Sexta 19 de Abril de 2024

Movimento Operário

Um 1º balanço da greve nas universidades estaduais paulistas

05 Jul 2006   |   comentários

De 08/06 a 30/06 de junho se desenvolveu dentro das universidades estaduais paulistas uma greve que combinava a luta económica com a luta política: a luta por um reajuste salarial de 7%, com a luta pelo aumento do repasse de verbas para a educação. Combater o arrocho salarial, lutar pela assistência estudantil para todos os estudantes, efetivar os trabalhadores terceirizados e precários para que tenham direitos e salários iguais a todos os trabalhadores, são tarefas que dependem do aumento de verbas. Hoje os governos suprimem verbas da universidade justamente para abrir as portas para a privatização, para que a universidade seja um campo aberto para empresas.

A luta contra o governo do estado

A política de sucateamento implementada pelo governo não se restringe às universidades. O governo e todos os deputados, inclusive aqueles que falam em nome do aumento de verbas, tem um acordo comum: o sucateamento dos serviços públicos e a utilização o orçamento de forma a que sobre ainda mais dinheiro para empresários e banqueiros. Ao mesmo tempo, os reitores, que seguem à risca essa política, utilizam as verbas para expandir a privatização.

Hoje, o que unifica e divide professores, estudantes e trabalhadores nas universidades é uma questão política. A polarização existente se dá entre aqueles funcionários, estudantes e professores que defendem a privatização (por estarem materialmente e/ou ideologicamente ligados) e aqueles que se organizam para acabar com a terceirização e a super-exploração do trabalho, para lutar por assistência estudantil, por melhores salários, contra as Fundações e, para conquistar estas reivindicações, por mais verbas para a educação. A luta por mais verbas deve ser encarada como uma luta contra essa política, dirigida pelo governo, em acordo com todos os partidos do Congresso e com as reitorias.

Por isso, ao contrário das greves por reajustes salariais, que se enfrentaram apenas com o Cruesp, a luta por mais verbas para a educação se enfrenta também contra o governo estadual e todos os partidos políticos que representam os empresários, os grandes interessados que os gastos sociais do governo sejam cortados e repassados para suas empresas. Desde o ano passado, esse enfrentamento vem sendo facilitado pela crise aberta entre PFL e PSDB, que explicamos no jornal Palavra Operária anterior.

O que foi...

Nesta greve, se expressaram diferentes posições. Os setores mais radicalizados, em nível de mobilização e politização, foram os funcionários de USP e Unesp. A partir de uma luta que vem sendo trava no interior da categoria desde a greve de 2000, assimilada pelo conjunto dos trabalhadores mais ativos no IV Congresso, a organização dos trabalhadores da USP começa, com esta greve, a não mais se limitar pelas questões imediatas, unificando a necessidade do aumento salarial com a necessidade de lutar por mais verbas. Os trabalhadores da Unesp também estiveram na linha de frente da mobilização, com diversos campi em greve. Não à toa, os trabalhadores da USP conseguiram aumentos em benefícios e uma referência (que significa 5% do salário) para janeiro como acordo de fim de greve e os trabalhadores da Unesp, aumento do vale alimentação. Foi um importante avanço na consciência dos trabalhadores o fato de terem conseguido fazer uma greve com ampla adesão mesmo sem a participação dos professores, o que há muitos anos não ocorria. O absurdo do Hotel 5 estrelas que a reitora da USP planeja construir, que o governador utilizou como justificativa para negar o aumento de verbas, permitiu que entre trabalhadores e estudantes da USP avançássemos alguns passos na discussão sobre a gestão do orçamento universitário e a democratização da estrutura de poder da universidade; que não deve estar a serviço dos interesses de privilegiar uma casta minoritária de professores e sim de atender às demandas da maioria dos estudantes, funcionários e professores.

Por outro lado, o processo de mobilização não se expandiu para os demais setores de funcionários, professores e estudantes das três universidades, impossibilitando que a luta avançasse no enfrentamento contra o governo do estado e na conquista de mais verbas. Mas por que?

