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Teoria

GRANDE SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO EM MG

Trabalhadores e estudantes discutem em MG as concepções da Teoria da Revolução Permanente de Leon Trotsky

17 Feb 2014   |   comentários

Durante dois finais de semana, cerca de vinte trabalhadores (professores e operários industriais) e estudantes (da UFMG e da PUC) se reuniram em Contagem-MG para discutir uma das principais contribuições teóricas de Leon Trotsky ao marxismo, a Teoria da Revolução Permanente.

O estudo da teoria marxista e a atualização de sua aplicação na realidade é um dos aspectos fundamentais de uma organização revolucionária. Nesse sentido, durante dois finais de semana, cerca de vinte trabalhadores (professores e operários industriais) e estudantes (da UFMG e da PUC) se reuniram em Contagem-MG para discutir uma das principais contribuições teóricas de Leon Trotsky ao marxismo, a Teoria da Revolução Permanente. Essa concepção foi decisiva para a compreensão do processo revolucionário russo e para armar politicamente as batalhas que os revolucionários travaram contra a burocratização do Estado Soviético e da Internacional Comunista, além de apontar a independência de classes, e a hegemonia operária, como aspectos essenciais na estratégia proletária para a conquista e efetivação do poder.

Essa atividade em MG foi parte de um curso nacional de formação organizado pela LER-QI que, pelo Brasil afora, reuniu duas centenas de estudantes e trabalhadores de diversas categorias em um intenso estudo e debate das principais concepções das teses de Trotsky e de sua aplicação em diversos eventos da luta de classes, tanto históricos como do tempo presente.

Por que ocorreu em um país de desenvolvimento econômico atrasado a primeira revolução socialista da história? Por que a revolução russa acabou sendo derrotada por uma burocracia stalinista? Seria possível na atualidade uma revolução socialista que não fosse dirigida pela classe trabalhadora? Qual o significado dos processos ocorridos no mundo árabe nos últimos anos? Essas e outras questões foram calorosamente discutidas no curso, cujo tema é de fundamental importância para que os revolucionários superem a crise da esquerda e consigam avançar na construção de um forte partido revolucionário no Brasil e na reconstrução da IV Internacional.
Trotsky, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do marxismo, demonstrou como, a partir das leis do desenvolvimento desigual e combinado, só o forte proletariado industrial russo poderia liderar uma aliança com os camponeses e resolver as principais questões democráticas (outrora relacionadas às revoluções burguesas) em um processo no qual a resolução de tais questões, como o problema agrário e da independência nacional, se combinariam às necessidades históricas da classe trabalhadora. Tal processo daria origem a uma revolução que não pararia nas questões democráticas, imediatamente uma revolução socialista iria abrir caminho para que o proletariado solucionasse suas próprias demandas históricas. Essa concepção de Trotsky representava uma contraposição às teses mencheviques, que afirmavam que o processo revolucionário na Rússia deveria se limitar, inicialmente, à conquista de espaços democráticos na institucionalidade - sem questionar questões estruturais como o problema agrário-, por meio de uma revolução burguesa, devendo o partido socialdemocrata ficar sob os auspícios e a direção da burguesia.
Aspecto importante do curso foi a forma como os participantes conseguiram concretamente trabalhar os complicados problemas teóricos, como a polêmica, que também era contraposta por Trotsky, na qual Lenin defendia uma ditadura democrática de operários e camponeses. Trotsky afirmava que só com uma direção operária o processo revolucionário na Rússia poderia encontrar o caminho da resolução de seus principais problemas e a consolidação da revolução contra o Czar. A história deu razão a Trotsky; Lenin, no calor dos acontecimentos da Rússia revolucionária de 1917, rapidamente percebeu a insuficiência de suas formulações e acabou por se aproximar das teses trotskystas, elaborando então suas memoráveis Teses de Abril, na qual reorientava as posições do Partido Bolchevique e defendia, pela primeira vez, que todo o poder na Rússia passasse às mãos da classe trabalhadora por meio dos sovietes. Nessa discussão, os cursistas deram exemplos das limitações das organizações que, na atualidade, defendem como principais sujeitos revolucionários setores do campesinato e do movimento popular. Que, embora devam ser importantes aliados de uma revolução dirigida por um partido proletário, assim como na Rússia, nos dias de hoje não conseguem, por suas características de classe, ter uma estratégia política que os permita consequentemente construir uma alternativa anticapitalista. Dessa forma, somente a classe operária hegemonizando os processos revolucionários pode representar uma saída para as crises capitalistas. Essa discussão foi ricamente ilustrada pelos exemplos que foram apresentados pelos companheiros da indústria, ao apontar como os trabalhadores ocupam o lugar central no processo produtivo, além de só poderem efetivamente conseguir conquistas sociais duradouras com a derrocada do capitalismo.

