Sexta 19 de Abril de 2024

Nacional

TRAGÉDIA EM SALVADOR

Tragédia em Salvador: 9 operários da construção civil mortos no canteiro de obras

27 Jul 2011   |   comentários

No último dia 9, todos os jornais do país noticiavam a escandalosa morte de nove trabalhadores em um canteiro de obras da Construtora Segura (quanta ironia!) em Salvador. Estavam dentro do elevador, no 28º andar, quando este despencou a mais de 80m do chão. A construção foi interditada pela prefeitura da cidade e a perícia deve entregar o laudo com causas do acidente em 30 dias.

A tragédia soteropolitana, longe de ser incomum, é uma triste e absurda rotina em todo o Brasil. Somente nesta cidade somam-se 50 acidentes de trabalho apenas na construção civil, matando 15 operários e deixando 60 feridos. Os números nacionais são ainda mais alarmantes e expressam graficamente o descaso, a exploração e a banalização com que a vida, a saúde e a segurança dos trabalhadores é tratada pelos patrões, com a conivência dos governos. Segundo dados do INSS, entre 2007 e 2009 aconteceram mais de 2 milhões de acidentes de trabalho no país, mais de 8 mil mortes deles decorrentes e condenando à invalidez permanente mais 35 mil pessoas. A construção civil é a 5ª colocada no ranking dos acidentes, geralmente causados por falta de treinamento dos trabalhadores, falta de manutenção ou inexistência de equipamentos adequados de segurança.

Nos dias que se seguiram ao acidente já começaram a pipocar denúncias sobre as condições de segurança e assédios morais na obra do Edifício Empresarial Paulo VI. O trabalhador que operava o elevador não tinha sido treinado pela construtora para exercer este ofício. No elevador, que comportava 8 pessoas, estavam 9. O trabalhador Washington dos Santos, filho de uma das vítimas, que trabalha na obra com seu pai, denunciou ao jornal baiano Correio 24horas, que subiam 12, até 15 trabalhadores e que há dias o elevador já apresentava problemas [1]. Segundo técnicos da Superintendência Regional do Trabalho há indícios que apontam para manutenção inadequada do equipamento. Diretores do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira no Estado da Bahia (Sintracom-BA) denunciaram também a falta de técnicos de segurança nas obras das empresas responsáveis, as construtoras Segura e Santa Emília. Contratados em proporção menor do que a adequada, os técnicos faziam ronda em diversos empreendimentos, não estando nos canteiros para fazer a fiscalização permanente. Esta é a cena do crime cometido diariamente pela patronal ávida por lucros e cinicamente indiferente à vida dos trabalhadores. Esta é a cena que se repete todos os dias.

Manifestações operárias param Salvador em protesto e homenagem

Na quarta-feira, desde cedo, centenas de trabalhadores foram em ato aos enterros de seus companheiros. Passando nas obras e chamando os colegas, mais de 2 mil operários da construção civil marcharam no centro da capital baiana rumo ao Cemitério Bosque da Paz. O clima era de comoção e revolta. E mesmo neste momento, em que trabalhadores expressavam sua solidariedade e protesto, os patrões demonstram seu desprezo pela vida e morte dos empregados: ameaçaram cortar o ponto daqueles não fossem trabalhar para homenagear as vítimas!

O Brasil que cresce é o Brasil que super-explora, reprime e mata! É o Brasil das construções civis para a Copa, que enriquece grandes empreiteiras, contando com a conivência da burocracia sindical governista!

Tamanha barbaridade não poderia acontecer nos canteiros de obras e locais de trabalho sem a conivência dos governos e o silêncio dos sindicatos. O crescimento econômico do país no último período, vendido por Lula e Dilma como uma grande vitória na superação da pobreza, foi baseado na super-exploração dos trabalhadores, com trabalho precário, crescimento da terceirização e aprovação de leis que a institucionalizam, como o Super Simples. As obras do PAC, menina dos olhos da presidente e que estimularam o crescimento vertiginoso da indústria da construção civil, já foram paralisadas por mobilizações operárias contra as condições de trabalho desumanas e os salários baixíssimos. Jirau e a reforma do Mineirão expressam bem o projeto do PT: obras aceleradas para colocar de pé o Brasil “pra inglês ver” na Copa e nas Olimpíadas às custas de nossas vidas, saúde e salários! Dilma bate palmas para o “Brasil que avança” e dá as costas para a vida dos trabalhadores. Na Bahia a situação não é diferente. As relações entre o governador Jaques Wagner, também do PT, com as empreiteiras é bastante estreita. Dados de sua última campanha mostram que foram elas uma de suas principais financiadoras. Então, permanece o silêncio diante da tragédia do Edifício Paulo VI e a impunidade para os patrões! O senhor Wagner segue à risca o modelo do “Brasil do PAC” que visa 2014 e 2016 – usando verbas deste programa importou do Rio de Cabral as reacionárias UPPs nas comunidades de Salvador, aumentando a violência e repressão policial no estado que abriga a maior população negra do país. A previsão é que nos próximos cinco anos mais 162 unidades sejam implantadas na Bahia.

