Quinta 18 de Abril de 2024

Movimento Operário

Sindicalistas do PT e do PCdoB atuaram para derrotar a greve dos Correios

11 Oct 2003   |   comentários

Importantes categorias de trabalhadores têm sua data-base em setembro, como petroleiros, bancários e metalúrgicos. Mas quem inicialmente resolveu cruzar os braços diante da intransigência da patronal e do governo em atender suas reivindicações foram os trabalhadores dos Correios.

Devido à grande distância que existia entre as demandas dos trabalhadores e a contraproposta da empresa, foi votada e aprovada em assembléias massivas em todo o país, greve por tempo indeterminado.

Os funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ’ ECT ’ iniciaram sua greve reivindicando reajuste salarial de 69,28%, baseando-se nas perdas salariais ocorridas desde o Plano Real (1994), aumento do piso salarial para R$ 1.500,00 (atualmente era R$ 345,00), tí-quete-refeição de R$ 12,00 e paridade do salário de carteiro com o de técnico opera-cional. A empresa oferecia duas propostas: a primeira, um reajuste de 6% e algumas progressões nas RS (referências salariais); a segunda, reajuste de 4% e abono de R$ 1.000,00, parcelado em duas vezes.

Em pouco mais de 24 horas a greve estendeu-se por quase todos os estados brasileiros, afetando sensivelmente os serviços de entrega de objetos, encomendas e correspondências.

Tratava-se da primeira greve de trabalhadores de uma grande estatal nacional, sendo esta empresa uma das mais lucrativas do mundo. Porém, a grande maioria dos trabalhadores da ECT ganha um salário que gira em torno de R$ 400,00. Em vista desta disparidade absurda entre o milionário faturamento da empresa e o miserável salário dos funcionários, uma das palavras de ordem dos grevistas era “Correios ganha nome, funcionário passa fome” . Apenas no primeiro semestre deste ano a estatal faturou R$ 200 milhões. E como não poderia deixar de ser, sob a lógica capitalista e do regime de turno de um país semicolonial como o Brasil, esta riqueza construída com a colaboração, o esforço e o suor dos carteiros, atendentes e técnicos operacionais é desviada para pagar juros do serviço da dívida pública do governo, enchendo os bolsos dos capitalistas, dos especuladores, banqueiros e agiotas.

Em poucos dias a greve influenciou, de forma determinante, o governo Lula-Alen-car, haja vista o recuo em seu desejo de decretar a inconstitucionalidade do movimento e a abusividade da greve. Durante a greve, por orientação governamental, a empresa não pediu ao Tribunal Superior do Trabalho o seu julgamento. Mas, por seguir à risca a cartilha neoliberal do FMI, as diretrizes do Banco Mundial e as exigências do capital internacional, o governo e a ECT fizeram de tudo para convencer os funcionários de que não seria possível atender suas demandas, devido às dificuldades económicas que o país atravessa.

A assembléia em São Paulo

No dia 15 de setembro foi realizada uma assembléia em frente ao CTC Ja-guaré, quando foi deliberado o fim do movimento grevista em São Paulo.

Foi uma das mais tumultuadas assembléias que o movimento sindical presenciou. As manobras da direção do sindicato ligada ao PT e ao PCdoB irritaram todos os trabalhadores presentes (cerca de 4.000). A confusão foi enorme.

Iniciada a assembléia, os dirigentes sindicais compartilhavam suas falas com a música alta do outro carro de som. Demorou-se muito tempo para os organizadores da assembléia atenderem aos pedidos dos trabalhadores que gritavam desesperadamente para os dirigentes desligarem o som das músicas. Feito isso, ainda não era possível ouvir direito a voz dos sindicalistas, pois o som de seus microfones estava muito baixo e rouco. Em cima do carro de som houve um espetáculo deprimente: brigas, discussões, empurrões e disputa desenfreada pelo microfone. Decorrida mais de uma hora do começo da assembléia, chegavam, em comboio, os trabalhadores dos correios do ABC e, logo em seguida, os da Zona Sul da Capital. Tudo isso ajudou a exacerbar mais ainda os ânimos dos trabalhadores presentes. A maioria estava muito cansada, pois, desde o início da greve e até nesse mesmo dia, atuaram em piquetes quase sem nenhum amparo do sindicato. Havia dirigentes do PSTU e do PCO no local, mas não se manifestaram.

