Quinta 25 de Abril de 2024

Nacional

A Revolta do Buzu

Rua, rua, rua, a luta continua

11 Oct 2003   |   comentários

Mais um ataque às condições já miseráveis de vida da juventude e da classe trabalhadora era preparado. A bola da vez: a tarifa de ónibus em Salvador. O já absurdo R$ 1,30 não bastava para a burguesia, essa minoria rica com o suor da classe trabalhadora. Quiseram aumentar para R$ 1,50. Dessa vez não foi fácil.

A resistência dos estudantes secun-daristas já vinha sendo preparada desde o dia 8 de agosto. Eles foram conquistando o apoio da juventude trabalhadora, de universitários, estudantes de cursinhos e professores. Na segunda-feira (1º-09), dia do aumento, essa resistência só podia seguir um caminho: a “Revolta do Buzu” .

Esse movimento que se iniciou com uma manifestação de 150 estudantes se fortaleceu e tinha agora que tomar as ruas para barrar o aumento da tarifa e lutar pela meia passagem para os estudantes o ano todo. Suas armas: as massivas assembléias onde discutiam cada passo da luta e a indignação dos nossos irmãos baianos que também passam o maior aperto sem educação de qualidade, cultura, lazer, dinheiro para o ónibus... e por aí vai. Além disso, tinham o apoio da enorme maioria da população que também sofre com o aumento da passagem, o desemprego e salários miseráveis.

Você deve estar se perguntando: mas esse apoio dos trabalhadores e do povo pobre e o sentimento, na juventude, de raiva contra o sistema não existem sempre? Mas só isso não basta, é preciso colocar isso tudo em movimento. Dessa vez foram os estudantes secundaristas.

Durante mais de 10 dias Salvador parou! Parou não, começou a se movimentar! Os estudantes e a juventude explorada e oprimida mostraram sua força. Eles passavam de escola em escola. Em pouco tempo, eram milhares de jovens parando o trânsito em toda a cidade. Foi assim que o movimento se construiu. Durante toda a semana fizeram piquetes, queimaram pneus e lota-ram as ruas chegando a juntar mais de 20.000 manifestantes espalhados nos principais pontos da cidade. Os ónibus só passavam pelos piquetes no final das manifestações quando os estudantes iam para casa se preparar para a batalha do dia seguinte. E eles pagavam R$ 1,50? Não! A passagem dos nossos irmãos agora era livre!

O sentimento antiburocrático foi decisivo. Isso foi o que deu as bases para o movimento avançar, ao invés de aceitar o acordão que os burocratas do PCdoB (UJS), PT, UNE, UBES e ABES faziam pelas costas dos estudantes. Estes burocratas tentaram cantar vitória com o acordo com o prefeito burguês do PFL de congelar a passagem em R$ 1,50 por um ano e liberar a meia passagem para os estudantes em todos os dias do ano. Eles pensavam que os interesses deles são os interesses de todos estudantes. Mas os estudantes não se deixaram enganar e agitaram o grito de: “Rua, rua, rua, a luta continua” . Os estudantes voltaram às ruas e prometeram não sair enquanto o preço das passagens não fosse reduzido. Além disso, vaiaram os burocratas a ponto de não os deixarem falar e dissolveram a comissão anti-democrática e traidora que havia negociado o acordão.

Sempre que o movimento se levanta, esses burocratas covardes estão contra nós. O único interesse deles é aparecer como su-postos líderes do movimento para ganhar votos nas próximas eleições para essas entidades. O presidente da Associação Baiana dos Estudantes (Abes), Roque Peixoto, chegou ao absurdo de falar: “Tem gente que está infiltrado no movimento, insuflando os estudantes. Quem foi pra rua é a galera que tá doida” . Alguns chegaram até a falar para a polícia reprimir os estudantes que faziam piquetes. Para essa burocracia reformista, quem luta contra a miséria capitalista “tá doido” .

A prefeitura vai fazer tudo que puder para não retirar o aumento, pois seria uma brutal demonstração de força dos estudantes e de fraqueza do governo. Seria um exemplo para os trabalhadores baianos e de todo o país, mostrando que é possível derrotar a burguesia e seus planos com a auto-organização e uma estratégia clara para triunfar. Por isso, desde o grito dos excluídos no dia 7/09, quando os estudantes interromperam a marcha do dia da “independência” , os governos estadual e municipal da Bahia montaram gigantescos aparatos de repressão para impedir que os estudantes parassem o trânsito. Encheram a cidade de policiais e infil-traram vários no movimento para provocar o conflito com a polícia. Além disso, vários dos nossos irmãos foram fortemente feridos e presos. Dessa forma, eles queriam intimidar o movimento e fazera juventude desistir. Mas a juventude de Salvador não se entregou. Continuou se manifestando e não caindo nas provocações da polícia. Se eles não deixavam parar em um lugar, os jovens corriamm por toda a cidade. Os estudantes prometeram não parar de lutar até conquistarem o que queriam.

A luta pelo passe livre e a unidade com os trabalhadores e o povo pobre

Mas não é só em Salvador que a juventude está se organizando. Em Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, 8.000 estudantes saíram às ruas pelo passe livre. Teve manifestação também pelo passe livre em Goiânia (GO), São José dos Campos (SP) e Feira de Santana (BA). Em São Bernardo já teve uma manifestação com 150 jovens. Em todos os cantos do país a juventude está mostrando que não agüenta mais não poder sair de casa porque não tem dinheiro para o transporte ou ter que contar com a sorte de pegar um cobrador que deixe passar por baixo. Ninguém devia passar por isso, e nós sabemos. A burguesia fala que todos têm a “liberdade de ir e vir” . Só se forem eles! Essa liberdade só pode ser conquistada com muita luta da juventude aliada com a classe trabalhadora e o povo pobre.

Mas não é só pelo passe livre que devemos nos unir. Essa aliança é o que pode virar o jogo para o nosso lado. A burguesia só quer aumentar cada vez mais os seus lucros. Esse interesse é o que está por trás do aumento da passagem. Enquanto eles enchem as contas bancárias, a grande maioria da população tem que engolir o desemprego, os salários miseráveis, as horas extras não pagas, a falta de moradia, a falta de terra para os camponeses e a falta de educação de qualidade. Para não falar da falta de cultura e lazer gratuitos. Essa aliança com os trabalhadores é central, pois junto com eles podemos parar os transportes, as fábricas, os bancos, os comércios e colocar essa burguesia nojenta de joelhos até que as reivindicações sejam atendidas. Essa seria a força que precisamos para lutar por passe livre não só para os estudantes das escolas públicas, mas para toda a juventude e os desempregados.

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