Sexta 29 de Março de 2024

Movimento Operário

30 ANOS DA GREVE GERAL DE 1983

Sobre greve geral, pelegos e falsificações

13 Jul 2013   |   comentários

Lembrar da Greve Geral de 1983 (21 de julho), que completa 30 anos, não é apenas uma retrospectiva. Nesse exato momento trata-se de uma necessidade essencial para desmistificar a falsificação que está em curso, orquestrada pelas centrais sindicais, com a participação da direção do PSTU e da CSP-Conlutas. Em 22 de julho, as centrais sindicais (CUT, Força Sindical, CTB, UGT, CGTB, CSB, Nova Central) convocam um ato para “comemorar os 30 anos da Greve Geral de 1983”. Nesses dias que estamos vivendo, com a paralisação nacional de 11 de julho e as jornadas de lutas de junho, qualquer jovem e trabalhador se comoverá com essa comemoração. Porém, em nome da verdade histórica, torna-se fundamental desanuviar as fumaças que encobrem os fatos (e os papéis) verdadeiros desde longínquo 21 de Julho de 1983, que se configurou como a principal jornada de luta operária contra o regime militar e os capitalistas. Desde maio de 1983, contra um decreto (2.025) da ditadura que eliminava benefícios e direitos dos empregados das estatais e do funcionalismo, desencadeia-se um espetacular movimento de greves desses trabalhadores, que enfrentaram, óbvio, a repressão e a campanha difamatória e persecutória da imprensa (Jornal Nacional à frente), que os tratava como “privilegiados que ganhavam mais do que os trabalhadores das empresas privadas” (sempre o mesmo discurso). Os petroleiros (em Paulínia, Cubatão, Duque de Caxias etc.) foram a vanguarda, enfrentando a proibição legal de greve (Lei de Segurança Nacional) e a decisão judicial de ilegalidade. Diversos setores da sociedade apoiaram os grevistas (trabalhadores, estudantes, intelectuais, entidades democráticas). Os metalúrgicos do ABC haviam mostrado suas garras contra o arrocho salarial. Em abril, logo após a posse do governador eleito Montoro (PMDB), explodiu um movimento de desempregados (começou no Largo 13 de Maio e se espalhou pela cidade e outros estados) que chegou aos bairros (saques e enfrentamentos com a repressão). Esse era o ânimo dos trabalhadores.

Apesar do recuo do governo, no final de junho o presidente (militar) Figueiredo lança novo decreto de arrocho (2.036) que retira direitos do funcionalismo – férias, promoções, auxílios alimentação, transporte etc. Poucos dias depois, já em julho, os petroleiros (novamente da Replan, em Paulínia) desafiam o regime militar e entram em greve. Há quase 200 demissões, intervenção no sindicato e cassação dos dirigentes. Na Bahia (base petroleira de Mataripe), o sindicato também sofre intervenção e há mais de 200 demissões. Metalúrgicos do ABC param em solidariedade e também sofrem intervenção no sindicato, com o exército “sitiando” o ABC. A ditadura agonizava, enfrentava forte resistência operária, mas por ser ainda “parcial e segmentada” permitia mais e mais decretos na tentativa de quebrar os trabalhadores e garantir os interesses dos patrões.

