Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

Salvam Renan Calheiros

São todos picaretas

20 Sep 2007   |   comentários

A podridão da democracia dos ricos no país não tem fim. Em mais um episódio do mar de corrupção que todos os dias inunda as páginas dos jornais e as telas de TV, o presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB), após meses de manobras foi absolvido da primeira série de acusações. Num espetáculo de decadência, que começou com a troca de socos entre os parlamentares, a sessão secreta votou a “inocência” de Renan Calheiros das primeiras acusações de ter sido favorecido por lobistas da empreiteira Mendes Júnior, que pagavam mensalmente à mãe de sua filha 12 mil reais.

A votação contou com 40 votos a favor do presidente do Senado, concedido por seus “honrados” pares, enquanto 35 foram contra e seis simplesmente acharam que não tinham nada a declarar se abstendo. Esta votação é apenas uma expressão do “talento” nato dos senadores: mentir. Isso se torna claro quando vemos que nas pesquisas realizadas anteriormente à sessão na qual 41 senadores (exatamente o necessário para a cassação do mandato) declararam que votariam contra Renan Calheiros.

Renan Calheiros comemorando os resultados da votação ao lado de seus aliados petistas e de figuras como Roseana Sarney, representantes dos setores mais oligárquicos da burguesia, não titubeou em afirmar que “O resultado da votação de hoje é uma vitória da democracia, e o momento de refletir as perdas que este processo representou (...)” . Neste mesmo dia, o presidente Lula estrategicamente se encontrava bem longe: tomava champanhe com a rainha da Dinamarca, fazendo sem pensar uma homenagem à famosa citação de Shaekspeare: “Há algo de podre no reino da Dinamarca” .

Isso é uma mostra de que o regime democrático burguês brasileiro é extremamente aristocrático, dominado por setores oligárquicos da burguesia, que o governo Lula tenta contemplar mantendo uma coalizão heterogênea que termina fazendo com que a corrupção seja mais aberta. No Brasil a absolvição de Renan Calheiros explicita que a corrupção é não só um dos mecanismos mais atuantes na política nacional, como agora isso é feito de maneira completamente pública. Não só se rouba a olhos vistos, como se absolve descaradamente.

Para isso o papel do PT foi chave. De fato, a vitória desta “democracia” teria sido impossível sem a articulação política realizada pelos senadores e parlamentares petistas. A líder do PT, senadora Ideli Salvati foi uma das dirigentes da tropa de choque do governo e do PT para garantir o controle do processo e a absolvição de Renan Calheiros. Aloízio Mercadante, senador do PT antes considerado um exemplo de “ética” , liderou as seis abstenções que foram justamente a quantidade de votos que faltou para a cassação, alegando cinicamente que as investigações não eram conclusivas, e que Renan Calheiros teria cometido “apenas” crime fiscal. Como se isso não bastasse para cassar o mandato. Na maior cara-de-pau declarou “Eu achava que as duas decisões (cassação e absolvição) eram precipitadas por ausência de conclusão na investigação” . Ou seja, não bastaram as provas de que o gado de Renan Calheiros era o mais caro do país, nem que um notório lobista lhe fazia favores pessoais todos os meses. Mercadante pode tentar esconder, mas este episódio mostra muito claramente a relação de promiscuidade entre as grandes empresas e o parlamento burguês.

Já o senador petista Eduardo Suplicy, “paladino” da moral e da ética na política, tem sido questionado até pela imprensa burguesa como um dos que se absteve. O próprio Renan Calheiros avaliou publicamente que dos 12 senadores do PT ao menos oito votaram de acordo com a orientação do governo Lula e do partido para garantir a absolvição. Além, óbvio, do PMDB e demais partidos da base governista, também entre os partidos da oposição burguesa (PSDB e DEM) houve votos favoráveis a Renan Calheiros. Mas o fiel da balança foi o PT, mostrando a completa degeneração deste partido.

Os “300 picaretas” que Lula denunciava haver no Congresso agora são seus aliados

Com isso o PT e o governo Lula mostram como estão dispostos a tudo para manter sua base aliada segura. Salvando o couro de Renan Calheiros dão um recado à heterogênea coalizão na qual se apóia o governo Lula de que ser base aliada compensa, já que o governo atua para garantir as negociatas e roubalheiras como mecanismos políticos de “governabilidade” . Assim, garante-se que o governo tenha também apoio dos caciques do PMDB em votações importantes, como a da continuidade da CPMF ’ responsável pela arrecadação de 39 bilhões para o governo ’ e que vem tendo uma enorme oposição de setores concentrados da burguesia nacional, com o PFL e o PSDB à cabeça. Mas o principal objetivo do governo e dos políticos era “limpar a pauta” do Congresso para poder votar as leis e medidas antioperárias e antipopulares que estão na gaveta.

