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Sessão dupla com Ricardo Antunes e Diana Assunção encerra ciclo “Precarização Apartheid Desmanche” na USP

06 Dec 2010   |   comentários

Com uma sessão dupla que contou com as apresentações de Diana Assunção, trabalhadora da USP e membro da Secretaria de Mulheres do Sintusp, e do prof. Ricardo Antunes, especialista em sociologia do trabalho da Unicamp, encerrou-se na sexta-feira 19.11 o seminário “Precarização Apartheid Desmanche” do centro Desformas. As apresentações levantaram uma série de pontos cruciais para entender as formas atuais da precarização do trabalho, seu papel no interior do mecanismo de acumulação capitalista, e as maneiras de combater as “formas últimas” da escravidão assalariada em conexão com a luta histórica pela emancipação dos explorados.

Diana, que participou do debate em meio à grande campanha que culminou com a vitória da CHAPA 1 para o Sintusp, destacou em sua fala o papel específico da superexploração das mulheres no marco da divisão da classe trabalhadora operada pelos planos de ataque neoliberal dos últimos trinta anos, e deu relevo ao caso da luta das trabalhadoras terceirizadas da faxina da USP. Falou ainda do exemplo do Sintusp, como sindicato que levou à prática a luta contra a terceirização com o programa de incorporação desses trabalhadores à empresa principal em que trabalham (no caso, a USP). Ricardo Antunes fez uma rica exposição sobre as formas de ser da precariedade do trabalho hoje, sintetizando alguns dos resultados de anos de pesquisa, trazendo à tona exemplos extraídos do chão da fábrica (como nos casos de montadoras como Toyota e Honda), paradigmáticos do que ocorre no contexto mais vasto da classe trabalhadora tomada em sentido amplo.

Apesar das diferenças de enfoque entre as apresentações, e de certas divergências que se esboçaram no tocante às formas de combate ao trabalho precário – já que o programa de efetivação imediata dos trabalhadores terceirizados sem concurso público, defendido pela LER-QI e propagandeado por Diana (e, do plenário, pelo diretor do Sintusp reeleito Claudionor Brandão) continua sendo tratado como tabu pela maior parte da esquerda – a sessão tomada em seu conjunto contribuiu para fomentar o debate sobre este tema tão atual e desafiador para a esquerda que se coloca no campo da emancipação dos trabalhadores, e deixou bem marcada a denúncia contra as formas novas e velhas da exploração capitalista neste início de século.

Do ponto de vista do seminário, acreditamos que nas distintas sessões foi possível confirmar e aprofundar o vínculo sugerido desde o título entre a Precarização do trabalho, o Apartheid que significa para a população negra (principal alvo das patronais precarizadoras) e o Desmanche neoliberal que se estendeu pelo mundo constituindo uma etapa histórica reacionária de trinta anos, verdadeira “restauração burguesa”.

Muito ainda deve ser feito para, de fato, sensibilizar a comunidade universitária e extra-universitária para as formas extremas de exploração e opressão que seguem reproduzindo o mecanismo insuspeito de funcionamento da universidade a serviço dos monopólios capitalistas. Mais ainda resta a fazer, se tomarmos a precarização do trabalho como dado central do funcionamento da economia capitalista nos tempos que correm. Mas o seminário cumpriu sua missão ao fomentar o tema na agenda de debates da esquerda acadêmica e permitir encontros entre artistas, intelectuais, trabalhadores, sindicalistas, e estudantes desde a pós-graduação até o ensino médio, num universo bastante diversificado que aponta para o arco de forças sociais que é necessário (re)construir para enfrentar as estratégias burguesas sempre renovadas.

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