Em 21 de julho estava marcada a greve geral, convocada pela “unidade” de dirigentes sindicais da “Comissão Pró-CUT”. Vários dos atuais dirigentes das centrais sindicais que agora pretendem “comemorar” (junto com a CSP-Conlutas e a Intersindical-PSOL) esta data, foram os boicotadores da greve geral. Foi a primeira grande paralisação nacional dos trabalhadores, mobilizando cerca de 3 milhões de trabalhadores, principalmente de São Paulo e Rio Grande do Sul. Uma “quinta-feira operária”, demonstração incontestável da força da classe operária brasileira. O metrô, em São Paulo, paralisou até próximo à hora do almoço. Apenas no ABC e região foram mais de 800 prisões, como retaliação por uma adesão operária de pelo menos 80%. A violência repressiva seguiu a marca da história brasileira contra as lutas operárias. A Praça da Sé, o Largo 13 de Maio, praças e avenidas estratégicas de São Bernardo e outras regiões foram “coalhadas” de polícia. Intervenções nos sindicatos dos metroviários e bancários, com a cassação de sua diretoria. Os responsáveis por essa repressão brutal era, de um lado, o “democrata” Franco Montoro (PMDB), de outro, o II Exército e o Ministério do Trabalho. A imprensa, como sempre, mesmo diante de números espetaculares, grafava esse dia heróico como “paralisação parcial” ou “não houve greve”. Se não houve paralisação de 10 ou 20 milhões de operários no país inteiro (era possível), foi por pura responsabilidade dos dirigentes sindicais que se mantinham no PMDB (incluindo PCB, PCdoB, MR-8) [1] como ferrenhas barreiras contra a mobilização independente dos trabalhadores e das massas. A quase totalidade desses dirigentes sindicais traidores (“pelegos”) estão hoje na direção das atuais centrais sindicais (CGTB, CTB, CSB, Nova Central, UGT), e se juntar com os da CUT (que se transformaram em traidores descarados), teremos toda a canalha burocrática reunida. Se a ditadura militar não pode ser nocauteada (estava nas cordas) e se impôs o desvio das “Diretas” e da “redemocratização” (com a inegociável impunidade dos crimes da ditadura), a história mostra claramente que não foi por falta de heroísmo da classe operária. Joaquinzão, o “pelego-mor”, no dia seguinte (22 de julho) declarava na imprensa que as greves em São Paulo foram em categorias que “não tinham direção”, confirmando que nada fizeram para paralisar a cidade, mas os trabalhadores se lançaram com tudo e contra todos. Joaquinzão dizia que a greve tinha o objetivo de “pressionar para o governo negociar”, que “os dirigentes sindicais foram responsáveis, ordeiros e pacíficos” e que “se o governo não debater e negociar com os dirigentes sindicais” outras greves “poderão ser marcadas”. Incrível! Nos últimos dias temos ouvido dos dirigentes da CUT e demais centrais sindicais patronais e governistas palavras tão iguais que me fazem pensar que estou ouvindo ecos... do passado!

Então, se a história (curta, aqui, apenas um “panorama”) mostra que os dirigentes sindicais “pelegos” das centrais sindicais atuais foram os verdadeiros “coveiros” da luta com potencialidade revolucionária da classe operária em 1983, cabe perguntar: por que a direção do PSTU e da CSP-Conlutas estará num ato político (dia 22 de julho, às 9 horas da manhã, claro, coisa de dirigentes sindicais que não trabalham) com essa canalha traidora comemorando justamente a grande greve geral de 1983? O que há de comum, entre o PSTU, a CSP-Conlutas e esses “pelegos”, para “comemorar” se a história mostra que estavam em campos opostos? Esses “pelegos” devem comemorar a defesa do regime militar, da patronal e dos dirigentes sindicais que não apenas vendiam nossos interesses mas nos entregavam aos patrões e à polícia (como Joaquinzão, dos metalúrgicos de São Paulo), isso seria verdadeiro. A direção do PSTU e a CSP-Conlutas só podem comemorar a espetacular força operária demonstrada no 21J1983. Então, novamente: o que têm a comemorar junto com esses “pelegos”?

