Quinta 18 de Abril de 2024

Internacional

Se o Podemos chega ao governo, não perdoaria a dívida da Grécia

26 Feb 2015 | O último programa “Salvados”, o jornalista Jorge Evole pergunta ao líder do Podemos, Iñigo Errejón, se um governo do Podemos perdoaria a dívida da Grécia. Errejón diz que não, que “é preciso recuperar este dinheiro” e que a Grécia deve pagar suas dívidas. Algo muito distinto do que opinam muitos simpatizantes do Podemos   |   comentários

O último programa “Salvados”, o jornalista Jorge Evole pergunta ao líder do Podemos, Iñigo Errejón, se um governo do Podemos perdoaria a dívida da Grécia. Errejón diz que não, que “é preciso recuperar este dinheiro” e que a Grécia deve pagar suas dívidas. Algo muito distinto do que opinam muitos simpatizantes do Podemos

Jordi Evole: Iñigo, se você estivesse agora no governo da Espanha, você perdoaria a dívida da Grécia? Esses 26 bilhões que a Grécia deve à Espanha?

Iñigo Errejón: Não, nós quereríamos recuperar este dinheiro, e diríamos que todo o caminho atual foi um caminho que dificulta muito mais recuperar este dinheiro. A Grécia está cada vez menos capacitada para pagar uma boa parte das dívidas que tem.

JE: Como explicaria a teus cidadãos espanhóis, que também andam mal? Diria “veja, não posso subir salários e benefícios porque tenho obrigações com países como a Grécia, aos quais quero mostrar também mina solidariedade...

IE: Bom, não é uma questão de solidariedade. Diria, é preciso recuperar este dinheiro, e ele só se recuperará se a Grécia crescer.

Na entrevista, Evole assinala a Errejón que o Podemos matizou muito o programa desde as eleições européias. “Vocês não tiveram de chegar ao poder para rebaixar as suas expectativas... suavizaram muito o programa eleitoral.”

Recorda que, por exemplo, a questão da aposentadoria aos 60 anos “foi dessa para uma vida melhor”.

Errejón responde que o programa das eleições européias “não era para governar”, e que, pelo contrário, agora o Podemos se propõe chegar ao governo.

Ao defender que a Grécia deve pagar sua dívida, que “é preciso recuperar esse dinheiro”, Errejón se situa no mesmo campo discursivo dos mandatários da União Européia, que sustentam que a Grécia deve “cumprir seus compromissos”.

O que haveria de dizer, para começar, é que o argumento de que a Grécia “deve” ao Estado espanhol 26 bilhões de euros é falso. Entre 2010 e 2011, o Estado espanhol emprestou ao governo da Grécia 6,6 bilhões de euros como parte do primeiro resgate, mas os restantes 19,6 bilhões não foram um “empréstimo”. O governo espanhol, em acordo com o BCE e o FMI, se comprometeu a sair como “aval”, como “garantidor” de uma parte do plano de resgate da Troika. O objetivo deste resgate foi que a Grécia continuasse a pagar sua dívida, enquanto esta seguia crescendo.

Portanto, os trabalhadores e o povo grego não “devem” nada ao Estado espanhol. O “empréstimo” foi para salvar os bancos.

Os trabalhadores do Estado espanhol, da Grécia, de Portugal, da Itália e de toda a Europa não receberam nem “apoio” nem “solidariedade” de parte da UE. Só tiveram ajustes, demissões, desemprego massivo e cortes na saúde e educação.

Não foram os trabalhadores e os povos os que se endividaram, mas os governos europeus. “Não devemos, não pagamos”, é uma consigna que poderia soldar a unidade entre os povos do sul da Europa. Por isso, exigir hoje a anulação da dívida grega na Alemanha, no Estado espanhol e na França, além de outros países europeus, seria um ponto de apoio elementar dessa unidade. Uma campanha que poderia ser muito potente se fosse impulsionada pelos sindicatos, organizações sociais e políticas em cada país.

Que diriam os simpatizantes do Podemos, se fossem consultados, sobre a anulação da dívida grega?

A opção de Errejón é a adaptação simples e descarada à “realpolitik” de “honrar os compromissos” e pagar a dívida que está condenando o povo grego e o restante do sul europeu.

Mais que nunca aparece necessário que todas as organizações de esquerda e progressistas espanholas tomem em suas mãos uma campanha pela anulação imediata da dívida grega.
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