Desde 2000 o Fórum das Seis vem separando a luta salarial da luta por mais verbas, perdendo a confiança dos estudantes na medida em que suspende o processo de mobilização frente à conquista de reajustes salariais rebaixados e sem levar em consideração as reivindicações dos estudantes. As associações de docentes não separam entre os professores de sua base “o joio (professores de direita ligados às fundações e aos tucanos) do trigo (professores de esquerda que podem se ligar aos trabalhadores e estudantes)” ; chegando ao ponto da Adusp apoiar os professores reacionários da ECA que buscavam furar o piquete dos trabalhadores nesta unidade. Os DCEs (e especialmente na USP, onde o PSOL dirige e/ou influencia também vários centros acadêmicos) não questionam esta política do Fórum das Seis e se negaram a organizar reuniões de unidade e assembléias para preparar a greve com antecedência. A direção do STU (Sindicato dos trabalhadores da Unicamp) faz parte do PCdoB (partido que sustenta o governo Lula), o que a impede de impulsionar qualquer luta conseqüente contra a política de sucateamento e privatização da educação pública implementada pelo governo do estado, pois esta pouco se diferencia da política do governo Lula de transferir verbas do ensino público para o ensino privado através da reforma universitária. O Fórum das Seis organizou a greve para em fim de semestre para servir de pressão aos deputados que poderiam votar a favor do aumento. A organização do movimento esteve pautada em "convencer" os deputados de concederem algum aumento (mesmo que insuficiente perto do que necessitam as universidades) e não em impulsionar medidas que impusessem pela força da mobilização a esses mesmos deputados e ao governo o aumento de verbas realmente necessário para reverter o processo de privatização e a elitização das universidades. Os setores da Conlutas que militam nas outras categorias do funcionalismo público não conseguiram mobilizar minimamente suas bases para aderirem nem mesmo aos atos na ALESP. Estes são os motivos centrais que impediram que a greve avançasse para um patamar superior.

E o que pode ser...

O passo à frente que demos entre os funcionários da USP, de ligar a luta económica por salário à luta política por mais verbas, deve servir como ponto de partida para questionarmos o caráter elitista da universidade, na qual estudam os filhos da burguesia e da classe média alta, mas onde os filhos dos trabalhadores não têm acesso. A luta defensiva contra a privatização e o sucateamento da universidade pública deve servir como ponto de partida para a luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores; uma universidade que, com o fim do vestibular, os filhos dos trabalhadores tenham ingresso direto e irrestrito e o conhecimento nela produzido esteja a serviço do povo explorado e oprimido e não a serviço de enriquecer os capitalistas como é hoje. Para tal, devemos ligar esta luta à luta contra a atual estrutura de poder, pois são a maioria dos estudantes, funcionários e professores, organizados a partir de suas assembléias, os que devem administra-la, e não uma casta de professores privilegiados.

Devemos lutar para aprofundar para aprofundar a relação entre os setores mais combativos da universidade, especialmente os que estão ligados à Conlutas entre os trabalhadores (Sintusp e Sintunesp) e entre os estudantes as agrupações que compõem a Conlute. Essa aliança deve estar a serviço de atrair os professores combativos e formar um pólo que lute para que o Fórum das Seis supere sua estratégia de separar a luta salarial da luta por mais verbas e da luta pela democratização da universidade.

Esta greve demonstra que uma de nossas principais bandeiras deve a resolução do IV Congresso de trabalhadores da USP que diz: “Lutar para que o Fórum das Seis funcione através de plenárias em que as decisões do movimento sejam tomadas pelo critério de maioria dos votos de representantes eleitos nas assembléias de cada um dos 3 setores” ; e o mesmo com relação à resolução que diz: “O 4º Congresso de trabalhadores da USP se propõe a lutar para que os trabalhadores da Unicamp organizem uma oposição sindical em sua categoria” .

Para impor ao governo uma derrota política, é imprescindível que busquemos nossos aliados não só dentro mas também fora da universidade, unificando todos aqueles que são atingidos pelo sucateamento dos serviços públicos. Os trabalhadores do Centro de Saúde Escola Butantã, que atendem a toda a comunidade da região, receberam a solidariedade de muitos dos usuários, provando que as reivindicações daqueles que fazem a universidade funcionar não são tão diferentes daqueles que utilizam o serviço público. O que nos separa dos funcionários dos hospitais públicos? E o que nos separa de seus pacientes? Os grandes prejudicados com a política de sucateamento dos serviços públicos pelo governo somos todos nós que fazemos uso dos hospitais públicos e nossos filhos que estudam em escolas municipais ou estaduais.

Como militantes da Conlutas, acreditamos que em uma próxima mobilização a Conlutas deve organizar todas as forças necessárias para que Lembo seja derrotado. De que adianta fazermos parte da Apeoesp se não conseguimos convencer nem um professor ou estudante da necessidade de lutarmos por nossos interesses? A Apeoesp é uma entidade que deve estar à serviço da luta por mais verbas, e isso só pode acontecer se organizarmos os professores e estudantes dispostos a isso. Os próximos atos na Alesp devem ter uma coluna de todos nós, militantes da Conlutas, que aglomere não somente os setores mobilizados das universidades, mas que se unifique com todos os demais setores mobilizados contra os ataques do Estado.

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