Sexta 19 de Abril de 2024

Teoria

Todo poder aos soviets! Todo poder aos trabalhadores!

20 Sep 2007 | Discurso pronunciado no Soviet de Petrogrado. Tradução inédita ao português, a partir da versão em espanhol publicada no Boletim Eletrônico N°9 do Centro de Investigaciones y Publicaciones Leon Trotsky, traduzido da versão em francês publicada em Correspondance Internationale, N° 104, ano 7, como parte de nossa campanha de 90 anos da Revolução Russa.   |   comentários

TROTSKY ’ Camaradas! Confesso que me surpreendem os motivos pelos quais os mencheviques, os socialistas-revolucionários querem rejeitar a consigna “Todo poder aos Soviets!” (Interrupção: “a consigna vem da Alemanha!” )

Não camaradas, esta consigna não vem da Alemanha, mas esta interrupção é um eco da espionagem. (Risadas, aplausos efusivos)

Recusem estes motivos camaradas! Eles não lhes fazem lembrar os motivos que os reacionários usavam contra o sufrágio universal antes da revolução? Diziam, “como podemos dar o direito de voto às massas miseráveis, que não sabem nem ler nem escrever?” . Hoje o camarada Kaplan diz: “Como podemos exigir que seja dado o poder aos soviets mesmo com a ignorância de nossos camponeses e de muitos dos soldados?” .

Então, eles fazem exatamente a mesma objeção à nossa consigna. É verdade que o poder nunca esteve em nossas mãos. Dizem que não temos “experiência” , que provavelmente erraremos no começo... Pouco a pouco aprenderemos a administrar o país. Mas, se não tomamos o poder agora continuaremos sem nenhuma experiência. Dêem o poder ao povo e ele aprenderá a usar o poder!

Porque entre os S.R. e os mencheviques ninguém protestou quando o sufrágio universal foi introduzido entre nós?

Camaradas, nas eleições das administrações comunitárias e dos soviets todas as vozes se pronunciam a nosso favor, bolcheviques e também a favor dos S.R., com cuja ala esquerda sempre nos entendemos melhor. O mesmo acontece em outras eleições. Deste modo, o povo confia o poder aos partidos socialistas. Devemos abandonar o poder à burguesia como foi proposto na “Conferência Democrática” [1]? Isto seria uma criminosa desconfiança em nossas próprias forcas. Entre nós os socialistas de diferentes partidos não se diferenciam enormemente por seu programa, as diferenças estão na maneira de tornar este programa realidade. Mas, mesmo assim, os programas não existem por nenhum outro motivo para além de que sejam colocados em prática o máximo possível. Esta tarefa também é nossa. Se abandonarmos o poder nas mãos da burguesia, para quê servirão os programas?

Dizem que nosso esforço para colocar em prática o máximo possível do nosso programa, acaba nos isolando. Sim, nos isolamos de todos aqueles que buscam um acordo com a burguesia. Mas de nenhuma maneira nos isolamos das massas populares. Temos a maioria em todas as organizações revolucionárias, enquanto os mencheviques se isolam das massas cada vez mais.

Tseretelli, por exemplo, abandonou nosso soviet, e, em seguida teve que se apoiar no Comitê Central Executivo ’ que é muito menos ativo que o soviet, porque foi eleito no congresso dos soviets de províncias, em então, com um espírito atrasado.

Porém, até no Comitê Central Executivo a resolução de Tseretelli de fazer uma coalizão com os cadetes foi recebida de forma lamentável, e agora ele começa a se apoiar nos cooperativistas, nas administrações municipais e nos zemstvos. Vai cada vez mais à direita e se distancia cada vez mais das massas.

Dizem que na “Conferência Democrática” não há mais que quatro cadetes....Sim, camaradas, quatro cadetes declarados, mas dezenas de cadetes que escondem sua verdadeira cara ideológica.

