Quinta 25 de Abril de 2024

Movimento Operário

ENTREVISTA TRABALHADOR DA MANUTENÇÃO DO METRÔ DE SP

“Segue a nossa batalha para que os metroviários ajudem a onda de greves a dar um salto”

22 May 2014 | Entrevistamos Francielton, da manutenção do Metrô de São Paulo   |   comentários

JPO: como está a mobilização e quais são as demandas mais importantes da categoria?

Há anos não se via uma disposição de luta tão grande. O recente ato que tomou o centro de São Paulo com mais de 1000 trabalhadores, principalmente da manutenção, foi um marco em nossa campanha, que também mostra sua força nas estações e os operadores de trem com coletes da campanha se dirigindo à população, e se mostra também um apoio mais amplo da população do que em outras campanhas, colocando a necessidade de uma forte aliança.
Em relação às demandas internas da categoria, avaliamos que estamos no melhor momento possível para avançar em conquistas relacionadas às demandas estruturais da nossa categoria que vem há anos sendo deixadas de lado, indo além das conquistas de reajuste salarial que também temos que ter. Destas, para nós tem um peso especial as demandas que se relacionam a reconquistar iguais condições de trabalho e salário para as mesmas funções, como a luta pela jornada de 36h devido à insalubridade do trabalho e para garantir melhor atendimento à população, ligado a equiparação salarial que faz com que hoje no metrô haja trabalhadores ganhando mais de R$800 de diferença para outros que exercem a mesma função, ou ainda o plano de carreira da manutenção, pois hoje em dia os oficiais (meu cargo), chegam a ter 20 anos de empresa ou mais e não tem uma oportunidade de virar um técnico, a não ser que preste concurso externo. Também temos que dar um basta no assédio moral no metrô, seguindo o exemplo dos trabalhadores de Santa Cruz que estão numa grande campanha pelo Fora Vicente Neto, supervisor geral da estação que é o símbolo dos desmandos da empresa, entre outras demandas.

JPO: houve uma assembleia no dia 20/5, pode explicar a diferença entre a nossa política e a do sindicato?

Mesmo com parte importante da categoria tendo decidido não ir na assembleia do dia 20/5 porque já sabia que a política do sindicato ia ser de adiar a greve, mesmo com a provocação da empresa de negar todas nossas demandas mais importantes e propor um reajuste de 5,2%, tivemos uma assembleia com mais de 700 metroviários que expressou novamente grande disposição de luta.
O problema foi a política do sindicato que foi um balde de água fria para os que queriam responder desde já a política do governo, pois não quis sequer votar indicativo de greve, nem votar na assembleia como faríamos a liberação de catraca, não querendo votar mais do que um “café com usuário”, carta aberta à população e medidas de pouco peso até o dia 27, tudo com um argumento de chegar mais perto da Copa para “aumentar a pressão”. O sindicato também colocava que se votamos o indicativo de greve iria vir o TRT, mostrando novamente uma adaptação a essa pressão que se não rompemos definitivamente, como estão fazendo outras categorias, não vamos conquistar nada sério.

Nós intervimos polemizando que não podíamos sair desarmados daquela assembleia como saímos, deixando os rodoviários de São Paulo que estão paralisando São Paulo numa greve por fora da burocracia sindical há dois dias, e a CPTM, empresa paulista de trens, a ver navios sem nenhuma medida contundente de luta da nossa parte. Eu, como parte do, e junto ao Metroviários pela Base defendemos, através das falas de Felipe Guarnieri e Marília Rocha, defendemos o seguinte plano de luta: uma coletiva de imprensa amanhã na estação Sé, onde chamássemos as outras categorias a unir as lutas em curso, numa jornada de luta em comum, onde nós do metrô liberássemos catraca (com eixo na redução da tarifa, na estatização dos transportes em apoio às lutas em curso) de maneira escalonada em várias estações na quinta, sexta, segunda e terça, além de um indicativo de greve para o dia 28, mesma data para a qual chamássemos outras categorias para uma paralisação nacional, para unir as greves em curso, para garantir aumento geral dos salários, para repor as perdas com o aumento do custo de vida, com salário mínimo do DIEESE, bem como a estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores e usuários.
Mesmo o sindicato se unificando contra as medidas que propusemos, foi importante que cerca de 20% da assembleia tenha votado na nossa proposta, além de que claramente muitos outros simpatizavam com elas mas decidiram dar um voto de confiança no sindicato.

