Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

50 ANOS DO GOLPE MILITAR NO BRASIL

Sobre o "ATO SINDICAL UNITÁRIO - UNIDOS, JAMAIS VENCIDOS"

31 Jan 2014   |   comentários

As centrais da burocracia sindical, a CUT à frente, fazem este ato não para lutar seriamente pela apuração dos crimes da ditadura e a punição dos responsáveis, militares, civis e empresários, pois estas centrais, atreladas que são ao governo e aos capitalistas, são responsáveis diretas pelo acobertamento e impunidade aos crimes e criminosos da ditadura, inclusive compactuando com o governo Lula e Dilma que é constituído com grande peso por históricos (...)

Está sendo convocado um "ATO SINDICAL UNITÁRIO” para o dia 1 de fevereiro, com o eixo central “UNIDOS, JAMAIS VENCIDOS", em referência aos 50 anos do golpe militar no Brasil. A iniciativa partiu do “Grupo de trabalho Ditadura e Repressão ao Movimento dos Trabalhadores e Sindical” que integra a Comissão Nacional da Verdade, e a convocatória é assinada tanto por centrais sindicais ligadas à esquerda, como a Intersindical e a CSP-Conlutas, à qual o Sintusp é filiado, quanto pela CGTB, UGT, Força Sindical, CUT, CTB e outras centrais sindicaais ligadas ao governo, a partidos burgueses de oposição e entidades patronais. Nós, diretores do Sintusp abaixo assinados, militantes da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional, que impulsionamos o Boletim Classista, queremos esclarecer nossa posição sobre este ato, cuja convocatória foi publicada em boletim do Sintusp de 28 de janeiro.

As centrais da burocracia sindical, a CUT à frente, fazem este ato não para lutar seriamente pela apuração dos crimes da ditadura e a punição dos responsáveis, militares, civis e empresários, pois estas centrais, atreladas que são ao governo e aos capitalistas, são responsáveis diretas pelo acobertamento e impunidade aos crimes e criminosos da ditadura, inclusive compactuando com o governo Lula e Dilma que é constituído com grande peso por históricos dirigentes da ditadura militar, como Sarney e Maluf, portanto, responsáveis pelos crimes da ditadura. Como pode um ato com a CUT - e outras centrais cujos dirigentes, muitos, estavam com a ditadura, contra a fundação da CUT e as oposições sindicais que lutavam contra o regime militar - ser falsamente vendido aos trabalhadores como se realmente estivesse a serviço de lutar pela memória, verdade e justiça? Que justiça haverá se a Comissão Nacional da Verdade (CNV), da qual a CSP-Conlutas está fazendo parte agora através deste GT, tem como objetivo essencial "não aparecer como revanchista", ou seja, declaradamente a favor da impunidade dos torturadores, mandantes e apoiadores? Essa CNV é considerada pelos familiares de mortos e desaparecidos pela ditadura como "Comissão da Meia Verdade", pois nem sequer chama para depor esses familiares que há anos, sozinhos, enfrentam todo tipo de dificuldades e pressão para realmente descobrir a verdade dos crimes da ditadura e lutar pela punição.

Em determinados momentos, podemos construir atos e outras medidas junto a essas centrais, mas somente em torno de pontos de programa claros, em defesa de interesses da classe trabalhadora ou demandas democráticas que essas centrais se vejam obrigadas a defender pela pressão dos trabalhadores. Não é esse o caso. No site da CUT há a seguinte notícia "Com Lula, centrais farão homenagem à trabalhadores que lutaram contra a ditadura" (http://www.cut.org.br/destaques/24129/com-lula-centrais-farao-homenagem-a-trabalhadores-que-lutaram-contra-ditadura). Como um ato ao lado do governo do PT, sentando na mesa com Lula e também Luiz Marinho (Ex-Ministro do Trabalho) pode fazer avançar a luta dos trabalhadores?
A CSP-Conlutas faz parte do Grupo de Trabalho (GT) que tomou a iniciativa do ato. Em primeiro lugar, o fato de o Sintusp ser filiado à CSP-Conlutas não significa que automaticamente o Sintusp deva convocar o ato, pois o sindicato não deve necessariamente fazer tudo que é discutido na Central e muito menos que precisa concordar com todas as posições da Central. Uma central sindical não funciona sob o regime do centralismo uma vez que cada sindicato está, ou deveria estar, subordinado às resoluções das suas assembléias.

Em segundo lugar, consideramos equivocado que uma central como a CSP-Conlutas faça parte de um GT que integra a Comissão Nacional da Verdade que tantas vezes já denunciamos como parte do pacto entre governo e militares. São inúmeros os boletins e declarações do Sintusp sobre essa questão. Quando em 2012 fizemos uma grande atividade por uma Comissão da Verdade da USP (não atrelada à Reitoria) publicamos no Boletim 41 do Sindicato (também publicado no site da CSP-Conlutas http://cspconlutas.org.br/2012/08/sintusp-lanca-campanha-por-uma-comissao-da-verdade-da-usp/):

"Todos foram enfáticos em ressaltar a importância de o Sintusp, assim como a Adusp e o DCE se colocarem a tarefa de se engajar com tudo na luta pela Verdade, Memória e Justiça e de como essa é uma tarefa que deve estar presente no cotidiano dos demais sindicatos do país, estudantes, centrais sindicais e organizações políticas que não passaram para o lado do governo, sobretudo do governo do PT que infelizmente criou a Comissão Nacional da Verdade pactuada com os militares e civis da Ditadura para garantir que as verdades que venham a tona não sejam imputadas aos seus executores e mandantes."

O que estamos tentando demonstrar é o erro de fazer parte deste ato e integrar este GT. Inclusive as notas da CSP-Conlutas sobre o ato não tem absolutamente nenhum posicionamento crítico à composição do GT, do ato e ao fato do mesmo ser parte da CNV e agora contar com a presença de Lula no próprio ato (http://cspconlutas.org.br/2014/01/reparacao-centrais-promovem-ato-neste-sabado-1-contra-repressao-aos-trabalhadores-durante-ditadura-militar/). Achamos que o Sintusp poderia levar esta discussão à CSP-Conlutas e travar uma discussão política pra fazer avançar a Central Sindical a uma posição classista e independente neste terreno, corrigindo esta política. Não achamos que o Sintusp deve participar e convocar este ato, e tampouco achamos que os trabalhadores que heroicamente resistiram e lutaram contra a Ditadura Militar devam receber um diploma assinado por todas as centrais (incluindo não somente a CUT, mas a Força Sindical, entre outros) saudando sua luta. Os pelegos, aqueles que traem cotidianamente a luta dos trabalhadores em prol do patrão, não tem o direito de saudar a luta dos trabalhadores.

Claudionor Brandão, Marcello "Pablito", Diana Assunção e Bruno Gilga, diretores do Sintusp e militantes da LER-QI

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