Mudemos a pergunta: a quem desejam enganar? Esses miseráveis “pelegos” deveriam ser desmascarados, desmoralizados perante a juventude e os trabalhadores, principalmente os mais jovens que não conhecem a verdadeira história. Por que diabos a direção do PSTU se alia a esses “pelegos” (miseráveis traidores e alcaguetas, responsáveis também por demissões, prisões, mortes e desaparecimentos de ativistas e lutadores) vendendo-os como “parte legítima” (e não traidores) da greve geral de 1983? Será para esconder essa vergonhosa aliança, pintando-os como “lutadores” da nossa classe? Bira, o atual presidente da CGTB, por exemplo, que estará no ato com Mancha e a CSP-Conlutas “comemorando” a greve geral de 1983 é o mesmo sindicalista e militante do famigerado MR-8 (agora PPL) que atuava como “tropa de choque” (armados, inclusive) do pelego-mor Joaquinzão (metalúrgicos de São Paulo) contra os militantes da Oposição Metalúrgica e da esquerda. Quem, no final dos anos 1970 e durante os anos 1980, militou no movimento operário em São Paulo, princpalmente na Zona Sul, saberá dizer quem é este Bira e seus comparsas do MR-8 e da atual CGTB! Contra as greves de 1983 e a fundação da CUT estavam esses verdadeiros “pelegos” (CGTB, CTB, UGT, CSB, Nova Central). Por que, agora, a direção do PSTU faz este malabarismo vergonhoso para pintá-los como “aliados” da luta proletária? Foram e são os maiores traidores, e continam vivos e gozando vida mansa, recebendo fortunas em cargos dos governos municipais, estaduais e federal, em negociatas com os patrões, entregando direitos, empregos e recursos sociais do país (privatizações, terras etc.).

Talvez a pergunta seja outra: a troco de quê a direção do PSTU realiza esse operativo de falsificação histórica? Por que pintar esses “pelegos” como “lutadores”? Será que é para “justificar” a atual aliança, compromissos e blocos do PSTU com toda essa canalha traidora? Se essas alianças com a canalha traidora são principistas frentes únicas – unidade de ação sem compromissos com os burocratas, a serviço unicamente da mobilização das massas contra os capitalistas, os governos mas também contra esses traidores –, como “vende” a direção do PSTU, por que essa direção necessita falsificar o “currículo” (ficha suja) desses dirigentes das centrais sindicais? A direção do PSTU, goste ou não, mente e falsifica a história da greve de 1983 ao “comemorá-la” junto com esses “pelegos” que traíram essa greve. Para quem duvida, basta consultar livros ou jornais da época (mesmo os da Convergência Socialista – Alicerce), e também sites como o Memória dos Metalúrgicos do ABC (CUT) para ler verdades como: em 1983 “faz-se a primeira tentativa de convocação de uma greve geral, marcada para 21 de julho, que não tem sucesso, em grande parte pela falta de sintonia dos responsáveis pela convocação, a partir da articulação da Comissão Nacional Pró-CUT. Ainda assim, a greve foi forte nos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul (com adesão, respectivamente, de 2 milhões e de 1 milhão de trabalhadores) e, no seu desdobramento, ocorrem intervenções federais nos sindicatos dos bancários e dos metroviários de São Paulo.”