JPO: quais são os motivos dessas diferenças?

Não é só em São Paulo que o PSTU e o PSOL estão tendo a política de adiar as lutas para mais perto da Copa. Pensam um “calendário de luta” que depois se negam a readequar de acordo com as mudanças da situação. A onda de greves no país inteiro está só se intensificando, com os trabalhadores do transporte assumindo papel protagonista. Acho errado ficar dizendo que “na Copa vai ter luta” e isso ser motivo pra esfriar a coisa agora.
Para nós essa política é um absurdo, pois se lutamos com toda força agora vamos chegar muito mais fortalecidos na Copa. A população está apoiando as lutas como nunca. Mesmo frente ao caos que fica a cidade com a greve dos ônibus, com a população enfrentando problemas, há um grande apoio, pois todos sabem a superexploração que vivem estes trabalhadores e como o transporte público está terrível.
Nossa política vem sendo a de lutar para coordenar a luta com outras categorias, e em especial com os motoristas e cobradores de ônibus e com a CPTM que também estão em campanha, podendo, assim, parar completamente a grande SP. Mas avaliamos que uma força como essa, que movimenta mais de 6 milhões de pessoas por dia, e métodos radicalizados de luta, servem não somente para arrancar nossas demandas, mas também para avançar na luta por um transporte de qualidade para toda a população, bem como proporcionar um salto na onda de greves em curso, colocando os metroviários e trabalhadores do transporte à frente de uma luta de toda nossa classe junto à juventude.

JPO: é possível dar uma saída para a crise dos transportes?

Só é possível se arrancamos o transporte da sede de lucro, dos governos corruptos ligados por mil laços às multinacionais. Se aprofundamos o questionamento a este país em que se tem bilhões pra Copa e corrupção, mas nunca para salário, educação, saúde e transporte. Está claro que o Metrô, a CPTM e os ônibus dominados pelos tucanos, petistas, pelas multinacionais e pelas máfias das terceirizadas, só deixa os metroviários, os usuários e os terceirizados na pior. Com eles, seguirá a corrupção, a privatização, a terceirização, a super-exploração, a super-lotação, descumprimento dos acordos, etc. Nós metroviários temos uma enorme força que devemos usar para apontar o caminho de saída para a crise dos transportes. Se assumimos essa tarefa, podemos enfrentar estes parasitas corruptos e ganhar apoio da população também para as nossas demandas, pois verão que somos nós os melhores aliados para melhoria do transporte público e no combate aos políticos corruptos. É necessário estatizar a linha 4 Amarela e os ônibus que foram privatizados. Mas estatizar somente não basta, pois o Metrô é estatal e os corruptos já mostraram que o Metrô nas mãos deles é assim: caos, panes e superfaturamento! Somos nós que podemos gerir e controlar o Metrô e os transportes, para colocá-lo a serviço dos interesses e necessidades da população.
Se colocamos a classe trabalhadora na luta unificada e não cada um pelas suas demandas em separado. Para uma luta como essa, será necessário um grande enfrentamento com a burocracia sindical, que trava nossas lutas, tanto as que se colocam como oposição ao governo, mas se ligam à oposição burguesa (como a Força Sindical), como com a CUT e CTB, que estão barrando diretamente qualquer mobilização que possa desgastar o governo à beira da Copa do Mundo, como a Sabesp (CTB), que aceitou um reajuste de 5% apenas.
Nossa opinião é que saímos desarmados da última assembleia, perdendo a oportunidade de colocar os metroviários na vanguarda da luta nacional e abrir uma situação superior para todas as lutas, mas segue a nossa batalha para que os metroviários ajudem a onda de greves a dar um salto. Chamo todos os metroviários para a próxima assembléia do dia 27 não deixar passar, nos coloquemos na vanguarda da luta da classe trabalhadora brasileira, podemos obter grandes conquistas. Espero que as outras categorias nos dêem tempo para isso!
No jornal que nossa agrupação trabalha na categoria, o Via Classista, que chamamos todos a conhecer, desenvolvemos essa política.

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