A maioria instável que hoje constitui a base de apoio do governo Lula, da qual o PMDB é peça chave, se sustenta cada vez mais na base da corrupção direta e da distribuição de cargos, carregando consigo a contradição de ser incapaz de conformar uma unidade política mais sólida, que complemente e dê mais força e estabilidade às cooptações, é um foco constante de crises, como a crise política de 2005 com o mensalão e a crise do Senado. Neste marco, a absolvição de Renan Calheiros pode ser um elemento que aprofunde a crise de legitimidade que deriva desta situação, ainda que hoje prime um sentimento de repúdio passivo a mais esta ofensa que os políticos brasileiros lançam aos trabalhadores e o povo.

A falta de uma alternativa dos trabalhadores

Isso tem se dado numa situação não-revolucionária, na qual prima a ausência de uma resposta dos trabalhadores e das massas ao lamaçal da política brasileira, o que é um dos elementos mais importantes para que os políticos burgueses possam realizar tamanha desfaçatez. Contribue enormemente para isso o papel nefasto das direções do movimento de massas, que desde o parlamento até os sindicatos impõem, cada qual à sua maneira, uma completa paralisia das organizações operárias e populares em relação a esta crise.

Entretanto, a despeito da atuação de suas direções, setores importantes da classe trabalhadora começam a se mobilizar contra suas miseráveis condições de vida, como é o caso dos trabalhadores dos Correios e os metalúrgicos.

Por sua vez a CUT e a UNE, com um discurso de que tudo não passa de uma armação da direita “golpista” contra Lula, buscam livrar o governo e seus comparsas. A CUT continua impedindo a classe trabalhadora de se elevar da luta económica à luta política, ao não tocar no fato de que o governo Lula nega aumento aos trabalhadores dos Correios, que vivem com R$ 500,00, enquanto garante cargos e dinheiro farto aos seus aliados. A direção do MST, que vem aparecendo como crítica do governo, neste momento deixa claro que não pretende romper seus laços com Lula, o PT e o regime. A indignação popular não se transforma em ação contra esses políticos e essas instituições por responsabilidade dessas direções que preferem manter suas relações e vínculos materiais com o governo e o Estado. São cínicos traidores que assumem a podridão deste regime, acobertam a corrupção desenfreada e, muitas vezes, se corrompem diretamente.

O PSOL, partido que cada vez mais tem buscado ocupar no regime o espaço da ética na política deixado pelo PT, tem levado à frente a vergonhosa tarefa de “redimir” a democracia dos ricos e “revitalizar” as instituições, numa incontestável prova de sua concepção parlamentarista de atuação, transformando-se no “partido da CPI” . Este partido repete o PT, que não se cansava de “denunciar” os corruptos e pedir CPI, ao mesmo tempo em que impedia a mobilização independente dos trabalhadores e das massas. O PSOL vive nos corredores do Congresso, mas de nada serve para apoiar e organizar as greves operárias e lutas combativas.

Infelizmente, a Conlutas e o PSTU foram espectadores nesses meses de crise política. Os sindicatos e as organizações da juventude não foram convocados a organizar manifestações e ações diretas que mostrassem a indignação e a revolta dos trabalhadores, dos jovens e do povo pobre diante do descalabro deste regime político. Nenhuma campanha ou ação foi organizada para denunciar Lula, o PT, o PCdoB e os políticos patronais. Diante desta crise política e das greves e campanhas salariais deste segundo semestre, a Conlutas e o PSTU jogaram todas suas fichas para recolher “votos” no plebiscito da Vale, numa campanha conjunta com a CUT, o MST, a Igreja e setores do PT. Com isso, ajudou esses governistas envergonhados a barrar qualquer mobilização que pusesse os trabalhadores e as massas em ação independente. Desta forma o PSTU foi a reboque do PSOL que foi a reboque do petismo.

Por uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana

A punição dos corruptos, como vimos mais uma vez, não pode vir pelas mãos dos políticos corruptos. Para acabar com a impunidade e também discutir e resolver os problemas fundamentais dos trabalhadores, do povo pobre e do país, como salário, emprego, segurança, a classe trabalhadora, com suas organizações de luta devem discutir uma saída própria e independente da burguesia e desta democracia apodrecida.

Os trabalhadores devem propor um programa que parta da defesa das demandas democráticas, nesta caso uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana para não deixar que a insatisfação e os anseios democráticos das classes médias e de setores populares sejam utilizados pela burguesia e seus aliados que propõem reforma política e medidas cosméticas para no fundo preservar seu domínio sobre os destinos do país.

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