Além de “comemorar” a greve de 1983 com esses “pelegos”, a direção do PSTU e da CSP-Conlutas também estará “junto”, como membros de um tal Grupo Sindical da Comissão Nacional da Verdade (isso mesmo, a comissão de Dilma e dos militares que objetiva manter a impunidade dos ditadores, mandantes e torturadores!), neste ato que busca colocar os sindicatos como “parceiros” dessa farsa com o falso programa de “justiça e reparação”. Isso mesmo, não é “justiça e punição”, pois a CUT e todos esses “pelegos” não podem romper o acordo do governo federal, do PT e de todas as instituições do regime com os militares em prol da impunidade dos crimes da ditadura. Será que a direção do PSTU e da CSP-Conlutas talvez pretende “participar para pressionar por dentro” da Comissão governamental? A quem pretende enganar com essa falácia? Uma central sindical de esquerda e um partido que se diz “revolucionário” não pode romper os princípios de classe e participar de uma comissão que os familiares de mortos e desaparecidos corretamente repudiam e chamam de “Comissão da ½ Verdade”, justamente porque trabalha contra a apuração da verdade e a punição dos responsáveis. Que diabos significa – para a direção do PSTU e da CSP-Conlutas – a “consigna” de “reparação” e qual seu conteúdo “progressista”? Bastaria o governo, os militares e as instituições “reconhecerem que houve mortos, desaparecidos, presos e torturados”? E também alguma reparação “material” (dinheiro, indenização)? Em troca de punição, cadeia dura, expropriação dos bens de todos os envolvidos em crimes da ditadura, sejam militares, civis, empresários, jornalistas, bispos, padres... e o diabo? Isso não significa um descalabro político de uma corrente que se diz “revolucionária”? Vejam vídeo em que Mancha, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, “explica” as reparações “política” e “material”. http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=UQ3b1Yvzwc4) Na última reunião da CSP-Conlutas nosso camarada Domenico, diretor do Sintusp e membro eleito da Comissão da Verdade da USP (onde lutamos contra os petistas e aliados com toda a direção do sindicato para que seja independente da Comissão Nacional e da Reitoria), denunciou esse ato convocado para o dia 22, mas os dirigentes do PSTU (Zé Maria, Mancha) fizeram valer sua “maioria” e mantiveram o compromisso da CSP-Conlutas com esses burocratas sindicais agentes do governo Dilma, do regime da impunidade e dos negócios capitalistas. Estarão todos juntos no dia 22 de julho!

Aos jovens (e aos “esquecidos”) proponho um remédio simples: busquem a verdade dos fatos históricos sobre o papel desses “pelegos” desde os tempos da ditadura (e em 1983, principalmente) para “pensarem com a própria cabeça”, pois assim chegarão à conclusão de que a direção do PSTU montou um operativo de falsificação histórica para esconder sua capitulação diante dos dirigentes sindicais mais miseráveis deste país, vendendo a falsa ideia de que assim se está “construindo a unidade” dos trabalhadores, quando na verdade não passa da “fusão de aparatos” para somar forças que, por serem contrárias, se anulam. A unidade deve ser buscada com os trabalhadores, fazendo dos sindicatos da CSP-Conlutas e da esquerda verdadeiros “bastiões” da luta operária (classista, antiburocrática, anticapitalista, antigovernista), mostrando na prática como “se organiza e faz greves e lutas firmes e decididas”, e assim, combinando exigências e denúncias aos burocratas sindicais se dará exemplos (efeito-demonstração) para que os trabalhadores dos sindicatos dirigidos por esses miseráveis traidores se entusiasmem e encontrem respaldo para se organizar nas fábricas, empresas e “interfábricas” para varrer essa canalha traidora dos sindicatos, recuperar essas organizações para a luta e colocar em movimento a espetacular força dessa imensa e potente classe operária que em toda a história mostrou abnegação e disposição de sacrifícios para defender seus interesses, da juventude e de todo o povo pobre. E a unidade dos trabalhadores exige a unidade na luta de todos ativistas e a esquerda classista e anticapitalista, o que só pode ser alcançado com métodos revolucionários (abaixo as mentiras, falsificações e calúnias!).

[1Até 1979 só havia dois partidos (bipartidarismo), a Arena (Sarney, Maluf, Delfim Netto e Cia.), partido diretamente capacho do regime militar, e o MDB (Tancredo Neves, Montoro, FHC, PCB, PCdoB, MR-8, Igreja Católica etc.), frente "ampla" (aliança de classes) que reunia diversas frações de esquerda com frações burguesas e pequeno-burguesas opositoras ao regime militar e defensora de um programa de "redemocratização" que preservasse o capitalismo. O presidente Figueiredo lançou a reforma partidária, instituindo o pluripartidarismo, e aí todos os partidos passaram a ser obrigados a usar o P (de partido). Nesta reforma se manteve a ilegalidade do PCB, do PCdoB, do MR-8, apesar da política de conciliação de classes desses partidos, e a proibição de constituir partidos operários e revolucionários (partidos "de classe").

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