Nos dias de hoje, a Teoria da Revolução Permanente é decisiva para qualquer organização que busque se construir a partir de uma estratégia revolucionária. É por meio dessa teoria que o proletariado pode ter clareza que somente com sua organização de forma independente da burguesia poderá levá-lo ao poder e instaurar uma ditadura de classe que aponte na construção do socialismo. Não é por acaso que foi uma concepção teórica tão combatida pelo stalinismo, que sempre teve como norte estratégico a colaboração de classes e a aliança com as chamadas “burguesias progressivas”, além da defesa de todo tipo de governo burguês e inclusive de ditaduras (como no mundo árabe).

No curso, foi discutido como até as organizações que reivindicam o trotskysmo, como é o caso da LIT-QI/PSTU, acabaram sucumbindo ao revisionismo e deram origem a concepções políticas centristas que se adaptaram tanto à institucionalidade burguesa quanto a direções não proletárias. Bom exemplo é a teoria criada pelo trotskysta argentino Nahuel Moreno, que reivindica a existência de revoluções democráticas vitoriosas nos processos de transição das ditaduras militares ao regime democrático burguês na América Latina, nos anos 80; teoria que o PSTU levou ainda mais longe, qualificando como “revolução democrática” até mesmo o Fora Collor. Como discutido em nosso curso, para Trotsky uma revolução democrática não tinha a ver apenas com mudanças em aspectos da institucionalidade estatal, com a ampliação de direitos democráticos, mas fundamentalmente na resolução de problemas estruturais, como a questão agrária na Rússia; e deveria, necessariamente, para efetivamente ser vitoriosa, se combinar com uma revolução que levasse o proletariado ao poder, como na Revolução de Outubro de 1917, na Rússia. A aplicação dessas revisões feitas pela LIT-QI/PSTU em processos da atualidade, como no Egito e na Síria, levaram a aberrações ainda maiores, como qualificar de “revolução vitoriosa” o processo que terminou por levar uma junta militar ao poder no país egípcio.

A forte aliança operária-estudantil, característica da estratégia trotskysta de construção revolucionária, foi amplamente alcançada em nosso curso. Combinado a isso, trabalhadores e estudantes saem fortalecidos para atuar conjuntamente nos importantes eventos da luta de classes que começam a ocorrer intensamente em 2014. O resgate das concepções de Leon Trotsky deixa fortalecida a luta pela construção de uma organização socialista e internacionalista. O espírito das Jornadas de Junho demonstra que o processo permanente da luta de trabalhadores e estudantes contra o capitalismo ganhará cada vez mais força nas lutas contra a Copa e as mazelas sociais geradas pelo governo Dilma. Após nosso curso, temos certeza que, de nossa parte, teoria e prática estarão cada vez mais combinadas nesses processos de luta!

Depoimentos de alguns participantes do curso:

"O curso foi um grande exemplo de formação onde os trabalhadores e estudantes puderam juntos se formarem e ficarem mais fortes para encarar o capitalismo e suas mazelas". Júlio, operário industrial.

"O curso foi uma importante ferramenta para minha formação e ajuda a nos preparar para os espaços que podem se abrir para a nossa construção na região!". Guimarães, operário industrial

“O curso de formação da LER-QI foi excelente,me clarificou as ideias de como o capitalismo é incapaz de cumprir as demandas de nossa sociedade e que através da construção de uma consciência crítica politizada e especialmente da militância,que alcançaremos meios para fazer a revolução socialista em nossa sociedade,para acabar com a desigualdade e miséria que o sistema capitalista instituiu.” Regina, estudante de filosofia da UFMG

"Foi um curso que permitiu ter uma clareza das concepções socialistas a partir de uma perspectiva revolucionária. Foi muito importante e muito instrutivo para nossa formação e para as batalhas que enfrentaremos no dia a dia." Clarissa, estudante da PUC-MG

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