Ao mesmo tempo em que este Brasil avança sob nossas vidas, as centrais sindicais governistas selam a santa aliança entre o governo e as empreiteiras. Deixando muito claro que não são um instrumento que está à serviço dos interesses, das lutas e das mobilizações dos trabalhadores, e a despeito de suas recentes rusgas políticas, CUT, Força Sindical e CTB – central em que o Sintracom-BA é filiado – defendem juntos a regulamentação da terceirização e aplaudem os canteiros de obra das aceleradas e inseguras obras do PAC, da Copa e das Olimpíadas. Este sindicato que se diz de luto pela tragédia baiana é ligado a CTB e, por essa via, serve também de correia de transmissão da política do PCdoB, partido que domina esta central, que é base do governo Dilma e de Jaques Wagner! E é justamente a pasta dirigida pelo PCdoB, o Ministério dos Esportes, na figura do ministro Orlando Silva, que organiza as obras da Copa e Olimpíadas, cujo ritmo custa a vida e a saúde de milhares de operários!

Basta de mortes e mutilações nos ambientes de trabalho! Por condições adequadas de trabalho e salários dignos!

O capitalismo brasileiro, a patronal e o governo da burguesia só tem miséria, morte e repressão para oferecer aos trabalhadores e ao povo pobre! Neste momento em que a crise avança e que a continuidade do crescimento econômico brasileiro está estruturalmente ameaçada, a perspectiva é de mais exploração. Com o seu sistema em crise, a burguesia tentará descarregar com ódio sobre nós o seu ônus! É preciso lutarmos desde já contra as péssimas condições de trabalho a que estamos sujeitos! Basta de perdermos milhares e milhares de irmãos de classe mortos nestes acidentes! Não podemos naturalizar o verdadeiro genocídio empreendido contra nós pelos patrões, que aumentam seus lucros economizando nas manutenções, treinamentos e equipamentos! A sua riqueza e bem-estar é construída em base ao suor, sangue e lágrimas derramados por milhões de trabalhadores! Aqueles que escapam dos acidentes também morrem diariamente com a precarização da vida, com a terceirização que nos divide e retira nossos direitos, precarização que nos explora, o salário aviltante que nos condena a uma vida de miséria! Precisamos desde já nos organizar, colocando de pé uma ampla campanha que denuncie as mortes por acidentes de trabalho. Que os sindicatos e centrais sindicais tomem esta tarefa para si!

Companheiro Vitorinha, presente!

Lendo notícias sobre o acidente de Salvador, descobrimos uma história que envolve a tragédia e expressa bem a insistência da patronal em tirar vidas operárias. O ajudante prático, Jairo de Almeida Correia, conhecido como Vitorinha, era um sobrevivente da exploração espúria da Construtora Segura. Já havia sofrido dois acidentes graves nos canteiros de obra da empresa. Há 12 anos ele caiu de um elevador de um outro prédio em construção. Ficou três meses internado. Tempos depois, sofreu outra queda, perdendo parte de sua audição [2]. Dessa vez não resistiu.

Homenageamos Vitorinha e seus companheiros - Antônio Reis do Carmo, Antônio Elias da Silva, Antônio Luis Alves dos Reis, Elio Sampaio, José Roque dos Santos, Lourival Ferreira, Martinho Fernandes dos Santos e Manoel Bispo Pereira! Eles vivem em nossa luta contra a precarização do trabalho!

COMPANHEIROS MORTOS EM SALVADOR, PRESENTES!

BASTA DE ACIDENTES NOS LOCAIS DE TRABALHO!

POR CONDIÇÕES DE SEGURANÇA ADEQUADAS NOS AMBIENTES DE TRABALHO!

QUE OS TRABALHADORES ORGANIZEM COMISSÕES INDEPENDENTES JUNTO ÀS CIPAS PARA FISCALIZAR A SEGURANÇA DAS OBRAS E APURAR OS CASOS DE ACIDENTES!

SALÁRIO MÍNIMO DO DIEESE PARA QUE NENHUM TRABALHADOR PRECISE SE MATAR NAS HORAS EXTRAS PARA GARANTIR O SEU SUSTENTO E DE SUA FAMÍLIA!

PELO FIM DOS BANCOS DE HORAS!

PELO FIM DA TERCEIRIZAÇÃO! INCORPORAÇÃO DE TODOS OS PRECÁRIOS SEM CONCURSO PÚBLICO!

Leia a crônica “Andaimes Pigentes” sobre esta tragédia em:
http://carregobandeira.blogspot.com/

Artigos relacionados: Nacional , Movimento Operário









  • Não há comentários para este artigo