Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

Um ano e meio de governo Lula

05 Jul 2004   |   comentários

A burguesia e o governo brasileiro entregam todos os anos bilhões para os capitalistas mais ricos do mundo enquanto o povo brasileiro amarga na miséria. No seu primeiro ano de governo, Lula pagou R$ 149 bilhões aos detentores de títulos da dívida interna. “É uma quantia 5 vezes maior que os gastos autorizados com saúde pública, 8 vazes maior que os gastos autorizados em educação, 28 vezes maior do que em transportes (...), 50 vezes maior do que em prevenção do ambiente, 70 vezes maior do que em ciência e tecnologia, 140 vezes maior do que em reforma agrária e 700 vezes maior do que em saneamento básico. Os números dispensam comentários.” [1]. Segundo estimativas do Banco Central, os capitalistas estrangeiros que têm suas empresas instaladas no país remeterão US$ 6,6 bilhões em 2004 para suas matrizes nos Estados Unidos, Europa e Japão. Somado aos US$ 15,9 bilhões previstos para serem pagos em juros ao exterior, são US$ 22,5 bilhões que saem do país para engordar os bolsos dos capitalistas mais poderosos do planeta.

No entanto, essa enorme quantidade de dinheiro que é destinado para o exterior não é feita em reais, e sim em dólares. Como o Brasil não emite dólares, a burguesia brasileira depende da entrada desta moeda no país para que possa ser trocada por reais. Para atrair a entrada de dólares, o governo mantém taxas de juros, corta investimentos sociais (educação, saúde etc.) e em infraestrutura e aumenta os impostos sobre o consumo e sobre a produção. Com isso, garante uma alta rentabilidade para os capitalistas especuladores e mostra compromisso com o pagamento de suas dívidas. Mas, como se isso não bastasse, a dívida segue crescendo mês a mês.

Ao longo de 2003, os países imperialistas mantiveram taxas de juros extremamente baixas para estimular o crescimento de suas economias, que vinham passando por uma forte crise desde 2001. Essa situação permitiu um fluxo extraordinário de capitais especulativos para países como o Brasil em busca de maior rentabilidade. Somada ao grande volume de exportações (a venda de produtos brasileiros para o exterior também provoca a entrada de dólares no país), essas são as condições que têm permitido à burguesia e ao governo conseguir os dólares necessários para cumprir seus compromissos com os capitalistas no exterior no último período. Essas também foram as condições que permitiram uma gradual mas constante redução das taxas de juros no Brasil ao longo do ano passado. No entanto, as pressões inflacionárias nos EUA colocam uma perspectiva de aumento das suas taxas juros em 2004. Essa mudança no cenário internacional provoca um movimento dos capitais especulativos em busca de maior da rentabilidade e da segurança da economia norteamericana. Desde janeiro deste ano o Brasil já começa sentir as conseqüências deste novo cenário na medida em que o fluxo de capitais especulativos internacionais para o país passou a ser mais difícil. Esse é o motivo que está por trás da interrupção do ritmo de queda das taxas de juros que vinha se operando em 2003.

O retorno da inflação

Apesar de que o governo, ao longo de 2003, tenha feito uma verdadeira festa em torno do suposto “controle” da inflação, nós, trabalhadores, em nenhum momento deixamos de sentir nosso salário ser comido pelo aumento dos produtos mais essenciais. Só a partir de janeiro deste ano, com uma série de combinações que passam a agravar as pressões inflacionárias, é que o governo passa a reconhecer essa realidade.

A mesma alta do preço dos commodities exportados pelo Brasil no mercado internacional que impulsionou o aumento do volume das exportações agora vem pressionar os preços dos produtos brasileiros para cima. É que grande parte dos commodities exportados também são utilizados como matéria prima aqui no Brasil, e a cotação de preços no mercado internacional é a mesma que vigora no mercado interno. Não com menos contradição, o aumento dos impostos feito pelo governo hoje funciona como um tiro no seu próprio pé, pois tem gerado (principalmente no caso da Confins) o repasse deste aumento ao preço dos produtos.

Com a alta dos juros nos EUA e conseqüentemente com as novas dificuldades para a entrada de dólares no país, a moeda estrangeira passou a valer mais, deixando de oscilar em torno de R$ 2,85 como no segundo semestre do ano passado e passando a oscilar em torno de R$ 3,10 como nos últimos dois meses. Esse aumento também funciona como uma pressão adicional à inflação interna, pois diversas mercadorias produzidos no Brasil utilizam matériasprimas importadas que têm seus preços fixados em dólar.

Somamse a esses elementos a recente alta do petróleo no mercado internacional, que já tem seus primeiros efeitos no Brasil no recente aumento do preço dos combustíveis. A alta do preço do petróleo é provocada pela ameaça de crise do fornecimento em função dos conflitos no Oriente Médio (aos quais hoje se soma o conflito na Venezuela) somada à recuperação do crescimento da economia mundial, que tem aumentado a demanda por este que é um dos principais commodities consumidos em todo o mundo.

A alta dos juros nos EUA, assim como as novas pressões inflacionárias, em perspectiva funcionam como uma perda no sapato do governo para sustentar os atuais níveis de crescimento.

[1Extraído do site outrbrasil.net, César Benjamim, 6/062004.

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