antes de tudo
defender no programa e na prática
a unidade de toda a classe
trabalhadora, fazendo com que
toda luta seja efetiva para
conquistar essa unidade, não
aceitando ou naturalizando a
divisão dos trabalhadores entre
terceirizados, temporários e
efetivos. Por mais que todos digam
que são classistas, cabe perguntar
por que em seus sindicatos e em
nas lutas que dirigem os planos de
luta nunca colocam a centralidade
de unificar em todo momento os
trabalhadores efetivos (representados
por esses sindicatos) com
temporários e terceirizados,
demonstrando na prática que
“trabalhador é trabalhador, não
importa seu crachá”. Qual
classismo pode haver quando os
terceirizados sequer podem se
filiar e ser representados pelos
sindicatos dos efetivos, ou
participar com todos os direitos
nas comissões de fábrica, conselhos
de representantes ou outros
organismos sindicais? O que
impede aos sindicatos da Conlutas
(e da Intersindical) aprovarem em
seus estatutos esses direitos aos
terceirizados, mostrando, na prática,
que não aceitam a intromissão
do Estado e das suas leis
reacionárias na organização de
classe dos trabalhadores?

Outro tema recorrente nas teses
é sobre o fim do corporativismo,
isto é, um sindicalismo que
defenda os interesses de toda a
classe trabalhadora e dos pobres
urbanos e rurais. Porém, o que
temos visto não coaduna com
esses discursos. As lutas e greves
continuam isoladas por categorias,
deixadas à própria sorte. Os
sindicatos da Conlutas, da
Intersindical ou os setores da
Pastoral Operária não têm
servido para dar exemplos para o
fim do corporativismo, ao menos
fosse apenas entre os que estão
no processo de unificação. Por
exemplo, desenvolvendo uma
campanha de solidariedade à
importante greve dos funcionários
da USP do ano passado ou, nas
últimas semanas, em apoio ativo à
greve dos professores de São
Paulo.

Como se vê, na prática o combate
ao corporativismo ainda não se
deu sequer entre os sindicatos da
Conlutas e da Intersindical. Muito
menos em relação ao povo pobre,
que na maioria das vezes não
conta com qualquer organização
combativa para lutar por seus
direitos e contra as catástrofes
capitalistas. Durante as inundações
na Zona Leste e diante do descaso
do governo Kassab e Serra, os
moradores (a maioria trabalhadores)
ficaram sem qualquer
apoio dos sindicatos. Nas últimas
semanas vivemos outras catástrofes,
principalmente a do Rio de
Janeiro. Outra vez não vimos da
parte da direção da Conlutas e da
Intersindical qualquer plano concreto
convocando seus sindicatos
e organizações a preparar a
solidariedade ao povo fluminense
em torno de um programa classista
que enfrente os interesses
dos capitalistas.

Outra expressão da incoerência
entre a declaração de classismo, a
superação do corporativismo e a
prática concreta é que nenhuma
tese sequer menciona o processo
eleitoral de outubro deste ano.
Todas as principais correntes
estarão envolvidas nas candidaturas
de Zé Maria ou de Plínio de
Arruda Sampaio mas a discussão
na vanguarda dos trabalhadores
reunidas no congresso não poderá
se posicionar a respeito. Deste
modo, defendemos que o Conclat
se pronuncie por uma candidatura
de independência de classe, que
para nós seria a de Zé Maria
(PSTU), e que esta candidatura
defenda os pontos programáticos
e a efetiva coordenação das lutas
dos trabalhadores que for aprovada
neste congresso, fazendo avançar
a luta dos setores combativos
para um verdadeiro classismo,
expressando politicamente a organização
e as reivindicações da
classe trabalhadora sem qualquer
conciliação e aliança com a burguesia,
seus partidos e o Estado
burguês. Diante desse balanço
negativo, resta a todos os ativistas
e dirigentes da Conlutas e da
Intersindical debater pra valer os
caminhos e as medidas para
verdadeiramente atuarmos de
maneira classista e anticorporativa,
fazendo com as palavras
e os princípios passem a guiar
nossa ação prática de modo a
mostrar as diferenças que nos
dividem dos sindicalistas governistas
e patronais, dando exemplos
de como devem atuar os
sindicatos combativos no sentido
de convencer ao menos, por ora,
os trabalhadores efetivos desses
sindicatos para se sensibilizarem e
mobilizarem em defesa das reivindicações
dos temporários e
terceirizados e do povo pobre,
fazendo com que as palavras
“classismo” e “anticorporativismo”
sejam compreendidas e
assumidas como bases sólidas
para preparar uma nova central
sindical definitivamente classista,
combativa e anticapitalista.

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