Os cooperativistas dizem que foram eleitos por milhões de pessoas. É verdade. Mas foram eleitos para fazerem o trabalho cooperativo e não para fazer política. É por isto que eles também não representam a fisionomia política de seus eleitores. Para fazer política foram eleitos os soviets, e cada pessoa sabe quem é maioria neles.

Camaradas, derrubamos a autocracia, porque não queremos tolerar que o poder esteja na mão de somente uma pessoa, e, pelas nossas costas, pretendem restabelecer este estado. A “Conferência Democrática” , segundo a resolução de Tseretelli, não deve mais “colaborar” com Kerensky pelo estabelecimento do poder. Também dizem lá que o governo deverá reconhecer o Pré-Parlamento. A “conferência” não foi convocada com o propósito de que o poder reconheça o povo revolucionário, mas com o propósito de que o povo revolucionário reconheça o poder.

Deve-se examinar atenciosamente tal argumentação, porque ela pode derrubar toda a revolução russa.

Protestamos porque queremos um poder que seja responsável perante nós. Ele também deve ser criado por nós. Este poder é decorrência de uma situação extraordinária. Tseretelli confessou ser o autor da resolução e pediu para que votemos a favor de sua resolução.

Nós abandonamos a “Conferência Democrática” não porque Tseretelli nos feriu, mas porque fez passar como se houvéssemos ido para votar sua resolução. Se houvéssemos votado, seria necessário que fossemos expulsos a força de todas as partes. Achamos necessário declarar da maneira mais enérgica que não podemos votar pelo poder que nos propuseram, porque se trata do poder revolucionário, se trata do destino de toda a revolução. Estamos decididos a defender estritamente os interesses do povo revolucionário, porque para nós esta é a mais alta tarefa.

Dizem que nós, bolcheviques queremos ter o poder em nossas mãos... O que isto tem de extraordinário? Não há sequer um partido que não se esforce para tomar o poder. O que é então um partido? É um grupo de pessoas que se esforçam para tomar o poder para ter a possibilidade de tornar o seu programa realidade. Um partido que não quer tomar o poder não merece ser chamado de partido. Se, é verdade que a maioria dos soviets não quer tomar o poder, sem dúvida é porque os soviets ainda não depuraram suas fileiras o bastante. (Aplausos) É necessário fazer esta depuração já.

O camarada Broïdo [2] nos acusa de querer tomar o poder e nos abandonar “a graça de Deus” , de nos submetermos a sorte. Ele diz: “nunca houve entre nós poder dos soviets, seremos grandes o suficiente?” .

Efetivamente nunca houve poder dos soviets entre nós, mas até 28 de fevereiro a república também não existia. Erramos? Nós provamos o governo de coalizão, e está claro que sejam quais forem as dúvidas que restam sobre o valor do governo único, estamos convencidos de que o governo de coalizão não vale nada.

Depois este camarada Broïdo diz que toda a democracia se reuniu em Moscou...É verdade, toda ela? No entanto, não havia nenhum Bolchevique na Conferência de Estado de Moscou. Mas seiscentos mil operários de Moscou entraram em greve; protestavam contra esta conferência e os senhores delegados tiveram que ir a pé da estação ao Grande Teatro... (risadas). Quem está mais próximo e é mais querido? Os senhores delegados ou os operários de Moscou?

Nós preferimos os operários de Moscou.

Tseretelli pelo contrário preferiu se unir aos cooperativistas, aos zemstvos, etc. Retirou-se do soviet proletário e no caminha do Comitê Central Executivo marcha cada vez mais a direita. Agora estende a mão a Bublikov.

Tal é a linha de Tseretelli: do proletariado à burguesia liberal. Esta linha o isolou completamente das camadas de onde ele saiu.

Somente o partido que coloca claramente as questões, somente este partido pode unir toda a democracia revolucionária. Não tememos ficar isolados das camadas superiores, tememos nos isolar do proletariado. Rejeitamos todo acordo! É somente assim que venceremos nossos inimigos e estabeleceremos a liberdade de nosso povo.

(Aplausos prolongados)

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