As manobras dos sindicalistas governistas ’ PT e PCdoB ’ foram evidentes. Um deles chegou a mencionar que a proposta da empresa era excelente, pois nenhuma categoria de trabalhadores do Brasil havia conseguido um reajuste tão bom como esse. Esse dirigente esqueceu que diversas categorias começavam suas campanhas salariais, como os metalúrgicos, os eletri-citários, os gráficos, os petroleiros, os bancários, funcionários públicos e funcionários do Banco do Brasil e da Caixa Económica Federal. Como ele póde adivinhar que a proposta da ECT, nessa campanha salarial 2003-2004, era a melhor oferecida pelas outras empresas e instituições às suas respectivas categorias?

Com todo esse circo armado, desgraçadamente, os trabalhadores dos Correios decidiram suspender a greve, o que poderá repercutir sensivelmente em outras categorias. Todos os trabalhadores presentes, tanto os que votaram pela continuação da greve como os que votaram pela suspensão, saíram da assembléia indignados e enfurecidos. O principal alvo de suas críticas foi o sindicato, mas não faltaram pedras para o PSTU, o PCO e as correntes da esquerda do PT.

Algumas conclusões

Quem saiu bastante fortalecido com o final da greve foi o governo, que via com grande preocupação essa greve e o desgaste que ela podia proporcionar ao governo, respirandoum pouco mais aliviado graças, principalmente à atuação burocrática e contrária à greve dos sindicalistas do PT e do PCdoB. Pode-se ver claramente a posição dos sindicatos dirigidos pela burocracia sindical em seu objetivo de servir de correia de transmissão da política deste governo de colaboração de classes. Essa greve serve de exemplo aos demais trabalhadores para compreender como será dura a missão que lhes compete para superar o enorme obstáculo que esses sindicalistas burocráticos representa para as próximas lutas. Terão que enfrentar não somente o governo e os patrões, mas toda a política burocrática, reformista, governista e divisi-onistas desses sindicalistas.

Os trabalhadores terão que enfrentar também toda a política capituladora das principais correntes centristas (PSTU e PCO). A estratégia dessas correntes gravita em torno da eterna disputa de cargos nos aparatos sindicais, reproduzindo a mesma lógica sindicalista de utilizar as lutas como mecanismo de pressão para conseguir negociações que significam migalhas diante das perdas salariais, do aumento do custo de vida e das demissões, mesmo porque os dirigentes sindicais não dependem dos reajustes salariais negociados. Essas correntes criticam os burocratas e os pelegos sindicais, mas nas eleições dos sindicatos da CUT sempre compõe uma chapa com os mesmos, fazendo-os parecer combativos.

A enraivecida crítica que os funcionários dos Correios fizeram aos representantes sindicais, ao final da assembléia, dizendo até que este sindicato não serve para nada, demonstra que os trabalhadores estão percebendo que se os sindicatos continuarem com a mesma política economi-cista levarão todos a um beco sem saída e a derrotas.

Por tudo isso, defendemos a unificação das lutas de todos os trabalhadores para conquistar suas demandas. Defendemos, também, que os sindicatos sejam recuperados para a luta política. A mobilização e a luta não devem girar em torno apenas de seus dirigentes sindicais e estes devem se submeter às decisões e ao controle de suas bases, tendo seus mandatos revogados quando traem os trabalhadores e aliam-se com os patrões e o governo. Os comitês de greve e os organismos sindicais devem ser formados por trabalhadores eleitos diretamente em seus locais de trabalho, com mandados revogáveis, representando os interesses das bases e não das correntes políticas e dos dirigentes sindicais, assumindo a grande responsabilidade de aplicar as deliberações discutidas e aprovadas nos locais de trabalho e nas assembléias, com o objetivo de fortalecer todo o movimento.

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