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Stonewall: para além da “visibilidade”

27 Jun 2009   |   comentários

Em 28 de julho de 1969 nos Estados Unidos, a polícia nova-iorquina invadiu um bar homossexual chamado Stonewall Inn, quebrando garrafas, espelhos, o balcão e o banheiro, sem nenhum motivo aparente. Essa violência policial contra homossexuais assume proporções escandalosas. Jeremiah Newton, professor da Universidade de Nova Iorque e testemunho dos acontecimentos atesta: “Eram os 60, havia muita violência, (...) a polícia era contra gays” . No episódio, 3 travestis foram empurradas pra dentro de um camburão. Pela primeira vez houve resistência por parte dos freqüentadores. Os policiais correram pra dentro do bar, as portas foram trancadas e o local incendiado pelos manifestantes. A noite terminou com o saldo de 13 presos. No dia seguinte, a polícia retornou e foi recepcionada por uma multidão de gays, lésbicas, travestis, transexuais. Isso atraiu a atenção de freqüentadores do Greenwich Village. Todos gritavam: basta de repressão policial!

O conflito entre homossexuais e a polícia nova-iorquina durou 4 noites, com barricadas e enfretamento direto. O relato do professor Newton mostra a importância do ocorrido: “O Stonewall foi um divisor de águas. Quando se é jovem, deve-se curtir a vida, mas também estar ciente do que a sociedade heterossexual pode fazer para machucá-lo. Eles têm as leis e o governo a favor. (...) Todo gay e lésbica tem um Stonewall em sua vida para superar (...) Foi o nascimento do movimento gay moderno” [ ]. O aniversário do conflito de Stonewall tornou-se uma data comemorativa. Seu 10º aniversário foi celebrado em uma manifestação com cerca de dez mil homossexuais pelas ruas de Nova Iorque, dando origem ao movimento LGBT.

Esse conflito ocorreu no calor da enxurrada de movimentos sociais a partir do fim dos 1960, como os Black Power, os Black Panthers, as feministas e os ecologistas, o movimento LGBT articula-se e ganha novas proporções. Apesar de sua heterogeneidade ideológica e policlassismo, os movimentos sociais dos anos 1960 lançaram luz sobre a opressão, que não só é orquestrada pelo sistema, mas é funcional a este. Por isso, o problema da opressão não pode ser solucionado deixando de pé os alicerces sobre os quais repousa a atual sociedade. Quando o episódio de Stonewall completa 40 anos, o assassinato atroz de Marcelo Campos pouco reverbera nos meios de comunicação. Está na hora de dar um basta ao conformismo e retomar as bandeiras de Stonewall. Assumir-se como sujeito significa ir além da bandeira da “visibilidade” hasteada pelos partidos burgueses, pelas ONG”™s e pela sociedade de consumo que absorve essa bandeira como um nicho de mercado. Não basta sermos vistos, é preciso que nossa voz seja sentida. Viva os 40 anos de Stonewall!

Por Marina Fuser e Bia Michel, estudantes da PUC e integrantes do Pão e Rosas

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